1.PARCEIROS INSTITUICIONAIS E PARCEIROS DA COMUNIDADE
2. O CONFLITO NA RELAÇÃO ENTRE PARCEIROS
1.3 ALGUMAS CAUSAS DE CONFLITO
São muitas e diversificadas as causas que originam conflitos, também eles muitos e diversos, "conflitos de cada um consigo próprio, conflitos entre professores e alunos, conflitos entre poderes, conflitos entre pessoas e o sistema, entre lógicas e interesses, conflitos e desencontros que tecem a construção de novos modos de ser, de estar e de fazer" (Benavente e Carvalho,
1995:144).
Procurar as causas que expliquem algum mal-estar que possa ser sentido pelos parceiros que colaboram, directa ou indirectamente, com as escolas rurais e que possam ser geradoras de conflito é uma tarefa muito ingrata, além de complexa, pois são imensas as causas, além de que "invariavelmente todos os conflitos complexos de índole social ou política têm múltiplas raízes. O conflito tem a ver com o fim concreto que os adversários perseguem e, ao mesmo tempo, com as interpretações que estes fazem daquilo que está em disputa" (Ross, 1995, citado por Jares, 2002:46).
Ainda assim, a natureza de exterioridade dos programas e a imposição do seu cumprimento parece criar nos professores uma certa pressão que passa para os alunos.
Apenas pretendemos encetar uma reflexão sobre algumas causas possíveis de conflitos, entre a imensa e complexa teia de
Parceria(s) da Escola Rural com Parceiros locais: uma proposta para (re)pensar uma Escola Rural, potenciadora de Mudança(s)
relações sociais tensas, nas quais "a enorme conflituosidade, manifesta e latente, que afecta a instituição escolar, só pode ser entendida, partindo da dialéctica entre a macroestrutura do sistema educativo e as políticas gerais orientadas para ele, e os processos micropolíticos que ocorrem no seio de cada escola" (Jares, 2002:46).
O conflito está também presente na tomada de decisões e aparece muito mais explícito nas decisões que implicam relações de poder na organização da escola, pois implica relações interpessoais. É, ainda, no centro das relações interpessoais que se instala o conflito pessoal e o conflito institucional ou de poder, ocupando uma presença natural em processos que envolvem interacções e relações pessoais e/ou institucionais. O conflito gerado por uma diferente posição ou opinião integra e alimenta a própria relação, possibilitando o seu amadurecimento. No entanto, os parceiros intervenientes sentem os efeitos da tensão desencadeada pelas posições divergentes que assumem, mesmo veiculando opiniões muito sensatas e responsáveis.
O conflito pode ser gerido como um elemento provocatório ou de oposição a ideias e propostas e, neste sentido, pode complicar os trabalhos de uma equipa, prejudicando a reflexão e decisão sérias, mas as causas podem ser variadas, desde problemas pessoais a interesses profissionais. No entanto, a tensão provocada no grupo de parceiros por uma posição divergente também pode permitir criar um questionamento interpelante e argumentativo, clarificador de posições e de tomada de decisões.
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A situação de discordância, em si mesma, é potenciadora de dinâmicas de transformação, mas o confronto intencional e deliberado para travar os processos e as decisões é causa de mal-estar entre parceiros.
Numa relação de trabalho entre parceiros, torna-se evidente e fulcral a necessidade de aprender a viver com ou a
saber gerir situações de conflito, já que "o sucesso de um grupo
humano já não aparece condicionado pela ausência de conflitos, mas por uma boa gestão destes, o que pressupõe a sua clarificação" (Bernoux, 1985, citado por Benavente e Carvalho,
1995:143).
Uma das causas de conflito e de oposição reside, desde logo, na implementação de processos inovadores e capazes de provocar alguma estranheza quando o instituído é posto em causa. Deste modo, as inovações desestruturam aquilo que sempre se fez de determinada maneira e que faz parte de uma memória colectiva. Assim, ficam criadas condições que elevam as probabilidades de desencadear conflitos, a vários níveis e de natureza muito diversa.
Assim, não se espera uma total concordância ou consenso de todos os parceiros, o que se procura é encontrar espaços de diálogo e de envolvimento dos actores e comunidades envolventes, sem ignorar possíveis e prováveis conflitos, pois
"as escolas constituem uma territorialidade espacial e cultural, onde se exprime o jogo dos actores educativos internos e externos" (Nóvoa, 1992:16).
Cada um dos parceiros que coopera com a escola rural apresenta um modo diferente de pensar os assuntos e de os
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abordar e as opiniões diferentes, quando se expressam numa pluralidade discursiva, permitem fundamentar as propostas e influenciar as decisões, o que possibilita a ponderação.
Hoje, face a uma multiplicidade de transformações sociais, que afectam a escola e também, naturalmente, a escola em meio rural, as respostas mais adequadas a toda esta diversidade de problemas, dilemas e conflitos, não são, seguramente, aquelas que se apresentam com uma única grelha de análise.
Neste sentido, espera-se e procura-se que a escola rural se constitua como um espaço-local de interacção e cooperação entre parceiros, aberto a possibilidades de transformação de saberes formais e informais, em ferramentas capazes de operarem sobre o mundo. Porém, não se espera que "os estabelecimentos de ensino sejam locais de consenso" (Derouet,
1996:67), pelo contrário, pretende-se que sejam espaços-locais, onde o conhecimento nasce pela via do debate sério que se alimenta do conflito de posições reflexivas de todos os parceiros sociais e educativos.
As causas de conflitos situam-se ao nível das interacções das pessoas quando assumem diferentes papéis sociais e, assim, parece-nos ser de capital importância que os parceiros socioeducativos aprendam a conviver com as divergências e aprendam, também, a "aproveitar eficazmente todo o potencial dos participantes" (Whitaker, 1999:87). No entanto, a "expressão das divergências não deve pôr em causa as regras mínimas que permitem a vida em comum" (Derouet, 1996:69).
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CAPÍTULO 2- PENSAR A ESCOLA RURAL SEGUNDO