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Alguns dados clínicos da amostra

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 77-82)

Grupo II: foi formado por 10 mulheres (83,3%) e 2 homens (16,7%), com idades

4.2 Alguns dados clínicos da amostra

Este tópico objetiva aprofundar a caracterização dos sujeitos, apresentando os participantes do estudo relativamente ao conhecimento do diagnóstico psiquiátrico, à presença e eficácia percebida de possíveis tratamentos psiquiátricos anteriores, bem como ao abandono de algum tratamento psiquiátrico ao longo da história do paciente. Considera ainda o entendimento do paciente em relação à prescrição médica e o uso relatado da medicação prescrita.

Este histórico será feito distintamente para os dois grupos em questão: Aderentes e

Não aderentes ao tratamento psiquiátrico para depressão.

4.2.1 Grupo I: Aderentes ao tratamento

Todos os sujeitos relataram realizar tratamento para depressão, o que nos sugere que eles tinham conhecimento sobre a denominação da doença para a qual faziam tratamento no Centro de Saúde Mental. Um destes sujeitos relatou que além da depressão tratava-se também de síndrome do pânico, cefaléia e labirintite e um outro cita, em complementação, também alguns sintomas que vivenciou durante o período de crise, quais sejam a desorganização mental, a angústia, a falta de boas perspectivas de vida e o choro freqüente.

Para este grupo, o tempo do tratamento atual estava variando entre 11 e 36 meses. Cinco sujeitos estavam em acompanhamento há menos de 12 meses e os outros 7 já o realizavam há aproximadamente 36 meses (3 anos). Neste grupo apenas 1 sujeito relatou haver feito tratamentos psiquiátricos anteriores também para depressão, um outro sujeito relatou ter feito tratamento anterior para depressão com um médico neurologista.

Em relação à eficácia de tratamentos anteriores, o sujeito que havia realizado tratamentos psiquiátricos anteriores, acreditava que nenhum deles havia sido eficaz devido às constantes recaídas pelas quais passava. O sujeito que havia feito tratamento anterior com neurologista acreditava que o mesmo havia dado certo já que percebeu alívio nos sintomas.

Todos relataram entender a forma indicada para o uso da medicação, relatando corretamente a prescrição conforme verificado em prontuário. Porém, dois deles referiram não estar fazendo uso correto, um devido a esquecimentos esporádicos e outro por não acreditar que necessitava de uma das medicações e por achar que a mesma não lhe seria eficaz .

“Eu tomo Rivotril à noite e um outro de manipular eu não tomei não. Acho que a gente mesmo que tem que ajudar a melhorar num é só tomar remédio. Eu achei que o Rivotril me ajuda mais, o outro não” (Paciente 11 Aderente).

É importante salientar que neste grupo dois dos sujeitos, mediante a entrevista se revelaram como parcialmente aderentes ao tratamento medicamentoso, pois afirmaram não fazer uso das medicações em conformidade com a prescrição. Considerando o conceito de adesão mais aceito na literatura vigente, especialmente quando se objetiva quantificar a adesão ou a não adesão a tratamentos, estes sujeitos possivelmente seriam, denominados como não aderentes ou parcialmente aderentes ao tratamento. Porém, ponderando sobre o recorte deste estudo, seus objetivos, bem como a definição de adesão e não adesão utilizada, que é anterior ao contato com o sujeito, ajuizou-se que suas respostas continuariam sendo apreciadas como de sujeitos aderentes ao tratamento, grupo para o qual foram chamados a participar.

4.2.2 Grupo II: Não Aderentes ao tratamento

Dos sujeitos considerados não aderentes neste estudo 9 relataram que haviam feito tratamento para depressão no Centro de Saúde Mental. Três participantes não citaram a denominação depressão, mas falaram da sintomatologia que os tinha levado ao tratamento, citando o desânimo intenso, a angústia, a irritabilidade, a insônia e a vontade de morrer como os agentes propulsores da busca por atendimento psiquiátrico. Um dos sujeitos relatou não saber o que tinha, porém relatou alguns sintomas. E um outro sujeito relatou ter se tratado também de fibromialgia.

Em relação a tratamentos psiquiátricos anteriores ao que haviam abandonado no CSM (referência para este estudo), este grupo se dividiu entre 9 sujeitos sem histórico de tratamentos psiquiátricos anteriores, e 3 que já haviam se tratado de depressão no Centro de Saúde Mental anteriormente.

O tratamento interrompido foi considerado como tendo resultados positivos para a maioria dos pacientes, de forma que, 66,7% dos participantes, relataram terem percebido melhora ou atenuação dos sintomas mediante a realização do tratamento em questão. Dois pacientes (16,7%) consideraram como bom o tratamento, porém, relataram não terem alcançado melhoras significativas com o mesmo. Dois sujeitos acreditavam que seus

tratamentos não deram certo e creditavam esta falha ao uso incorreto que haviam feito da prescrição, quando de seu tratamento.

Segundo as respostas dadas por estes sujeitos, houve entendimento das orientações médicas a respeito das prescrições. Poucos não lembravam o nome da medicação, mas lembravam do horário ou da apresentação da mesma (“aquele manipulado”, “um branquinho”) [sic].

Quando estavam em tratamento no CSM mais da metade dos sujeitos (66,7%) relatou que fazia uso correto da prescrição, dois revelaram nunca haverem tomado corretamente a prescrição, sendo que um deles acreditava que a dosagem prescrita era muito elevada e o outro percebia melhoras e interrompia a medicação, até nova piora que o levasse a usá-la novamente. Um dos sujeitos relatou ainda, que, apesar de entender as explicações médicas quanto ao uso da medicação não a usava preferindo usar alguma indicada por um farmacêutico de sua confiança.

É interessante ressaltar que dos doze sujeitos compreendidos neste grupo, três relataram estar fazendo uso de medicação psiquiátrica, receitada por clínico geral ou fornecida pelo atendente da farmácia, um destes sujeitos relatou, ainda fazer uso esporádico de medicação quando se sentia muito mal.

Os motivos que levaram à interrupção do tratamento ao qual nos referenciamos para compor esta amostra podem ser visualizados na Tabela 1. É importante salientar que um sujeito pode ter oferecido mais de um motivo para o abandono de seu tratamento para depressão e isto pode se explicar pela multicausalidade do fenômeno da não adesão ao tratamento considerado na literatura (GEORGE et al., 2000; LINDEN et al., 2000, DEMITTENAERY, 1997).

Tabela 1 - Causas relatadas para o abandono ao tratamento psiquiátrico de referência (Grupo II - Não aderentes)

Causas relatadas para abandono de tratamento

psiquiátrico anterior f %

Melhora dos sintomas 11 44

Dificuldades para obtenção do atendimento médico 6 24

Relação negativa com o médico 2 8

Efeitos colaterais 2 8

Dificuldades econômicas para efetivação do tratamento 2 8 Não perceber resultados positivos com o tratamento 2 8

Total 25 100

Como se pode verificar através da Tabela 1, considerando a freqüência (f) de respostas dos participantes, os resultados positivos alcançados com o tratamento figurados na melhora nos sintomas foram a causa mais freqüentemente relatada para o abandono do tratamento antidepressivo contando com a freqüência de 44% de todas as respostas fornecidas. Em seguida, visualiza-se que, encontrar dificuldades para obtenção do atendimento médico, foi responsável por 24% das respostas dos pacientes quando relataram motivos do abandono do tratamento. O restante dos motivos se subdividiu em ‘efeitos colaterais’, ‘relação negativa com o médico’, ‘dificuldades econômicas para efetivação do tratamento’, e ‘não percepção de resultados positivos com o tratamento’ contando cada uma destas causas relatadas com 8% do total de respostas dadas pelos participantes do grupo II ao serem questionados sobre os motivos para o abandono do tratamento.

Os dados deste estudo confirmam alguns dados da literatura descritos a seguir. A não adesão ao tratamento antidepressivo parece ter causa múltipla, ou seja, um conjunto de duas ou mais razões podem ser disparadoras deste comportamento. Demyttenaere (2001) verificou que “sentir-se melhor” e “ter efeitos adversos”, nesta ordem, foram as razões mais freqüentemente alegadas para o abandono da terapia antidepressiva. No estudo citado, o autor verificou que 53% dos 272 pacientes avaliados haviam abandonado o tratamento no final do

estudo. “sentir-se melhor” foi responsável por 55% dos motivos relatados para o abandono, e os “efeitos adversos” por 23% destes motivos”.

Linden et al. (2000) também encontraram como uma das principais razões para interrupção do tratamento para depressão a melhora de sintomas, denominando-a “resposta suficiente”. Na amostra do referido estudo, esta razão foi responsável por 19,8% das causas citadas, sendo seguida por “efeitos adversos” que perfizeram 3,8% das causas, e “deterioração no quadro ou resposta insuficiente” que contaram com 3,1% dos motivos relatados.

Os resultados de George et al. (2000) também revelaram multicausalidade para o abandono à terapêutica antidepressiva. Os efeitos colaterais figuraram como o motivo mais alegado para a interrupção do tratamento, sendo seguidos pela melhora percebida, falta de resultados positivos, preocupação com possíveis efeitos colaterais e hospitalização. No presente estudo a resposta insuficiente à terapia antidepressiva foi denominada como ‘não percepção de resultados positivos com o tratamento’, sendo também indicada como uma das causas de abandono do tratamento.

Resultados do presente estudo também indicaram que o estabelecimento de um relacionamento negativo com o médico, as dificuldades para obtenção de atendimento retratadas, entre outras coisas, pelo longo período de espera pelo mesmo, e as dificuldades financeiras encontradas pelo paciente para efetivação do tratamento poderiam ser prejudiciais à adesão ao tratamento medicamentoso para depressão.

A relação estabelecida com o médico, apesar de ser considerada na literatura como um fator de adesão e/ou não adesão ao tratamento antidepressivo (DEMYTTENAERE, 1997; BULTMAN; SVARSTAD, 2000), não foi relatada em outros estudos, como causa citada por pacientes para o abandono da terapia antidepressiva.

Já em relação às dificuldades encontradas pelos pacientes para obtenção de atendimento médico e as dificuldades financeiras, as quais podem funcionar como barreiras impeditivas do seguimento do tratamento mencionadas por esta amostra como possíveis motivos para o abandono de tratamento para depressão, não foram relatadas como causas de abandono ao tratamento em outros estudos.

Como possível explicação, supõe-se a importância da consideração de que os estudos referentes à adesão ao tratamento antidepressivo sejam preponderantemente americanos, e, portanto, fazerem jus a uma distinta realidade sócio-econômica e de política de organização dos cuidados em saúde e acesso aos usuários. Importante também considerar que a amostra deste estudo foi composta por pacientes usuários de um serviço público de saúde e tinham, em sua maioria, um nível econômico tendente a baixo, podendo assim, aparecer razões

diferenciadas ao se tratar de usuários do sistema privado de saúde ou portadores de condições sócio-econômicas mais elevadas. Desta forma, infere-se que peculiaridades da amostra devam ser consideradas ao se avaliar os motivos do abandono do tratamento.

4.3 Aspectos relacionados à adesão e à não adesão ao tratamento

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 77-82)