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Como foi referido, o modelo de administração e gestão escolares que vigorou, em Portugal, durante mais de vinte anos e que tinha por base os princípios da gestão democrática, consagrados na Constituição da República, de 1976, era caraterizado, essencialmente, pela existência de órgãos colegiais eleitos, sendo notória a preponderância do corpo docente, em contraste com o reduzido poder dos pais. Mas, a partir da publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986, este regime começou a ser alvo de uma política deliberada e continuada de alteração, o que foi conseguido, embora de forma parcial, com o Decreto-Lei n.º 172/91 e o Decreto-Lei n.º 115-A/98. Uma alteração mais radical viria a ocorrer em 2008, com a publicação do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, que se integrava “numa mudança paradigmática mais vasta relacionada com a territorialização das políticas educativas, com a redistribuição de poderes entre o «centro» e a «periferia», com a recomposição do papel do Estado na regulação da educação e com novas formas de «governança»” (Barroso, 2009, p. 993).

Como pode ler-se no preâmbulo deste novo documento, a administração e gestão das escolas deve organizar-se de modo a responder, com qualidade e com equidade, e da forma mais eficaz e eficiente possível, à missão de dotar todos os cidadãos “das competências e conhecimentos que lhes permitam explorar plenamente as suas capacidades, integrar-se ativamente na sociedade e dar um contributo para a vida económica, social e cultural do País”. Além disso, foi identificada pelo Governo a necessidade de reforçar a participação das famílias e das comunidades “na direção estratégica dos estabelecimentos de ensino e no favorecimento da constituição de lideranças fortes”. A concretização destes objetivos convergiu na publicação do referido Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, cuja função essencial não difere da do seu antecessor (Decreto-Lei n.º 115-A/98), já que, tal como ele, estabelece o novo regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário (Artigo 1.º). Também à semelhança daquele que o precedeu e tendo em conta a sua função estrutural, este normativo define, no Artigo 10.º, quatro órgãos próprios de direção, de administração e de gestão, mantendo o Conselho Pedagógico e o Conselho Administrativo, substituindo, porém, a Assembleia pelo Conselho Geral e o Conselho Executivo pelo Diretor.

Substituto da Assembleia, o Conselho Geral iguala-a na dimensão teleológica: a definição das linhas orientadoras da atividade da escola (Artigo 11.º). No entanto, diverge dela na dimensão funcional, pois enquanto a percentagem de 50% da totalidade dos membros da Assembleia é estipulada como limite máximo do número de representantes do pessoal docente, neste órgão, para o Conselho Geral é estabelecida a mesma percentagem como limite máximo do número de representantes do pessoal docente e não docente, no seu conjunto (Artigo 12.º, Número 3).

Deste modo, os elementos do Conselho Geral, órgão máximo deste modelo, que até agora (2012) se manteve em vigor, na sua grande maioria, não são docentes. É este órgão que, entre outras, tem a competência de eleger o Diretor. E este Diretor, embora localmente escolhido, é o primeiro representante do poder central junto de cada escola, ou seja, o rosto do Ministério da Educação. Assim, não é a gestão escolar que se deseja partilhar com os órgãos próprios das escolas, mas sobretudo a gestão

corrente, o que limita a autonomia das escolas à operacionalização local das políticas educativas centrais (L. C. Lima, 2010).

Como já referido, uma leitura do preâmbulo deste normativo permite inferir que se considerava que uma das medidas mais necessárias para se reorganizar a administração escolar consistia em criar condições que garantissem boas e eficazes lideranças, para o que deveria existir, em cada escola, um rosto, um primeiro responsável, a quem competiria o desenvolvimento do projeto educativo da escola e a execução local das medidas de política educativa. Para concretizar este objetivo, o presente diploma criou o cargo de Diretor, que, apesar de coadjuvado por um Subdiretor e um pequeno número de adjuntos, constituía um órgão unipessoal (Artigo 19.º, Número 1). Como função teleológica, este decreto atribuía-lhe a administração e gestão do agrupamento de escolas ou escola não agrupada nas áreas pedagógica, cultural, administrativa, financeira e patrimonial (Artigo 18.º). Atendendo à dimensão funcional, pode dizer-se que este órgão era eleito pelo Conselho Geral e necessitava de qualificação específica para o cargo e de pelo menos cinco anos de serviço (Artigo 21.º, Números 1, 3).

De acordo com esta nova medida legislativa, o Conselho Pedagógico, cuja função teleológica consistia na coordenação e supervisão pedagógica e orientação educativa do agrupamento de escolas ou escola não agrupada, nomeadamente nos domínios pedagógico-didático, da orientação e acompanhamento dos alunos e da formação inicial e contínua do pessoal docente e não docente (Artigo 31.º), diferia do seu antecessor na dimensão funcional, já que a sua composição, estabelecida pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada, nos termos do respetivo regulamento interno, não podia ultrapassar o máximo de quinze membros (vinte, no diploma anterior), salvaguardando a participação dos coordenadores dos departamentos curriculares, das demais estruturas de coordenação e supervisão pedagógica e de orientação educativa, representação dos pais e encarregados de educação e dos alunos do ensino secundário (Artigo 32.º, Número 1).

No que se refere ao Conselho Administrativo, praticamente mantiveram-se as dimensões funcional e teleológica estabelecidas pelo decreto anterior, com a única diferença de que, na sua constituição, o Diretor veio substituir o Presidente do Conselho Executivo. Assim, o novo Conselho Administrativo, órgão deliberativo em

matéria administrativo-financeira da escola (Artigo 36.º), é composto por três elementos, dos quais dois são professores (o Diretor e o Subdiretor ou um adjunto) (Artigo 37.º, alíneas a), b)).