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Estudos nacionais contemplando o tema adesão ao tratamento

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 47-51)

1.2 3 Métodos de avaliação da adesão a tratamentos.

1.2.4 Estudos nacionais contemplando o tema adesão ao tratamento

Diante da já mencionada escassez de dados nacionais a respeito da temática do presente estudo e considerando que a literatura encontrada sobre adesão/não adesão a outros

tratamentos já se encontra mais explorada cientificamente e tenha contribuído efetivamente no embasamento de reflexões que auxiliaram na construção deste estudo, julgou-se importante considerar alguns achados literários a este respeito no âmbito nacional.

Como apontado por Leite e Vasconcellos (2003) o tema – adesão – conta com vasta literatura, que foca especialmente a adesão ao tratamento de uma determinada enfermidade, como nos casos de Aids, tuberculose e hipertensão, ou em determinados grupos populacionais como de crianças e idosos.

Em relação a terapêuticas, pôde-se observar através da consulta a literatura realizada para o estudo, que a maior parte das pesquisas focalizaram a terapêutica medicamentosa, e as principais doenças estudadas foram a tuberculose, a AIDS e a hipertensão.

A tuberculose, doença infecciosa que tende à cronicidade conta com altas taxas de incidência e pode levar à morte, possui medidas de tratamento consideradas eficazes, entretanto, a não adesão ao tratamento foi considerada um dos principais problemas em relação à terapêutica desta enfermidade. Diante desta realidade, alguns estudiosos se propuseram a ampliar o conhecimento sobre a adesão ao tratamento para tuberculose.

Costa et al. (1998) objetivaram quantificar a não-aderência ao tratamento da tuberculose e identificar fatores de risco para a não-adesão em pacientes residentes na zona urbana da cidade de Pelotas. O não-comparecimento à unidade de saúde para retirada dos medicamentos por mais de trinta dias foi categorizado como não-adesão. Os autores verificaram que quanto pior a inserção de classe, maior o risco relativo para a não-adesão ao tratamento, observando-se também um risco maior entre os casos não alfabetizados. As pessoas acima de cinqüenta anos, os homens, e as pessoas classificadas como não brancas apresentavam um risco relativo dobrado para não-adesão ao tratamento, segundo dados verificados por estes autores.

Gonçalves et al. (1999) avaliando as razões pelas quais os pacientes tuberculosos não terminavam seus tratamentos, mediante a consideração da existência de conexões entre sua fase de vida e do gênero, verificaram que homens mais jovens, solteiros e os separados, teriam aparentemente, uma preocupação mais diluída sobre a doença e aderiam menos às recomendações médicas. Por outro lado, verificaram que, de modo geral, mulheres casadas aderiam melhor à terapêutica, ingeriam mais regularmente os medicamentos e faziam os exames mensalmente, mais do que as solteiras e os homens solteiros e separados, este comportamento foi semelhante ao observado com os homens casados. Referente a estes dados os autores ressaltaram que características sociais atribuídas aos gêneros estavam por trás de uma série de comportamentos que afetavam diretamente a forma como os pacientes lidavam

com seu tratamento, seu corpo, com o fato de estarem doentes e conviverem socialmente. O momento de vida em que cada paciente se encontra pode desencadear relações e atitudes que, por vezes, favorecem mais a não adesão ao tratamento do que a cura.

Ribeiro et al. (2000) verificaram que pacientes tuberculosos do sexo masculino abandonaram mais o tratamento que os do sexo feminino; alcoólatras, tabagistas e usuários de drogas ilícitas abandonaram o tratamento com maior freqüência; e que fatores de ordem sócio–culturais como o estigma da tuberculose, analfabetismo, a não aceitação da doença e o fato de considerar-se curado antes da cura efetiva, o não apoio de familiares no tratamento e até o desconhecimento destes em relação à enfermidade do familiar podiam atrapalhar o tratamento.

Em relação a adesão a tratamentos destinados a pacientes com HIV/AIDS, doença na qual a adesão ao tratamento pode estar diminuída, implicando em severas conseqüências para o paciente destaca-se os estudos a seguir:

Nemes (2000) assinalou a existência de alguns fatores socioeconômicos de risco para a não adesão a terapia antiretroviral, quais sejam: escolaridade menor que quatro anos e ausência de renda pessoal, independentemente da combinação de antiretrovirais utilizada, do tipo de unidade de saúde e de faltas ao seguimento médico. Segundo a autora, houve uma associação significativa entre não aderência e histórico de faltas às consultas médicas, unidade de saúde, renda pessoal (trabalho) e escolaridade, além de constatar que era grande o número de não aderência entre pacientes no início do tratamento.

Jordan et al. (2000) destacaram que fatores relacionados: à doença (como a sintomatologia); ao tipo de tratamento (o tempo de tratamento, a complexidade do regime terapêutico e os efeitos colaterais); à pessoa (perfil sócio econômico e uso de drogas); e também fatores ligados ao serviço de saúde (como a relação médico-paciente e a acessibilidade ao tratamento) estariam relacionados com a adesão à terapêutica antiretroviral.

Figueiredo et al. (2001) verificaram que fatores como a quantidade de medicamentos, as reações adversas, a necessidade de períodos de jejum, e a incompatibilidade entre as drogas, dificultaram a adesão terapêutica antiretroviral, de pacientes soropositivos para HIV / AIDS em tratamento ambulatorial no HC da Universidade Estadual de Campinas. Consideraram, ainda, a atenção individualizada como a grande aliada da melhora da adesão, e a relação enfermeira - paciente a sua ferramenta mais importante para sua efetivação, ressaltando a confiança como elemento chave desta relação.

A hipertensão arterial também parece sofrer com a pobre adesão à terapêutica de forma a merecer a atenção de pesquisadores brasileiros. Os seguintes estudos se referem a fatores associados à não adesão ao tratamento anti-hipertensivo:

Nobre, Pierin e Mion Júnior (2001) afirmaram que idade, sexo, raça, escolaridade, nível socioeconômico, ocupação, estado civil, religião, hábitos de vida, aspectos culturais e crenças em saúde deveriam ser considerados na avaliação da adesão ao tratamento por parte da pessoa hipertensa. Estes autores consideraram ainda a importância da relação do paciente com o médico e equipe de saúde e de sua participação ativa nas decisões referentes ao tratamento, que deveria evitar, preferencialmente, esquemas terapêuticos com várias drogas.

Além das dificuldades financeiras, efeitos adversos da medicação, dificuldades de acesso ao sistema de saúde e dificuldades na relação médico-paciente, Busnello et al. (2001) verificaram que a inexistência de sintomas, o tabagismo, a baixa escolaridade e pacientes com diagnóstico recente, tendiam a ser menos aderentes ao tratamento da hipertensão arterial.

Duarte (2001) ao estudar motivos para o abandono ao tratamento para hipertensão, verificou que a ausência de sintomas, normalização da pressão arterial, consumo de álcool, a presença de efeitos colaterais, a falta de informação sobre o uso correto da medicação, assim como as dificuldades referentes ao próprio serviço de saúde (tempo de espera, dificuldade para marcar consultas, dificuldades na relação médico-paciente), estiveram presentes como motivos para a não adesão a este tipo de tratamento.

Lessa e Fonseca (1997) verificaram que a freqüência de adesão às consultas e no tratamento foi significativamente menor nos pacientes negros em relação aos pardos e brancos.

Peres, Magna e Viana (2003) ressaltaram que um sistema de crenças distorcidas em relação à doença hipertensiva associado a um conhecimento parcial sobre diversos aspectos desta doença, ocasionaria grandes possibilidades de práticas distorcidas de controle da doença.

A adesão à terapêutica na população infantil foi estudada por Sano, Masotti e Santos (2002) que objetivaram estabelecer a relação entre o nível de compreensão da prescrição pediátrica pela mãe ou outro acompanhante e os possíveis fatores causais da não-adesão ao tratamento. Verificaram que pacientes insatisfeitos com as orientações recebidas e com dúvidas no tratamento, após consulta médica em serviço de emergência, foram os mais propensos a não obter os medicamentos prescritos e a não aderir ao tratamento proposto. Os autores apontaram ainda, que a adesão do paciente ao tratamento proposto aumentaria de 5% para 51% com as seguintes atitudes: reforço verbal das orientações médicas, discussão sobre

como administrar e armazenar a medicação e especificação do horário/esquema de administração.

Kurita e Pimenta (2003) realizaram estudo com pacientes portadores de dor crônica com objetivos de identificar a prevalência da adesão plena, parcial e não adesão ao tratamento medicamentoso nestes pacientes; analisar as relações entre adesão plena, parcial e não adesão a características do tratamento, características da dor, variáveis demográficas e fatores psicossociais (crenças frente à dor, locus de controle da saúde e depressão). Constataram que a adesão plena ocorreu entre 43,3% e 56,7% dos pacientes; adesão parcial e não adesão foram altas (40,0%-56,7%) tendo relacionado menor adesão à ocorrência de efeitos colaterais e às crenças de que o controle da saúde dependeria de si próprio. Observaram ainda, que quanto maior a crença de incapacidade e dano físico, menor a adesão e quanto maior a crença na solicitude menor a adesão.

1.2.5 A adesão a tratamentos psiquiátricos: cenário nacional e

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