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Concluída a análise das respostas às questões que permitiram caraterizar os doze participantes no estudo que foi levado a cabo e que constavam do Bloco B do guião da entrevista, passou-se ao Bloco C do mesmo guião, que envolve três perguntas, com as quais se pretendia averiguar se os respondentes veem mudança ou continuidade de competências, como resultado da aplicação dos sucessivos modelos de administração e gestão escolares.

3.2.1. Inovações e mudanças introduzidas na escola

As respostas à primeira pergunta do Bloco C, que incide sobre as inovações e mudanças introduzidas na escola, através dos sucessivos modelos de administração e

gestão escolares, deram origem a oito categorias de codificação, que, para uma melhor compreensão, se podem ver na Tabela 1, apresentada a seguir.

Tabela 1 – Inovações e mudanças introduzidas na escola

Categorias Efetivos

Fim do processo democrático de eleição do Diretor 6

Institucionalização do Diretor 3

Constituição da Assembleia Geral/Conselho Geral 3

Formação dos Agrupamentos de Escolas 2

Retirada de poder/autoridade aos professores 1

Extinção dos grupos disciplinares 1

Pseudoinovação 1

Pouco mudou 1

Da observação atenta desta tabela, conclui-se que o fim do processo democrático de eleição do Diretor colheu a opinião de seis dos inquiridos, tornando-se a mudança mais apontada, seguida pela institucionalização do Diretor e a constituição da Assembleia Geral/Conselho Geral, cada uma delas mencionada por três dos respondentes.

A retirada de poder/autoridade aos professores mereceu a atenção de, aparentemente, apenas um participante, o Entrevistado 1, que diz o seguinte: “Foram muitas [as mudanças/inovações] e a maioria negativas, sobretudo o poder que retiraram aos professores e transferiram para os pais e para a comunidade. Como podemos educar sem autoridade?”. E diz-se aparentemente, porque, aos «olhos» do investigador, as três primeiras categorias referidas antes refletem, todas elas, esta perda de poder. No entanto, não foram contabilizadas nesta nova categoria, para se cumprir o critério da exclusividade, segundo o qual cada unidade de análise só pode ser classificada numa delas. Considerou o autor que, assim apresentadas, tornam tudo mais explícito.

A formação dos Agrupamentos de Escolas e a extinção dos grupos disciplinares foram indicadas, respetivamente, por dois e um dos entrevistados, podendo

acrescentar-se que também nestas categorias se encontra implícita a perda de poder dos professores.

Foi ainda um só participante que afirmou ter predominado, ao longo dos anos, uma pseudoinovação, tendo sido inconsistentes as mudanças introduzidas ao sabor de cada governo.

O único entrevistado que declarou pouco ter mudado foi o Entrevistado 10, que se manifestou deste modo: “Aparentemente foram várias [as mudanças/inovações], mas, se analisarmos mais profundamente, pouco mudou. Os modelos alteraram-se, mas aquilo que é fundamental – a autonomia, a aproximação local, etc. – continua tudo igual”.

3.2.2. Modelo que ofereceu participação mais direta e efetiva na escolha dos dirigentes

Não revelou qualquer dificuldade a análise das respostas à segunda pergunta do Bloco C, do guião da entrevista, que respeita ao modelo que ofereceu participação mais direta e efetiva na escolha dos dirigentes, dada a uniformidade das mesmas. Efetivamente, foi a totalidade dos elementos da amostra (doze) que selecionou, para sua resposta, o modelo de eleição universal dos órgãos dirigentes, isto é, com a participação de todos os professores. Achou-se interessante apresentar aqui o testemunho do Entrevistado 3, que opta por “aquele [modelo] em que tinha uma palavra a dizer sobre o que considero ser fundamental na gestão de uma escola, que é ter competências de liderança”. E o Entrevistado 6, à escolha que fez acrescenta: “Os professores têm perdido, claramente, na oportunidade e na capacidade participativa de referendarem o destino da escola”.

3.2.3. Processo eleitoral versus processo de nomeação – implicações

A última questão do Bloco C incide sobre as implicações que teve, na escola, a transição do processo eleitoral dos representantes, no Conselho Pedagógico, feito por pares, para a nomeação por parte do Diretor. Os dados recolhidos deram origem a nove categorias, que constam da Tabela 2.

Tabela 2 – Processo eleitoral versus processo de nomeação – implicações

Categorias Efetivos

Má representatividade dos professores, no CP 5 Prevalência dos interesses e intenções do Diretor 4 Falta de transparência e de democracia interna 4

Menor respeito pelos subordinados 1

Falhas de comunicação 1

Desumanização das escolas 1

Prioridades dos rankings e metas 1

Mais unanimidade e menos dinamismo, no CP 1

Menor participação na vida da escola 1

Um olhar sobre esta tabela permite concluir que a má representatividade dos professores, no Conselho Pedagógico, é a categoria que mais consenso merece, tendo sido indicada por cinco dos respondentes.

Seguem-se, com quatro referências cada uma, a prevalência dos interesses e intenções do Diretor e a falta de transparência e de democracia interna. Nas palavras do Entrevistado 5, esta última abre “caminho para a incompetência/prepotência de certos diretores”. É óbvio que qualquer destas duas categorias converge na anterior. Se prevalecem os interesses e intenções do Diretor e falta transparência e democracia interna, isto significa que o Diretor escolhe a seu bel-prazer, independentemente de a escolha ser ou não a que melhor representa os pares, no CP. A ser assim, ter-se-iam contado onze participantes que concordariam não ter, neste órgão, a pessoa mais competente para defender os seus pontos de vista. Como diz o Entrevistado 8, “o Conselho Pedagógico passou a ser constituído, na sua generalidade, por elementos afetos ao Diretor, fazendo com que, em muitas das discussões, nem tudo seja dito, por receio da figura do Diretor”. Pareceu, porém, ao analista, que a codificação apresentada deixa mais explícitas as opiniões dos intervenientes.

Outras implicações que foram mencionadas, cada uma delas por apenas um respondente, incluem: menor respeito pelos subordinados, falhas de comunicação,

desumanização das escolas, prioridades dos rankings e metas, mais unanimidade e menos dinamismo, no Conselho Pedagógico, e menor participação na vida da escola.

Não consta, na tabela anterior, a opinião do único participante que afirma que a passagem da eleição para a nomeação não parece ter sido portadora de grandes diferenças, pelo facto de o investigador não a considerar uma categoria de codificação.