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Ao analisarmos comparativamente os questionários inicial e final, percebemos que no início da formação continuada as professoras da CELL

representaram interdisciplinaridade, em sua grande maioria, como uma in- teração entre disciplinas, o que remete ainda à perspectiva interdisciplinar de ensino, de aglutinação de conteúdos. Já no final da formação continua- da, percebemos que essa interação entre as disciplinas expandiu-se ao re- presentarem a interdisciplinaridade como uma prática socialmente situada a partir da interação entre áreas do conhecimento, focalizando um objetivo em comum dentro do contexto em questão. Dessa maneira, o discurso das participantes já apresenta algumas evidências de que os planos (curricular, didático e pedagógico) interdisciplinares de Lenoir (2008) começam a ser por elas problematizados.

Nas representações para a prática interdisciplinar no início da for- mação continuada, as professoras argumentaram em suas respostas que praticam a interdisciplinaridade a partir da utilização de conteúdos de ou- tras áreas do conhecimento ou disciplinas. O que ficou evidente nessas re- presentações foi a recorrência do apagamento do participante Ator, o que demonstra a possível insegurança das professoras no encaminhamento des- sa prática interdisciplinar (FAZENDA, 2005, p. 15).

Já nas representações para a prática interdisciplinar identificadas ao final do processo colaborativo-reflexivo, as professoras parecem elaborar uma resposta mais específica para exemplificar o seu trabalho em sala de aula. Nesse sentido, seu discurso sobre sua prática parece mais empoderado (FAIRCLOUGH, 2001, p. 200), quando comparado às representações cole- tadas no início do processo reflexivo, uma vez que as participantes mostra- ram-se capazes de expandir suas definições para a prática interdisciplinar, que começaram a ser desenvolvidas/vivenciadas em sala de aula. Esse “em- poderamento” em relação a sua prática interdisciplinar ao final da formação pode ter sido ocasionado pelas diversas leituras que fizemos sobre interdis- ciplinaridade, pelas discussões durante as sessões reflexivas e pela constru- ção conjunta da unidade didática interdisciplinar. Por fim, argumentamos que as respostas ao QF desvelam, mesmo que sutilmente, um discurso mais elaborado (BERNSTEIN, 1996, p.159), com maior apropriação conceitual, na construção discursiva do agir pedagógico a partir de uma perspectiva interdisciplinar.

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 3