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3 SUSTENTABILIDADE, DESEMPENHO DE EMPRESAS, E HIPÓTESES

3.2 Alguns Estudos Empíricos sobre a Relação entre Responsabilidade Social e Desempenho

Cabe destacar alguns estudos relevantes que contribuiram na tentativa de estabelecer uma relação entre as práticas de RSC e desempenho da empresa, e que dam base ao desenvolvimento desta pesquisa, bem como ao estabelecimento das hipóteses.

Corroborando com os conceitos de sustentabilidade e eficiência econômico-financeira, Costa e Boente (2011) realizaram um estudo em que avaliaram quais as empresas integrantes da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), nos períodos 2008/2009 e 2009/2010, são eficientes em termos econômico-financeiros, utilizando para isso a técnica estatística de Análise Envoltória de Dados com orientação para Outputs.

Os autores trabalharam com o Patrimônio Líquido (PL) como variável de entrada (input) e com as Receitas Financeiras (RF) e o Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos (RARFT) como variáveis de saída (outputs). Foram utilizados ainda os dois modelos de Análise Envoltória dos Dados- o Retorno Constante de Escala (CCR-O) e o Retorno Variável de Escala (BCC-O)-, além da análise por Benchmarking das empresas consideradas eficientes economica e financeiramente, para que sejam referência para as empresas consideradas ineficientes

Os resultados obtidos por Costa e Boente evidenciaram uma resposta diferente do que fora hipotetizado, pois a maioria das empresas integrantes da carteira do ISE nos dois períodos analisados não se mostrou eficiente economica e financeiramente sob as variáveis aplicadas.

Sousa et al. (2011) desenvolveram um estudo que visou demonstrar o desempenho das empresas que fizeram parte da carteira do ISE entre 2005 a 2009, e apresentar o grau de correlação entre as receitas líquidas dessas empresas e o valor de marcado do ISE. Para isso foi utilizado o método estatístico de Regressão Simples não linear para compreender o relacionamento entre as variáveis. E por meio dos resultados obtidos, concluiu-se que: 1) existe uma correlação positiva entre o valor da carteira e os resultados líquidos das empresas, verificando-se que 86,9% das variações do ISE são explicadas pela variação nos resultados da carteira; e 2) um ano após o ingresso das empresas na carteira do ISE, em 2007, verificou-se que as receitas líquidas dessas empresas aumentaram proporcionalmente ao aumento da carteira do ISE.

Macedo et al. (2009) fizeram uma análise comparativa do desempenho contábil- financeiro de empresas socialmente responsáveis, utilizando-se dos indicadores contábil- financeiros de Liquidez, Endividamento e Lucratividade referentes ao ano de 2006 das empresas socialmente responsáveis integrantes da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) divididas por seis setores de atuação, para em seguida serem comparadas a outras empresas representativas do mercado, selecionadas entre aquelas listadas como as 500

Maiores e Melhores da Revista Exame (2007), também classificadas nos mesmos seis setores de atuação. Como resultados, os autores apontam que, com base nos indicadores analisados, de uma forma geral não foi possível captar vantagens significativas para a responsabilidade social, ou seja, não houve evidências de vantagens de liquidez, endividamento e lucratividade das empresas socialmente responsáveis sobre o mercado, exceto no que se refere à Liquidez

Corrente nos setores de papel e celulose e a Composição de Curto Prazo do Endividamento no setor químico.

Outra contribuição relevente nessa temática foi o estudo de Ceretta et al. (2009), cujo objetivo fora verificar se existe relação entre os investimentos socioambientais e a performance financeira empresarial. Para isso, o estudo empírico utilizou a análise de dados em painel com uma amostra de 59 empresas que operam no Brasil e que tiveram seus balanços sociais segundo o modelo IBASE, nos anos de 2005 a 2008. Foi identificada relação significativa entre os indicadores sociais externos e a receita líquida e entre indicadores sociais internos, indicadores sociais externos, indicadores sociais externos defasados em um período com o resultado operacional líquido.

Machado, Machado e Corrar (2008) no seu estudo fundamentado na teoria stakeholder e na hipótese de eficiência de mercado, tiveram por objetivo averiguar se a rentabilidade média do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) é estatisticamente igual à rentabilidade dos demais índices da BM&FBOVESPA, no período entre dezembro de 2005 a novembro 2007. Para atingir o objetivo proposto, fez-se uso de testes paramétrico e não paramétrico, e concluiu-se não haver diferença significativa entre o ISE e os demais índices da BM&FBOVESPA. Ou seja, verificou-se que o retorno médio dos índices é semelhante, já que um número relevante de empresas compõe simultaneamente mais de um índice.

Do mesmo modo, Resende, Nunes e Portela (2008) buscaram verificar se o retorno do índice de sustentabilidade empresarial é semelhante ao dos índices de ações convencionais da BM&FBOVESPA. Para tanto, baseando-se na fundamentação teórica stakeholder, com o objetivo de encontrar uma relação entre Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e desempenho financeiro das empresas, o estudo realizou testes estatísticos que compararam o retorno médio do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) com o retorno médio do Índice Bovespa (Ibovespa), Índice Brasil (IBrx) e do Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC) considerando o período de dezembro de 2005 a março de 2007. Como resultados, após a aplicação de testes de hipóteses por meio do Teste-T sobre a estatística de diferença de médias, confirmou-se a hipótese principal levantada no trabalho, de que o índice de sustentabilidade empresarial possui retorno semelhante ao dos outros índices de ações. Ou seja, apesar de o índice de sustentabilidade empresarial selecionar empresas considerando o conceito de sustentabilidade empresarial, que aprecia o crescimento econômico, a equidade social e o equilíbrio ecológico como premissas para benefícios financeiros e vantagens competitivas, o ISE não apresentou melhor retorno que outros índices de ações.

Contribuíram também para essa temática Lopes, Garcia e Rodriguez (2007), que examinaram em seu trabalho se a performance dos negócios é afetada pela adoção de práticas que englobam a Responsabilidade Social Corporativa (RSC). O estudo analisou a relação entre RSC e indicadores contábil-financeiros e examinou a existência de diferenças na

performance dos indicadores entre firmas europeias que adotam RSC e outras que não a adotam. As empresas que adotam práticas de RSC foram escolhidas entre aquelas pertencentes ao índice Dow Jones Sustainability Index (DJSI). Para isso, foi selecionado um grupo de 55 empresas integrantes do DJSI e outro de 55 empresas pertencentes ao Dow Jones

Global Index (DJGI), no período de 1998-2004. Foram selecionadas empresas com características similares no tamanho e setor econômico. A estatística utilizada para a análise da relação entre performance e RSC foi a análise de regressão, cujo modelo proposto incluiu como variável dependente o lucro antes dos tributos e como variáveis independentes a receita e a RSC, e como variáveis de controle utilizaram-se tamanho, risco e setor. Além da análise de regressão, foram realizados testes não paramétricos com a utilização das seguintes variáveis: capital, receita, investimentos, lucro antes dos impostos, margem de lucro, retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio líquido e custo do capital. Como resultados obtidos: 1) existe uma relação negativa entre RSC e performance; 2) não foram encontradas diferenças entre as empresas do DJSI e do DJGI com relação à variação de receitas, capital e bens; 3) verificou-se a existência de diferenças em várias medidas de desempenho obtidas por firmas do DJSI e do DJGI; e 4) não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos no que diz respeito ao custo do capital.

Orlitzky, Schmidt e Rynes (2003) examinaram, através de uma meta-análise, duas décadas de pesquisa, em que estudaram a relação entre o desempenho social corporativo e o desempenho financeiro. Foram analisados 52 estudos, proporcionando um total de 33.878 observações. O trabalho teve por objetivo averiguar a relação positiva entre desempenho financeiro e social, observada na literatura. Seus achados foram: na maior parte dos estudos analisados, a performance social foi positivamente correlacionada com a performance financeira; essa relação mostrou ser bidirecional e simultânea; e a reputação demonstrou ser um importante mediador desse relacionamento. Além disso, ficou constatado que a relação entre desempenho social e financeiro permaneceu positiva, mesmo depois de controlado pelo tamanho das empresas.

Machado e Machado (2011), em sua pesquisa, tiveram como objetivo verificar se a responsabilidade social, representada pelos indicadores sociais, causaria impacto no resultado

financeiro das empresas. Para isso, os autores recorreram à correlação canônica e à análise de regressão múltipla, sendo avaliados o desempenho financeiro e os indicadores sociais de 237 empresas, pertencentes a 15 setores da economia, no período de cinco anos. Como proxy do desempenho financeiro, variável dependente do modelo, utilizou-se a receita líquida, conforme correlação canônica, e da responsabilidade social, os indicadores sociais líquidos de encargos sociais e tributos, extraídos do balanço social. Incluíram-se, também, na análise empírica, variáveis de controle: setor, representada por variáveis dummies, e o tamanho, medido pelas vendas. Como resultados, ficou evidenciado haver um impacto positivo da responsabilidade social no desempenho das empresas, no que se refere aos indicadores internos e externos. Já com relação aos indicadores ambientais, não houve indícios de que podem acarretar impactos, positivos ou negativos, no desempenho financeiro das empresas estudadas.

Outro trabalho que se mostrou bastante relevante nas busca de uma relação entre RSC, desempenho financeiro e valor da empresa foi o realizado por Crisóstomo, Freire e Vasconcellos (2009), cujo objetivo principal fora pesquisar a possível relação, no mercado emergente brasileiro, entre RSC e valor da empresa, aproximado pelo Q de Tobin, e desempenho financeiro da empresa, por meio dos índices de rentabilidade ROA e ROE. Para isso, os autores utilizaram uma amostra de 78 empresas brasileiras que divulgaram dados relativos à RSC no Ibase no período 2001-2006, num total de 296 observações. Foram utilizados modelos econométricos, como a análise de regressão linear múltipla, para testar a capacidade explicativa dos indicadores sociais sobre a criação de valor para a empresa e o desempenho financeiro da mesma. Aos modelos econométricos foram incorporadas ainda variáveis de controle adicionais, tais como: o tamanho, o risco e o setor. Pelos resultados obtidos, ficou evidenciado um efeito negativo da RSC sobre a criação de valor para a empresa, e uma relação neutra entre RSC e rentabilidade, em contrapartida, verificou-se que a rentabilidade da empresa não parece capaz de estimular a ação social.

Seguindo uma linha de pesquisa semelhante, Braga et al. (2011) realizaram um estudo cujo objetivo foi investigar o impacto econômico e financeiro dos investimentos socioambientais, por meio de uma pesquisa delimitada sobre o setor de energia elétrica no Brasil. Para isso, fora utilizada uma amostra de 51 empresas do setor energético brasileiro com dados do exercício de 2009, que publicaram balanço social no modelo Ibase. Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica estatística de regressão linear múltipla, por intermédio da adoção do método dos mínimos quadrados, sendo consideradas como variáveis

independentes os indicadores sociais e ambientais e como variáveis dependentes a Rentabilidade (representada pelo ROE), o Lucro Líquido, EBITDA e a Receita Líquida. Entre os resultados obtidos: 1) a rentabilidade não foi afetada pelos investimentos socioambientais; 2) o lucro líquido e a geração de caixa das empresas podem ser influenciados pelo investimento social interno; 3) a receita líquida é incrementada com o aumento de investimentos sociais internos e externos; e 4) em nenhum dos modelos os investimentos ambientais mostraram-se significantes.

Borba (2005) propôs-se em sua dissertação a analisar e responder o questionamento a cerca da relação entre desempenho social corporativo e desempenho financeiro de empresas brasileiras no período 2000-2002. Foi utilizada uma amostra do tipo intencional, composta por todas as companhias abertas não financeiras com ações negociadas na BM&FBOVESPA que apresentaram liquidez anual significativa entre os anos de 2000 a 2002, isto é, maior que 0,001% em pelo menos dois anos em que a ação foi negociada, e que, além disso, publicaram o Balanço Social segundo o modelo IBASE no período. Especificamente, foi investigada a sequência causal e a direção (positiva ou negativa) do relacionamento de variáveis que representam as duas concepções de desempenho. Para isso foram utilizadas como variáveis do desempenho financeiro a valores de mercado e a valor contábil: Q de Tobin, Valor da Firma, LOPAT, LAJIRDA e LOAT. Como variável do desempenho social foi utilizada o indicador do desempenho social corporativo (IDSC), construído a partir de dados do Balanço Social do modelo Ibase. Acrescentou-se tamanho da empresa e setor de atuação como variáveis de controle. A análise estatística realizada foi por meio da matriz de correlações, de modelos de regressão linear múltipla pelo método dos mínimos quadrados ordinários, de regressão a erros padrões robustos a heterocedasticidade e de regressão robusta. Os resultados encontrados, embora se mostrando pouco conclusivos, em sua maioria evidenciaram haver uma relação estatisticamente significante entre desempenho social e financeiro corporativos.

Pavie (2008), em sua dissertação, propôs-se a fazer uma análise sobre a relação entre responsabilidade social corporativa e desempenho financeiro, a fim de verificar, por meio da realização de uma meta-análise de 112 estudos individuais publicados nos principais periódicos internacionais, quais foram os resultados encontrados no período dos últimos dez anos, de 1998 a 2007, somente incluindo como amostra os periódicos presentes no Journal of

Citation Reports (JCR). Essa relação foi testada por meio de hipóteses e os resultados obtidos revelaram relações positivas entre as diversas medidas analisadas de responsabilidade social corporativa e de desempenho financeiro, muitas delas ratificando as teorias já existentes.

Husted e Salazar (2006) examinaram a aplicação de estratégias de RSC em organizações empresariais como fator que contribui para a maximização do desempenho social e financeiro da empresa. Após realizar comparações entre as empresas, os autores puderam identificar três tipos de investimento social (altruísta, egoísta e estratégico), e concluíram que o investimento estratégico proporciona melhores resultados para a companhia, como uma melhor reputação, empregados melhor qualificados e diferenciação de produtos. Com isso, os autores constataram que uma empresa pode adicionar valor e obter vantagem competitiva por meio de atividades de responsabilidade social.

Por outro lado, cabe ressaltar que, apesar de haver resultados favoráveis entre sustentabilidade e desempenho da empresa, ainda não existe consenso na academia quanto ao valor tangível gerado pelos investimentos em sustentabilidade empresarial, seja para as companhias ou seus stakeholders.

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