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Alguns exemplos de grupos de Teatro Científico em Universidades

2.1 GENERALIDADES SOBRE TEATRO CIENTÍFICO

2.1.3 Alguns exemplos de grupos de Teatro Científico em Universidades

Em Universidades brasileiras, encontram-se alguns grupos de teatro científico que exploram a interface Teatro e Ciências. São grupos de divulgação científica que buscam educar através da linguagem teatral, de forma lúdica, agradável e prazerosa. Constituído por um ou mais professores coordenadores, os principais objetivos destes grupos são:

 Divulgar a ciência;

 Desenvolver a criatividade, a solidariedade e as inteligências múltiplas;  Enriquecer o relacionamento;

 Aceitar e respeitar regras;

 Enriquecer sua personalidade tornando-o mais participativo;  Aumentar a interação;

 Proporcionar a autoconfiança e a concentração;  Apresentar conceitos científicos;

 Promover discussões de temas da ciência;

 Utilizar a linguagem teatral aliada a experimentos químicos;  Formação acadêmica e pessoal.

Podemos citar alguns exemplos:

“FANÁticos da química”: Grupo vinculado ao departamento de química da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Campus central, Mossoró, RN. Criado em 2001, este grupo vem realizando montagens e adaptação de espetáculos, dos quais podemos destacar: “Litibela e o Químico Prisioneiro”, uma adaptação livre para teatro do longa metragem “Lisbela e o Prisioneiro”, de Osmar Lins. Na peça, o foco da história são as trapaças do químico farmacêutico Leléu da Ionização, que se vê perdidamente apaixonado por uma doce, meiga e sonhadora aluna de química chamada Litibela, que é filha do delegado de uma pequena cidade do interior. Em sua ânsia de viver um grande amor ao lado de Litibela, Leléu envolve-se em tramas, perseguições, romance, conhecendo pessoas que deixam a história engraçada e com muita química. Fazendo desta história uma “quimiocomedia” fascinante (SOUZA et al., 2011).

“O Auto da Comadre Química”, adaptação do filme O alto da Compadecida, de Ariano Suassuna, conta a história de dois amigos, João Berílio e Césio, que preparam experimentos químicos para conseguir um emprego na padaria de Ourico. Césio também usa a experimentação para conquistar a mulher do padeiro e acaba criando uma grande confusão. Os experimentos da dupla são interrompidos pela chegada de cangaceiros, ocorrendo a morte de João Berílio. Todos os mortos do conflito com os cangaceiros se encontram no juízo final onde são julgados no tribunal das almas por um Jesus todo diferente e um “diabo” que arranca suspiros por ser uma mulher muito bonita. O destino de cada um deles é decidido pela aparição da comadre química (SOUZA et al., 2011).

Em “A Maquina Química do Tempo”, de autoria própria do grupo, é apresentada a viagem que uma aluna do curso de licenciatura em química faz no tempo. No enredo, Heloisa é reprovada na disciplina História e Filosofia da Química, pois não se dedica o suficiente para aprender, dando mais importância às disciplinas especificas do curso, não atribuindo importância para a construção e evolução da química. Então o senhor “Químico do Tempo”, personagem fictício capaz de viajar no tempo, leva a aluna para uma viagem e a faz perceber que cada cientista e cada descoberta tiveram importância para a evolução da química (SOUZA et al., 2011). Os espetáculos são encenados por licenciandos em química, possibilitando aos expectadores experimentar como a ciência e as emoções influenciam na organização das informações apreendidas pelo sentido.

O “Química em Cena”, vinculado ao Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é outro grupo que se propõe a reunir, escrever textos e divulgar produções teatrais que tenham a ciência química como motivação. Trata-se de uma iniciativa de popularização da ciência que relaciona cultura, arte e difusão de conhecimentos químicos por meio das artes cênicas, o que lhe confere caráter interdisciplinar. Em 2008 o grupo escreveu e apresentou o espetáculo “o átomo em foco”, mostrando de forma lúdica, como os modelos atômicos atuais foram desenvolvidos. Para tanto, foram encenados os modelos atômicos dos cientistas Dalton, Thomson, Rutherford e Bohr, realizando em conjunto a atuação e apresentação de experimentos de química, como a “reação oscilante” e “tubo em Y” (HUSSEIN e SILVA JUNIOR, 2012).

Essa peça foi apresentada em diversos espaços formais e não formais tais como o Parque da Ciência, localizado no Museu Câmara Cascudo, escolas da rede pública do RN, em feiras de ciência e tecnologia, no evento de premiação da Olimpíada de

Química da UFRN e no Evento do dia do Químico, no Instituto de Química da UFRN (HUSSEIN e SILVA JUNIOR, 2012).

O grupo produziu e encenou “O Químico Holmes e o Caso do Shapoo Trágico”. Espetáculo baseado no livro As Aventuras Cientificas de Sherlock Holmes de Colin Bruce. Em um “ambiente” repleto de cores e sotaques, um malandro aventureiro vai vender um shampoo para uma mocinha que adora cuidar dos cabelos. A mocinha é namorada de um médico que divide apartamento com um Químico, e ao usar o shampoo, seu cabelo começa a cair. Sofrendo pressão do namorado, a mocinha conta onde comprou o produto, cheio de dúvidas sobre a composição deste, o namorado pede para o Químico analisar a composição do shampoo, onde transforma toda essa trama através de experimentos químicos (SOUSA JUNIOR et al., 2011).

No final deste espetáculo, abre-se um debate com o público, buscando explicar os experimentos que estavam em cena, esclarecer dúvidas, fazer comentários e sugestões. Essa é uma linguagem bastante importante para articular a apresentação de conceitos científicos e despertar vocações científicas (LUPETI et al; 2008).

No estado de São Paulo, o grupo Ouroboros, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), vem divulgando a ciência e a cultura por meio do teatro e de oficinas de circo, e com isso o grupo aproxima a população em geral de conceitos científicos. O Ouroboros foi o responsável pela criação do Encontro Nacional de Teatro Científico, Ciência em Cena (LUPETE, 2013). O grupo já encenou vários espetáculos: além da lenda, o químico e o monstro, magia e ciência, o castelo bem assombrado, a caverna de Morgana, Lição de botânica. Essa última em homenagem ao centenário de Machado de Assis, trazendo um tema onde a ciência está em cena, na peça, o barão Sigismundo de Kernoberg, um apaixonado pela ciência que se vê diante de um grande amor: Helena, sobrinha de Dra. Leonor e irmã de Cecília. A linguagem machadiana do final do século XIX, figurino e cenário levam o espectador ao interior da casa de Dra. Leonor e lá vão se emocionar, se divertir e viver essa história onde a ciência e o amor lutam pelo coração do nobre barão. O Ouroboros nessa livre adaptação confere um final inusitado à história, contrariando a lógica machadiana e caracterizando a peça como um produto inédito dirigido por Rui Sintra e estrelado pelo grupo em 2008 (LUPETI et al., 2008).

Outro grupo que merece destaque é o do “Seara da Ciência”, vinculado a Universidade Federal do Ceará (UFC). Dentre varias encenações eles já apresentaram: Eu odeio insetos e caixinhas da vida, de Betânia Montenegro e Ricardo Tannuse e Digestão: comida calor e peso, de Betânia Montenegro, apresentadas durante os cursos

de férias promovidos pelo seara da ciência para professores da rede pública do ensino médio (MONTINEGRO et al., 2005).

No entanto outros grupos (ALQUIMIA da UNESP; Tubo de Ensaio da UECE) vêm trabalhando com teatro científico, Liberato (2014) ao discutir sobre o trabalho realizado por grupos de teatro afirma que essa estratégia tem trazido bons resultados, despertando o interesse dos estudantes, uma vez que trata a ciência de maneira lúdica e com uma linguagem acessível. Nesse sentido, Sousa Júnior et al., (2011) relata que os alunos se empenharam bastante e mostraram grande interesse em todas as etapas da construção dos espetáculos, desde a criação do cenário, confecção do figurino e seleção dos experimentos químicos.

Através de questões e debates realizados após a apresentação dos espetáculos Carvalho (2006) avaliou que os estudantes compreenderam os conceitos trabalhados, assim como passaram a entender alguns aspectos da produção científica, identificando que o teatro incentivou à inovação. Os estudantes manifestaram idéias prévias de conceitos científicos, trabalharam em grupo, discutiram e refletiram sobre aspectos da ciência (MEDINA e BRAGA, 2010).

A proposta de trabalhar o teatro sugere a viabilidade de uma prática de ensino voltada para a construção de conceitos científicos, não apenas da História da Ciência, mas também de outros conceitos físicos, químicos, biológicos, históricos ou até mesmo outros que os professores queiram trabalhar (BADOW e SILVA, 2014).

O TC é uma importante ferramenta para motivar os educandos a aprender tópicos da ciência, pois por meio dele a história da ciência é trabalhada e desmistificada, de modo a fazer com que os espectadores e os atores percebam os reais processos pelos quais a ciência evolui. Assim, o aluno começa a perceber que a ciência faz parte do seu mundo, sendo possível aprender muito sobre ela e ajudando no seu desenvolvimento (SARAIVA, 2007).

No entanto, Moreira (2013) afirma que a articulação entre teatro e ciências da natureza no Brasil, visando a divulgação científica, é ainda recente e, por isso, apresenta aspectos que precisam ser mais bem estudados. Por exemplo, o TC não se limita a contar uma história. O teatro parte de uma história e de seus personagens para refletir sobre a condição humana, e vale para qualquer tema, portanto contar historia não é necessariamente fazer teatro (LIBERATO, 2014). Oswaldo Mendes relata em entrevista (LIBERATO, 2014) que é preciso discernir o trabalho do divulgador e de um

profissional do teatro: “fazer o papel de um cientista não torna nenhum ator um verdadeiro cientista, embora se estude bastante para a interpretação”.

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