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CAPÍTULO 2 – A pesquisa 2.1 Caracterização

3.1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

3.1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Provocar mudanças é o objetivo de uma pesquisa. Mudanças de comportamento e de pensamento. Mudanças essas que permitem tanto aos alunos quanto aos professores aprender através de vivências conjuntas, novas ferramentas de trabalho, por exemplo nesta pesquisa ao decidir desenvolver a pesquisa utilizando o site:

http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/abertura.htm , o caminho do aprendizado

tornou-se mais prazeroso, tanto para os alunos quanto para o professor. O interesse da sala em participar foi real, alunos questionando, observando, refletindo em grupo. Apesar da tenra idade (8 anos à 11 anos), a sala em foco demonstrou um bom grau de maturidade e interesse para com um assunto ainda considerado polêmico. Estudar a raça negra com a contribuição de obras de Candido Portinari, só fortaleceu o aprendizado.

Vivemos numa sociedade onde o preconceito existe, é velado. Observamos o efeito negativo da mídia sobre as crianças, haja vista os apelidos utilizados entre as crianças e a vontade de embranquecer, através de mudanças no cabelo(alisar), cor dos olhos (lentes). Durante a pesquisa os alunos não conseguiram achar definição para sua cor de pele ou raça. Somente um aluno da sala considerou-se da raça negra, o restante ficou na dúvida se eram morenos ou mestiços. Vale ressaltar que inconscientemente sabem que há algo a ser esclarecido, são informações que já vem modificadas de família, onde todos se consideram brancos, mas as crianças recebem novas informações na escola e começam a se questionar, qual é a minha cor / raça.

A Lei 10639/2003, só contribuirá positivamente para estabelecer novos conceitos em nossa sociedade.

Este trabalho de pesquisa realizado em uma escola da prefeitura de São Paulo com alunos da 2ª série B do ensino fundamental, contribuiu com metodologias de trabalho, fornecendo subsídios teóricos que possibilitaram uma maior compreensão dos processos de construção da identidade dos mesmos. Neste processo acredito que o papel da Universidade é fundamental “formação de professores” e esta não deve distanciar-se do seu tripé de sustentação: ensino, pesquisa e extensão.

Durante todo o projeto de pesquisa com as contribuições de algumas obras do pintor Candido Portinari, discutimos temas como preconceito; etnia; raça. Ao aproximar a semana da Consciência Negra – 20 de novembro, organizamos uma pesquisa “internet – You tube – Consciência Negra”, através de vídeos musicais, bem coloridos, com várias opções onde as crianças tiveram um momento de reflexão sobre a importância desta data. Ao findar a pesquisa sobre preconceito racial, conversamos sobre a importância da Lei 10639/2003 que obriga a inclusão de disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura afro-brasileira. Nesta data devemos comemorar principalmente na escola, nos espaços através de cartazes, mostras culturais (dança, teatro, feira de artesanato, alimentação...). Elaboração de cartaz com conteúdo da temática afro, escolhidas pelos alunos. Foram selecionadas 7 pinturas de Candido Portinari, para constar no cartaz: “Meninos com pipas – 1947; Espantalho – 1957; Menina Sentada – 1943; Futebol – 1940; Meninos com carneiro – 1959; Família – 1959 e a imagem de Candido Portinari”.

Após selecionar pinturas de Candido Portinari, iniciou a pesquisa de imagens sobre a temática para ilustrar a semana da Consciência Negra, pesquisa realizada também nos vídeos do You tube, foram momentos de muita reflexão e emoção.

Comentários de alunos, durante a elaboração da atividade Cartaz para a semana da Consciência Negra:

ALUNO OBRA / - ILUSTRAÇÃO COMENTÁRIO

Aluno – “A” Menina Sentada - Obra que mais gostei!

Aluno – “B”

Futebol - Olha, tem meninos negros também!

Aluno – “C”

Família - Não gostei deste quadro...

Aluno – “D”

Zumbi

dos Palmares - ilustração

- Que nome estranho...herói de quê?

Aluno – “E”

Cândido Portinari - Quero esta, meu Candido Portinari!

Classe

Cartaz - Vamos colocar no pátio para todo mundo ver!

Quadro 2 - Comentários alunos 2ª.B, sobre cartaz Consciência Negra.

Estas falas representam o quanto as crianças participaram e se envolveram no projeto. Assim, concluímos que a inclusão de disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura afro-brasileira nas escolas se faz necessário.

Pesquisar atividades lúdicas para desenvolver aulas, onde os alunos possam vivenciar o aprendizado, relacionando-o com seu cotidiano é fundamental para que se efetive o aprendizado.

Muitas pesquisas são realizadas visando contribuir para que a Educação torne-se uma tarefa que contemple não só as leis mas, também melhore sobremaneira a tarefa do Educador, haja vista que o professor transforma e mobiliza conhecimentos. Em contrapartida o aluno é aquele que também traz conhecimentos e merece ser estimulado em sua curiosidade natural.

Direitos do Magistério:

No Estado de São Paulo – “...Os deveres dos professores estão consubstanciados na Lei Complementar No.444, de 27/12/85...Art. 63 – O integrante do quadro do magistério tem o dever constante de considerar a relevância social de suas atribuições mantendo conduta moral e funcional adequada à dignidade profissional...deverá IX – respeitar o aluno como sujeito do processo educativo e comprometer-se com a eficácia de seu aprendizado...”

(Muller, 2006. p. 85)

O foco deste trabalho de pesquisa foi disponibilizar o máximo de informações à respeito dos trabalhos de Candido Portinari, para verificar qual a visão destes alunos à respeito da raça negra. Porém, durante os encontros questões são trazidas à tona, como por exemplo, ao solicitar que os alunos escrevessem sobre “Por que Portinari pintou a Menina Sentada?

Quem era a Menina Sentada? Por que Portinari pintava negros tão bonitos? Enfim, após tantos questionamentos, fez-se necessário acrescentar à pesquisa, uma atividade que focasse o próprio aluno.

Nesta perspectiva de oferecer ao aluno oportunidade de aulas reflexivas, necessário também refletir sobre a própria vida, pois ao tratar de um tema carregado de tanto preconceito “Raça Negra”, necessário rever: quem somos? quem são nossos familiares, será que somos formados só por uma raça?

A partir desta idéia, foi solicitado aos alunos para realizarem uma pesquisa em sobre os primeiros anos de suas vidas, uma linha do tempo. Foi entregue para cada aluno o material preparado no caderno de desenho, contendo entre 7 a 11 folhas, dependia da idade da criança a seguinte questão:

Desenho 4 – Realizado por uma aluna a partir da cópia da foto com papel vegetal.

Vale ressaltar, que as crianças precisaram consultar seus familiares, onde receberam valiosas informações, sobre suas infâncias. Entretanto, após o prazo de 15 dias para realizar esta tarefa, 16 alunos dos 22 fizeram a atividade. Cabe ressaltar, o comentário de uma aluna que não realizou a atividade “- minha mãe e meu pai falaram que não lembram nada da minha infância...”.

A partir deste comentário, verificamos a importância do trabalho do professor, às vezes para realizar uma atividade, necessário uma pesquisa sobre o conhecimento prévio do aluno.

No caso do comentário acima citado por uma aluna, a qual após uma frase sobre o racismo, o qual não acontece somente a respeito da raça negra, mas já foi uma crueldade também com os judeus, levou a aluna a articular as informações que já havia recebido e no final da aula, contou que era judia e que seus pais sempre falam à respeito deste “sofrimento”.

Dentro desta perspectiva, continuamos a refletir sobre raça , tendo como base a obra escolhida de Candido Portinari “Menina Sentada”, foi a escolhida da classe para ser realizada uma releitura e imaginar qual seria a estória desta menina. Assim, foi solicitado aos alunos que escrevessem sobre a “Menina Sentada”, dos 15 alunos destaco 3 que comentaram sobre as características raciais, os outros contaram estórias sem citar uma palavra à respeito da cor de pele, cabelo.

Objetivos foram alcançados através deste projeto de pesquisa. Apresentar aos alunos a arte de Candido Portinari, foi uma atividade tão atraente quanto o uso da tecnologia. Estar na sala de informática para os alunos os fez sentir-se importantes e conectados com novas possibilidades de aprendizagem e realmente é um fato a considerar, o ambiente favorece o aprendizado.

Ainda, a título de algumas considerações finais, é importante mencionar o envolvimento dos alunos em relação ao “Dia da Consciência Negra”, por meio de suas produções.

São apresentadas, a seguir, imagens selecionadas pelos alunos para representar o sentimento de reflexão no Dia da Consciência negra, sentimento que deve prevalecer em todos os dias do ano.

Colagem figuras para representar Dia da Consciência Negra – 20 de Novembro

Herói, Zumbi dos Palmares, também foi novidade para a sala haver um herói negro no Brasil. O nome também foi motivo de surpresa, um aluno comentou: “- Zumbi, conheço marca de álcool”.

Foto 20- Reprodução de Zumbi dos Palmares ( Antônio Parreiras, 1917. Óleo sobre tela,113x86cm)

Importante destacar que aula de história e geografia, atrai muita atenção com a utilização de mapas, pois as crianças estão numa fase lúdica e concreta.

Foto 21 - Reprodução Mapa da África

Após apresentar o mapa da África para os alunos, um comentário interessante: “- Parece o mapa do Brasil”. Expliquei que Brasil e África há muito tempo atrás já foi unido em território, fato que nos mantém mais próximos.

O assunto tornou-se interessante e os alunos passaram a participar mais das atividades. Conhecer novas culturas gera além de curiosidade inicial um patriotismo comum, quando os

alunos entendem o dinamismo que há nos fatos da história, despertam para um desejo de aprender que estava latente.

Concluindo, esta pesquisa mostrou o quanto se fazem necessários trabalhos que valorizem culturas diferentes. Podemos afirmar que neste grupo já existem preconceitos formados a respeito da raça negra. Em contrapartida, a pesquisa desenvolvida revela que há indicadores já mencionados ao longo do texto, de que o grupo está disposto a aprender novos conceitos.

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