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5 AS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES DE FÍSICA SOBRE O NOVO

5.3 Os Alunos e o ENEM

Há de se reconhecer que exames com a característica do ENEM pretendem mostrar a possibilidade de uma avaliação que abrange outras capacidades do indivíduo, além da memorização de conteúdos escolares, pois as questões estão estruturadas de forma a articular conteúdos escolares e situações cotidianas, no sentido de tornar os conteúdos mais contextualizados em situações-problemas próximas realidade dos estudantes. Mas, os alunos estão se adequando a essa proposta? As respostas estão expostas no quadro abaixo:

Quadro 8 – Os Alunos e a Proposta do Novo ENEM

P1

“Ai é o problema. Os alunos querem tudo prontinho, já trabalhado, já mastigado. E agora o ENEM é isso agora eles vão ter que ler, interpretar. Muitas questões já eram mastigadas colocava uma formula e já respondia. E agora não tem que ler, interpretar, varias disciplinas nas questões, então os alunos estão chiando, porque não está sendo trabalhada no fundamental, lá agora estão preocupados em trabalhar no fundamental, como trabalho no nono ano a coordenadora mandou colocar questões do ENEM nos simulados, já estamos começando a trabalhar para que o aluno não sinta impacto a entrar no ensino médio.”

O aluno com dificuldade diante da proposta de ler e interpretar e não mais de forma automatizada responder questões.

P2

“Uma postura do novo. Ainda não tem ideia ou estão na

expectativa. Sabem que necessitam de mais leitura e conhecimento das grandezas físicas e que não estimula muito o uso de fórmulas matemáticas na física. Acreditam ser (para alguns) mais fácil.”

O aluno consciente da necessidade de novos comportamentos.

P4

“Eles acham as questões do ENEM muito trabalhosas. Ah! Tem que ler muito é muito trabalhoso. É... a questão da interpretação, então eles dizem que é mudar da calculeta para canseira.”

O ENEM mudar da calculeta para a canseira.

P6 “Para os alunos ainda não caiu a “ficha”, pois eles ainda têm a mentalidade do “decoreba”, entre outras facilidades que não ajudam em relação ao ENEM.”

Os alunos e a decoreba.

Fonte: Autora, 2012.

Com o ENEM, o aluno é estimulado a ter consciência de que é preciso dar significado ao conteúdo que o professor está trabalhando em sala de aula, tornando-se agente ativo desse processo. Dessa forma, o ensino de Física, em especial, deixa de centrar-se em um objetivo em si mesmo, passando a ser um instrumento para a compreensão do mundo. Indo de encontro aos objetivos do exame nacional, nota-se nas falas dos professores 4 e 6 que seus alunos estão condicionados a uma avaliação que visa à quantidade de fórmulas decoradas e sua aplicação automatizada e não como funciona e ocorre o processo para se chegar a fórmula. O ensino de Física fica, então, centrado na simples memorização de fórmulas ou repetição automatizada de procedimentos, em situações artificiais ou extremamente abstratas.

Ao relatar o processo de adequação dos seus alunos ao ENEM, a professora 5 relata seus desesperos, pois estão condicionados a receber todo conteúdo de modo mecanizado, sem questionar o sentido de uma fórmula, por exemplo. Mesmo os melhores alunos estão muitos preocupados, pontua a professora, que complementa: “o que tenho visto são alunos bastante perdidos e ansiosos em sala de aula, sem saber direito o que esperar deste novo exame”.

Para o professor 7, seus alunos agem com a mentalidade de quem vai ser avaliado pelo processo avaliativo anterior ao ENEM. “Os alunos da instituição estão indiferentes, pois o papel desta instituição não é o ENEM e sim a formação técnica dos alunos, contudo os alunos estão com a mentalidade do PSS, mas as questões que trabalhei em sala de aula eles não tiveram problema para resolver”, assegura o professor, recaindo na questão da proposta curricular se volta para a formação técnica dos professores, a fim de diminuir a carência de licenciados em Física no Estado de Alagoas, em detrimento da preparação para o vestibular.

Já para o professor 8, a adaptação ao novo exame de acesso ao ensino superior é um problema amplo e complexo, que engloba todos os envolvidos na educação, não somente o aluno. O requer, acrescenta o docente, uma mudança em toda a comunidade escolar:

Claro que não, o ENEM não vai mudar nada a postura do aluno. O nosso problema é a escola, a família, é sociedade, é maior. Todo mundo faz de conta que não é, então tá bom, não seja. Mas o fato é que o ENEM não muda nada, o aluno passar em medicina antes vai continuar passando também, só que ou vai ser mais rápido ou mais devagar, só que ele é determinado por si só não é o processo (P8).

Diante dessas falas, percebe-se a complexidade desse novo exame, que vai além da postura do aluno, pois envolve todos os atores do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, Alessandrini (2002, p.173) ressalta “a importância de formatar uma nova prática escolar considerando os diversos atores envolvidos: alunos, professores, equipe pedagógica e comunidade”. Por outro lado, dependendo da instituição escolar, o aluno não terá dificuldades em se adequar ao novo sistema, haja vista que a prova manterá a estrutura básica, com ênfase em habilidades e raciocínio que avaliam o conhecimento por meio de enfoque interdisciplinar, agregando às habilidades um conjunto de conteúdos formais. Isso deverá ocorrer sem abandonar as questões contextualizadas, que exigem do estudante a aplicação prática do conhecimento, e não a mera memorização de informações.

Certamente, o ENEM não será a salvação para todos os problemas da educação, que é bem complexo e amplo, incluindo falta de estrutura física e material pedagógico adequado, formação precária dos professores e ausência da comunidade nas decisões escolares.

Enfim, são inúmeros os aspectos que precisam ser repensados para uma formação que vá além da sala de aula, que prepare um aluno atuante, tanto em seu desenvolvimento intelectual como social. Contudo, será que a proposta do ENEM possibilitará mudanças nos sistemas seletivos para o ensino superior? Para que todos tenham acesso de forma igualitária, já que o exame propõe a unificação de um processo seletivo igual a todos?