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ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO DE ITAMAR FRANCO (1992 – 1994)

AS POLITICAS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR: O MODELO NEOLIBERAL DE REFORMAS

1 A UNIVERSIDADE COMO INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL

2 O MODELO NEOLIBERAL INSTITUÍDO: AS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR A PARTIR DOS ANOS

2.2. ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO DE ITAMAR FRANCO (1992 – 1994)

2.2. ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO DE ITAMAR FRANCO (1992 – 1994)

Com o impeachment de Fernando Collor de Melo, assumiu a presidência o mineiro, vice-presidente, Itamar Franco (1992-1994), que, de imediato, nomeou para dirigir a pasta da Educação o professor Murílio de Avellar Hingel, professor universitário e consultor do MEC. Ao tomar posse, o ministro anunciou oito pontos de compromisso com a educação, destacados por Garcia (1998 apud FILHO 2005, p. 57-58):

1 – A educação é a verdadeira prioridade nacional. 2 – Todos os brasileiros, independentemente de qualquer situação, têm o direito a uma educação de qualidade. 3 – A política educacional deve resultar de uma elaboração participativa capaz de dar unidade às ações educativas dos diversos organismos do governo no âmbito nacional. 4 – É indispensável o desenvolvimento da capacidade crítica pelo educativo diante da comunicação social, entendido como uma responsabilidade da família, da escola e da comunidade. 5 – Há de ser assegurada, progressivamente, a gratuidade total para o aluno do Ensino Fundamental (1.º grau), desde que

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resolvidos, em um primeiro momento, os problemas do ensino de responsabilidade do Poder Público. Essa gratuidade está assegurada também em nível de 2.° grau e no ensino superior nas unidades de responsabilidade do Poder Público Federal. 6 – O educador será devidamente valorizado como pessoa, como cidadão e como profissional. 7 – A educação terá que vivenciar com serenidade adulta, tranqüilidade e segurança os conflitos e tensões sociais que nos envolvem. 8 – As universidades e instituições de ensino em geral serão convocadas a se colocar a serviço do desenvolvimento do ser humano e da sociedade, da transformação das estruturas econômicas, jurídicas e sociopolíticas injustas, da procura de uma sociedade mais participativa e solidária e de uma cultura encarnada na vida do povo.

No plano de educação do ministro Hingel o argumento em torno da qualidade permaneceu e, se no governo Collor houve certa participação da União nas esferas municipais e estaduais para a construção dos CIACs, no governo de Itamar houve uma diretriz para que cada unidade federativa se responsabilizasse pela sua área de atuação. O discurso da gratuidade permanecia como preceito constitucional e surgia um novo encaminhamento na intenção de valorização do profissional da educação - princípio que não havia sido ressaltado no governo anterior.

Em relação à Educação Superior, era retratada como aquela que, além do desenvolvimento humano, deveria acompanhar o desenvolvimento econômico e jurídico, ou seja, uma questão social, política e de direitos, que atenderia às necessidades sociais; o discurso da cooperação participativa dos sistemas educacionais também reaparecia, mas como responsabilidade dos municípios, dos estados e do governo.

Embora houvesse uma ênfase na Educação Superior, não identificamos mudanças políticas com relação à participação efetiva dos jovens nessa modalidade de ensino, o que nos faz crer que pouco seria feito no sentido de aumentar o número de vagas, fossem no ensino público ou privado. A política educacional, na verdade, fundamentada no discurso neoliberal, preocupou-se mais com a elevação do Ensino Fundamental com uma atenção centrada na universalização, na equidade e, em tese, na melhoria da qualidade do ensino.

Vieira (2000, p. 124) enfatiza que, embora a universalização do Ensino Fundamental tenha sido mencionada nos documentos de planejamento educacional, o mesmo não aconteceu no sentido de atacar de frente para que fosse resolvido o problema da falta de vagas nas instituições de Educação Superior, mas o discurso recaía sobre a necessidade da melhoria da qualidade da educação. O enfoque desta afirmativa era que:

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[...] o maior problema da educação brasileira, no que toca a este nível de ensino, reside em algo bem mais complexo que a oferta de vagas. Está na baixa eficiência e na crítica eficácia do sistema escolar (...). A produtividade escolar é baixa; taxas de repetência elevadas, evasão persistente, desprestígio da função docente.

Vieira (2000) e Palma Filho (2005) apresentam como grande destaque da política do ministro Murílio Hingel a criação do Plano Decenal da Educação para Todos (1993 – 2003), que, pelos apontamentos de Vieira, tinha como finalidade dar seqüência aos compromissos firmados pelo Brasil na Conferência de Educação para Todos, realizada em março de 1990 em Jomtien. Embora o plano tenha servido para que estados e municípios criassem seus planos decenais e se configurasse na primeira etapa da Conferência Educacional de Educação para todos, Vieira (2000, p. 133) acentua que foi muito mais um projeto de gaveta, fato constatado quando, na elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), deixou-se de levar em consideração as propostas já discutidas no Plano Decenal:

Do rico processo vivido no governo Itamar ficaram apenas os registros – os textos que impedem a memória de se perder. Mais do que simples memória do vivido, apresenta-se como matéria para análise da “continuidade descontínua” da política educacional brasileira. Uma administração se encerra e com ela são engavetados projetos, idéias e planos para o futuro. Tudo está sempre começando outra vez [...].

O enfoque desta autora é de que a política educacional brasileira sofre historicamente um problema de descontinuidade, pois cada governo que assume a liderança do país cria novos projetos educacionais, abandonando as propostas anteriores, descartando a possibilidade de prosseguimento daquelas medidas que incidem de forma representativa para a melhoria da qualidade do ensino, seja na dimensão pública ou privada.

Lima (2008, p. 56), ao transcrever a definição de Lalande (1999) sobre a criação das leis, argumenta que essas devem se orientar sobre as reais condições objetivas, a fim de que sejam estabelecidas regras gerais de conduta, com o propósito de que as políticas sociais tenham uniformidade, estabelecendo, legitimamente, como políticas de Estado.

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Assim, na contramão, com a ausência de um debate amplo sobre a realidade social da nação, as leis já nascem mortas, condenadas ao fracasso, tornando, dentre tantas, mais uma política de governo. Nesta perspectiva, Lima compreende que:

Nesse aspecto, é uma lei de governo, não de Estado, afinal, possibilita a descontinuidade de políticas de governo, de políticas de “zigue-zague”, de políticas de marca de governo, ou seja, a manutenção da ordem e do desenvolvimento restrito ao partido que governa o Estado.

Entendemos que a Educação deve também estar a serviço do desenvolvimento econômico, mas, principalmente, para que os cidadãos tenham direito a uma boa educação. As leis e os projetos a serem instituídos devem levar em consideração as reais possibilidades de objetividade, atendendo às reais necessidades, às diversidades culturais e sociais rumo à construção de um projeto sólido de Educação. Nosso enfoque permanece nesta discussão ao analisarmos os aspectos educacionais do governo de Fernando Henrique Cardoso.

2.3 ALGUNS ASPECTOS EDUCACIONAIS NO GOVERNO DE