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CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ALIMENTAÇÃO FORA DE CASA E PROMOÇÃO DE

O setor de alimentação fora de casa é composto por locais que produzem e/ou servem refeições para consumo imediato e podem ser divididos em dois segmentos: coletivo e comercial (PROENÇA, 2005; USDA, 2014). A alimentação coletiva engloba os restaurantes institucionais, com consumidores cativos, como em indústrias, creches, escolas, universidades e hospitais (PROENÇA, 2005). Como exemplode estabelecimentos de alimentaração comercial, tem-se os restaurantes de autosserviço (self-service), fast food (redes de comida rápida), pratos prontos, à la carte, hotelaria, bares e lanchonetes (PROENÇA, 2005; USDA, 2014).

A tendência de aumento da alimentação fora de casa em regiões urbanas é observada mundialmente (VARIYAM, 2005; STEWART et al., 2006; BEZERRA; SICHIERI, 2009).

Para exemplificar, nos Estados Unidos da América (EUA), os gastos com alimentação fora de casa aumentaram quase 400% entre os anos de 1983 a 2013 (USDA, 2014), sendo que as pessoas com idade entre 20 e 29 anos consumiam aproximadamente 40% do total da energia diária proveniente da alimentação fora de casa (LARSON et al., 2011).

O Brasil tembém vem vivenciando o mesmo fenômeno, posto que em 1975 os gastos com alimentação fora de casa representavam menos de 10% dos gastos com alimentos (IBGE, 1976), já em 2008/2009 chegavam a mais de 30% (IBGE, 2011).

Segundo estudo realizado por Bezerra et al. (2009), com base nos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2002-2003, o consumo de alimentos fora de casa no Brasil foi reportado por 40% dos entrevistados, sendo que esse percentual foi maior entre os homens e na área urbana, bem como diminuiu com a idade e aumentou com a renda em todas as regiões brasileiras. Sanches e Salay (2011), em estudo com 250 consumidores da cidade de Campinas – SP, constataram que 98% dos consumidores pesquisados costumavam almoçar fora de casa, cerca de 39% dos entrevistados afirmaram ter essa prática de quatro a sete vezes por semana.

Além disso, a literatura científica demonstra que o aumento do consumo da alimentação fora de casa pode estar associado a uma menor ingestão de frutas, vegetais, laticínios, fibras, cálcio, ferro e vitaminas,

além de uma maior ingestão de alimentos com alto teor de gorduras totais, gordura saturada, açúcar e sódio (BEZERRA; SICHIERI, 2009; VANDEVIJVERE et al., 2009; BES-RASTROLLO et al., 2010; BANDONI et al., 2013). Bezerra et al. (2013), em estudo realizado com base nos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-2009, relataram, por exemplo que, dentre os grupos de alimentos mais consumidos fora de casa no Brasil, estavam alimentos associados à baixa qualidade nutricional, como salgadinhos fritos, pizzas, refrigerantes e sanduíches.

Essa associação, entre alimentação fora de casa e mudança na composição da dieta, pode ser um dos principais fatores envolvidos na transição epidemiológica observada, com o aumento na prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes melito, doenças cardiovasculares e a diminuição da prevalência de doenças infecciosas (POPKIN, 2006; OPAS, 2007; MALIK; WILLET; HU, 2013 ; USDA, 2014).

Estudos mostram que o aumento da alimentação fora de casa pode estar associado ao excesso de peso (MA et al., 2003; ORFANOS et al., 2007; BEZERRA et al., 2013; NAGO et al., 2014). Naska et al. (2011), em estudo realizado em dez países europeus, incluindo o Reino Unido, bem como Bezerra e Sichieri (2009), no Brasil, constataram que entre homens, o ato de comer em restaurantes foi associado ao ganho de peso e obesidade.

Além disso, Cunha D. et al. (2010), no Brasil e Garcia, Sunil e Hinojosa (2012) nos EUA, ao relacionarem a alimentação fora de casa e o aumento do peso corporal, perceberam que o aumento no consumo de

fast food estava relacionado ao aumento no ganho de peso.

À luz desse quadro de aumento dos casos de obesidade e doenças crônicas, a partir da constatação de evidências sobre o efeito positivo de práticas alimentares saudáveis sobre as doenças crônicas e seus fatores de risco, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a proposta de Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde. Essa Estratégia Global tem como objetivo principal reduzir os fatores de risco para doenças, por meio da promoção e proteção da saúde, mediante alimentação saudável e atividade física, a partir de atividades sustentáveis em nível comunitário, nacional e mundial (WHO, 2004).

No Brasil, em 1999 foi homologada a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), que faz parte da Política Nacional de Saúde (PNS). A PNAN tem como objetivo contribuir com o conjunto de políticas públicas voltadas à concretização do direito universal à

alimentação e nutrição adequadas e à garantia da segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Dentre as diretrizes da PNAN, têm- se: a promoção de práticas alimentares saudáveis; a prevenção e o controle dos distúrbios nutricionais e de doenças associadas à alimentação e à nutrição; a garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no país; e o estímulo às ações intersetoriais que facilitem o acesso universal aos alimentos (BRASIL, 2008).

Assim sendo, a PNAN e a Estratégia Global compartilham do mesmo propósito: incentivar a alimentação saudável, em nível coletivo, para favorecer escolhas saudáveis em nível individual, promovendo a saúde e a prevenção das doenças.

Importante instrumento para o cumprimento das diretrizes da PNAN e da proposta da Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde encontra-se o Guia alimentar para a população brasileira. Lançado em 2005, tendo uma segunda edição em 2008 e atualizado em 2014, pelo Ministério da Saúde, o Guia alimentar contém as diretrizes alimentares oficiais para o país. Esse guia tem como objetivo contribuir para a prevenção e o controle das doenças crônicas e das deficiências nutricionais; objetiva, também, reforçar a resistência orgânica a doenças infecciosas, promovendo o consumo de uma alimentação saudável e a adoção de modos de vida saudáveis na população maior de dois anos – crianças, adolescentes, adultos e idosos (BRASIL, 2008; 2014).

O aumento da prevalência de obesidade e de problemas de saúde relacionados, como doenças cardiovasculares, reforçam a importância de ser oferecida maior variedade de alimentos saudáveis para as pessoas que comem fora de casa (NATIONAL HEART.... 2010).

No plano de ação para a prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis 2013-2020, da OMS, bem como no plano de ação em alimentação e nutrição 2014-2020 da Organização Mundial da Saúde da Região Europeia, dentre as medidas sugeridas para combater a obesidade e as doenças crônicas, encontra-se a promoção de informação nutricional, de forma clara e compreensível, para todos os alimentos embalados, incluindo aqueles que fazem alegações de nutrição e saúde (WHO, 2013; WHO EUROPEAN..., 2013).

Segundo Malik, Willet e Hu (2013), a informação nutricional, disponibilizada tanto em produtos embalados quanto em restaurantes, é uma estratégia política de prevenção à obesidade e demais doenças crônicas. Esse tipo de informação pode influenciar positivamente as

escolhas e consumo alimentar, auxiliando os consumidores a fazerem escolhas alimentares saudáveis e informadas.