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O efeito da política industrial sobre o potencial de crescimento brasileiro: uma análise voltada para projeção com ênfase no período 2016-2025

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Academic year: 2021

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(1)0. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA. Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues. O EFEITO DA POLÍTICA INDUSTRIAL SOBRE O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO: Uma análise voltada para projeção com ênfase no período 2016-2025. Natal – RN Maio 2016.

(2) 1. Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues. O EFEITO DA POLÍTICA INDUSTRIAL SOBRE O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO: Uma análise voltada para projeção com ênfase no período 2016-2025. Dissertação de mestrado construída com o apoio financeiro da CAPES/CNPq e submetida ao Programa de Pós-graduação em Economia da UFRN como requisito parcial à obtenção do título de Mestra em Economia.. Orientador: Profo. Dro. André Luís Cabral de Lourenço.. Natal – RN 2015.

(3) 2. Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do NEPSA / CCSA Rodrigues, Cryslãine Flavia da Silva. O efeito da política industrial sobre o potencial de crescimento brasileiro: uma análise voltada para projeção com ênfase no período 2016-2025 / Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues. – Natal, RN, 2016. 252 f. Orientador: Prof. Dr. André Luís Cabral Lourenço. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Economia. 1. Crescimento econômico - Brasil – Dissertação. 2. Indústria - Dissertação. 3. Restrição externa – Dissertação. 4. Modelo de simulação – Dissertação. I. Lourenço, André Luís Cabral de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BS. CDU 330.35:67(81).

(4) 3. Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues. O EFEITO DA POLÍTICA INDUSTRIAL SOBRE O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO: Uma análise voltada para projeção com ênfase no período 2016-2025. BANCA EXAMINADORA.

(5) 4. RESUMO. Tendo como motivação a discussão que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos anos acerca da evolução da indústria brasileira e seus impactos sobre a trajetória de crescimento econômico do país, nesta dissertação tivemos como objetivo realizar uma análise de simulação acerca do efeito da implementação de uma suposta política industrial sobre o potencial de desempenho do setor industrial e da economia brasileira no período de 20162025. Para dar suporte a esse estudo, desenvolvemos um modelo formal macroeconômico voltado para projeção, aqui construído a partir de Lourenço e Roos (2015) e dos principais desenvolvimentos teóricos recentes do modelo de crescimento sob restrição externa. A simulação do desempenho da indústria e da economia brasileira foi gerada no âmbito de três diferentes cenários, todos condicionados ao atual modelo de gestão da política macroeconômica do país. O Cenário 1 representa o desdobramento esperado dos eventos econômicos na ausência de qualquer política industrial adicional. No Cenário 2, incluímos a suposição de que, a partir de 2016, o governo implementa uma política industrial via redução da alíquota tributária do setor para 0%. Por fim, no Cenário 3 adotamos a suposição de que opera uma política industrial que não se manifesta pela mudança da alíquota tributária, mas sim por mecanismos de seletividade de crédito, política comercial, científica, tecnológica etc., os quais geram um aumento anual de 1,0 ponto percentual no peso das exportações industriais no total das exportações, e uma redução de mesmo ponto percentual no peso das importações do referido setor no total das importações. Os resultados obtidos sugerem que a implementação de uma política industrial do tipo especificamente considerado no Cenário 3, bem como uma mudança no atual modelo de gestão da política macroeconômica se fazem importantes para alavancar o crescimento econômico brasileiro; caso contrário, o país seguirá apresentando baixas taxas de crescimento.. PALAVRAS-CHAVE: Indústria. Crescimento econômico. Restrição externa. Modelo de simulação..

(6) 5. ABSTRACT. Having as motivation the discussion that has been developing over the past few years about the development of the Brazilian industry and its impacts on the trajectory of economic growth, in this dissertation we aimed perform a simulation analysis on the effect of the implementation of a supposed industrial policy on the potential performance of the industrial sector and the Brazilian economy in the 2016-2025 period. To give support to this study, we developed a formal macroeconomic model oriented to projection, built here from Lourenço and Roos (2015) and the main recent theoretical developments of the growth model under external constraint. The simulation of industry performance and the Brazilian economy was generated under three different scenarios, all conditioned to the current macroeconomic policy management model of the country. The Scenario 1 represent the expected development of economic events in the absence of any further industrial policy. In Scenario 2, we included the assumption that, from 2016, the government implements an industrial policy by reducing to 0% the tax aliquot in the industry. Finally, in Scenario 3 we adopt the assumption that operates an industrial policy that does not manifest itself by changing the tax aliquot, but by credit selectivity mechanisms, trade, scientific and technological policy etc., which generate an annual increase of 1.0 percentage point in the weight of industrial exports in total exports, and a reduction of the same percentage point in the share of imports of that sector in total imports. The results suggests that the implementation of an industrial policy of the type specifically considered in Scenario 3, as well as a change in current macroeconomic policy management model are importante to leverage Brazilian economic growth; otherwise the country will follow featuring low growth rates.. KEYWORDS: Industry. Economic growth. External constraint. Simulation model..

(7) 6. LISTA DE FIGURAS. FUGURA 1 – Participação percentual da indústria de transformação no PIB a preços básicos (1947- 2008) – Séries original e corrigida (% baseado em valores a preços correntes) . ..........58 FIGURA 2 – Evolução da estrutura industrial do Brasil (Valor da Transformação Industrial) segundo grupos industriais de acordo com sua especificidade tecnológica (1996-2010) (em %)..............................................................................................................................................65 FIGURA 3 – Evolução do adensamento produtivo (Valor da Transformação Industrial/Valor Bruto da Produção Industrial) da indústria brasileira segundo grupos industriais de acordo com sua especificidade tecnológica (1996-2010).....................................................................66.

(8) 7. LISTA DE GRÁFICOS. GRÁFICO 1 – Exportações totais e setoriais em US$ – 2016-2025 (Cenário 1) ................. 103 GRÁFICO 2 – Importações totais e setoriais em US$ – 2016-2025 (Cenário 1) ................. 105 GRÁFICO 3 – Estrutura simulada do saldo do balanço de pagamentos e o montante do passivo externo líquido (em US$) – 2016-2025 (Cenário 1) .............................................. 107 GRÁFICO 4 – Estrutura simulada do saldo do balanço de pagamentos e o montante do passivo externo líquido (em US$) – 2016-2025 (Cenário 2) ............................................... 116.

(9) 8. LISTA DE TABELAS. TABELA 1 – Lei de Thirlwall multi-setorial: Brasil (1962-2006) ........................................ 68 TABELA 2 – Taxa de crescimento do “resto do mundo”, taxa de inflação mundial, taxa de juros nominal externa e termos de troca setoriais nos anos 2016-2025 – (em termos %, exceto tt i ) ....................................................................................................................................... 96 TABELA 3 – Elasticidades-renda e preço da demanda por exportações e importações setoriais (2016-2025) ......................................................................................................................... 97 TABELA 4 – Taxa de inflação e taxa básica de juros da economia brasileira nos anos 20162025..................................................................................................................................... 98 TABELA 5 – Parâmetros g1,i , g 2,i e g 3,i no período 2016-2025 ........................................... 98 TABELA 6 – Taxas de crescimento setoriais e do agregado da economia (%) – 2016-2025 (Cenário 1) ........................................................................................................................... 99 TABELA 7 – Variáveis que determinam imediatamente a g BP (em termos %) – 2016-2025 (Cenário 1) ......................................................................................................................... 101 TABELA 8 – Estrutura de crescimento das exportações setoriais (%) – 2016-2025 (Cenário 1) .......................................................................................................................................... 104 TABELA 9 – Estrutura de crescimento das importações setoriais (%) – 2016-2025 (Cenário 1) .......................................................................................................................................... 106 TABELA 10 – Evolução da produtividade setorial do trabalho e dos indicadores relacionados ao mercado de trabalho (em %) – 2016-2025 (Cenário 1) .................................................. 108 TABELA 11 – Taxas de inflação setoriais e variáveis diretamente associadas à inflação – 2016-2025 (Cenário 1) ....................................................................................................... 109 TABELA 12 - Taxas de crescimento setoriais e do agregado da economia – 2016-2025 (Cenário 2) ......................................................................................................................... 111 TABELA 13 - Variáveis que determinam imediatamente a g BP (em termos % – 2016-2025 (Cenário 2) ......................................................................................................................... 113 TABELA 14 – Estrutura de crescimento das exportações setoriais (%) – 2016-2025 (Cenário 2) ....................................................................................................................................... 114 TABELA 15 – Estrutura de crescimento das importações setoriais (%) – 2016-2025 (Cenário 2) ....................................................................................................................................... 115 TABELA 16 – Evolução da produtividade setorial do trabalho e dos indicadores relacionados ao mercado de trabalho (em %) – 2016-2025 (Cenário 2) ................................................. 117 TABELA 17 – Taxas de inflação setoriais e variáveis diretamente associadas à inflação – 2016-2025 (Cenário 2) ....................................................................................................... 120 TABELA 18 – Taxas de crescimento setoriais e do agregado da economia (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (%) – 2016-2025 .................................................... 122 TABELA 19 – Variáveis que determinam imediatamente a g BP (Cenário 3) (em termos %) – 2016-2025.......................................................................................................................... 123 TABELA 20 – Exportações totais e setoriais (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em US$) ............................................................................................................. 125.

(10) 9. TABELA 21 – Estrutura de crescimento das exportações setoriais (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em %) – 2016-2025 ......................................................... 126 TABELA 22 – Importações totais e setoriais (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em US$) – 2016-2025 ........................................................................................ 127 TABELA 23 – Estrutura de crescimento das importações setoriais (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em %) – 2016-2025 ......................................................... 128 TABELA 24 – Estrutura simulada do saldo do balanço de pagamentos, montante do passivo externo líquido (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em US$) – 2016-2025 .......................................................................................................................................... 130 TABELA 25 – Evolução da produtividade setorial do trabalho, dos indicadores relacionados ao mercado de trabalho (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em %) – 20162025 .................................................................................................................................. 131 TABELA 26 – Taxas de inflação setoriais, variáveis diretamente associadas à inflação (Cenário 3) e médias comparativas dos três cenários (em %) – 2016-2025 ......................... 134.

(11) 10. SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 18 2.1 Introdução ................................................................................................................. 18 2.2 Uma abordagem setorial do processo de crescimento econômico .............................. 20 2.3 Os aprimoramentos teóricos recentes do modelo de crescimento de Thirlwall ............ 27 2.31 Uma versão desagregada (multi-setorial) da Lei de Thirlwall para a análise da mudança estrutural: o modelo de Araujo e Lima (2007) ............................................ 29 2.3.2 O tratamento da restrição externa de longo prazo ............................................ 32 2.3.3 O modelo de Amado e Dávila-Fernández (2014): uma inserção no modelo de Thirlwall do efeito da dinâmica de preços sobre o crescimento de longo prazo ......... 40 2.3.4 O papel da taxa de câmbio sobre o crescimento de longo prazo: as abordagens de Araujo (2011) e Ferrari, Freitas e Barbosa Filho (2013) ............................................. 46 2.4 Algumas considerações sobre a indústria e a economia brasileira no período pós- 1980 ....................................................................................................................................... 54 3. EXPOSIÇÃO DO MODELO DE CRESCIMENTO VOLTADO PARA PROJEÇÃO ............................................................................................................................................ 70 3.1 Introdução ................................................................................................................. 70 3.2 A dinâmica dos ativos e passivos externos e a determinação da taxa de câmbio nominal ........................................................................................................................................ 71 3.3 Restrição externa: a taxa de crescimento máxima permitida pelo balanço de pagamentos ..................................................................................................................... 79 3.4 O processo de formação de preços e da inflação ........................................................ 83 3.5 Algumas considerações finais sobre o modelo ........................................................... 90 4. IMPACTOS DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE O POTENCIAL DE CRESCIMENTO ECONÔMICO: SIMULAÇÕES PARA O PERÍODO 2016-2025 .................................................................................................... 93 4.1 Introdução ................................................................................................................. 93 4.2 Cenário 1: a economia na ausência de políticas industriais ......................................... 99 4.3 Cenário 2: implementação de uma política industrial via redução da alíquota tributária do setor ......................................................................................................................... 110.

(12) 11. 4.4 Cenário 3: implementação de uma política industrial composta por mecanismos de seletividade de crédito, política comercial, etc., exceto incentivo fiscal .......................... 120 4.5 Síntese dos resultados e perspectivas de política econômica ..................................... 135 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 139 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 146 APÊNDICES................................................................................................................ 153 APÊNDICE A – Regressão auxiliar para a determinação da variável ê R ................. 153 APÊNDICE B – Regressão auxiliar para a determinação da variável â K .................. 154 ̂ ............................. 155 APÊNDICE C – Regressão auxiliar para a determinação de ibo APÊNDICE D – Aspectos metodológicos referentes à estimativa dos parâmetros e variáveis utilizadas na modelagem da dinâmica dos ativos e passivos externos e da taxa máxima de crescimento permitida pelo balanço de pagamentos (g BP) da economia brasileira ................................................................................................................ 156 APÊNDICE E – Aspectos metodológicos referentes à estimativa dos parâmetros e variáveis utilizadas na modelagem do processo de formação de preços e da inflação ............................................................................................................................... 201 APÊNDICE F – Planilha síntese dos dados imputados e projetados no modelo tendo em vista a geração do Cenário 1.............................................................................. 240.

(13) 12. 1.. INTRODUÇÃO. Conforme mostra Furtado (2007), durante muito tempo, mais especificamente até 1930, o modelo de crescimento e desenvolvimento que caracterizou a economia brasileira foi o chamado modelo agrário-exportador. Entretanto, este modelo, além de conferir ao processo de crescimento da economia brasileira um caráter bastante cíclico (dada a alta volatilidade do mercado internacional de produtos primários), tornava o país extremamente dependente da importação de largas faixas de bens manufaturados. Assim sendo, conforme destaca Cano (2000), a Grande Depressão Mundial de 1929, ao provocar não só uma expressiva redução do investimento estrangeiro, mas também uma drástica queda do valor das exportações primárias brasileiras e, consequentemente, da capacidade de importação e de geração de renda e emprego, constituiu o estopim para o fim desse modelo de crescimento predominantemente agroexportador e, portanto, representou um divisor de águas na história da economia brasileira. A partir de 1930, no contexto de um modelo de crescimento e desenvolvimento voltado “para dentro”, ou seja, voltado para atender essencialmente as necessidades do mercado interno, a industrialização brasileira por substituição de importação, contando também com significativos investimentos estatais em infraestrutura e indústrias de base, expansão do crédito público e outras medidas de política macroeconômica, passou a se desenvolver aceleradamente, tornando a indústria o principal setor responsável pelo grande dinamismo apresentado pelo crescimento da economia nacional até fins da década de 1970 (LACERDA et. al., 2000). Entre 1930 e 1979 a taxa média de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro alcançou a marca de 6,38%.1 Entretanto, a partir de 1980, a crise da dívida externa e o consequente aprofundamento dos déficits do balanço de pagamentos brasileiro, bem como o agravamento do processo inflacionário, acabaram resultando não só num verdadeiro abandono do inacabado processo de transformação estrutural do país 2, mas também num grande revés para a indústria e a economia brasileira ao longo de toda a década (CANO, 2000; CARNEIRO, 2002). Associada à medíocre taxa média anual de crescimento de 0,9%, conforme coloca Cano (2000), a 1. Informação obtida a partir das taxas de variação real anual do PIB brasileiro a preços de mercado, disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015). 2. Expresso no fato que a pauta importadora brasileira permaneceu bastante concentrada em produtos manufaturados, sobretudo de maior valor agregado..

(14) 13. participação da indústria de transformação do país no PIB passou de 31%, em 1980, para 25,6%, em 1989. Já o PIB brasileiro cresceu à baixa taxa média de 2,2%. E mesmo o problema da elevadíssima inflação brasileira tendo sido resolvido a partir da implementação do Plano Real em 1994, e a grave questão da dívida externa e da restrição do balanço de pagamentos terem sido aliviadas a partir, respectivamente, da adesão ao Plano Brady (em 1992) e do retorno da liquidez internacional, a retomada do ritmo de crescimento econômico brasileiro em patamares elevados não ocorreu ao longo dos últimos anos. De acordo com Cano (2000), entre 1989 e 1998 o PIB brasileiro cresceu à média anual de apenas 1,9%, pouco abaixo, portanto, da média da década de 1980. Ao longo da primeira década dos anos 2000 a economia brasileira como um todo apresentou um crescimento marcado por uma grande alternância de períodos com mais alto e mais baixo crescimento. Na média do período 2000-2011 a taxa anual de crescimento do PIB real do país foi de 3,93%, isto, em grande parte, devido aos seguintes fatos: 1) o período 2004-2008 constituiu uma excelente época para o comércio internacional brasileiro, já que os preços internacionais das commodities exportadas pelo país subiram bastante; e 2) apesar da crise no cenário econômico mundial ter impactado negativamente o ritmo de crescimento da economia nacional a partir de 2009, o país ainda pôde contar nos anos 2010 e 2011 com um cenário externo bastante favorável em termos de preços de commodities e também com o afrouxamento pelo governo das políticas monetária e fiscal. De um modo geral, diversos autores da literatura econômica, seguindo uma perspectiva teórica heterodoxa, vêm tentando explicar a supramencionada tendência de baixo crescimento da economia brasileira ao longo dos últimos anos através da expressiva desaceleração e defasagem tecnológica apresentada pelo setor industrial no mesmo período. Autores como Palma (2005), Dasgupta e Singh (2006), Bresser e Marconi (2008), Oreiro e Feijó (2010) e Arend (2014), por exemplo, destacam que a desaceleração industrial brasileira, longe de representar apenas uma convergência natural da indústria nacional à média mundial 3, representa um processo de desindustrialização precoce e, portanto, um fenômeno nocivo para o processo de crescimento e desenvolvimento de longo prazo da economia. Dados os fatos e argumentos supramencionados, constitui problema a ser investigado nesta dissertação a seguinte questão: qual o efeito da implementação de uma suposta política. 3. A visão de que a desaceleração industrial brasileira representa simplesmente uma convergência à média mundial é adotada, por exemplo, por Nassif (2008), Bonelli e Pessoa (2010) e Bonelli e Pinheiro (2012)..

(15) 14. industrial sobre o potencial de crescimento da economia brasileira no período que compreende os anos 2016-2025? Levando em consideração um referencial teórico heterodoxo que considera o balanço de pagamentos como a principal restrição ao crescimento econômico, adotamos a seguinte hipótese como ponto de partida para a construção deste trabalho: dado o atual perfil do padrão de especialização da estrutura produtiva (marcado pela baixa presença de indústrias modernas ligadas à nova fronteira tecnológica e, assim, à produção de produtos de alto valor agregado) e da inserção comercial do país (pauta exportadora bastante concentrada em produtos primários e/ou de baixo valor agregado, e pauta importadora concentrada em produtos manufaturados de maior valor agregado), a indústria e, em consequência, o agregado da economia brasileira somente passarão a crescer de forma sustentada e a taxas mais elevadas caso haja uma transformação estrutural da economia induzida por uma eficiente política industrial. A necessidade da adoção de uma política macroeconômica que viabilize tal transformação também constitui hipótese deste trabalho. Isto não só porque se acredita que o atual modelo de gestão da política macroeconômica (apoiado na “tríade” meta de inflação, geração de superávits primários e câmbio flutuante) resulta em expressivo reforço ao histórico comportamento de baixo crescimento econômico (este marcado por surtos de crescimento, sucedido por “paradas súbitas”) 4, mas também porque, ao combinar elevadas taxas de juros (de efeito recessivo) e taxa de câmbio valorizada (facilitando, deste modo, as importações e dificultando as exportações), torna inviável/inconsistente a adoção bem-sucedida de qualquer política industrial. Nessa perspectiva, o presente trabalho tem dois objetivos gerais, definidos na ordem a seguir: I. avaliar o desempenho potencial do setor industrial e da economia brasileira num período de médio prazo (2016-2025), a partir da consideração de três diferentes cenários, simulados conforme a introdução ou não de dois possíveis tipos de políticas industriais, de um modo geral, as que operam diretamente via incentivos fiscais e, portanto, modificação dos preços relativos, e as que operam no sentido de diretamente modificar a estrutura produtiva do país, através de mecanismos de seletividade de crédito, política comercial, científica, tecnológica etc.;. 4. Conhecidos como “voos de galinha”..

(16) 15. II. e tendo em vista aplicá-lo nas simulações dos três supramencionados cenários, construir um modelo formal macroeconômico trisetorial (desagregado nos setores agropecuária, indústria e serviços), voltado para projeção e, assim como na modelagem desenvolvida por Lourenço e Roos (2015), condicionado pela atual forma de gestão da política econômica. Para alcançar tais objetivos gerais, foram traçados os seguintes objetivos específicos: i. justificar a importância do estudo em questão através da realização de uma breve retomada da abordagem setorial kaldoriana do crescimento; a mesma aponta o setor industrial como motor-chave do crescimento econômico; ii. apresentar os principais referenciais teóricos utilizados na construção do nosso modelo formal macroeconômico aplicado nas simulações. Os mesmos representam desenvolvimentos teóricos recentes do modelo de crescimento sob restrição de balanço de pagamentos elaborado originalmente por Thirlwall (1979), e constam nos seguintes trabalhos: Araujo e Lima (2007), Lourenço et al. (2011), Bhering (2013), Amado e Dávila-Fernández (2014), Araujo (2011) e Ferrari, Freitas e Barbosa Filho (2013); iii. justificar a atualidade do problema em estudo a partir da apresentação de uma síntese da discussão acerca da situação estrutural recente da indústria brasileira; iv. construir, a partir de Lorenço e Roos (2015) e das contribuições heterodoxas citadas no item (ii), um modelo formal macroeconômico trisetorial, voltado para projeção e condicionado pela atual forma de gestão da política econômica; v. apresentar os resultados de simulação do desempenho potencial do setor industrial e da economia brasileira no período de 2016-2025, obtidos a partir da aplicação do supramencionado modelo formal e da consideração de três diferentes cenários, os quais nos serão de extrema importância para avaliarmos o efeito da implementação de uma suposta política industrial. Assim sendo, convém detalhar que o CENÁRIO 1 foi gerado a partir da imputação e projeção de dados futuros, seguindo a estrutura teórica do modelo teórico construído neste trabalho; deste modo, o mesmo representa o desdobramento esperado dos eventos econômicos na ausência de qualquer política industrial adicional. No CENÁRIO 2, incluímos a suposição de que, a partir de 2016, o governo implementa uma política industrial via redução da alíquota tributária do setor, passando a mesma de diretamente de 10,16% (percentual considerado no.

(17) 16. Cenário 1) para 0% ao longo de todo o período de simulação. Por fim, no CENÁRIO 3, adotamos a suposição de que, a partir de 2016, opera uma política industrial diferenciada, que não se manifesta pela mudança da alíquota tributária setorial, mas sim por mecanismos de seletividade de crédito, política comercial, científica, tecnológica etc., os quais geram, na comparação com o Cenário 1, um aumento anual de 1,0 ponto percentual no peso das exportações industriais no total das exportações, e uma redução de mesmo ponto percentual no peso das importações do referido setor no total de importações; isto, porém, sem modificar as elasticidades-renda e preço das demanda por exportações e importações setoriais. A construção deste último cenário se baseou essencialmente nas proposições de Araujo e Lima (2007) ao destacar a importância de uma lei de Thirlwall multi-setorial. Uma vez isto posto, a presente dissertação está estruturada em mais quatro capítulos principais, além deste introdutório. O capítulo 2 constitui o marco teórico do presente trabalho e através dele buscamos alcançar os objetivos específicos listados nos supramencionados itens (i), (ii) e (iii). Para tanto, o mesmo foi dividido em quatro seções principais. Na seção 2.1 consta uma breve introdução ao capítulo. Na seção 2.2 é feita uma rápida retomada da abordagem setorial kaldoriana do crescimento. Na seção 2.3 são apresentados os aprimoramentos teóricos recentes do modelo de crescimento de Thirlwall (1979). Por fim, na seção 2.4, são sintetizadas algumas considerações sobre a indústria e a economia brasileira no período pós1980. No capítulo 3 foi construído o modelo macroeconômico citado no objetivo específico (iv). Além de uma breve seção introdutória às principais características e premissas do modelo, o capítulo foi dividido em mais três seções, as quais, para fins didáticos, resultaram na divisão do modelo nas seguintes partes: 1) a apresentação teórica da dinâmica dos ativos e passivos externos e a determinação da taxa de câmbio nominal; 2) a obtenção taxa de crescimento máxima permitida pelo balanço de pagamentos; e por fim, 3) a determinação do processo de formação de preços e da inflação doméstica. Já no capítulo 4 são apresentados os principais resultados obtidos a partir das simulações dos Cenários 1, 2 e 3. Por fim, no capítulo 5, temos as considerações finais deste trabalho. De um modo geral, a pesquisa apresentada neste trabalho pode ser classificada como sendo basicamente de dois tipos: a) bibliográfica, baseada na leitura de artigos científicos e na coleta de dados/informações de fontes secundárias (sobretudo sites oficiais do governo); e de.

(18) 17. certo modo, b) experimental, ao envolver a verificação dos impactos que os Cenários 1, 2 e 3 geram sobre o potencial de crescimento da economia brasileira. Tendo em vista o destaque que o setor industrial e/ou o possível fenômeno de desindustrialização vem tendo nos debates que buscam explicar as causas do baixo nível de crescimento apresentado pela economia brasileira ao longo dos últimos anos, o estudo realizado se justifica não só pela atualidade e relevância do tema, mas, principalmente, pelo seu ineditismo, revelado na construção de um modelo macroeconômico de crescimento voltado para projeção, tendo em vista simular o efeito da implementação de uma política industrial sobre o desempenho potencial da indústria e da economia brasileira..

(19) 18. 2.. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 2.1 Introdução. Neste capítulo tivemos como objetivo central destacar alguns dos principais desenvolvimentos teóricos recentes do modelo pós-keynesiano de crescimento elaborado originalmente por Thirlwall (1979). De um modo geral, os desenvolvimentos teóricos aqui destacados se caracterizam por questionarem fortemente três aspectos fundamentais presentes no modelo original de Thirlwall, quais sejam:  o caráter agregado do modelo, não permitindo capturar adequadamente a existência de múltiplos setores com diferentes elasticidades-renda e preço da demanda por importações e exportações, bem como a mudança estrutural da economia5;  a impossibilidade de um país manter uma trajetória de crescimento sustentado (compatível com o balanço de pagamentos) apresentando deficits permanentes em conta corrente; e por fim,  a desconsideração da dinâmica dos preços sobre o crescimento de longo prazo e, consequentemente, também da taxa de câmbio como uma ferramenta capaz de afetar o processo de crescimento. A escolha deste recorte teórico se justifica devido ao fato de o mesmo ter constituído importante fonte de inspiração para a construção do nosso modelo teórico voltado para projeção do crescimento econômico brasileiro 6. Isto, sobretudo porque, conforme nos mostra a experiência da trajetória de crescimento do Brasil, o mesmo historicamente apresentou saldo negativo na conta corrente (GIAMBIAGI, 2005). Além disso, não são raros os estudos nos quais a dinâmica da mudança estrutural, dos preços e da taxa de câmbio é destacada como 5. Num sentido amplo, conforme coloca Medeiros (2012), a mudança estrutural da economia pode ser definida como um processo de causação cumulativa dado pelas interconexões existentes entre três importantes variáveis: acumulação de capital, progresso técnico e evolução institucional, podendo o mecanismo destas interconexões ser descrito da seguinte maneira. O progresso técnico induzido pela acumulação de capital provoca mudanças nos custos de produção da economia e introduz novos bens, fatos estes que consequentemente induzem novos investimentos e mudanças na estrutura de produção e consumo. E uma vez que toda esta dinâmica econômica se encontra imersa numa ampla estrutura social, as instituições que a compõem (Estado e o conjunto de outras estruturas formais e informais – estas acumuladas no conhecimento social que se associa ao processo de produção) evoluem não só de acordo com as necessidades materiais, mas também criando novas necessidades através da retroalimentação com o progresso técnico. 6. Vide modelo no capítulo 3..

(20) 19. elemento relevante no processo crescimento do Brasil (vide, por exemplo: Prebisch, 1949; Lamonica e Feijó, 2011; Gala, 2006; Frenkel, 2004; Frenkel e Taylor, 2006; Bresser-Pereira e Marconi, 2008; Oreiro e Feijó, 2010). Além disso, tendo em vista que Kaldor, em linha com a hipótese central que guia o presente trabalho, parte do pressuposto que o setor industrial e, mais particularmente, o manufatureiro7, constitui um setor-chave no processo de crescimento e desenvolvimento econômico das economias capitalistas, com o objetivo de fornecer um melhor entendimento acerca da importância do referido setor, buscamos inicialmente fazer uma breve retomada da abordagem setorial kaldoriana do crescimento. A apresentação desta abordagem aqui é vista como importante porque a redução da participação da indústria no produto e emprego total da economia, ao vir se constituindo desde meados da década de 1980 um fenômeno verificado não só nos países desenvolvidos, mas também em diversos países em desenvolvimento da América Latina, África e Índia, pode erroneamente nos levar a pensar que a indústria deixou de ser um setor relevante para o processo de crescimento econômico (DASGUPTA e SINGH, 2006). Por fim, também buscamos destacar neste capítulo a discussão que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos dez anos acerca da evolução da indústria brasileira e seus impactos sobre o crescimento do país. Os pontos abordados neste debate constituíram motivação fundamental para a realização do estudo proposto no presente trabalho. Uma vez isto posto, o presente capítulo está estruturado em três seções principais, além desta introdutória. Na segunda seção será feita uma breve retomada da abordagem kaldoriana do crescimento de econômico de longo prazo. Na terceira, serão destacados os aprimoramentos teóricos recentes do modelo de crescimento de Thirlwall. E na quarta seção, apresentamos a discussão que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos dez anos acerca da evolução da indústria brasileira e seus impactos sobre o crescimento do país.. 7. De acordo com a taxonomia de Kaldor, o setor industrial inclui, além do setor manufatureiro, os setores de construção civil e o setor produtivo estatal (FREITAS, 2002). Já o setor manufatureiro é constituído mais especificamente apenas pela indústria de transformação (Vide “Produtos Manufaturados” in Sandroni, 1999). De acordo com Sandroni (1999, p. 300), a indústria de transformação distingue-se da produção agrícola e das indústrias extrativas, abrange a produção de matérias-primas elaboradas (aço), bens de capital (máquinasferramentas, autopeças) e bens de consumo (automóveis, roupas). Inclui-se nessa categoria também a produção agroindustrial, como açúcar, sucos e beneficiamento de produtos agrícolas..

(21) 20. 2.2. Uma abordagem setorial do processo de crescimento econômico. Conforme coloca Thirlwall (2005, p.15 e 43), os economistas não apresentam, em hipótese alguma, uma unanimidade sobre quais forças movem o processo de crescimento e quais as principais restrições a esse crescimento. A abordagem neoclássica do crescimento (representada pelo modelo de Solow (1956)8) e sua descendente, a “nova” teoria do crescimento (concebida nos modelos de Romer (1986) 9 e Lucas (1988)10), por exemplo, são não apenas muito orientadas para o lado da oferta, considerando a oferta de fatores (capital e trabalho) dada exogenamente, mas também muito agregativas, não destacando explicitamente nenhum setor como especialmente importante. Entretanto, conforme ressalta Thirlwall (2005, p.43), na prática, o crescimento agregado relaciona-se naturalmente com a taxa de expansão do setor que tem as características mais favoráveis ao crescimento. E segundo o mesmo, Nicholas Kaldor foi um dos primeiros economistas a abordar seriamente essa questão. Conforme colocam Dasgupta e Singh (2006, p.1), destacando a indústria e, particularmente, a manufatureira (o mais importante conjunto de atividades a compor o setor industrial) como o motor do crescimento econômico, Kaldor ficou conhecido na literatura econômica como um “apóstolo da industrialização”. Conforme expõe Freitas (2002, p.66), até antes de meados da década de 1960, Kaldor nitidamente atribuía à ideia de “dinamismo tecnológico” o papel de explicar porque algumas economias crescem mais rápido do que outras, dependendo tal dinamismo de fatores de natureza sociológica, com destaque para a capacidade de seus empresários em gerar e em absorver mudanças tecnológicas. Entretanto, em meados da década de 1960, Kaldor passou a questionar explicações do processo de expansão econômica que enfatizavam o papel do comportamento empresarial e de fatores sociológicos em geral; atribuindo o seu questionamento a uma mudança em sua metodologia de trabalho. Até então, segundo o próprio Kaldor (1978, apud Freitas, 2002), ele usava um método “apriorístico” que consistia em formular, a partir de axiomas macroeconômicos de natureza geral, seus modelos de. 8. SOLOW, Robert. Technical change and the aggregate production function. In: Review of Economics and Statistics, agosto, 1956. 9. ROMER, Paul. Increasing returns and long run growth. In: Journal of Political Economy, outubro, 1986.. 10. LUCAS, R. On the mechanics of economic development. In: Journal of Monetary Economics, v. 22, 1988..

(22) 21. crescimento dedutivamente. Contudo, em meados da década de 1960, ele teria passado a formular suas hipóteses explicativas a partir de um método mais intensivo em análise empírica, e uma vez que as explicações baseadas em fatores sociológicos não são, em geral, passíveis de quantificação e de teste empírico – e também não pareciam plausíveis com relação a alguns países –, o mesmo propôs uma explicação para os determinantes da taxa de crescimento que enfatizasse o papel de fatores econômicos capazes de quantificação e de teste empírico. Tal explicação foi proposta pela primeira vez por Kaldor em sua aula inaugural intitulada “Causas do Ritmo Lento do Crescimento Econômico do Reino Unido [no período pós-guerra]”, realizada na Universidade de Cambridge, em 1966. Neste trabalho, subdividindo a economia em três setores básicos: o primário, o industrial e o terciário 11, Kaldor apresentou uma série de “leis” ou generalizações empíricas que tentavam explicar as taxas de crescimento diferenciadas entre países capitalistas avançados, mas que também são aplicáveis aos países em desenvolvimento (THIRLWALL, 2005; FREITAS, 2002). A primeira “lei” identificada por Kaldor foi a existência de uma associação positiva entre a taxa de crescimento do produto e a taxa de crescimento do setor manufatureiro, aonde a direção da causalidade vai da taxa de crescimento do setor manufatureiro para a taxa de crescimento do produto12. Dado tal fato, é importante ressaltar que Kaldor (1978[1966] apud Freitas, 2002) também usou seus dados para mostrar que o crescimento do produto da economia como um todo não tem estrita relação com o crescimento de outros setores. O autor não achou nenhuma correlação entre o crescimento do PIB e o crescimento do produto do setor primário. Segundo o mesmo, a correlação entre o crescimento do PIB e o crescimento dos serviços é mais forte, no entanto, há razões para crer que a direção de causalidade pode ser inversa, indo do crescimento do PIB para o crescimento dos serviços, isto porque a demanda de muitos serviços deriva da demanda da própria produção manufatureira.. 11. Na taxonomia de Kaldor o setor primário engloba os setores agrícola e de extração mineral. Já o setor terciário engloba os setores de transporte e de comunicações e o comércio. No que se refere ao setor industrial, vide nota de rodapé número 7 (FREITAS, 2002). 12. De acordo com Kaldor (1978[1966] apud Freitas, 2002), a relação em questão não se deve ao fato de o produto do setor manufatureiro ser uma parcela significativa do produto das economias capitalistas desenvolvidas por ele investigadas. Para provar que a relação entre o crescimento do PIB e o crescimento da produção manufatureira não consiste numa correlação espúria, o autor colocou que é preciso fazer testes colaterais; nesse sentido, seus dados revelaram a existência de uma correlação empiricamente significativa entre o crescimento do produto e a diferença entre o crescimento do setor manufatureiro e o crescimento do setor não manufatureiro..

(23) 22. Uma vez identificada a primeira “lei” e dado que Kaldor considerava que as diferenças entre as taxas de crescimento dos países refletiam, fundamentalmente, discrepâncias nas suas taxas de crescimento da produtividade do trabalho, o passo seguinte de Kaldor foi encontrar alguma hipótese geral que explicasse como a taxa de crescimento do produto do setor manufatureiro/industrial seria capaz de influenciar a taxa de crescimento da produtividade do trabalho da economia como um todo. Para dar conta desta tarefa, o autor fez uso de duas outras regularidades empíricas, conhecidas na literatura como sendo a segunda e a terceira “leis” de Kaldor (FREITAS, 2002, p.68). A segunda “lei” encontrada por Kaldor destaca a existência de uma forte relação causal entre o crescimento da produção manufatureira (variável explicativa) e o aumento da produtividade no setor manufatureiro (variável explicada). De acordo com o mesmo, a supramencionada regularidade decorria da existência, no setor industrial/manufatureiro, de retornos crescentes de tipo tanto estáticos (referentes ao tamanho e à escala das unidades de produção) quanto dinâmicos (referentes aos rendimentos crescentes acarretados pelo progresso tecnológico “induzido” pela aprendizagem na prática, por economias externas na produção, e assim por diante). Neste ponto, Kaldor recuperou a contribuição do seu professor na Escola de Economia de Londres, Allyn Young (1928), que enfatizava os rendimentos crescentes como um fenômeno macroeconômico resultante da interação das atividades no processo de expansão industrial generalizada. A segunda “lei” de Kaldor também é conhecida na literatura como Lei de Verdoorn, decorrente do artigo (intitulado “Fatores que regulam o desenvolvimento da produtividade do trabalho”) que Verdoorn publicou em italiano, no ano de 1949, destacando justamente a supramencionada regularidade empírica (THIRLWALL, 2005, p. 46). Já a terceira “lei” de Kaldor afirma a existência de uma forte correlação positiva entre a velocidade de expansão do setor manufatureiro (variável explicativa) e o aumento da produtividade do trabalho no setor não industrial (variável explicada), como, por exemplo, dos setores primário e terciário. De acordo com Kaldor (1978[1966] apud Freitas, 2002, p. 69-70), no que se refere ao setor primário, a influência do crescimento do setor industrial sobre o crescimento da produtividade do trabalho dependeria da existência de um excedente de força de trabalho (como, por exemplo, desemprego disfarçado) na agricultura. Neste caso, a expansão do setor industrial poderia provocar direta ou indiretamente (ao induzir o crescimento do setor terciário) a absorção deste excedente e como, na visão de Kaldor, a redução destas reservas de trabalho não afetaria a produção do setor, então sua absorção estaria associada a um aumento da produtividade do trabalho no setor primário. Já no que se.

(24) 23. refere ao setor terciário, a relação em questão era explicada pelo fato de que nas atividades comerciais (ou de distribuição) o crescimento da demanda geraria automaticamente um crescimento da produtividade do trabalho. Assim sendo, como Kaldor sustentava que a expansão da demanda pelos serviços produzidos por estas atividades dependia significativamente do crescimento do produto industrial, então esta última variável também seria capaz de influenciar o crescimento da produtividade do trabalho no setor terciário. Tendo em vista tais “leis” que evidenciam o maior ou menor crescimento de um país pelo maior ou menor crescimento do seu setor manufatureiro/industrial, conforme coloca Freitas (2002, p.70), restou a Kaldor explicar – também como base em investigações empiricamente observáveis – por que o crescimento do setor manufatureiro/industrial em algumas economias é maior do que em outras. E ao explicar que fatores tanto do lado da oferta como do lado da demanda explicam a expansão do setor industrial, a importância da indústria como setor-chave da economia aparece reforçada. Do ponto de vista da demanda, Kaldor sustentou que, nos estágios iniciais do desenvolvimento, o que determina o crescimento do setor manufatureiro é a demanda proveniente da agricultura, à medida que este se desenvolve; já nos estágios posteriores de desenvolvimento, é necessariamente o crescimento das exportações (THIRLWALL, 2005). Conforme expõe Freitas (2002), de acordo com Kaldor, é possível que o crescimento, durante breve período, seja impulsionado pelo consumo, pelos investimentos ou gastos governamentais, entretanto, esses componentes da demanda, além de dependerem do crescimento da própria renda (como no caso do consumo e do investimento), também têm um conteúdo de importações, necessitando, portanto, de receitas de exportação para custear o conteúdo de importações dos demais componentes dos gastos; caso contrário, a demanda tem que ser cerceada. Desse modo, o balanço de pagamentos aparece como o principal fator do lado da oferta que pode restringir o crescimento. De acordo com Kaldor, a restrição de balanço de pagamentos existiria quando a uma determinada taxa de crescimento econômico corresponde uma taxa de crescimento das importações superior à taxa de crescimento das exportações. Assim sendo, e uma vez que as taxas de crescimento dos coeficientes de importação e de exportação de um país refletem o dinamismo dos mercados dos bens e serviços que compõem, respectivamente, sua pauta de importações e de exportações, Kaldor sustentou que os países industrializados inevitavelmente levariam vantagem sobre os países não industrializados, pois os produtos industriais, sobretudo, os tecnologicamente mais avançados, ao apresentarem elasticidade-.

(25) 24. renda da demanda maior que a unidade, possuem demanda mais “dinâmica” que os produtos primários, os quais apresentam elasticidade-renda da demanda inferior a unidade. Na verdade, Kaldor interpreta a supramencionada restrição de balanço de pagamentos como se fosse uma condição de equilíbrio em relação ao nível de produto, e somente mais tarde tais ideias foram formalizadas por Thirlwall (1979) num modelo de crescimento restrito pelo balanço de pagamentos. No entanto, apesar do modelo de crescimento de Kaldor merecer algumas considerações críticas 13, as mesmas não desqualificam a sua abordagem – testada empiricamente pelo mesmo – acerca da centralidade da indústria no processo de crescimento. É verdade que a tese de Kaldor acerca da importância da indústria tem sido bastante desafiada pela a experiência recente (no sentido de vir sendo verificada ao longo dos últimos 30 anos) dos principais países em desenvolvimento (como, por exemplo, vários países da América Latina – dentre eles o Brasil –, da África e também Índia), os quais, conforme coloca Dasgupta e Singh (2006), ao virem apresentando tendências estruturais de longo prazo desindustrializantes a um nível de renda per capita muito baixo em relação ao observado historicamente nos países avançados de hoje 14, fizeram emergir uma questão importante, qual seja: se houve uma ruptura fundamental com regularidade observada no passado, devido, talvez, à introdução de novas tecnologias revolucionárias, como as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), podendo isso levar o setor de serviços (em especial os relacionados com as TICs, telecomunicações, serviços de negócios e finanças) a substituir ou. 13 14. Vide Freitas (2002).. Conforme nos mostra o padrão histórico dos atuais países desenvolvidos, é perfeitamente normal que, a partir de elevados nível de renda per capita, os mesmos comecem a vivenciar um intenso processo de desindustrialização – definido por perdas de participação relativa tanto no emprego (Rowthorn e Ramaswany, 1999) como no produto total da economia (Tregenna, 2009). De acordo com tais autores, tal fenômeno ocorre porque, conforme já previsto pela conhecida Lei de Engel, a partir de determinado elevado nível de renda per capita, a elasticidade-renda da demanda de serviços tende a aumentar significativamente, se tornando maior que a elasticidade-renda da demanda por produtos manufaturados, levando, consequentemente, a um aumento da participação do setor de serviços tanto no emprego como no PIB, e concomitantemente, a uma redução da participação relativa da indústria. E lembrando também que a produtividade do trabalho cresce bem mais rapidamente na indústria do que no setor de serviços, o emprego industrial como proporção do emprego total da economia também tenderá a declinar. Desse modo, conforme colocam Rowthorn e Ramaswany (1999) e Tregenna (2009), a desindustrialização em economias avançadas não necessariamente constitui sinônimo de destruição da indústria, mas sim apenas uma consequência “natural” do processo de desenvolvimento exibido por seus países. Nesse ponto, conforme coloca Dasgupta e Singh (2006), há de se destacar que a maior produtividade do setor manufatureiro, ao fazer com que os preços das manufaturas aumentem muito mais lentamente, ou até mesmo caiam em comparação a uma ampla gama de serviços, acaba contrabalançando o efeito das elasticidades-renda supramencionado e, por sua vez, acaba tornando muito improvável que a demanda por manufaturados e serviços variem muito; e assim sendo, a indústria continua apresentando-se como setor bastante importante da economia..

(26) 25. complementar a manufatura como um motor do crescimento econômico nos países emergentes. Entretanto, o trabalho de Dasgupta e Singh (2006) testou, através de regressões lineares com dados de corte para 48 países em desenvolvimento15, não só a validade no período recente (1990-2000) de cada uma das três leis de Kaldor, mas também a hipótese de que algumas atividades de serviços podem ajudar a tornar o setor de serviços um motor adicional de crescimento16;17. Os resultados obtidos através das estimações realizadas 18 indicaram que o setor manufatureiro, em linha com a abordagem kaldoriana, continua sendo um setor importante para o crescimento. Entretanto, conforme os mesmos ressaltam, a correlação do crescimento do PIB com o setor de serviços também se mostrou bastante forte. Seguindo a linha de argumentação de Kaldor, isto facilmente poderia ser creditado ao fato de a indústria demandar uma grande maioria dos serviços, como por exemplo, serviços de varejo e transporte. Entretanto, conforme ressalta Dasgupta e Singh (2006), essa consideração kaldoriana não é. 15. Os países selecionados foram: Argélia, Argentina, Bangladesh, Barbados, Belize, Bolívia, Botsuana, Brasil, Burkina Faso, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Egito, El Salvador, Gana, Granada, Guatemala, Honduras, Índia, Indonésia, Jamaica, Quênia, Coréia, Malásia, Ilhas Maurício, México, Namíbia, Nepal, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Santa Lúcia, Singapura, Sri Lanka, Suriname, Tailândia, Trinidad e Tobago, Uruguai, Venezuela, Vietnam, Zâmbia. 16. Conforme Dasgupta e Singh (2006, p. 7, tradução nossa) “[...] as proposições de Kaldor são empiricamente melhor examinadas em relação a dados de seção cruzada em vez de em termos de séries temporais ou dados em painel normais. A razão para isso é que é preciso abstrair movimentos cíclicos para chegar à relação de longo prazo entre as variáveis.” Os autores também chamam atenção que um parecerista observou com razão que a análise de dados em painel poderia ter sido feito com a média de dez anos dos dados, de forma a contornar o problema das mudanças cíclicas. 17. O trabalho de Dasgupta e Singh (2006) tem um objetivo mais amplo de, a partir de um quadro referencial kaldoriano, examinar a evidência de desindustrialização nos países em desenvolvimento de baixos de níveis de renda, bem como a rápida expansão do setor informal nestas economias, sendo estas questões examinadas mais especificamente para o caso da Índia. Aqui destacamos, entretanto, apenas os pontos que, de um modo geral, nos interessam para esta seção. 18. As equações estimadas por Dasgupta e Singh (2006) foram as seguintes: 1) a taxa de crescimento do PIB em função da taxa de crescimento do valor adicionado (VA) pela manufatura; 2) a taxa de crescimento do PIB em função da taxa de crescimento do VA pela agricultura; 3) a taxa de crescimento do PIB em função da taxa de crescimento do VA pelos serviços; 4) a taxa de crescimento da produtividade total da economia em função da taxa de crescimento do VA pela manufatura e da taxa de crescimento do emprego no setor não- manufatureiro; 5) a taxa de crescimento da produtividade em função da taxa de crescimento do VA pela manufatura e da taxa de crescimento do emprego na agricultura; e por fim, 6) a taxa de crescimento da produtividade em função da taxa de crescimento do VA pelos serviços e da taxa de crescimento do emprego na agricultura. Para todas as equações estimadas foram realizados o teste funcional F, o teste de normalidade Jarque-Bera e o teste de White para heterocedasticidade. Tais testes demonstraram que apenas a equação 4 não apresentou os resultados esperados em termos da abordagem kaldoriana..

(27) 26. tão obviamente aplicável às modernas atividades de serviços como software, programação de computadores ou até mesmo outras de tecnologias de uso mais geral relacionadas com as TICs. Na verdade, os serviços relacionados ou envolvidos com as TICs em particular, parecem funcionar mais como indutores da expansão da produção industrial do que o contrário. Assim sendo, a conclusão geral obtida por Dasgupta e Singh (2006) pode ser sintetizada da seguinte forma. Em linha com a abordagem kaldoriana, a indústria continua sendo um setor crítico no processo de crescimento e desenvolvimento econômico dos países. No entanto, o setor de serviços, e mais especificamente, os serviços relacionados ou envolvidos com a produção das TICs, não devem ser desconsiderados como um relevante fator adicional de crescimento. Devendo a indústria, portanto, ter o seu papel de liderança dividido com uma parte em específico do setor de serviços. Para reforçar os resultados supramencionados, Dasgupta e Singh (2006) também destacam que o seu trabalho intitulado “Will Services Be the New Engine of Indian Economic Growth?” (publicado em 2005) forneceu mais especificamente algumas informações sobre setores de serviços individuais para a economia indiana. A partir deste, os autores constataram que os serviços relacionados com as TICs (atividades administrativas e de software) e muitos outros serviços apresentaram um crescimento mais rápido do que a manufatura ou o PIB, e este crescimento não se deu apenas devido ao fato de estarem atendendo demandas que partem da expansão do setor industrial, mas também por cumprirem pré-requisitos para a expansão de setores dinâmicos no sentido kaldoriano; podendo, portanto, ser considerado como um motor adicional de crescimento. Na verdade, de acordo com Dasgupta e Singh (2006), a perda de participação da indústria na produção e/ou emprego total da economia verificada nos diversos países de baixo nível de renda per capita, longe de significar a perda de importância da indústria no processo de crescimento econômico, está relacionada a dois problemas fundamentais: 1) a mudança do velho regime de substituição de importações por outro que, a partir da década de 1990, combinou uma rápida liberalização comercial e financeira da economia com políticas macroeconômicas que, em geral, mantêm a taxa de câmbio real muito baixa (explicação aplicável no caso mais especifico dos países da América Latina), e 2) o enfrentamento do aumento da concorrência nos mercados mundiais, como consequência da entrada, por exemplo, da China, da Índia e de outros países (explicação aplicável ao caso tanto dos países latino americanos e africanos como da economia indiana). Problemas estes que, na visão de.

(28) 27. Dasgupta e Singh (2006), revelam significativa urgência de políticas industriais bem formuladas e articuladas institucionalmente no âmbito dos referidos países. Deste modo, finalizamos esta seção apontando três pontos fundamentais que a abordagem kaldoriana do crescimento aqui destacada nos permite considerar. Primeiro, a importância da indústria como setor-chave continua sendo justificada não só pela sua grande capacidade de gerar aumentos de produtividade na economia, mas também pelo seu grande potencial de geração de emprego, capacidade para, por exemplo, gerar mudanças tecnológicas na economia (conforme pode ser percebido, ainda que indiretamente, na segunda “lei” de Kaldor), promover, no sentido da abordagem pioneira de Hirschman (1958), efeitos de encadeamentos para trás e para frente, gerar ganhos pelo comércio e permitir o relaxamento da restrição externa ao crescimento de longo prazo, uma vez que a elasticidade-renda da demanda dos produtos manufaturados é maior do que a elasticidaderenda da demanda dos produtos primários. Portanto, se justifica pelo grande potencial de dinamismo e sustentabilidade que pode conferir ao processo de crescimento e desenvolvimento econômico (PREBISCH, 1949; FURTADO, 1961; THIRLWALL, 2005). Segundo, esta capacidade de liderança do setor industrial deve, entretanto, ser dividida em parte com o setor de serviços (DASGUPTA e SINGH, 2006). E terceiro – fazendo-se uma soma dos dois pontos anteriores –, em termos contemporâneos, nos parece ser mais adequado falar não numa indústria moderna para o crescimento econômico, mas sim, numa estrutura produtiva moderna (englobando, portanto, o setor industrial e o de serviços) (OCAMPO, RADA E TAYLOR, 2009; SILVA, 2014).. 2.3 Os aprimoramentos teóricos recentes do modelo de crescimento de Thirlwall. Partindo de uma abordagem kaldoriana do crescimento liderado pelas exportações (modelo export-led growth) – especialmente de produtos industriais –, Thirlwall (1979) formalizou o seguinte modelo de crescimento, onde o balanço de pagamentos (BP), diferentemente do que ocorre no modelo de Kaldor, aparece não como uma condição de equilíbrio em relação ao nível de produto, mas sim como uma restrição ao seu crescimento:. gt = ε (Ζt) / π.

(29) 28. ou. gt / Ζt = ε / π Através de tal modelo, Thirlwall (1979) nos diz que a taxa de crescimento de um país é diretamente proporcional à taxa de crescimento de todos os demais países ( Ζ) e à proporção da elasticidade-renda da demanda por exportações em relação à elasticidade-renda da demanda por importações (ε e π, respectivamente). Isto significa dizer que, uma vez que os países apresentam um limite na oferta de divisas para atender suas necessidades de importações, a restrição externa ao crescimento será menor quanto maior a proporção da elasticidade-renda do comércio exterior, ou seja, quanto maior a relação (ε / π). Deste modo, a recomendação de política econômica que deriva de tal equação (denominada pela literatura Lei de Thirlwall) é que, a longo prazo, a única forma segura de aumentar a taxa de crescimento de um país, em consonância com o equilíbrio de balanço de pagamentos, é a realização de uma mudança estrutural da economia no sentido de aumentar ε e/ou reduzir π. (THIRLWALL, 2005). Neste ponto, é interessante notar que o próprio Thirlwall reconheceu a aproximação do seu modelo com as ideias de Raúl Prebisch da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o qual já destacava que a tendência de crescimento nas economias periféricas primário-exportadoras é menor que nos países industrializados, dada a menor elasticidade-renda da demanda dos produtos primários em relação aos produtos industriais. 19 Entretanto, levando em consideração que o supramencionado modelo de Thirlwall (1979) representa essencialmente um modelo agregado para um setor, não captando, deste modo, as diferentes elasticidades-renda da demanda por exportações e importações apresentadas pelos diferentes setores que compõem a estrutura produtiva de um país; assume que o desempenho do balanço de pagamentos é igual à balança comercial e de serviços (nãofatores), devendo o mesmo estar equilibrado no longo prazo; bem como adota a validade da paridade de poder de compra (PPC) no longo prazo; é possível perceber que o mesmo 19. Simplesmente estimando as correlações seriais entre a taxa de crescimento real e a taxa prevista, este modelo foi aplicado pelo próprio Thirlwall (1979) a uma série de países desenvolvidos. Além disso, conforme Thirlwall (2005, p.65-66) ressalta, existem testes paramétricos formais que também confirmam o modelo na vasta maioria dos casos; as situações em que isso não ocorre são as de países que tiveram grandes superávits do balanço de pagamentos durante períodos longos, ou grandes déficits financiados por entradas de capital. Amado e DávilaFernández (2014) também citam uma série de trabalhos que comprovam a validade do modelo de Thirlwall numa grande variedade de países..

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