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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E A

1.2 Alguns aspectos da Educação Especial no estado de São Paulo

Tendo como referência a produção dos conhecimentos acerca da história da Educação Especial, pode-se afirmar que, em linhas gerais a história da Educação Especial no estado de São Paulo vem a corroborar a história da Educação Especial no Brasil, nos seguintes aspectos:

 Nos primórdios do atendimento às pessoas com deficiência, havia no estado instituições

de assistência psicopedagógicas e de reabilitação (JANNUZZI, 2012). A primeira instituição do estado, assim como no Brasil, era destinada a alunos cegos e foi fundada em 1928, a ainda nomeada de “Instituto de Cegos Padre Chico”. A segunda instituição foi criada para alunos com surdez, o “Instituto Santa Teresinha para Surdos”, em 1929. E logo no início da década de 1960 foi fundada a primeira APAE no estado (MAZZOTTA, 2005).

 Estabelecimento de convênios com instituições filantrópicas (sem fins lucrativos) para o atendimento educacional das pessoas com deficiência, por meio do repasse de verbas (federais, estaduais e/ou municipais) e também o repasse de recursos humanos, que consiste no “empréstimo” de servidores públicos às instituições (MARTINS, 2012; SANTOS; MENDES, 2013).

 Abertura em larga escala de classes especiais em escolas regulares estaduais para a escolarização dos alunos com deficiência, em turmas pequenas e categoriais. No entanto, estas classes foram alvo de duras críticas, pois eram utilizadas como escape, um subterfúgio para as impropriedades e fracasso do ensino regular. Assim, demasiadamente alunos com fracasso escolar eram encaminhados a estas classes e rotulados na época como “deficientes mentais” (FERREIRA, 1992). Embora a legislação preconizasse o atendimento às pessoas com deficiência, condutas típicas e altas habilidades ou superdotação, as proposições de serviços e atendimentos voltavam- se em suma às pessoas com deficiência (D’ANTINO, 1998).

 Implantação de salas de recursos para apoiar de forma complementar e suplementar a

escolarização dos alunos no ensino regular, no contraturno (MARTINS, 2012).

 Aumento expressivo no número de matrículas dos alunos alvo da Educação Especial

em instituições de ensino, e no ensino nas classes comuns do ensino regular a partir dos anos 2000 (MARTINS, 2012).

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 Adoção de uma base legal sob a perspectiva da educação inclusiva para o encaminhamento da Educação Especial no estado (BUENO et al, 2005).

As décadas de 1990 e 2000 foram fortemente marcadas pelas discussões e implementações de políticas para a Educação Especial, na perspectiva filosófica da educação inclusiva. Os números de matrículas dos alunos alvo da Educação Especial no censo escolar apontam avanços em relação ao acesso à escola comum, que ao longo da história era restrita para essa população. A tabela 1, a seguir, apresenta os dados de matriculas do estado de São Paulo, obtidos no site do Instituto Nacional de Educação e Pesquisa – INEP, durante o período do estudo, à exceção dos anos de 1997 e 1998, pois a sinopse desses dados não encontravam- se disponíveis.

TABELA 1- TOTAL DE MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO POR REDE DE ENSINO

FONTE: A autora, com base nos dados do censo escolar (consulta a matrícula) INEP.

Com base nos dados apresentados pela tabela 1, pode-se notar que o total de matrículas na Educação Especial aumentou modestamente, ano a ano, a exceção do ano de 2004, quando houve diminuição no número total de matrículas.

Ao longo do período analisado observa-se que no número de matrículas na rede estadual de ensino cai 54% (n= -7303), enquanto aumenta o número de matrículas da Educação Especial nas redes municipais de ensino do estado de São Paulo, possivelmente devido à política de municipalização do governo federal. O gráfico 1 a seguir, ilustra a inversão no número de matriculas entre as redes estadual e municipais, mas sem que isso alterasse o crescimento de matrículas nas instituições privadas. Cabe destacar ainda que os dados censitários indicam grandes oscilações nos números de matriculas de ano para ano, fato esse que evidencia certa inconsistência nesses dados.

A partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988), ficou estabelecida a descentralização do ensino, processo de municipalização, por meio do regime de colaboração entre União, Estado e

MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO Rede de Ensino 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Federal - - - - Estadual 16.029 15.646 14.966 13.156 12.592 8.726 Municipal 13.070 14.409 14.825 15.856 16.891 17.022 Particular 31.070 31.312 36.346 38.750 42.550 44.700 TOTAL 60.337 61.367 66.137 68.067 72.081 70.448

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Município (SOUZA, FARIA, 2004), na qual proporcionou aos municípios maior independência para solucionar suas dificuldades político-administrativas, inclusive as relacionadas à Educação Especial (MENDES, 2001). Ficou estabelecido que à União caberia o repasse mínimo de 18%, e aos estados e municípios de 25% da arrecadação de impostos, conforme o artigo 212 (BRASIL, 1988).

GRÁFICO 1- MATRÍCULA DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NAS REDES DE ENSINO: ESTADUAL, MUNICIPAL E PARTICULAR

FONTE: Elaboração própria, com base nos dados do censo escolar- 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004.

A perspectiva de educação inclusiva para a Educação Especial foi assumida pelo estado, conforme orientação nacional (BRASIL, 1988, 1996), e durante o período de 1997 a 2012, o estado de São Paulo foi governado por cinco membros do Partido da Social Democracia Brasileira –PSDB, sendo eles: Mário Covas (1995 a 2001) e Geraldo Alckimin (2001 a 2006). A partir do momento em que o PSDB deixa de ser o partido do Presidente da República, quando o candidato Luís Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores, assume o poder, os governos do estado de São Paulo começam a fazer parte da oposição partidária ao governo federal. Assim, dada as diferenças nas ideologias partidárias as políticas e diretrizes estaduais e federais começaram a se diferenciar em alguns aspectos no âmbito do estado, tais como na definição de quem é o público-alvo da Educação Especial, nos tipos de provisões de serviços, etc. 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 45.000 50.000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Nú m er o de m atr ícu las Anos

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Além disso, cabe ressaltar que, com o processo de municipalização do ensino, os municípios ganharam autonomia para adotar, ou não, as propostas feitas oriundas do MEC, ou mesmo para criar outras propostas.

Assim, quando se fala em estado de São Paulo há que se considerar que há diferentes interpretações em curso sobre como deve ser a política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Estudos realizados no âmbito do Observatório de Educação Especial (Oneesp) em 17 estados brasileiros têm mostrando que há particularidades bastante significativas nas concepções e implementações das políticas de escolarização do público alvo da Educação Especial (MENDES; CIA, 2014). A partir dos relatos dos pesquisadores participantes do Oneesp pôde-se compreender que os atuais encaminhamentos sobre a Educação Especial e os serviços ofertados podem ser decorrentes da história de cada estado e/ou município com a Educação Especial. Neste sentido, as histórias locais (estadual e municipal) podem convergir ou divergir das narrativas existentes sobre a história da Educação Especial no Brasil. De acordo com Evangelista (2004), as pessoas e o contexto são produtos da própria história, na qual, são também, agentes de sua produção. Nesta perspectiva, o presente traz consigo reflexos do passado, assim, parte-se do pressuposto que o conhecimento da história nos permite uma melhor compreensão da realidade presente.

1.3 Uso da mídia impressa na produção em história e Educação Especial: a