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Uso da mídia impressa na produção em história e Educação Especial: a necessidade

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E A

1.3 Uso da mídia impressa na produção em história e Educação Especial: a necessidade

Na sociedade contemporânea o uso das mídias é cada vez mais intenso, e elas estão em constante transformação e aprimoramento, tendo em vista atender as demandas sociais de seu público-alvo.

Conforme os registros históricos, a mídia impressa foi a primeira a ser elaborada e utilizada pelos homens, e permanece em circulação até os dias atuais, sendo um meio de comunicação em massa importante e popular. As mídias impressas utilizam-se, essencialmente, da escrita e de imagens. Com a escrita, forma de registro da linguagem oral, se tornou possível que a comunicação rompesse determinadas barreiras do tempo e espaço (MIRANDA, 2007).

Dentre os diferentes formatos que a mídia impressa pode assumir, temos o jornal, que no Brasil chegou após a vinda da família real portuguesa, no Rio de Janeiro, em setembro de 1808, com início da circulação do “Jornal Gazeta”. No estado de São Paulo, 86 anos depois, ou seja em 1894, entraria em circulação o primeiro jornal no estado “A Tribuna de Santos” (SOUZA, 2004).

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Atualmente no Brasil, existem centenas de jornais em circulação, o que mostra o crescimento e a expansão desta mídia em todo território nacional. O jornal tem como principais características: periodicidade; linguagem popular e acessível a diferentes públicos; conteúdo genérico, onde se veiculam notícias e opiniões dos diversos temas de interesse social. Estas características tornam o jornal popular e uma rica fonte histórica, pois conta o que teve visibilidade na mídia naquele contexto em determinado período.

No campo da produção em história da educação, Zanlorenzi (2010) aponta a utilização do jornal, e da mídia impressa em geral, como fonte documental histórica promissora, pois permite “analisar o contexto educacional e as relações envolvidas nesse processo” (p.64).

Ao problematizar o uso do jornal diário como fonte de dados para a pesquisa em história da Educação, Vieira (2007) argumenta que o jornal é uma fonte documental preciosa, que permite conhecer, investigar e analisar “dos personagens ilustres aos anônimos, do plano público ao privado, do político ao econômico, do cotidiano ao evento, da segurança pública às esferas cultural e educacional” (p. 13).

As fontes históricas oriundas da mídia têm sido cada vez mais utilizadas como fontes primárias, ou seja, fontes produzidas que possuem uma relação direta com as questões de pesquisa (TOLEDO; GIMENEZ, 2009). Assim, a produção científica em história tem se apropriado deste tipo de fonte, deixando de utilizá-la somente como fonte secundária, na qual tem relação indireta com o tema a ser investigado.

Apesar da utilização de fontes documentais oriundas na mídia impressa ser relevante e considerada como promissora, no campo da Educação Especial pouquíssimo se tem utilizado a mídia impressa como fonte documental para a análise e construção de sua história. Em alguns casos, o material produzido pela mídia impressa, tem sido explorado especificamente com o objetivo de identificar concepções e representações acerca das pessoas com deficiência.

Ao analisar atuação da mídia enquanto veículo de comunicação e de representações de discursos e ideologias, Pontes, Naujorks e Sherer (2001) concluíram que a mídia tem sido bastante catalisadora de estereótipos.

No ano de 2003, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância - ANDI, uma organização da sociedade civil, publicou o documento “Mídia e Deficiência”, com os resultados obtidos na pesquisa que investigou o tema da deficiência nos jornais brasileiros e concluiu que a sociedade brasileira não tinha se apropriado do discurso inclusionista, estando ainda muito pautada nos princípios de integração, considerado ultrapassado e obsoleto, pelas autoras.

A pesquisa realizada por Vimieiro e Maia (2011), teve como objetivo analisar a cultura pública mediada sobre o tema da deficiência de 1960 a 2008 no Brasil e concluiu que havia um

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profundo processo de aprendizado social, na aceitação das pessoas com deficiência, principalmente no tocante a inclusão desta população na sociedade. Os resultados das análises realizadas pelas autoras confrontam a análise da pesquisa realizada pela ANDI, a qual questionam os critérios muito rígidos estabelecidos nos procedimentos de análise dos dados.

Com o intuito de análise histórica da produção veiculada pela mídia impressa, especificamente em um jornal local, foi realizada uma série de pesquisas integradas que tiveram como objetivo central a reconstrução da história da Educação Especial do município de São Carlos, interior do estado de São Paulo, em um período de 25 anos, 1981 a 2010 (SANTOS, 2013; GRILLO-STÁBILLE, 2013; GOUVEIA, 2013).

Santos e Mendes (2012, 2013), analisando os dados sobre a história da Educação Especial do município de São Carlos- SP, contada pelo jornal local, mostraram como a filantropia e a Educação Especial continuam imbricadas, e possuem uma relação simbiótica, a despeito de todo o discurso sobre educação inclusiva. O estudo baseado num jornal do município, permitiu identificar iniciativas da universidade local em relação ao público-alvo da Educação Especial; ações do poder executivo municipal, divulgação de eventos de formação e capacitação profissional, criação de programas educacionais destinados aos alunos com deficiência da rede pública e as, já anunciadas, parcerias estabelecidas entre setor público e privado para a oferta do atendimento dos alunos público-alvo da Educação Especial.

O presente estudo representa uma expansão dessa linha de investigação do Grupo de Pesquisa sobre Formação de Recursos Humanos em Educação Especial (GP-FOREESP) sobre análise histórica da produção veiculada pela mídia impressa, abordando o contexto do estado de São Paulo, e através de um jornal de maior circulação, na expectativa de que a compreensão dos textos publicados no jornal O Estado de S. Paulo permitirá a produção de novas histórias e novas perspectivas sobre histórias já produzidas.

Como as pesquisas e a historiografia se fazem com base em problematizações oriundas e próprias de cada tempo, e considerando a produção em história da Educação Especial e seu contexto atual, as questões de pesquisa que mobilizaram este estudo foram:

 Quais são as histórias da Educação Especial narradas pelo jornal O Estado de São Paulo?  Quais temas e personagens foram mais frequentes? E como se relacionam?

 Qual concepção sobre Educação Especial foi disseminada?

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