• Nenhum resultado encontrado

O ALUNO/ FUTURO ANIMADOR SOCIOCULTURAL

FORMAÇÃO DE ANIMADORES SOCIOCULTURAIS

2. A FORMAÇÃO DE ANIMADORES SOCIOCULTURAIS

2.1. O ALUNO/ FUTURO ANIMADOR SOCIOCULTURAL

Apesar de não ser apenas nele que incide toda a formação do animador, deverá ser o aluno o protagonista da sua própria formação. Limbos (1984: 29) defende que “não há modelo nem estereótipo de animador. Enquanto na maior parte das profissões, as pessoas responsáveis vivem situações diariamente bastante idênticas, perante problemas frequentemente semelhantes…no ofício de animador é

excluído que os grupos e as condições de trabalho sejam relativamente idênticas”.

Ao observarmos o conjunto das práticas de animação, “está

claro que não existe um só modelo de animação e (...) um só estilo de ser animador. Os modelos são diversos, mediante o resultado final da combinação de três factores diferentes: As teorias de referência (psicológicas, sociológicas e antropológicas, etc.) que servem como suporte teórico à prática da animação; a reflexão e sistematização da prática profissional e os procedimentos usados; os princípios de actuação profissional, quer sejam considerados de nível filosófico ou pautas de actuação profissionais, regras ou normas e acção” (Ander- Egg, 2000: 79).

Ao longo da sua formação, o próprio aluno deve estar

consciente da sua evolução e sentir “o conhecimento dele e a

mudança positiva. Aceitar formar-se é necessariamente admitir a hipótese e a eventualidade de dever alterar-se. O conceito “formação" inclui a ideia de progressos, de evolução para uma qualificação mais refinada e uma melhoria em diversos domínios, por conseguinte de uma espécie de mutação em vista a atingir conduções e competências diferentes e melhores que aquelas que se conhecia num estado anterior” (Limbos, 1984: 48).

Temos de entender o aluno de Animação em dois pontos fulcrais – não só como estudante, mas principalmente como futuro profissional de Animação – que serão as funções enquanto técnico e as qualidades humanas, enquanto pessoa.

Nessa ótica, vamos espreitar a opinião de diferentes autores sobre o perfil do animador sociocultural, para depois se perceber se é possível alcançá-lo através, exclusivamente, da formação em sala de aula.

Não pretendemos fazer agora uma relação completa de todo o leque tipológico. Na revisão bibliográfica a maioria dos autores são estrangeiros e, para além de muitos desconhecerem a realidade portuguesa, o tempo que passou desde o momento em que escreveram acerca da formação de animadores pode indicar que algumas teorias estejam obsoletas. Porém, foi nesses autores que se inspiraram para escrever os programas e currículos, daí que seja importante referi-los neste artigo, destacando os que nos parecem mais atuais e adequados à nossa realidade.

As funções do animador

Apesar de haver “quem afirme que não existe nada substantivo

que se possa chamar Animação, que se trata de uma abstracção, de um rótulo para designar certas actividades, sem uma função bem definida” (Ander-Egg, 2000: 78), são conhecidas as derivações, amplas classificações e variedade de funções que atribuem ao animador

sociocultural. Na visão de Martínez e Theytaz, “há três funções do

animador. Dinamizar: tanto no sentido de dar vida como no de colocar movimento (...); Gestão cultural: esta função potencia a democratização e divulgação cultural no sentido da extensão universitária e configura a competência profissional do animador sociocultural como gerente cultural; Agente de mudança social: esta função adquiriu duas matizações claramente diferenciadas segundo o tipo de sociedades nas quais se desenvolveu. Assim nas sociedades europeias se foi perfilando uma competência do animador sociocultural como agente de controlo da mudança social, e nas sul-americanas, como agente de revolução social” (Martínez e Theytaz, 2007: 105-106).

Serrano e Puya (2007) reuniram uma série de características relacionadas com as funções do animador, que englobam a opinião da maioria dos autores, a saber: educador, pois a educação é um instrumento para a mudança e o desenvolvimento pessoal e social, estimula para a ação, tirando as pessoas do isolamento; agente de mudança social: exerce a animação com grupos de índole diversa, tendo como objetivo implicá-los numa ação conjunta, avalia, sente e atua na realidade social para transformá-la; relacionador: capaz de estimular e suscitar as relações e estabelecer uma comunicação positiva entre pessoas, grupos e comunidades; mediador social: permite uma melhoria pessoal e social; dinamizador intercultural: previne os conflitos culturais, melhora a compreensão recíproca entre comunidades de origem diferente.

Por seu lado, as competências e principais tarefas do animador

sociocultural são “desenvolver, coordenar e avaliar projectos, eventos e

equipamentos socioculturais a partir das necessidades e interesses do colectivo destinatário e levando em conta o contexto institucional e comunitário no qual se realizem” (Ventosa, 2008: 86).

Em modo de síntese, “se observarmos o que fazem os

animadores e, sobretudo, como o fazem, encontramos algumas funções que parecem ser específicas desta tarefa, tais como promover, alentar, animar as gentes, despertar inquietudes, incitar a acção...

enfim, fazer brotar potencialidades latentes em indivíduos, grupos e comunidades” (Ander-Egg, 2000: 81).

As funções do animador, particularizando as tarefas a elas ligadas, são imensas e variadas. Talvez nem a escola – nem nenhum currículo – consiga, num determinado espaço de tempo, transmitir conhecimentos suficientes para dar ao animador bases que sustentem capacidades para cumprir tantas tarefas e funções. Para além de todas essas competências, é importante referir que também outros fatores importam no perfil do animador sociocultural, nomeadamente as qualidades pessoais do mesmo.

As qualidades do animador

Um profissional em Animação Sociocultural não é aquele que apenas cumpre as suas funções e tarefas. Ser Animador Sociocultural é possuir um modo diferente de ser. Para muitos autores, na Animação Sociocultural, a maneira de ser é mais importante que o saber.

Não importa só o que se sabe ou faz, mas principalmente como

se faz. A Animação “não se identifica com um conjunto de

determinadas actividades mas com a maneira de levá-las a cabo e, por isso, para o animador tanto ou mais importante que o fazer é o ser” (De Miguel, 2004: 107). Por isso, quando se aborda a figura do animador, não só contemplamos as suas capacidades e habilidades, como também a sua personalidade.

O animador há-de estar “orientado e interessado pelo outro e

pelas relações pessoais e afectivas que surgem no grupo, porque este é o caldo de cultivo ideal para fomentar uma série de valores pelos quais trabalha a Animação Sociocultural, como a convivência, a amizade, a solidariedade, a tolerância, o respeito, a responsabilidade” (Ventosa, 2008: 83).

Como refere De Miguel (1995: 137), “o ser precede à acção e a

posse à doação, porque ninguém dá o que não tem”. O Animador entrega-se a ele próprio. Existe apenas esta forma de praticar Animação, através da entrega pessoal e total nos projectos onde o Animador se envolve. E para se envolver dessa forma, é necessário estar dotado de qualidades que o distingue dos outros profissionais da área.

J. A. Simpson, citado por Monera (1992:260), “assinala que a

animação exige umas qualidades que raramente se encontram reunidas no mesmo sujeito: compreensão real das necessidades e aspirações de pessoas que, às vezes, estão pouco dotadas para se expressar

verbalmente. Capacidade de estimular e suscitar as relações; faculdade de eclipsar-se para favorecer relações e dar provas de iniciativa e espírito empreendedor”.

Ventosa (2008) também agrupou os principais rasgos mais valorizados em torno das seguintes dimensões: cognitiva, destacando o espírito reflexivo; afectiva, destacando o equilíbrio emocional e a alegria ou sentido do humor; sócio-relacional, destacando rasgos como a empatia, a habilidade para motivar, a flexibilidade e a capacidade de organização; moral, destacando como especialmente importantes na tarefa do animador a honestidade, a solidariedade e a discrição.

Como podemos observar, tendo em conta o rol de qualidades aqui descritas, é possível crer que nem todas as pessoas conseguem ser animadores socioculturais e que só muito dificilmente a escola consegue formar, na plenitude, um animador sociocultural.

“Há uma parte da qualificação que pode ser adquirida (das aptidões, via formação), enquanto a das atitudes depende mais das qualidades pessoais, isto é, da personalidade do candidato que no caso da animação, requer certas capacidades fundamentais” (Ander- Egg, 2000: 396).

É peremtório que, no animador sociocultural, se destaquem uma excecional capacidade de relações humanas, capacidade de empatia, entusiasmo, vitalidade, inteligência, objetividade e imparcialidade.

Todavia, teremos perceber que “o perfil profissional não deve

ser inventado em gabinete, mas sim negociado. Os cursos criam-se também porque correspondem a exigências profissionais e funcionais concretas do mercado de trabalho” (Azevedo, 1991: 83).

Neste sentido, todo este rol de funções, competências e qualidades do animador não se devem transformar num alvo para acertar em cheio, na busca de uma pontuação melhor. Devem, sim, ser referências para formar o animador sociocultural, com o objectivo deste conseguir responder às necessidades e às exigências profissionais da realidade em concreto com quem vai trabalhar.