O Perfil Misto Intermediário – Territorial Redistributivo

No perfil misto intermediário justamente o que não observamos é o predomínio das características seja do perfil extremo 1 ou do 2, há uma combinação de características que não nos permite distinguir a dominância de um ou de outro. Nota-se que todas as injustiças foram incorporadas, porém, o desrespeito é o tipo de injustiça que mais caracteriza este perfil. Logo em seguida, um pouco menos expressivos, aparecem a dominação cultural e o não- reconhecimento. Apesar destes três tipos serem aqueles que mais definem o perfil misto intermediário, a análise aponta que todos os tipo de injustiça aparecem como “referência” (com intensidades diferentes) e, portanto, são percebidos pelos programas enquanto dimensões a serem tratadas, porém nem todas se traduzem em ações concretas ou prioritárias.

Ao questionarmos os gestores se os programas desse perfil impõem algum tipo de requisito para que pessoas/famílias tenham acesso às suas ações, 4 dentre os 5 programas (80%) afirmaram que sim, todavia, 3 dentre os 5 programas (60%) também disseram que os programas são universais, apontando para um padrão de respostas incoerente. Esperava-se que ao afirmar que há requisitos, tal programa não fosse universal. Uma possível explicação para tal resultado é o fato de que nem todos os gestores dominem exatamente ou da mesma forma o significado semântico do conceito de universalidade nas políticas públicas. Desta forma, a existência de requisitos não se apresenta como uma característica definidora desse perfil.

Todavia, a análise da freqüência dos possíveis tipos de requisito impostos pelos programas indica, por sua vez, que a situação no mercado de trabalho e o território são os dois critérios que mais aparecem no conjunto destes programas. Portanto, quando há situações que envolvem critérios de inserção os mesmos tendem a estar associados à situação no mercado de trabalho e/ou no território. Conveniente observarmos que até agora o critério “situação no mercado de trabalho” tinha sido totalmente desconsiderado pelos demais perfis aqui analisados. Portanto, podemos dizer que esta dimensão se apresenta como uma característica específica que distingue e define os programas do perfil misto intermediário.

No que tange à prioridade na definição das ações dos programas, são primordialmente objeto de intervenção deste perfil: o desrespeito, a discriminação, o não-reconhecimento, a socialização e a violação de direitos. Também são tratadas as dimensões referentes ao acesso a alimentação adequada e a situação de violência, todavia, essas duas aparecem de maneira bem menos expressiva.

Quando observamos a relação entre os elementos que foram descritos para cada uma das dimensões analisadas – tipos de injustiça, requisitos de acesso e objetos prioritários de intervenção – percebemos que a noção de desrespeito incorporada pelos programas desse perfil está antes associada à idéia do direito do cidadão de desfrutar de um padrão material mínimo de vida, do que à idéia de desrespeito oriunda do eixo identitário. Da mesma forma, as ações prioritárias dos programas também se dão sob esta mesma perspectiva, onde o combate ao desrespeito, à discriminação e violação de direitos são uma tentativa de promover reconhecimento e socialização no âmbito do mercado de trabalho e também da geração de renda.

Os 5 programas deste perfil dispersaram-se em torno de quatro secretarias: Educação, Trabalho e Assistência Social, Saúde e Cultura. Olhando para os programas do perfil fica a impressão de que eles não se adéquam exatamente às características descritas acima, afinal, não são programas direcionados especificamente ao mercado de trabalho. Uma possível hipótese para tal situação estaria relacionada diretamente à coleta dos dados. A Prefeitura de Natal, em 2006, dispunha de 4 programas relacionados à geração de emprego e renda e, portanto, voltadas para o mercado de trabalho (Empreendedores de Economia Solidária Autogestionário, Intermediação de Financiamento a Micro-empreendedores, Implantação da Central de Trabalho e Renda, Intermediação de Mão-de-obra Qualificada), no entanto, 3 destes questionários não foram devolvidos e, dessa forma, não compuseram a nossa amostra. Tendo em vista os objetivos desses programas, eles teriam grande probabilidade de vir a

pertencer a este perfil. O que podemos concluir disto é que os dados da amostra conseguiram detectar a existência de ações voltadas para emprego-renda, ou seja, a Prefeitura de Natal, de fato, possui um conjunto de ações voltadas para essa temática, mesmo que não tenha sido possível observar o comportamento para aqueles que seriam os programas mais emblemáticos. Este perfil também se caracteriza por apresentar programas que são executados de maneira intersetorial. Vejamos o detalhamento das descrições estatísticas gerais deste perfil nos gráfico (7, 8 e 9) e quadro 11.

Gráfico 7: Percepção dos gestores da Prefeitura de Natal, classificados no Perfil Misto Intermediário – Territorial Redistributivo, quanto ao tipo de injustiça que os programas sociais

municipais se relacionam.

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 8: Percepção dos gestores da Prefeitura de Natal, no Perfil Misto Intermediário – Territorial Redistributivo, quanto aos critérios de acesso ao programas sociais municipais

Gráfico 9: Percepção dos gestores da Prefeitura de Natal, no Perfil Misto Intermediário – Territorial Redistributivo, quanto aos objetos prioritários de intervenção dos programas sociais

municipais

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 11: Programas da Prefeitura de Natal classificados no Perfil Misto Intermediário – Territorial Redistributivo

Secretaria Responsável Número de

Programas

SME – Secretaria Municipal de Educação

Construção e Estruturação do Centro Municipal de Referência em Educação

Mostra de Arte e Cultura (MARCO) 2

FUNCARTE - Fundação Capitania das Artes

Música nos Quatro Cantos 1

SEMTAS – Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social

Atendimento em Creche e pré-escola 1

SMS – Secretaria Municipal de Saúde Saúde do Trabalhador

1

Total 5