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2.2. Diferenciação: o aluno epicentro de todo o processo

2.2.1. Inteligência(s), e estilos de aprendizagens

Uma das diferenças mais debatidas no campo da educação e, porque não dizê- lo, uma das mais polémicas é a da capacidade de aprendizagem. Ao longo das últimas décadas, modificaram-se teorias, crenças, representações e atitudes para com os mais e menos capazes, e isso tem vindo a transformar a escola numa instituição gradualmente mais inclusiva.

Enquanto é comummente aceite que as pessoas têm capacidades diferentes, já no que diz respeito à inteligência, a questão tem levantado alguma controvérsia, pois há diferentes teorias. Enquanto alguns psicólogos consideram que a inteligência é inata e portanto é passível de ser desenvolvida, mas não aumentada, outros aceitam que existe alguma determinação genética, mas que o meio ambiente também tem um muito relevante papel a desempenhar. (Arends, 2008)

Não obstante esta transformação, as diferenças subsistem e há que estar aberto aos novos conhecimentos que surgem neste campo. Todavia, se nos reportarmos a um passado ainda recente, verificamos que as teorias mais tradicionais postulavam que o ser humano possuía uma capacidade mental única, quase imutável que poderia ser mensurada através de testes que demonstrariam o seu coeficiente de inteligência (QI). Alfred Binet e Lewis Terman criaram esses instrumentos, fazendo incidir esses testes sobre as capacidades verbal e lógico-matemática, já que eram precisamente as áreas mais apreciadas pelas instituições académicas. (Gama, 1998) No entanto, Binet não se coibiu de afirmar que a complexidade da mente humana nunca poderia ser devidamente avaliada por um teste.

De facto, este conceito de inteligência como uma capacidade singular e inata veio progressivamente a ser abandonada, face ao desafio lançado por psicólogos como Howard Gardner, que falam de múltiplas inteligências em vez de uma única, o que trouxe implicações relevantes para a educação.

_______________________________________________________________________ Universidade Portucalense 48 Ana Maria Teixeira Coelho No seu livro ”Frames of Minds”, publicado em 1983, Gardner listou e descreveu provisoriamente sete tipo de inteligências, tendo, posteriormente, adicionado uma oitava, a naturalista, como é ilustrado na figura 3.

Olhando em mais detalhe, as inteligências múltiplas representativas das diversas faculdades da mente humana, são elas:

1. Lógico-matemática - Capacidade para distinguir padrões lógicos

e numéricos e gerir longas cadeias de raciocínio.

2. Linguística - Sensibilidade aos sons, ritmos e significados das

palavras e diferentes funções da linguagem.

3. Espacial – Capacidade para perceber correctamente o mundo espaço-visual e de realizar transformações nas percepções mentais e no mundo.

4. Corporal-cinestésica – Capacidade de controlar movimentos físicos e de manusear objectos de forma hábil.

5. Interpessoal - Capacidade de discernir e responder de forma

apropriada aos humores, temperamentos, motivações e desejos dos outros.

6. Intrapessoal – Percepção do nosso estado emocional e

conhecimento das nossas forças e fraquezas.

7. Musical - Capacidade de produzir e apreciar o tom, o timbre, o ritmo e as diferentes formas de expressão musical.

8. Naturalista – Capacidade para fazer distinções entre os seres vivos e sensibilidade para as características do mundo natural.

(Arends, 2008, p. 49)

_______________________________________________________________________ Universidade Portucalense 49 Ana Maria Teixeira Coelho No que às escolas diz respeito, esta teoria teve particular receptividade nos Estados Unidos, pois pôs em evidência a possibilidade de organizar o trabalho escolar de uma nova forma, dando a cada aluno a hipótese de ser envolvido em actividades diversas ligadas às oito inteligências e, assim, estimular e potenciar o seu desenvolvimento. Também tem servido aos professores para diversificarem as suas estratégias e ajudarem a diferenciar o seu ensino, segundo as características dos seus alunos. Talvez uma das formas mais comuns de utilizar esta teoria é utilizar diferentes formas de abordagem quando se pretende que os alunos adquiram uma determinada competência ou assimilem um determinado conteúdo.

De igual modo, surgiram também novas investigações sobre a forma como as pessoas aprendem. Decorrente do seu tipo de inteligência e das suas idiossincrasias, o aluno poderá ser mais visual, mais auditivo ou mais táctil na sua forma de aprender e poderá aproveitar essa característica para melhorar a aprendizagem. Observou-se também que enquanto alguns percepcionam as situações como um todo, outros tendem a vê-las por partes separadas. Dos primeiros diz-se que são dependentes do campo e parecem “mais orientados para as relações sociais, trabalhando bem em grupo”, enquanto os segundos são independentes do campo e possuem fortes capacidades analíticas e têm mais tendência para monitorizar o seu processamento de informação do que as suas relações sociais. (Arends, 2008, p. 50)

São múltiplos e variados os modelos existentes para determinar o estilo de aprendizagem de um indivíduo e a sua conceptualização e terminologia raramente são coincidentes, assim como os seus instrumentos de análise, dificultando a sua aplicação por não especialistas. Num estudo feito no Reino Unido foram identificados cerca de 71 modelos e estudados 13 principais, alguns usados em contexto de formação profissional, outros em orientação vocacional e em contextos educativos. Algumas destas teorias focam factores psicológicos, outros factores ambientais, de organização social do trabalho, etc. Talvez uma das mais conhecidas, talvez pela simplicidade de que se reveste, é a que se baseia em modos sensoriais: visão, audição, tacto, da qual o anexo 8 é um exemplo. Todas elas reflectem diferentes perspectivas, fazendo sobressair a complexidade do acto de aprender e dos contextos em que ele se realiza.

_______________________________________________________________________ Universidade Portucalense 50 Ana Maria Teixeira Coelho Desse estudo transversal resultou a noção que, enquanto alguns investigadores consideram o estilo de aprendizagem uma característica fixa, outros consideram haver permeabilidade à intervenção de outros factores e, consequentemente, à mudança, o que, em termos motivacionais, pode ser bem mais encorajador. (Coffield, Moseley, Hall, & Ecclestone, 2004)

Apesar da popularidade de muitos destes instrumentos nas universidades e algumas escolas sobretudo americanas, segundo o estudo supracitado, não é muito claro que aproveitamento pedagógico deve ser feito ou qual o impacto que a sua utilização tem na aprendizagem. Com efeito, a investigação realizada não conseguiu determinar se a completa coincidência entre o estilo de aprendizagem do aluno e o estilo de ensino do professor será benéfico para o aluno. Alguns estudos parecem provar que a não coincidência de estilos poderá também ser importante para o desenvolvimento de outras formas de aprendizagem. (Coffield, Moseley, Hall, & Ecclestone, 2004) De facto, não é consensual se o professor deverá privilegiar um estilo em detrimento de outro, por isso, é de bom senso que o professor ofereça abordagens variadas para melhor poder chegar aos seus alunos.

Sendo assim, os estilos de aprendizagem não deverão ser aplicados duma forma ortodoxa e rígida, como se eles proporcionassem uma ‘receita’ para ensinar o aluno, mas também não deve ser desdenhado o contributo relevante que esse conhecimento trouxe. A despeito das limitações mencionadas, a análise dos estilos de aprendizagem tem tido, de facto, vantagens para os aprendentes, pois tem despoletado inúmeras investigações sobre a forma como se aprende e aumentado a reflexão dos aprendentes e professores sobre esse processo, encorajando aqueles ao auto-conhecimento e auto-desenvolvimento e incentivando estes últimos a transformar as suas práticas lectivas, aproximando-se mais das necessidades dos seus alunos.

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