• Nenhum resultado encontrado

3. EXPOSIÇÃO DO MODELO DE CRESCIMENTO VOLTADO PARA PROJEÇÃO

3.5 Algumas considerações finais sobre o modelo

Conforme foi possível notar, o modelo apresentado neste capítulo contém 29 equações principais e, assim como Lourenço e Roos (2015), se utilizou tanto de identidades tradicionais da Contabilidade Nacional como de hipóteses comportamentais advindas de diversas tradições teóricas heterodoxas, como Kalecki, Kaldor e Thirlwall – onde estes dois últimos constituíram parte importante do referencial teórico apresentado no capítulo 2 deste trabalho.

A introdução de taxas de câmbio e de taxas de juros endógenas busca testar, à la Kaldor, por exemplo, a possibilidade de que mudanças na taxa de câmbio real venham a exercer impactos significativos sobre a demanda por exportações e importações setoriais, e

assim, sobre a taxa máxima de crescimento permitida pelo balanço de pagamentos (gBP).

Desta mesma forma, os argumentos de Araujo (2011) e Ferrari, Freitas e Barbosa Filho (2013), apresentados no capítulo 2 do presente trabalho, também se tornam possíveis de serem

91

testados empiricamente. No entanto, conforme ressaltam Lourenço e Roos (2015), nos termos de um modelo em que a gestão da política macroeconômica segue alicerçada no atual “tripé” meta de inflação, meta fiscal e câmbio flutuante administrado, depreciações cambiais, embora possam gerar efeitos positivos sobre o potencial de crescimento, também desencadeiam efeitos colaterais sobre a inflação. Tais efeitos, por sua vez, acionam políticas voltadas para conter a inflação (venda de divisas e/ou elevação da taxa básica de juros) que acabam nitidamente limitando o uso do câmbio como instrumento capaz de afrouxar a restrição externa e, consequentemente, elevar o potencial de crescimento da economia. Fatos estes que, quando também somados às conhecidas limitações da estrutura produtiva brasileira – expressas em elevada (reduzida) elasticidade-renda da demanda por importações (exportações) – acabam restringindo rigorosamente a capacidade de crescimento econômico sustentado.

Dados os aspectos supramencionados da economia brasileira, o principal mecanismo a ser testado nas simulações é se tentativas de crescimento em “marcha forçada”, ou seja, sem que haja mudanças estruturais induzidas por uma política industrial capaz de elevar (reduzir) a elasticidade-renda da demanda por exportações (importações) industriais, acabam gerando “vôos de galinha” de crescimento, associados ao conhecido ciclo de endividamento externo. E se, e em que medida, a introdução dessas medidas é capaz de mudar o quadro de baixo crescimento.

Apesar de não descrever a determinação do comportamento da demanda agregada, o modelo aqui apresentado, assim como Lourenço e Roos (2015), também traz implícito o fato de que também se torna extremamente importante que o crescimento da demanda agregada seja adequado. Conforme nos revelou a experiência do México na década de 1980, um crescimento excessivo da demanda agregada recria um cenário de endividamento externo em níveis ainda mais elevados (MORENO-BRID e ROS, 2009). Já um crescimento insuficiente se revela triplamente perigoso devido: I) à dificuldade para manter as taxas de desemprego baixas; II) à redução, via lei de Verdoorn, do crescimento da produtividade, o que repercute negativamente sobre o processo de crescimento econômico; e III) a criação de um excedente estrutural de divisas, a qual pode levar o país a reproduzir a experiência da Venezuela (FURTADO, 2008), gerando, desta forma, efeitos devastadores sobre sua estrutura produtiva industrial (nos termos de uma artificial “doença holandesa”, conceito já bastante presente nas discussões acerca da situação da estrutura produtiva brasileira).

Diferenciando-se sensivelmente do modelo apresentado por Lourenço e Roos (2015), o modelo desenvolvido neste capítulo, além de apresentar o esforço de tratar a economia

92

desagregada em três setores (agropecuária, indústria e serviços), introduziu outros aspectos e/ou alterações importantes.

No que tange ao processo de determinação da taxa de câmbio nominal a partir da dinâmica dos ativos e passivos externos da economia, conforme já ressaltado no início da sua respectiva seção, o mesmo trouxe como novidade a endogeneização do custo de manutenção

pelos residentes dos passivos externos líquidos (iM), bem como a introdução da taxa de

variação média dos preços em dólar dos passivos externos líquidos (âk) e das reservas

internacionais (êR).

Em relação à determinação da taxa máxima de crescimento permitida pelo balanço de pagamentos, destacamos como novidade: 1) o tratamento desagregado da economia nos três

setores já aqui mencionados está em linha com a proposta teóricade Araujo e Lima (2007) e,

portanto, nos permitirá verificar o impacto das diferentes elasticidades-renda da demanda por importações e exportações setoriais sobre o potencial de crescimento econômico do país; 2) a

introdução dos termos de troca setoriais representado pelo termo (1 + πx,i,t)/(1 + π

m,i,t

)

buscou captar o efeito da dinâmica de preços sobre a gBP, ficando implícito, deste modo, o

desenvolvimento teórico apresentado por Amado e Dávila-Fernández (2014); e 3) a condição de sustentabilidade do endividamento externo inserida nitidamente se diferencia de Bhering (2013) e Lourenço e Roos (2015), os quais adotam como condição a razão passivo externo líquido / exportações (a intitulada razão d). Conforme aqui já foi colocado, a mesma segue diretamente a proposta de Lourenço et al. (2011), desta forma, é possível considerarmos a possibilidade de geração de déficits/superávits permanentes em conta corrente, sem que eles acarretem o crescimento explosivo do passivo externo líquido.

Por fim, no que se refere ao processo de formação de preços e inflação, destaca-se a introdução de um componente relacionado tanto ao custo tributário setorial – a alíquota

tributária – como às relações inter-setoriais da economia – captadas pelos termos πi− âj,i e

êt + πi∗− âm,i. Este aspecto implicou o tratamento dos preços de um setor como formadores

de custos (via insumo) dos outros setores.

Uma vez feitas estas ressalvas, podemos passar para o capítulo 4 deste trabalho, no qual a trajetória de crescimento da economia brasileira no período 2016-2025 é simulada mediante aplicação do presente modelo macroeconômico.

93