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2. Metodologia

2.6. O decurso do trabalho de campo

Em jeito de introdução, convém relembrar que a seleção da técnica de recolha de dados para esta pesquisa incidiu na entrevista semiestruturada, cuja orientação foi da exclusiva responsabilidade do investigador, também ele o entrevistador. Esta função exigiu, da parte deste, a construção de um guião de entrevista, que o ajudaria a conduzir as «conversas» com os participantes na experiência. Elaborado em fevereiro de 2013, este guião foi experimentado, logo de seguida, com cinco professores que não haveriam de fazer parte da amostra e que de bom grado aceitaram responder às sucessivas perguntas, no sentido de se apurar se as mesmas estavam redigidas de forma objetiva e percetível. O requisito proposto por Bell (2004) de que “todos os instrumentos de recolha de informação devem ser testados” (p. 128) ficou assim cumprido, tendo dado oportunidade de se proceder a algumas alterações no mesmo, de acordo com as sugestões dos inquiridos, após as quais se considerou válido o guião (Apêndice A). Tais alterações compreenderam, particularmente, a eliminação definitiva de algumas questões que pareciam originar informação redundante, ou então a sua

substituição por outras mais interessantes para o estudo. Outras questões foram alvo de uma nova redação que lhe conferiu maior objetividade e compreensão. Sendo um guião de uma entrevista semiestruturada, constituiu-se, obviamente, como um instrumento flexível, permitindo alterar a ordem das questões e dando liberdade, a cada entrevistado, de se expandir como lhe aprouvesse.

Dado que o tempo é sempre uma limitação quando o tema é a investigação, ainda no período em que se procedeu ao teste do guião, aproveitaram-se os intervalos que as atividades profissionais dos intervenientes iam deixando livres, para se estabelecer um primeiro encontro com cada um dos futuros participantes, no sentido de se legitimar a entrevista. Eis aqui a razão pela qual não se utilizou o critério da saturação da amostra. Tal critério exigiria que uma entrevista só ocorresse depois de a análise das anteriores ainda não ter mostrado reincidência dos dados nem exaustão da informação. E o tempo de que se dispunha era demasiado curto para se proceder deste modo. Algumas delas foram realizadas no mesmo dia, o que não dava azo para analisar a primeira, no intervalo entre as duas. Nem tão pouco a legitimação das entrevistas poderia ter acontecido no período de experimentação do guião: corria-se o risco de se pedir os contributos de alguns professores que, mais tarde, acabariam por não ser necessários, por se ter começado a sentir que a informação se repetia.

E voltando à legitimação da entrevista, tal como consta no Bloco A do guião elaborado, ela traduziu-se no seguinte: pedir ajuda ao entrevistado, salientando a relevância do seu contributo para o êxito do trabalho; informá-lo de que o texto, depois de transcrito, lhe seria fornecido para verificar a sua precisão, acrescentar mais informações e/ou retificar o que considerasse pertinente; assegurar o carácter confidencial das informações prestadas; pedir autorização para gravar a entrevista em áudio e permissão para citar, na íntegra ou em pequenos excertos, os dados recolhidos, garantindo o anonimato e assegurando que toda a informação obtida apenas seria utilizada nesta investigação.

O clima de descontração que transpareceu entre o entrevistador e o respondente, neste primeiro contacto, muito haveria de contribuir para que, posteriormente, as entrevistas preservassem a espontaneidade e o à vontade próprios de uma conversa informal. E nas palavras de Bogdan e Biklen (1994), “as boas entrevistas caraterizam-se pelo facto de os sujeitos estarem à vontade e falarem

livremente sobre os seus pontos de vista”. São entrevistas assim que “produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas [sic] dos respondentes” (p. 136).

E quando, nos meses de março e abril de 2013, as entrevistas ocorreram e os participantes foram incentivados a expressar as suas ideias sobre os temas relevantes para a pesquisa, o gravador de áudio estava lá, para que nada se perdesse: nem as palavras, nem os silêncios, nem o tom de voz,… nem mesmo os gestos. Os gestos, sim! É que, dada a presença deste dispositivo, não estava o investigador preocupado com a recolha dos dados, podendo, então, pôr em prática a outra técnica que escolheu para a sua pesquisa – a observação não estruturada –, que não deixou que lhe escapassem qualquer esgar, qualquer sorriso de lábios apertados, qualquer ruga na testa, qualquer encolher de ombros, qualquer movimento das mãos….

Buscando a riqueza de dados de que falam Bogdan e Biklen (1994), procurou-se minimizar, tanto quanto possível, os fatores que eventualmente poderiam provocar qualquer constrangimento aos entrevistados. Receando-se que a tomada de notas, na presença do entrevistado, pudesse ser um desses fatores, optou-se por não se anotarem, enquanto a entrevista decorria, os resultados da observação, tendo o investigador usado a sua memória para os poder traduzir por escrito, no seu bloco de apontamentos, quando a mesma terminou. Estas anotações foram melhoradas quando os relatos dos participantes foram, de novo, ouvidos para se poderem transcrever.

E por se falar em transcrever, recorda-se que, se a utilização do gravador foi importante para preservar a qualidade da informação recolhida, proporcionando, simultaneamente, uma grande economia de tempo, teve a enorme desvantagem, já antes referida, de obrigar à transcrição das entrevistas, um trabalho que, em termos de tempo gasto, ultrapassa largamente o que se economizou com a gravação de áudio. Foi, no entanto, uma tarefa gratificante, porque, tendo sido realizada pelo investigador, possibilitou-lhe “reviver as experiências, rever os acontecimentos, aumentar a recordação e ajudar a interiorizar e a memorizar o que observou, ficando a conhecer melhor os seus dados” (J. R. S. Martins, 2012, p. 98).

As entrevistas foram transcritas na sua totalidade, após o que se entregou, a cada participante, uma cópia do seu relato, para confirmação. No entanto, por se

recear que os dados pessoais dos diferentes entrevistados, relativos a idade, género, categoria docente, tempo de serviço, habilitações académicas, atividades fora do âmbito escolar, cargos ocupados e outras competências, pudessem, de algum modo, contribuir para que fossem reconhecidos, tomou-se a resolução de os eliminar nas transcrições que serão aqui apresentadas (Apêndice B). Apenas aparecerão no próximo capítulo desta dissertação, já reduzidos, isto é, analisados, de uma forma que não permite estabelecer uma correspondência entre as respostas de cada participante a estes itens, o que poderia convergir na sua identificação.