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Alguns acessórios mais comumente usados pelos inquisidores para obter a confissão dos acusados

Cadeira inquisitória: Com até 1.600 pontas afiadas de ferro ou madeira, sobre as quais as vítimas, completamente nuas, se sentavam para serem interrogadas. Por vezes, a fim de aumentar o sofrimento, o assento de ferro era aquecido.

Esmagador de joelhos, polegares e mãos: Cada um desses três instrumentos tinha funções específicas, conforme os nomes indicam. Eram, no geral, prensas que esmagavam as ditas partes do corpo.

Esmaga seios: O instrumento preferido no século XV para torturar as mulheres acusadas de bruxaria. O seio era envolto por um ferro retangular aquecido ao máximo. Eram esmagados com movimentos bruscos e circulares.

Despertador: Uma espécie de cavalete de madeira ou de ferro, com um vértice pontiagudo. Os acusados eram puxados por cordas ligadas a roldanas e suspensos até certa altura. Depois eram rapidamente lançados sobre o despertador de forma que o ânus e as partes sexuais tocassem a ponta da pirâmide. Dependendo da maneira como o instrumento estivesse afiado, as partes íntimas arrebentavam, entre elas, os testículos, a vagina e o cóccix.

Roda de despedaçamento: O acusado era colocado de costas sobre uma roda de ferro, sob a qual havia brasas. Então a roda era girada lentamente, o que causava uma morte lenta depois de longas horas de dor e gerava queimaduras de alto grau. Há uma segunda versão onde a roda é usada para dilacerar o corpo dos condenados. Em vez de brasas, eram usados instrumentos pontiagudos.

Mesa de evisceração: Considerado um dos mais cruéis instrumentos. Era usado para extrair de maneira lenta e mecânica as vísceras dos condenados. Depois de abrir a região abdominal, as vísceras eram puxadas uma a uma por ganchos pequenos que eram presos a uma roldana que, por sua vez, era girada pelo carrasco.

Pêndulo: Usado para deslocar os ombros e preparar para outros tipos de tortura. A vítima era levantada por cordas presas aos pulsos e depois, bruscamente, solta para depois ser levantada novamente, antes do corpo chegar ao solo.

Cavalete: Instrumento usado na inquisição portuguesa. A vítima era deitada de costas numa mesa que continha material cortante. Por meio de um funil colocado na boca, o carrasco enchia seu estômago com água. Depois ele pulava em cima da barriga do réu, forçando a saída do líquido. Isso era repetido até que o culpado morresse.

Donzela de ferro: Também chamado de Virgem de Nuremberg, famoso instrumento imortalizado pelo nome da banda de heavy metal, Iron Maiden. Era uma espécie de caixão com o tamanho e a forma de uma mulher. A vítima era

colocada no interior, onde havia lâminas dispostas de tal maneira que, uma vez que a porta era fechada, a pressão fazia com que perfurassem o corpo, provocando sangramento e morte lenta.

Manjedoura: Uma caixa longa em que a vítima era posta de costas e tinha as mãos e os pés amarrados. O corpo era esticado até que os ossos estalassem ou as juntas fossem desmembradas.

Poder e fé

Como a Inquisição, que foi uma das principais fornecedoras de documentos que compõem os Arquivos Secretos, conseguiu reunir tantas informações?

O poder temporal foi responsável por esse resultado, uma vez que por meio dos processos inquisitórios muitas informações chegaram aos Arquivos Secretos. No século XV, reinos como os de Castela e Aragão solicitaram a permissão para instalar suas próprias versões da Inquisição, visando obter uma uniformidade de visão entre seus reinos em unificação.

No caso dos famosos reis católicos, Fernando e Isabel, foi com seu casamento que o reino conquistou as terras dos muçulmanos na Península Ibérica e no dos judeus sefaraditas, designação dos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha, foi obtida a unidade nacional que antes não existia.

O chamado Tribunal do Santo Ofício, o outro nome da Inquisição, cuidou dos casos de conversão de judeus e muçulmanos que passaram a ser parte importante dos reinos que buscavam sua unificação. De fato, alguns se viram obrigados a renegar sua religião original e aderir ao cristianismo para não abandonar os países em que já estavam instalados. Essa é a origem do termo "cristão-novo". Os pesquisadores já descobriram que, em muitos casos, apesar da declaração de conversão, muitos judeus ainda praticavam seus ritos normais em segredo dentro do lar, chamados de cripto-judeus, o que fatalmente gerou uma onda de acusações de pessoas que buscavam as boas graças dos inquisidores.

Entretanto, nem todos passaram a exercer sua religião original clandestinamente. Alguns, de fato, se convertiam. E como ocorreu a ligação entre uma instituição

religiosa e o poder temporal? Desde cedo, o poder dos reis se apossou da Inquisição como forma de obter seus objetivos econômicos, afastando-se aos poucos de seu objetivo religioso. No caso espanhol, por exemplo, a Inquisição espanhola, que já chegou a ser ridicularizada em filmes e programas de TV por comediantes como o judeu Mel Brooks e os britânicos do Monty Phyton, empreendeu uma gigantesca campanha contra os inimigos dos reis católicos.

Ao colocar o poder da fé junto ao da lei, ela se tornou de fato um dos piores pesadelos da humanidade. O assunto gerou tanta polêmica e curiosidade que até hoje são produzidos documentários sobre o assunto. Em novembro de 1994, a BBC de Londres apresentou o documentário The Myth of the Spanish Inquisition (O mito da inquisição espanhola), que se baseava em informações retiradas de "arquivos fechados", ou seja, dos Arquivos Secretos.

Segundo o programa, "a inquisição espanhola, tida como a mais cruel e violenta, teve, na verdade, sua imagem distorcida por protestantes que queriam minar o poder da maior potência mundial na época: a Espanha". O programa ainda fala que cada processo inquisitorial foi registrado durante os 350 anos em que a Inquisição espanhola esteve em atividade e, segundo o professor especialista Henry Kamen, os registros são bastante detalhados e trazem uma visão "muito diferente da que estava cristalizada na mente dos historiadores".

O importante para nossa explanação é saber que a Inquisição não floresceu apenas na Espanha. Em países como Itália e Portugal também foram instalados tribunais com as mesmas funções. Em Portugal, porém, o papa teria visto os abusos cometidos pelo ramo espanhol e recusado uma permissão, o que teria feito com que os regentes portugueses ameaçassem com a criação de uma inquisição régia, pois, segundo eles, era algo urgente para o reino. Isso tudo porque os portugueses não queriam perder terreno e influência para seus rivais espanhóis.

Assim, em 1249, implantou-se no então reino de Aragão a primeira Inquisição estatal. Tempos depois, já na Idade Moderna, com a união dos reinos de Aragão e Castela, assumiria a designação de Inquisição Espanhola, instituição sob controle direto da monarquia hispânica, que estendeu depois sua atuação para a América. A Inquisição portuguesa começou suas atividades em 1536 e esteve em

funcionamento até 1821. Em Roma, na Itália, a Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício esteve em plena atividade até 1965.

Capítulo 3