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CAPÍTULO 4 – A BUSCA POR JUSTIÇA SOCIAL EM NATAL E BELO

4.4 Algumas conclusões

Feita a análise de cada um dos perfis (puros e mistos), podemos traçar uma visão geral das principais características das políticas sociais no município de Natal, no ano de 2006. A partir disto teremos elementos para, posteriormente, compararmos tais resultados com o que foi encontrado por Salej (2007) no município de Belo Horizonte.

Uma das primeiras características que notamos em relação aos programas sociais de Natal é que eles são orientados a partir de dois eixos centrais: universal e focalizado. Existem aqueles programas que não tratam especificamente de uma temática (ou um pequeno número delas), suas ações possuem objetivos diversos e, em geral, apresentam poucos ou nenhum critério de acesso. O outro conjunto de programas é marcado pela focalização, eles tendem a definir uma dimensão (ou algumas) que será trabalhada de maneira específica e, a partir disso, estabelecem requisitos de acesso, ou seja, são temas específicos para públicos bem definidos.

Vale ressaltar que o fato de as características dos programas serem orientadas a partir desses dois eixos, não significa que há uma divisão automaticamente dicotômica, onde eles

poderiam ser classificados como universal OU focalizado. Na verdade, o que os dados apontam é que diversos programas possuem tanto características voltadas para a universalidade quanto para a focalização. A realidade das políticas sociais é muito mais complexa do que simplesmente afirmarmos que tal programa é universal ou focalizado, pois notamos, por exemplo, que, muitas vezes, tais programas incorporam a noção de universalidade dentro de suas diretrizes, eles encaram determinados direitos como sendo universais, porém, na hora da execução, estabelecem critérios de acesso e terminam direcionando os serviços para certo público. Isto quer dizer que os programas são focalizados? Não exatamente. Então, são universais? Também não. Há uma mescla de características, situações pouco claras, marcadas pela fluidez, pela complexidade, pela imprecisão, pela interseção e pelo hibridismo. A vantagem de se trabalhar com o método GoM é justamente termos a possibilidade de detectar este tipo de situação, identificá-las e a partir daí refletirmos sobre o que isto implica, em que esta informação nos ajuda a pensar as políticas sociais em Natal.

Além disso, quando olhamos para as três dimensões que orientaram nossa análise – tipos de injustiça, requisitos de acesso e objetos prioritários de intervenção – percebemos que há uma formatação específica das políticas sociais no município de Natal. No âmbito das injustiças tratadas pelos programas, vimos que a privação material é um elemento bastante recorrente e que perpassa através de todos os perfis identificados na pesquisa. Independentemente das especificidades de cada conjunto analisado aqui, em todos eles a privação material aparece (com intensidades diferentes) enquanto injustiça a ser tratada pelos programas e, portanto, esta seria uma característica marcante das políticas sociais como um todo. Também percebemos que, partindo dos perfis puros (extremidades do espectro) em direção aos perfis mistos (no centro), ocorrem dois movimentos: do perfil puro1 para o centro o “não-reconhecimento” vai ganhando em relevância; e, ao partirmos do perfil puro 2 para o centro, é a variável “desrespeito” quem termina ganhando preponderância. O encontro destas duas injustiças se dá, justamente, no perfil misto intermediário, onde elas são tratadas como prioritárias.

Figura 5: Movimento dos principais tipos de injustiça tratados pelos perfis do município de Natal

Perfil Puro 1 ---- Perfil Misto 1.2 ---- Perfil Intermediário --- Perfil Misto 2.1 --- Perfil Puro 2

Fonte: Elaboração própria.

Quando se trata dos requisitos de acesso, notamos que os critérios de “área de risco/vulnerabilidade social” e “grupo etário” estiveram presentes em todos os perfis, exceto no perfil misto intermediário. Isso indica que as políticas sociais em Natal, quando lançam mão de critérios para inserção de indivíduos/famílias em seus programas, privilegiam os recortes associados às situações de vulnerabilidade social e às especificidades das faixas etárias. Este tipo de enfoque não representa nenhuma surpresa uma vez que indivíduos/famílias em situação de pobreza, crianças e idosos têm sido, historicamente, alvo primordial das políticas sociais no Brasil. Exemplos disso são os programas de renda mínima do governo federal, os diversos programas na área da saúde e assistência social (em todos os níveis de governo) voltados para cada grupo etário (por exemplo: saúde da criança, do adulto e do idoso), bem como as ações específicas direcionadas às crianças pelas secretarias de educação.

Além deste traço mais geral, também observamos a dinâmica dos movimentos destes critérios no sentido “intra” perfis. Ficou aparente que “área de risco/vulnerabilidade” é o critério primordial dos perfis puros, e que esta vai perdendo relevância quando caminhamos para o centro. Já “grupo etário” ganha mais relevância nos perfis mistos (mais especificamente nos perfis 1.2 e 2.1), mas desaparece no perfil intermediário.

Quando nos referimos aos objetos prioritários de intervenção das políticas sociais de Natal, os dados apontam claramente que “socialização” é o mote central de seus programas. Acreditamos que socialização aqui tenha sido interpretada pelos gestores no sentido de se combater a exclusão social. É bastante coerente a emergência desta variável se pensarmos que a injustiça que mais influencia as diretrizes das políticas sociais em Natal é a característica da “privação material”, pois, a associação mais freqüente que se faz com a exclusão social é aquela referente à pobreza.

Ganha relevância “não-reconhecimento” Ganha relevância “desrespeito” Privação material perpassa todos os perfis

Em resumo, o quadro que se configura para as políticas sociais no município de Natal se caracteriza pela presença de programas que incorporam às suas diretrizes a injustiça relacionada à privação material, com foco nas áreas de risco/vulnerabilidade social e grupo etário, gerando ações no sentido de promover a socialização.

Diante deste resultado, a próxima seção irá apontar como o quadro descrito acima pode ser comparado em relação aos resultados encontrados no município de Belo Horizonte.

Perfil 1 1.2 Intermediário 2.1 2

Tipo PURO MISTO MISTO MISTO PURO

Nome Universal Redistributivo Universal Identitário Territorial Redistributivo Focalizante Identitário Focalizante Redistributivo

Tipos de injustiça Não incorpora nenhum tipo de injustiça, com exceção da privação material.

Todas as injustiças passam a ser incorporadas, porém, privação material ganha mais importância (em relação ao perfil anterior) e o não- reconhecimento também se destaca.

Novamente todas as injustiças são tratadas, mas, perde relevância a privação material e ganha

importância o desrespeito, a dominação cultura e o não- reconhecimento

Todas as injustiças são consideradas, o desrespeito perde um pouco de relevância, mas permanece em destaque, seguido da privação material, que volta a ganhar relevância.

Todas as injustiças são incorporadas, sendo privação material e desrespeito as mais preponderantes. Marginalização econômica e exploração também ganham relevância. Requisitos de acesso Maioria dos critérios não

é relevante, somente área de risco, território e grupo etário ganham algum destaque

Grande parte dos critérios permanece irrelevante, porém, grupo etário e área de risco ganham alta relevância.

Mais critérios passam a ser incorporados (não todos). Perde importância o grupo etário e a área de risco e passam a se destacar : situação no mercado de trabalho e o território.

Volta a ganhar relevância o grupo etário e a área de risco, acompanhados de direito violado e situação de violência.

Todos os critérios são considerados, com destaque para área de risco, direito violado e grupo etário.

Objetos prioritários de intervenção

Somente a socialização se destaca como elemento prioritário.

A socialização ganha maior relevância (em relação ao perfil anterior) e o desrespeito também se destaca. O desrespeito é o mais relevante, em seguida, aparece o não- reconhecimento. A socialização perde um pouco de relevância, mas permanece em destaque.

Socialização adquire alta relevância, bem como a violação de direitos. O desrespeito também se destaca. Socialização é o mais relevante. Violação de direito e situação de violência são bastante considerados e, em seguida, aparece o desrespeito. Temática prevalecente Saúde e Cultura e Arte Saúde e Educação Educação Trabalho e Assistência

Social; Educação

Trabalho e Assistência Social