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3.1 Criação de empregos verdes: evidências para alguns países

3.1.2 O caso de alguns países da Europa

Estudo desenvolvido por Kammen e Engel (2009) aponta que, na União Europeia (UE), as políticas voltadas para o setor de energia renovável são as mais avançadas do mundo. Dessa forma, existe um alto investimento no setor de Energia Renovável, o que impulsiona os empregos nessa área. Até o ano de 2009 os números apontavam cerca de 150.000 empregos diretos nesse departamento. Todos esses postos de trabalho foram gerados pelo setor de energia eólica, o que representa mais de 50% do setor de Energia Renovável em toda União Europeia.

Além disso, tem-se que três países da UE representam mais de 70% de toda capacidade instalada: Alemanha, Espanha e a Dinamarca. Esses países representam mais de 90% de todos os empregos relacionados à produção de energia eólica na região. A Associação Europeia de Energia Eólica mostra que, de 2005 a 2009, foram criados mais de 60.000 empregos na nessa área.

Esse estudo ainda afirma que investimentos no setor de Energia Renovável não somente impulsiona o nível de emprego, mas também auxilia no equilíbrio de toda economia. Além do mais, colabora para a redução dos GEE. Segundo a Associação Europeia de Energia Eólica, ocorreu uma diminuição de mais de 90 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera até 2009. Kammen e Engel (2009) reiteram a relevância dos governos dos países europeus na trajetória para uma economia mais verde. Eles apontaram que, após 1991, o governo da Alemanha subsidiou a instalação de captação de energia solar nas residências do país. Essa ação governamental, no período de 1995 a 2004, fez a Alemanha se tornar o maior mercado de energia solar do mundo. Na Dinamarca notou-se, a partir de 1980 até 2009, que políticas incentivadoras de energia renovável e eficiência energética contribuíram para o aumento do PIB em torno de 56%. A energia eólica é responsável por 20% de todo produção doméstica e a Dinamarca é responsável por produzir em torno de 33% dessa energia em todo o mundo.

Incentivos fiscais nesse país, como a exclusão de impostos da renda advinda das indústrias eólicas, fizeram com que mais de 150.000 famílias participassem ativamente dessas indústrias através de cooperativas.

Na Espanha, os incentivos por parte do governo proporcionaram o desenvolvimento das indústrias eólicas. Esse incentivo ocorreu através da implantação de várias fábricas para a montagem e manutenção das mesmas, o que ocasionou o aumento o nível de emprego relacionados a esse setor.

Em estudo referente aos empregos verdes dos países da Europa, Colijn (2014) definiu os tipos de empregos verdes com o propósito de levantar estimativas da quantidade desses postos de trabalho na Europa. O estudo apontou que existem quatro tipos de emprego verde, os quais são: “dark green”, “light green”, “near green” e “green neutral”. O “dark green” é definido como trabalhos centrados no meio ambiente, por exemplo, engenheiro e cientista ambiental. O segundo termo “light green” inclui empregos que estão relacionados de alguma forma com atividades que colocam o meio ambiente em foco, ou seja, algumas de suas tarefas não estão relacionadas com o meio ambiente, mas outras sim, como engenheiro mecânico e gerente de logística. O terceiro, o “near green” inclui postos de trabalho que de alguma forma ajudam no processo de greening da economia, entretanto não causa nenhum impacto direto na “economia verde”, tal como o engenheiro de qualidade. Por fim, o termo “green neutral”, são os trabalhos que não causam nenhum impacto na “economia verde”, entre os quais tem-se caixas de banco e advogado.

Os resultados para a análise, de 1 de dezembro de 2011 a 9 de novembro de 2012, mostraram que numa comparação entre as quatro categorias desagregadas (lembrando que a “green neutral” é considerada como emprego não verde), a proporção de “dark green” e “light green” correspondeu a 3,25% do total de empregos no período de análise, enquanto que os “near green” representaram cerca de 3,64% do total de empregos da economia, ou seja, as estimativas são semelhantes. Outra conclusão de Colijn (2014) foi referente à existência de grandes diferenças na proporção de emprego verdes entre os países europeus. Noruega e Dinamarca apresentam os maiores índices, em torno de 9% do total de empregos do período de análise, em contrapartida, na Irlanda e Eslováquia o número de empregos verdes é inferior a 1% do total de empregos no mesmo período.

A partir da Figura 1, Colijn (2014) fez uma análise entre PIB per capita e o percentual de empregos verdes para os 27 países5 analisados da Europa. As análises mostram que existe

uma correlação forte entre as duas variáveis. A Dinamarca, como visto em Kammen e Engel (2009), é a líder mundial no aumento de eficiência enérgica e apresentou o maior número de empregos verdes dentre os países da amostra. Por outro lado, na Noruega, onde há uma grande exploração de combustíveis fósseis, a correlação é fraca. Isto é, o país é um grande explorador de combustíveis fósseis, o que não promove greening da economia, o que revela correlação não significativa entre o PIB per capita e o nível de emprego verde no país.

Figura 1: Percentual dos cinco setores mais relevantes de empregos verdes por ocupação do total de empregos na União Europeia

Fonte: Elaboração a partir de Colijn, 2014.

Nota-se que os setores de Agricultura, Pesca e Silvicultura são os que abrigam o maior percentual de empregos verdes, em torno de 27%, seguido pelos setores de Arquitetura e Engenharia, onde os empregos verdes representam em média 16%. Nessa mesma perspectiva, Altenburg (2017) também buscou levantar o número de empregos verdes para a União Européia, conforme descrito na Tabela 4.

26,67

15,86

12,07 11,73

10,74

22,93 Agricultura, Pesca e Silvicultura

Arquitetura e Engenharia Construção e Extração Limpeza e Manutenção de Edifícios e Terrenos Ocupações de instalação, manutenção e reparo Outros

Tabela 4: Nível de emprego verde da União Europeia e variação anual do nível, 2000 e 2008

Atividade Emprego 2000 Emprego 2008 Taxa de crescimento (média anual)

Gestão de resíduos 844.766 1.466.673 7,1

Abastecimento de água 417.763 703.758 6,7

Gestão de águas residuais 253.554 302.958 2,3

Materiais recicláveis 229.286 512.337 10,6

Outras 129.313 193.854 5,2

Energia renovável 49.756 167.283 16,4

Poluição do ar 22.600 19.067 -2,1

Biodiversidade 39.667 49.196 2,7

Solo e Água Subterrânea 14.882 18.412 2,7

Ruído e vibração 4.176 7.565 7,0

Total 2.005.764 3.441.102 7,0

Fonte: Ecorys, 2009 apud Altenburg, 2017.

Conforme o autor, percebe-se que a maioria destes novos postos de trabalho foram criados na gestão de recursos energéticos. Em especial, pode-se citar a produção de energia a partir de fontes renováveis, a produção de centrais eólicas e solares e as instalações para poupar calor e energia.

Ainda para os países europeus, durante o período de 2005 e 2013, a Figura 2 informa sobre o nível de emprego por setor ambiental, o nível de emprego dos bens ambientais e o setor de serviço ambiental.

Figura 2: Nível de emprego verde na União Europeia dos bens ambientais e setor de serviço ambiental.

Fonte: Elaboração a partir de Altenburg, 2017.

Nota: “Para a Áustria, a Alemanha, o Luxemburgo, os Países Baixos e a Roménia, as acções são de 2012, para a França e Lituânia, as ações são de 2011. Para alguns países, o ano base (2005) refere-se a 2007 ou 2008. Assim, não comparável por definição.”

0 1 2 3 4 5 6 2005 2013*

Observa-se que para a maioria dos países, houve aumento do nível de emprego verde, do ano de 2005 para o ano de 2013. É possível notar que, na Alemanha o nível de emprego aumentou significativamente no período analisado, enquanto que países como Austrália, Bulgária e França não se observou o mesmo efeito.