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2.2. Diferenciação: o aluno epicentro de todo o processo

2.2.2. Alunos com necessidades educativas especiais (NEE)

O conceito de necessidades educativas especiais foi usado pela primeira vez no

Relatório Warnock, publicado em Inglaterra em 1978 e representa “a passagem do

_______________________________________________________________________ Universidade Portucalense 51 Ana Maria Teixeira Coelho (C. N. E., 1999, p. 6), no que respeita ao apoio dado a alunos com estas características. No dizer de um dos relatores, Kenneth Wedel, citado no mesmo parecer do CNE, “O termo necessidades educativas especiais refere-se ao desfasamento entre o nível de comportamento ou de realização da criança e o que dela se espera em função da sua idade cronológica”. Esta definição levou a que o conceito de educação especial, em geral, referido às crianças e jovens com dificuldades, em consequência de deficiência, desse lugar “ao conceito mais vasto de necessidades educativas especiais, que não se circunscreve a essas situações, antes se alarga a todos os tipos de dificuldades de aprendizagem.” (C. N. E., 1999, p. 6)

Depois de um longo caminho percorrido no âmbito do apoio aos alunos com NEE, a Lei de Bases do Sistema Educativo, publicada em 1986, consagrou o direito à integração de alunos com necessidades educativas específicas nas escolas regulares. Essa integração passou por diferentes fases de implementação, tendo sido constituído um sub-sistema especial (Ensino Especial, mais tarde, Educação Especial) para os alunos com NEE e professores que os acompanhavam. Embora frequentando as turmas regulares, estes alunos dispunham de apoio por parte de um professor com formação especial, em regime de compensação extra-aula. (Sanches & Teodoro, 2006) Posteriormente, na sequência da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), o Despacho 105/97, de 1 de Julho, monstra uma vontade de seguir no sentido da adesão ao movimento da inclusão educativa, criando docentes de apoio educativo em substituição dos professores de educação especial e definindo como suas funções “prestar apoio à escola, no seu conjunto, ao professor, ao aluno e à família, na

organização e gestão dos recursos e medidas diferenciados a introduzir no processo de

ensino/aprendizagem”3. (Sanches & Teodoro, 2006, p. 74) Ao diluir a rotulagem de

alunos em situação especial, abriu-se o caminho a que todos pudessem ser alvo de medidas de diferenciação, como o confirma o parecer do Conselho Nacional de Educação supracitado.

Muito recentemente, o Despacho Decreto-Lei nº 3 /2008 de 7 de Janeiro

(entretanto modificado pela Lei nº 21/2008 de 12 de Maio), veio definir os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário dos

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sectores público, particular e cooperativo a estes alunos, que são descritos na legislação como

“alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social e dando lugar à mobilização de serviços especializados para promover o potencial de desenvolvimento biopsicosocial.”

Neste contexto, nenhuma escola, pública ou privada, poderá rejeitar qualquer aluno com base nas suas NEE, mas está previsto apoio especializado para os alunos

com limitações significativas de carácter permanente. Nos restantes casos, a escola e

os professores têm de estar preparados para acolher e integrar estes alunos e providenciar abordagens diferenciadas para as suas necessidades específicas, elaborando um programa educativo individual (PEI) que incluirá as metas e estratégias que a escola se propõe realizar. As medidas educativas preconizadas são várias podendo passar por apoio pedagógico personalizado, adequações curriculares individuais, adequações no processo de matrícula ou no processo de avaliação, a utilização de tecnologias de apoio e até a adopção de um currículo específico individual.4

Talvez com menor visibilidade que o grupo anterior, os alunos altamente capacitados, como os designa Tomlinson, ou sobredotados, como são vulgarmente apelidados, passam facilmente despercebidos na sala de aula. Como rapidamente consumam as actividades propostas, por vezes mostram-se desinteressados ou mesmo enfadados na sala de aula.

Embora, há alguns anos esta designação fosse aplicada quando os testes de QI apontavam para resultados acima dos 125, hoje em dia este meio de diagnóstico não é propriamente usado, tendo em conta o que foi dito acerca das inteligências múltiplas. De facto, o aluno poderá ter talentos muito diferentes e por isso, Ann Turnbull e outros investigadores, citada por Arends, propõe algumas pistas que poderão ajudar o

4 Artigo 16º do Decreto-Lei nº 3 /2008 de 7 de Janeiro.

_______________________________________________________________________ Universidade Portucalense 53 Ana Maria Teixeira Coelho professora a identificá-lo na sua turma. À luz do que diz esta autora, um aluno sobredotado possui:

 Intelecto acima da média

 Capacidade académica específica  Pensamento produtivo criativo  Capacidade de liderança

 Qualidades artísticas, visuais ou de representação

Heacox é mais específica e salienta a compreensão aprofundada e avançada, a capacidade de pensar em termos abstractos e de reter uma extraordinária quantidade de informação, habitualmente conjugadas com uma variedade de interesses e uma curiosidade acima da média. Consequentemente, o seu ritmo de aprendizagem é bastante acelerado, o que torna as aulas regulares, pensadas para o ‘aluno médio’ e planeadas para um público homogéneo, um verdadeiro tormento para estes alunos. (Heacox, 2006)

Contudo, nem todas as características se aplicam cumulativamente a todos estes alunos. A mesma autora também chama a atenção para a distinção entre alunos de elevado desempenho e alunos sobredotados, sublinhando o facto de estes últimos nem sempre apresentarem bons desempenhos apesar das suas aptidões inatas. Estas aptidões podem acabar por não se tornarem talentos, devido à falta de motivação, dificuldades de adaptação ou mesmo de aprendizagem. Normalmente, eles precisarão de um maior estímulo e variedade, mas será necessário observar o aluno para conhecer o seu perfil de aprendizagem e poder, como em todos os outros casos, definir o caminho a seguir.

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