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ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA (2003 2007)

AS POLITICAS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR: O MODELO NEOLIBERAL DE REFORMAS

1 A UNIVERSIDADE COMO INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL

2 O MODELO NEOLIBERAL INSTITUÍDO: AS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR A PARTIR DOS ANOS

2.4 ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA (2003 2007)

É no sentido de compreender como vêm se processando as atuais políticas para a Educação Superior que ressaltamos a política do presidente Luis Inácio Lula da Silva (Lula) que assumiu seu primeiro mandato em janeiro de 2003, devendo concluir seu segundo mandato em 2010. Mancebo (2004) define seu governo como herdeiro de um complexo jurídico-institucional dos anos de 1990, especialmente do governo Fernando Henrique, que, com a ascensão da política neoliberal, pautou-se pelo ajuste fiscal e pela implantação de um Estado mínimo e, conseqüentemente, de uma diminuição de investimentos na educação nos diversos níveis, inclusive na Educação Superior.

Com relação à Educação, a proposta de campanha à presidência do Brasil divulgada por Lula no ano de 2002 tinha por título: “Uma Escola do Tamanho do Brasil”, com traços de uma crítica incisiva às políticas do MEC e dos governos anteriores pela ausência de medidas com relação às políticas sociais, assinaladas por poucas prioridades nas gestões governamentais dos anos de 1990. No entanto, Mancebo (2004) esclarece que os primeiros dezessete meses da política de Lula foram marcados por uma descrença em relação às políticas sociais, pois a prioridade de Lula foi o ajuste fiscal, remetendo os planos sociais para segundo plano.

Para o campo da educação, as reformas se caracterizam como uma reconfiguração das esferas pública e privada, sinalizando para o processo de privatização. Mancebo (2004, p. 78) ressalta que, nos anos de 2003 e início de 2004, foi encomendada uma pesquisa para analisar a Educação Superior que destacou, enfaticamente, os altos gastos com essa modalidade de ensino, considerado, a partir desta investigação, como um entrave para as

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políticas sociais, expressado na fala do Ministro da Fazenda Antônio Palocci: “[...] o esforço fiscal e social médio por aluno associado à oferta gratuita de ensino superior no Brasil é superior ao esforço realizado em países mais ricos e bem superior ao de países em desenvolvimento.”

De acordo com os dados de uma Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente 34.4% dos alunos considerados mais ricos estão no ensino público e, quando a relação se refere ao ensino privado, os índices sobem para 50%. Esses dados contradizem o discurso divulgado pelo Ministério da Fazenda em 2003 que a Educação Superior pública beneficiaria cerca de 46% dos 10% dos estudantes considerados mais ricos da população brasileira. A PNAD também informa que a renda familiar dos alunos do ensino público é inferior comparada aos alunos do ensino privado: de cada cem universitários que estão no ensino público, doze estão entre os mais pobres, já no ensino privado, esse número cai para cinco (MANCEBO, 2004). Com isso, a autora conclui que, contrário ao discurso de que a Educação Superior pública beneficia, em grande parte, os mais ricos da população, essa modalidade de ensino representa para milhões de brasileiros a única possibilidade para ingressar na universidade e obter uma formação qualificada.

Subsidiada nos dados do Inep de 2002, Mancebo (2004) ressalta que, nas últimas duas décadas, houve um aumento de 250% do número de alunos concluintes do Ensino Médio33. Com relação à Educação Superior, o Inep informa que em 2004, cerca de 9% da faixa etária entre 18 e 24 anos estavam na Educação Superior, chegando, em 2006, a 12%34.

Entre as medidas para a expansão da Educação Superior, o então ministro Tarso Genro lançou o Programa de Democratização do Acesso à Educação Superior, o Programa Universidade para todos (ProUni), lançado em 13 de maio de 2004. A justificativa, segundo Mancebo (2004) para a criação do programa, baseou-se nos seguintes pressupostos: o sistema de Educação Superior atendia apenas a 9% da população em idade

33 Os dados do Inep também informam que em 1980, o número de alunos que concluía a última etapa da Educação Básica era em torno de 540 mil, já em 2002, atingindo cerca de 1,9 milhão (MANCEBO, 2004). 34 Mesmo que tenha aumentado o número de ingressantes na Educação Superior, ainda ficamos atrás de muitos países latino-americanos, como Argentina e Chile.

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escolar na faixa etária entre 18 e 24 anos35; pelo crescimento do Ensino Médio; e a existência de vagas ociosas nas instituições privadas. O aproveitamento para o programa seria na forma de bolsas integrais, com o intuito de viabilizar o ingresso de 300 mil novos alunos na Educação Superior privada. As vagas destinar-se-iam a alunos carentes com renda per capita de até um salário mínimo que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e para professores da rede pública de Ensino Fundamental sem diploma de Educação Superior. Destacamos, ainda, que o programa passava a adotar uma política de cotas para aqueles que se auto declarassem negros, pardos e indígenas de acordo com a proporção nos respectivos estados.

O acesso à universidade privada pelo ProUni, depende, preferencialmente, da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que isenta o aluno de prestar qualquer outro processo seletivo da instituição. Em troca do oferecimento das vagas, as instituições privadas ficam isentas de impostos federais. Para o contexto da Educação Superior pública, mediante a criação dessas medidas de acesso à universidade, Mancebo (2004) assevera que o quadro atual é de crise, configurando o afastamento do Estado das esferas sociais, estando a universidade a sofrer pelos salários arrochados e poucos investimentos na Educação Superior pública. O mesmo não pode ser dito em relação ao ensino privado, Constantino (2004 apud MANCEBO, 2004, p. 84) revela que:

Números oficiais [...] mostram que os incentivos fiscais já concedidos pelo governo federal às instituições privadas filantrópicas de ensino superior, foco principal do programa Universidade para todos, seriam suficientes para dobrar o número de alunos nas federais. Beneficiadas com isenção fiscal, as filantrópicas consomem R$ 839,7 milhões ao ano. É dinheiro que o Estado deixa de arrecadar: R$ 634 milhões em contribuições previdenciárias ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e mais R$ 205,7 milhões em tributos recolhidos pela Receita Federal. Estudo feito pelo Ministério da Educação, na gestão Cristovam Buarque, indica que seriam necessários de R$ 800 milhões a 1 bilhão para criar cerca de 520 mil novas matrículas nas universidades federais.

Para essa autora, mesmo vivenciando momentos de crise no setor público, a luta pelas universidades públicas continua que, apesar de tudo, mantêm-se na liderança ao oferecer uma formação de boa qualidade e também na produção de conhecimento nas

35 Mancebo (2004) acentua que a faixa etária dos 18 aos 24 anos é utilizada para comparações internacionais como medidor do número de alunos que freqüentam o Ensino Superior.

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diversas áreas do saber. Mesmo com tantas dificuldades, as universidades federais têm propiciado um aumento em relação ao acesso a seu quadro de alunos, passando de 400 mil, em 1994, para 600 mil matrículas em 2003.

O governo alega a falta de recursos aplicados no setor público, porém, de acordo com os dados acima, evidencia-se a ausência da arrecadação, bastante representativa, proveniente das isenções fiscais em decorrência das vagas do ProUni que, representa, concomitantemente, a redução de verbas a serem aplicadas em obras sociais. Neste sentido, esses investimentos na Educação Superior privada, mesmo que beneficiando alunos carentes, indica um caminho à intensificação da privatização do ensino, o que, na opinião de Mancebo (2004, p. 86), constitui-se de um caminho desigual para resolver os impasses educacionais:

Longe de resolver ou de corrigir a distribuição desigual dos bens educacionais, a privatização promovida pelo programa tende a aprofundar as condições históricas de discriminação e de negação do direito à educação superior a que são submetidos setores populares. A alocação de estudantes pobres nas instituições particulares cristalizará mais ainda a dinâmica de segmentação diferenciação no sistema escolar, destinando escolas academicamente superiores para os que passarem nos vestibulares das instituições públicas e escolas academicamente mais fracas, salvo exceções, para os pobres.

Para a autora, mesmo o vestibular sendo considerado o grande vilão para o ingresso na Educação Superior, ainda é uma garantia para que os alunos pobres possam almejar o direito de acesso ao ensino de boa qualidade.

O governo Lula, com o discurso da democratização do acesso ao ensino universitário, sob o Decreto N° 6.096, de 24 de Abril de 2007 (BRASIL, 2008), instituiu o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), cujo objetivo é de criar condições para a ampliação do acesso e da permanência na Educação Superior, no nível de graduação. Para isso, o governo destina um aproveitamento melhor do espaço físico e dos recursos humanos atualmente existentes.

Embora o programa seja novo, já vem sendo alvo de críticas pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN). Recentemente, o sindicato lançou uma cartilha (2007) apontando que as propostas do governo Lula não

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abordam a questão central: a falta de financiamento público adequado. Por outro lado, o programa propiciará um rebaixamento na qualidade da formação profissional e do trabalho acadêmico. Outro ponto negativo abordado pelos sindicalistas seria que, mais uma vez, a autonomia das universidades federais encontra-se em jogo, pois os decretos pressionam os dirigentes universitários a aderir ao programa com a promessa de aumento de verbas.

Por ser uma proposta nova, ainda temos poucos elementos que nos propiciem uma análise substancial desse programa, mas indicam questionamentos para estudos posteriores, quais sejam, se, de fato, seria um programa que visa democratizar uma educação de boa qualidade para os cidadãos ou se caminha em direção a atender aos mecanismos impostos pela política neoliberal.

Apresentamos, até o presente momento, o modo como o neoliberalismo vem operando no campo educacional, especialmente para entendermos como ocorreram as reformas educacionais, especialmente para a Educação Superior, que efetivadas nos anos da década de 1990 do século XX até o ano de 2008.

É possível concluir que as agendas de reformas para a Educação Superior estão ligadas à reestruturação da produção e à reforma do Estado que tem se ausentado na prestação de seus serviços, sobretudo na educação pública, caminhando na direção de privatizar os serviços básicos. Num discurso neoliberal, a lógica que permanece é a econômica e reprodutivista, que, por intermédio dos organismos internacionais, lança constante remodelação nos sistemas nos sistemas públicos. Não há uma política de continuidade dos bons serviços prestados.

O discurso é o da ineficiência do Estado em gerenciar suas políticas públicas. A fala exposta pelos neoliberais é de que o sistema não enfrenta uma crise de democratização de acesso. O neoliberalismo demanda uma crise para instituir suas políticas de reforma sempre na direção de ausentar o Estado de suas responsabilidades, procurando os culpados pelo fracasso da educação, mas, ao se diagnosticar o momento de crise, os profissionais da educação não são consultados para estabelecer os caminhos para atender às ineficiências a serem supridas. São sempre contratados os serviços dos especialistas, dos intelectuais, dos grandes empresários; possuidores de pacotes, serviços a serem oferecidos para aqueles que possam pagar, orientados, na grande maioria, pela lógica neoliberal.

A demanda pelas universidades públicas permanece, mas pouco se tem feito no sentido de propiciar uma universalidade do ensino público de boa qualidade, pois as

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universidades públicas continuam sendo as responsáveis por uma formação qualificada, como podemos perceber nos estudos de Mancebo (2004), pois, além de produtoras de conhecimento, as universidades federais são as grandes responsáveis pelo número significantivo de pesquisas, além de manterem o quadro docente com maior nível de formação acadêmica; fato evidenciado no censo da Educação Superior realizado pelo Inep em 2006, o qual registra a evolução dos doutores em exercício por categoria administrativa. Em 1998, o número de doutores em exercício na Educação Superior pública era de 23.544, em 2006, esse índice atingiu o patamar de 42.636, enquanto que, no setor privado, o percentual, em 1998, era apenas de 7.529 e, em 2006, chegou a 24.94636.

Esse quadro reforça que as universidades públicas são instituições com melhores possibilidades de oferecer uma melhor qualidade de ensino. No entanto, observamos que as políticas públicas pouco ou quase nada direcionam no sentido da melhoria das formas de ingresso. As Leis apontam apenas a flexibilidade no processo seletivo para a entrada na Educação Superior, deixando-a sob a responsabilidade de cada instituição, sem levar em conta as dificuldades inerentes aos alunos, pelas diferenças de ensino de cada localidade ou pela falta de investimentos dos órgãos públicos que ofereçam um ensino de boa qualidade, independentemente se é para negro, indígena, pobre ou rico. A criação, a partir da década de 1990, dos programas seriados para o ingresso na Educação Superior sustentava-se sob o discurso de redução dessas exclusões existente no vestibular tradicional; no capítulo que se segue deteremo-nos em como se deu este processo, especificando o PAIES e o PAAES da UFU, objetos de nossa investigação.

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CAPITÚLO II

O SURGIMENTO DOS PROGRAMAS ALTERNATIVOS COMO