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PARTE I – O PROBLEMA SOCIOLÓGICO E O CAMPO EMPÍRICO DAS EMPRESAS

Capítulo 2 – O espaço das empresas na economia mundial: transformações societais e especificidades de um grupo empresarial português

3. O posicionamento do grupo empresarial e da empresa em estudo no campo económico

3.5. O caso da empresa objecto de estudo

3.5.4. Alguns traços significativos do desempenho económico e financeiro da

Electrotensão

Terminamos este texto com uma abordagem do desempenho económico e financeiro da Electrotensão, à semelhança da análise efectuada para o grupo empresarial. Paralelamente, procedemos a um enquadramento sectorial da actividade da empresa169. Relembramos que não é nosso objectivo efectuar uma abordagem detalhada, mas antes traçar o pano de fundo de caracterização da empresa nesta dimensão170.

A partir da leitura do quadro que se segue, podemos afirmar que o volume de negócios da empresa tem apresentado um crescimento favorável, tendo em conta que se trata de uma empresa nova do ponto de vista jurídico, fruto do complexo processo de reestruturação a que já fizemos referência: em 1999 e 2000 cresce, respectivamente, 12.5% e 4.6% em relação ao ano imediatamente anterior.

Quadro 2.8 Volume de negócios 1998 (milhares €) (milhares €) 1999 Taxa de variação 1999/98 (%) 2000 (milhares €) Taxa de variação 2000/99 (%) Vol. negócios 77.409 87.056 12.5 91.060 4.6 Mercado interno 27.838 33.335 19.7 28.531 -14.4 Mercado externo 49.571 53.721 8.4 62.529 16.4 Encomendas em carteira 49.027 49.191 0.3 62.579 27.2 Vol. negócios/ trabalhador 82 102 24.4 111 8.8

Fonte: Relatório e Contas, 1998; Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999; 2000.

Não deixa, contudo, de haver alguma desaceleração económica, a qual tem, na sua origem, o comportamento de retracção verificado no mercado interno, associado a uma redução do investimento público em infra-estruturas.

É de destacar que o volume de negócios médio nas empresas classificadas pela CAE 31, em 1998, corresponde a 2.4% do registado pela Electrotensão no ano de

169 A informação estatística recolhida de enquadramento sectorial tem por base a CAE. A actividade da

empresa, tal como a do grupo empresarial, classifica-se na CAE 31 – fabricação de máquinas e aparelhos eléctricos, n.e. – e no respectivo subsector 311 – fabricação de motores, geradores e transformadores eléctricos. No que diz respeito à informação disponível para a caracterização sectorial, só obtivemos dados para o ano de 1998.

170 Na medida em que os indicadores e rácios utilizados são os que mesmos que utilizámos para efectuar

a análise económica e financeira do grupo empresarial, remetemos para a leitura do respectivo texto a consulta das respectivas fórmulas e definições, das referências bibliográficas utilizadas e das fontes de informação da empresa.

1999, o que demonstra a importância da dimensão e do posicionamento ocupados pela empresa no sector171.

Por outro lado, a Electrotensão possuía, no final de 2000, 855 trabalhadores ao serviço, quando a média na CAE 31 se fica, em 1998, pelos 37 trabalhadores172.

A carteira de encomendas regista, no final de 2000, um crescimento de 27.2% em relação a 1999, o que se deve, por um lado, à manutenção do posicionamento no mercado nacional e, por outro, ao significativo aumento das encomendas para a exportação, acompanhando a aposta do grupo empresarial numa estratégia de internacionalização e de enquadramento nas dinâmicas globais de comercialização. Esta tem-se revelado frutífera, representando a facturação para exportação 53.721 milhares de euros, para um total de 87.056 milhares de euros. Concretiza-se no reforço e consolidação da rede de agentes, de delegações e de filiais no estrangeiro. Como podemos ver no quadro, em 2000, o crescimento do volume de negócios reflecte um aumento de 16.4% das vendas para o mercado externo e uma redução de 14% no mercado interno.

A distribuição geográfica dos mercados onde a empresa opera é, já, significativa e elucidativa da importância e concretização da aposta na internacionalização das suas actividades.

Quadro 2.9

Distribuição geográfica dos mercados 1999 (%) Portugal 36 América do Norte 22 Médio Oriente 11 Extremo Oriente 10 Europa 9 África 8 América Latina 4

Fonte: Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999.

171 Os dados relativos à Electrotensão respeitam ao ano de 1999, pois, na medida em que a empresa foi

constituída em 1998, não existem dados relativos a esse ano; existem apenas para todo o grupo empresarial, com a excepção de alguns indicadores económicos que encontrámos, já, especificados para a empresa. Na medida em que apenas dispomos de dados para o ano de 1999, não é possível realizar uma análise evolutiva, mas, simplesmente, comparativa entre os indicadores. Os dados de caracterização da indústria transformadora e das actividades englobadas nas CAE 31 e 311 são relativos a 1998, o que não inviabiliza o exercício comparativo, pois trata-se de uma diferença de apenas um ano na análise de realidades estruturais que sofrem processos lentos de transformação ao longo do tempo.

172 Mais adiante, neste texto, apresentaremos uma comparação entre a empresa, o grupo empresarial e o

Como se pode ver no quadro, 64% dos mercados-alvo são externos, com destaque para a América do Norte, bem como para o Extremo e o Médio Oriente.

A presença crescente em mercados internacionais é, contudo, selectiva, procurando a empresa definir com precisão o tipo de concorrentes com os quais considera que pode, efectivamente competir. Não por isso de estranhar que a Europa, território onde é significativa a presença de importantes grupos empresariais deste ramo da actividade económica, não constitua um destino assinalável dos produtos da Electrotensão. Como afirma o director da unidade Marketing e comercial da área de negócio T&D:

Os outros têm uma boca muito grande e passam crises muito maiores do que as nossas, vão fechando fábricas e isso constitui um espaço para nós. Nós fomos sempre diversificando o

mercado exactamente para não sermos demasiado hostis aos grandes. Nós vamos

diversificando, vamos tentar ser um player, alguém que está no jogo, mas sempre com uma equipa distante relativamente aos grandes. Nós fazemos o nosso negócio, posicionamo-nos

de uma maneira firme para eles perceberem que nós estamos cá para ganhar a nossa vida, mas não estamos cá para dar cabo do negócio.

A conquista de mercados encontra-se, deste modo, associada à diversificação, não apenas de produtos, mas também de territórios de destino.

O VAB, em 1999, atinge 25.984 milhares de euros, o que corresponde a 7 vezes o VAB médio para a CAE 311 em 1998.

Quadro 2.10 Produtividade 1999 (milhares €) VAB 25.984 VAB/ trabalhador 30

Fonte: Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999.

O VAB por trabalhador é bastante elevado, sobretudo quando comparado com o do sector, que se situa, em 1998, abaixo dos 18 milhares de euros. Também a este nível é notória e singular a posição da empresa no panorama nacional do sector.

Vejamos agora o comportamento da empresa ao nível financeiro. Quadro 2.11

Indicadores da situação financeira 1999 (milhares €)

Resultados líquidos 586

Autofinanciamento (cash flow líquido) 5.461

Meios libertos (cash flow) 7.328

Capitais próprios 34.019

Activo total 89.227

Fundo de maneio 1.397

Fonte: Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999.

De entre os vários indicadores patentes no quadro, salienta-se o cash flow gerado173, sobretudo quando comparado com o global das empresas tipificadas na CAE 31: o cash flow da empresa ultrapassa os 7 milhões de euros em 1999, enquanto a média sectorial se fica pelos 1.7 milhões.

Quadro 2.12

Rentabilidade e autonomia financeira 1999

(%) Rentabilidade dos capitais próprios 1.7

Rentabilidade do activo total 0.7

Rentabilidade das vendas 0.7

Autonomia financeira 38.1

Fonte: Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999.

Inversamente ao desempenho económico, os níveis de rentabilidade da Electrotensão ficam muito aquém dos do sector, por efeito do reduzido valor dos resultados líquidos, situação normal para uma empresa em início de actividade. De facto, o sector, em 1998, apresenta taxas de rentabilidade das vendas que rondam os 5% e a empresa fica-se, em 1999, pelos 0.7%. A causa da baixa rentabilidade pode ser encontrada nos elevados encargos financeiros e extraordinários, resultantes, ainda, da reestruturação e reavaliação patrimonial de que foi alvo a empresa, bem como da aposta numa estratégia de internacionalização, que obrigou a um esforço comercial acrescido, traduzido num aumento dos custos.

Os níveis de autonomia financeira e liquidez, pelo contrário, apresentam-se elevados e revelam uma situação saudável, quer financeiramente, quer em termos de tesouraria ou de liquidez. Quadro 2.13 Liquidez e solvabilidade 1999 Liquidez geral 1.03 Solvabilidade 0.62

Fonte: Relatório do Conselho de Administração e Contas Consolidadas, 1999.

O nível de solvabilidade, à semelhança do analisado para o grupo empresarial, não é muito elevado.

Podemos, assim, concluir que estamos perante uma empresa com um desempenho económico e financeiro significativo e, possivelmente, em vias de consolidação. Como referimos, este desempenho não é alheio ao facto de a Electrotensão se encontrar numa fase de arranque autónomo da sua actividade, com todos os custos daí decorrentes.

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