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Almagro 51c.C Inv nº: 03.8(5) Fragmento de bordo côncavo e asa obliqua.

CERÂMICA ROMANA PINTADA

CATÁLOGO

62. Almagro 51c.C Inv nº: 03.8(5) Fragmento de bordo côncavo e asa obliqua.

Pasta: dura, castanha (2.5YR 6/6), foliácea. Quartzo leitoso, defumado, óxido de ferro vermelho e moscovite.

Dimensões: Ø do bordo, 9,2cm; altura, 3cm. 63. Almagro 51c.C. Inv. nº: 56.6(4). Fragmento de boca espessada e asa obliqua.

Pasta: dura, castanha (5YR 5/8), foliácea. Quartzo defumado, óxido de ferro ver- melho e moscovite.

Dimensões: Ø do bordo, 8cm; altura, 4,2cm. 64. Almagro 51c.C. Inv. nº: 220.6(3).

Fragmento de bordo concavo e asa de secção trapezoidal.

Pasta: dura, castanha (7.5YR 4/6). Quartzo leitoso, esfumado e róseo, óxido de ferro vermelho e castanho-escuro

Dimensões: Ø boca interna, 9,6cm. 65. Almagro 51c.D. Inv. nº: 105.6(6). Fragmento de bordo em barbela.

Pasta: dura, castanha (7.5YR 5/4), foliácea. Quartzo leitoso, defumado, óxido de ferro vermelho e moscovite.

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CERÂMICA COMUM ROMANA

Luísa Batalha

Do vasto conjunto de materiais oferecidos por esta intervenção arqueológica, a maior percentagem incide no espó- lio de cerâmica comum romana. A sua influência fez-se sentir desde o séc. I até ao séc. V, período onde a fragilidade económica por via de uma economia decadente, fez ressurgir as velhas tradições de auto-suficiência, facto que se reflectiu na manufactura da própria cerâmica.

Contudo, o período de permanência e influência romana foi longo. O espólio anfórico, a presença significativa de terra sigillata, bem como os fragmentos vítreos, são elementos relevantes para fundamentar e datar cronologica- mente os vários momentos aqui registados.

Não considerámos a execução de uma análise exaustiva, motivo porque a cerâmica comum romana, será analisada a partir de um conjunto de peças que não sendo em grande número, procurámos que fosse significativa em termos formais, uma vez que o espaço intervencionado não é, certamente, representativo e muito menos conclusivo, de uma vasta área que requer uma nova abordagem em tempo oportuno.

Para a efectivação da referida análise, optámos como critério definidor a divisão da cerâmica comum em dois grupos que foram determinados a partir das cores apresentadas pelas pastas. Foram assim constituídos os grupos cerâmicos com pastas brancas (de cozedura oxidante) e os de pastas vermelhas (nos quais incluímos os de cozedura oxidante e redutora).

Cerâmica comum de pasta branca.

É um pequeno grupo constituído por três formas em que se destacam: Bilhas

Estas peças fazem parte da loiça de mesa e eram usadas para servir água.

As duas bilhas encontradas na base do contraforte da sondagem 12, apresentam corpo bitroncocónico, fundo plano, gar- galo estreito e bordo com uma dobra. Possuem asa e não são muito vulgares quanto à forma (nº 1 e 2).

Encontramos referências no Alto do Cidreira, (Nolen: 1990, 90-91) e também em Elvas (Nolen: 1985, Est. VI). (convém referir que neste último caso considerámos a proximidade da forma uma vez que não se inclui nas pastas brancas.)

CERÂMICA COMUM ROMANA

86 87 Do mesmo modo, também em Conimbriga, (Alarcão: 1974, Comum, nº 459, Est. XXII, nº 508, e Est. XXIV) podem-

os encontrar bilhas cujo bordo apresenta características similares e cuja cronologia corresponde aos sécs. I-II d. C. A pasta de dureza média, com elementos micáceos e quartzos entre o médio e muito finos, bem como óxido de ferro vermelho, apresenta as mesmas características das do Alto do Cidreira.

produtor. Não existe significativa variação cromática. As pastas brancas, alternam entre 10YR 8/2 e 8/3, ou seja os tons beges muito claros, também identificados por Nolen no Alto do Cidreira.

Cerâmica comum de pasta vermelha

Grupo composto por uma variedade formal em que englobamos: Bilhas

Um fragmento de pequena bilha de colo estreito ligeiramente esvasado e com lábio plano (nº 3), faz parte de uma cronologia que vai desde o séc. I e é transversal a todo o período imperial. Esta forma encontra-se presente em todo o Império, (Vegas: 1973, 97 Fig. 96, nº 1, 2 e 3). De características simples, apresenta uma asa, colo estreito e arqueado que evolui para um corpo piriforme.

Temos ainda dois fundos de bilha, um com base plana e outro com base ligeiramente convexa, mas cujas formas desconhecemos, (nº 4 e 5).

Púcaros

Os dois púcaros, respectivamente das sondagens 3 e 13, correspondem a uma estratigrafia bem datada do período romano, sécs. I-II d. C. São potes de bordo esvasado, corpo troncocónico, com paredes direitas. O exemplar da sondagem 3, apresenta duas asas (nº 12), enquanto o da sondagem 13, é brunido no colo (nº 13). Estes tipos encon- tram paralelos em Vila Viçosa (Nolen: 1985, Est. XXIV, nº 174).

Potinho

A sondagem 6 ofereceu um pequeno fragmento de pote(?) de corpo globular, e com engobe branco brunido na face externa (nº 10). Por ser o único fragmento do género decidimos apresentá-lo, embora tenhamos dúvidas quanto à sua forma.

Trata-se de uma cerâmica de produção da Gália de que encontramos paralelos em peças do Museu de Argentoma- gus (Tuffreau-Libre: 1992).

Jarros

Entre os vários fragmentos de jarros apresentamos quatro exemplares com dois tipos específicos, todos recolhidos na sondagem 6, estrato 6, em contexto declaradamente tardio. Assim, as peças 6 e 7 do catálogo, apresentam paredes Púcaros

Também os púcaros fazem parte da loiça de mesa e destes possuímos apenas um de perfil incompleto. A peça nº 11 é uma imitação de paredes finas com pasta muito bem depurada. Embora se trate de uma imitação, o perfil ti- pológico encontra-se muito próximo dos exemplares de Conimbriga, (Mayet: 1975, Pl. XIII, nº 15).

Potinho

Um fundo de potinho em cerâmica, (peça nº 14), faz parte deste pequeno conjunto de pastas. Apresenta uma pasta bem depurada, com as mesmas características das peças já descritas, o que sugere tratar-se do mesmo centro de

88 89 quase rectilíneas, lábio ligeiramente espessado e uma asa em fita. Devido às suas características estes fragmentos

não se prestam a uma identificação tipológica precisa, embora sejam muito idênticos aos bordos dos jarros nº 856 e 857 de Conimbriga datados do séc. V (Alarcão: 1974, Est. XLV).

Os outros dois exemplares de jarros têm colo troncocónico e lábio extrovertido plano no caso da peça nº 9 e bordo em S com lábio arredondado na peça 8. Encontram-se paralelos no Porto dos Cacos com cronologia entre os sécs. I-V, afecta ao forno nº 2 (Raposo e Duarte: 1996, 264, Fig. 8).

Pratos

O prato nº 18, de bordo alto, ligeiramente envasado, com carena no exterior, encontra paralelo na região de Elvas e insere-se na tipologia 3-b das necrópoles do Alto Alentejo, (Nolen: 1985, nº 247/8). Esta forma, embora se encontre classificada como prato, também pode ser surgir como frigideira. Neste caso, não podemos considerar como tal, pois não possuímos o perfil completo da peça, nem esta apresenta vestígios de exposição ao fogo. Todas as referências para esta forma colocam-na cronologicamente no Alto Império, mas devido ao estrato em que surgiu, sondagem 6, estrato 6, podemos considerar que se trata de uma forma que perdurou pelo menos até ao séc. VI/ VII. O prato nº 19 encontra paralelos na forma I-A-8 que em São Cucufate se insere nos horizontes 1 e 4, o que pressupõe uma cronologia alargada.

Potes

Os potes são peças de armazenamento e inserem-se na loiça de cozinha. Podiam conter água, azeite ou outros produtos, tais como azeitonas ou leguminosas.

Os exemplares oferecidos pela sondagem 6, apresentam formas diversas. A forma da peça 33, encontra paralelos em Conimbriga, com datação para o séc. V (Alarcão: 1974, Est. XVII, nº 353). Não foram encontrados paralelos para as peças 28, 29 e 30, atendendo ao facto de apresentarem o mesmo tipo de cozedura e se encontrarem em contexto datado, podemos inseri-las em cronologia tardo-romana.

Bacia

Esta forma generaliza-se a partir do séc. III (Mayet e Tavares da Silva: 1998, 153). A peça exumada no atelier do Pinheiro apresenta um bordo mais espessado, mas o exemplar nº 25 da Castanheira insere-se nesta tipologia, (Mayet e Tavares da Silva: 1998, fig. 65, nº 115).

Terrina

As terrinas fazem parte à loiça de mesa. O fragmento que possuímos (nº 23), pertence a uma forma rara que inseri- mos por aproximação na forma VI-A-fr 6 de S. Cucufate, (Pinto: 2003, 302, nº 228), (não datada). Tem um bordo plano, longo e a pega horizontal foi aplicada por baixo do mesmo.

Frigideiras

Estas peças, inserem-se na loiça de cozinha e eram usadas para ir ao lume. Normalmente são baixas e registam-se com vári- os diâmetros. Por vezes alguns tipos podem ser confundidos com pratos, uma vez que existem tipologias muito idênticas. Registámos três frigideiras do tipo 3-c de Nolen, (nº 21), de bordo amendoado virado para o interior, com paralelo em Vila Viçosa, (Nolen: 1985, nº 248). Segundo a autora, é possível encontrar esta forma representada em diversas pastas, sendo que surge no séc. IV em cerâmica comum.

Almofariz

Os almofarizes são taças onde eram triturados/esmagados certos tipos de alimentos/condimentos. Existem exem- plares de vários tamanhos. São formas abertas, pouco profundas e normalmente apresentam estrias. Estas podem cobrir total ou parcialmente a superfície interna da peça, embora por vezes se encontrem apenas no fundo. Alguns almofarizes em vez de estrias têm pequenas pedras no interior, mas a finalidade é a mesma. Também é comum possuírem um bico vertedor. Este fragmento não apresenta estrias (nº 24), mas por se encontrar fracturado, existe a possibilidade de as ter possuído somente no fundo. Encontramos paralelos no Mediterrâneo Ocidental com crono- logia entre os sécs. III-IV. (Vegas: 1973, fig. 10, nº 11),

Alguidares

Os alguidares são peças abertas, com várias di- mensões, utilizados para lavagens. Possuímos dois exemplares que obedecem à mesma forma (nº 26 e 27). Têm bordo espessado, em aba, com paredes troncocónicas. Esta forma está presente no centro produtor da Herdade do Pinheiro, em contex- tos do Baixo-império (Mayet e Tavares da Silva: 1998, 190 e 235, nº 60).

90 91 Panelas

No conjunto de fragmentos em estudo, as panelas constituem a maior percentagem de elementos. Constatámos a existência de três tipos: bordos de perfil em S com garganta interna (nº 37), com paralelos em São Cucufate, in- serida no tipo VIII-c-1-b, (Pinto: 2003,380) embora a autora considere esta forma característica do Alto Império, a verdade é que o seu uso é bastante significativo durante o séc. IV; bordo extrovertido simples e colo estrangulado (nos 44-48), com paralelos em Abul (Mayet e Tavares da Silva: 2002, 213, nº 176); o bordo simples em S (nos 38-43) com paralelos em São Cucufate para os sécs. IV-V (Pinto: 2003, 373), Conímbriga, (Alarcão: 1974, nº 109), Quinta do Outeiro – Almada (Santos, Sabrosa e Gouveia: 1996, 236, nº 21) e ainda no Porto dos Cacos, com cronologia entre os sécs. I-V, afecta ao forno nº 2. (Raposo e Duarte: 1996, 265, Fig. 9).

Tampas

As tampas pertencem normalmente às peças de cozinha. Este exemplar, nº 49, de bordo alongado e ligeiramente espes- sado faz parte de formas que também podiam ser usadas como pratos. Encontra paralelos no Mediterrâneo Ocidental, (Vegas: 1973, fig. 17, nº 3) e na Herdade do Pinheiro, (Mayet e Tavares da Silva: 1998, 107, nº 6). Este fragmento insere- se num contexto datado do Alto Império na Castanheira, (sondagem 3) de acordo com os paralelos acima referidos. Recolheu-se ainda um disco fabricado com um bojo de ânfora afeiçoado, peça nº 54.

Doliae

São grandes contentores de armazenamento, formas fechadas de paredes muito espessadas. Por serem peças de grande dimensão, apresentam normalmente pastas com alta percentagem de desengordurantes para evitar que se partissem durante a cozedura. As peças nº 50 e 51 do catálogo correspondem a duas formas distintas. A primeira encontra paralelo em Abul, (Mayet e Tavares da Silva: 1998, 54, nº 238) e na Herdade do Pinheiro, em contexto tardio do século IV (Mayet e Tavares da Silva: 2002, 288, fig. 136, nº 63). Esta forma insere-se nas talhas da vari- ante XIII-A-1-b de São Cucufate, (Pinto: 2003, 457) . A segunda, de bordo plano, também encontra paralelo na Herdade do Pinheiro, numa camada datada a partir do séc. IV (Mayet e Tavares da Silva: 1998, 236, nº 76) e na variante XIII-A-1-c de São Cucufate, datada entre os sécs. I-IV. (Pinto: 2003, 460).

Separador de cerâmica

Foi encontrado na sondagem 6, estrato 6 metade de um anel de cerâmica, de secção quadrangular (nº 52). Trata-se de um separador utilizado normalmente em forno para produção de cerâmica. Por não terem aparecido mais peças

do mesmo tipo fica a dúvida se não estaremos perante um caso singular ou perante a existência de uma produção local de cerâmica durante o Baixo-Império.

Tabuleiro de jogo?

Os quadrados e rectângulos incisos neste fragmento de telha, peça nº 55, poderão indiciar que a mesma serviu de suporte a uma actividade lúdica, (Museu Monográfico de Conímbriga - Colecções: 1994, 41).

Marca de jogo

A peça 53 do catálogo, é mais um elemento com características lúdicas, fabricado a partir de fragmento de telha .

Considerações finais

A análise deste espólio conhece dois momentos relevantes tendo em conta os contextos em presença. Embora a nossa inter- venção incida numa pequena vala, a diversidade contextual evidencia a presença de um mundo romano sem grandes con- taminações com as ocupações subsequentes. No caso das sondagens 3, 12 e 13, em que o nível de ocupação se encontra bem definido estratigraficamente através das estruturas encontradas, salvo alguns casos pontuais, mas pouco significativos de raros fragmentos de cerâmica do período visigótico que talvez por infiltração tenham passado através dos estratos superiores. Estas sondagens correspondem à parte sul da conduta e no caso da sondagem 12, ofereceu-nos um caso paradig- mático no que diz respeito às bilhas de pasta clara (nº 1 e 2), depositadas conjuntamente junto à base de um contra- forte que se projectava no corte poente e que nos colocam perante uma cronologia do séc. I-II .

Num segundo momento, a parte norte da escavação onde se situam as sondagens 5 e 6, regista uma realidade di- versa, uma vez que nos coloca perante uma estratigrafia invertida, em que os materiais se encontram misturados, em consequência de um enchimento intencional para nivelar esta área

Quanto à datação, existem materiais da camada 6 que são claramente de cronologia visigótica. Por outro lado, o elevado número de bordos de panelas com forma em S e pasta semi-oxidante, remetem-nos para uma cronologia romana tardia, a partir dos séc. IV, em conformidade com as produções do forno 2 do Porto dos Cacos, cujo aban- dono de laboração ocorreu no séc. V, (Raposo e Duarte: 1996, 237-265). Para além das datações de terra sigillata, temos ainda como elemento balizador as cerâmicas de pasta de Avelar , de meados do séc. IV e séc. V.

Alguns materiais, embora raros, situam-nos em cronologias mais recuadas, o que não causa estranheza se tivermos em consideração o fragmento de TS Af cl C, Hayes 45 ou 46 dos meados do séc. III ao IV, oferecido por esta sondagem (Sepúlveda e Ribeiro: nesta publicação).

92 93 Como já foi referido, a exiguidade desta vala em termos de espaço, embora tenha permitido uma análise diacrónica

em termos de ocupação, deixou em aberto muitas questões para as quais apenas poderemos avançar com o que de facto possuímos em termos de espólio, assim como de algumas estruturas. Perante estas evidências podemos apenas conjecturar ou pressupor com base nas mesmas, o que teriam sido as vivências destas populações. Contudo, reme- temos para uma futura intervenção a possibilidade de trazer à luz do dia novos elementos que possam esclarecer as dúvidas e as incertezas sobre um espaço que apesar de tudo se mostrou da máxima importância, como contributo para a história local e cultural desta região.

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