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Os “Questionários do Saber” foram respondidos por 27 alunos de um 7º ano (antiga 6ª série), do Ensino Fundamental (EF) da escola pública, no horário de aula (no caso, vespertino), sendo que a classe não estava completa no momento em que se realizou essa etapa da pesquisa – faltavam cinco alunos do total da classe, que não foram à escola naquele dia, como relatado anteriormente.

4.1.1 A turma: os alunos da classe e seus percursos escolares

Essa amostra foi composta por 10 meninos e 17 meninas. Quanto a sua idade, como pode ser observado na Tabela 1, a maioria dos alunos presentes (23 alunos, ou 85% da classe) contava com idade normalmente correspondente à série cursada (no caso, alunos com 12 anos

ou com 13 anos completos no 2º semestre do ano letivo corrente cursando o 7º ano do EF). Apenas três alunos (11%) apresentavam distorção série-idade, mas pequena, de um ano apenas – correspondente a reprovação de um ano escolar –, sendo que um desses informou ter entrado atrasado na escola e não reprovado. Além disso, uma aluna estava um pouco adiantada – tinha 11 anos, mas completaria 12 ao final daquele ano.

Tabela 1 – Idade dos alunos da classe da escola pública

IDADE Meninas Meninos TOTAL

11 anos 1 - 1 (4%)

12 anos 11 8 19 (70%)

13 anos 4 - 4 (15%)

13 anos +

(fariam 14 até o final do ano ou no 1º semestre do ano seguinte)

1 2 3 (11%)

Total 17 10 27

Fonte: Questionários do Saber, levantamento de campo, 2007.

Dos 27 alunos dessa classe, 19 nasceram e cresceram na cidade de São Paulo, capital, e dois nasceram em outras cidades paulistas. Cinco alunas vieram de outros estados brasileiros. Três delas nasceram e viveram, pelo menos por um tempo, em estados localizados na Região Nordeste, uma nasceu num estado da Região Sul e uma acabara de chegar da Região Centro-Oeste. Uma aluna não informou o local de seu nascimento.

Em relação à composição familiar (Tabela 2), podemos observar que 51% dos alunos dessa classe são de famílias com até dois filhos apenas (ou seja, são filhos únicos ou têm no máximo um irmão). Outros 37% tem famílias constituídas de três filhos e somente 12% (três alunos) são de famílias maiores, com quatro ou mais filhos

Tabela 2 – Número de irmãos por aluno da classe da escola pública

Número de irmãos Meninas Meninos TOTAL

único 2 1 3 (11%)

1 5 6 11 (40%)

2 7 3 10 (37%)

3 1 - 1 (4%)

4 ou + 2 - 2 (8%)

Quanto à ordem de nascimento entre os irmãos, como podemos observar na Tabela 3, quase a metade dessa classe é composta por muitos caçulas – 13 alunos ou 48% da classe –, sendo que desses treze caçulas, dez são meninas. Entre os meninos destaca-se a quantidade de primogênitos – metade deles. Apenas três alunos (11% da classe) são filhos únicos (duas meninas e um menino, sendo que esse tem três irmãos que não conhece).

Tabela 3 – Ordem de nascimento dos alunos da classe escola pública entre seus irmãos

Posição entre irmãos Meninas Meninos TOTAL

único 2 1 3 (11%)

3 5 8 (30%)

1 1 2 (8%)

1 - 1 (4%)

caçula 10 3 13 (48%)

Fonte: Questionários do Saber, levantamento de campo, 2007.

Quanto aos seus percursos escolares, e levando em conta toda a história escolar dos sujeitos até o momento, três alunos dessa classe (11%) já passaram por reprovações: uma aluna reprovou o 6º ano (antiga 5ª série) e outros dois alunos, uma menina e um menino, reprovaram o 5º ano (a 4ª série) do EF.

Observando os dados descritos na Tabela 4, vemos que nove alunos dessa classe (33%) já passaram por recuperações em uma ou mais disciplinas para aprovação final durante seu percurso escolar até então e há, entre esses, um equilíbrio em termos de gênero (4 meninas e 5 meninos). A série que apresenta maior número de recuperações é o 5ª ano do EF (4ª série).

Tabela 4 – Número de alunos da classe da escola pública por anos escolares em que passaram por recuperações em disciplinas para serem aprovados

Anos escolares em que alunos passaram

por recuperações Meninas Meninos TOTAL

2ª série (3º ano) 1 - 1 2ª e 3ª séries (3º e 4º anos) - 1 1 2ª e 4ª séries (3º e 5º anos) - 1 1 3ª série (4º ano) 1 1 2 4ª série (5ª ano) 2 2 4 Total 4 5 9 (33%)

4.1.2 Os pais: profissão e escolaridade

Na compilação dos dados sobre os pais e responsáveis dos alunos foram incluídos também padrastos ou madrastas quando os alunos informaram sua profissão ou grau de escolaridade no local indicado no questionário para “pai” e “mãe”. O mesmo se deu quando declararam não ter conhecido ou não ter mais contato com seus pais, mas indicaram sua profissão ou grau de escolaridade, e quando respondiam “não sei”, “não o conheço” apenas – daí o total exato de 54 pais para 27 alunos, como poderá ser notado nas Tabelas 5 e 6 a seguir.

Portanto, através da Tabela 5 podemos observar a distribuição do número de pais por categorias profissionais, nas quais as profissões informadas pelos alunos foram arranjadas de acordo com a faixa salarial inferida para cada profissão (em ordem crescente) e pela proximidade do tipo e nível de formação (escolar ou técnica) exigida para o exercício da respectiva profissão.

Tabela 5 – Número de pais ou responsáveis dos alunos da classe da escola pública por categoria profissional

Categoria profissional

(como declarada pelos alunos, separadas de acordo com o tipo) Total de Pais

Mães “donas de casa” 6 (11%)

Empregados I

(faxineiro, empregada doméstica, zelador ou porteiro de prédios, segurança comum, pedreiro)

14 (26%) Autônomos I (vendedores ambulantes e outros) 2 (4%) Empregados II

(cabeleireiro, chefe de cozinha, manicuro ou pedicuro, funcionário de empresas ou fábricas, secretário de consultório, segurança

especializado, carteiro, costureiro, modelista, balconista, garçom)

14 (26%)

Autônomos II

(corretor de seguros, trabalha com eventos, empreiteiro, pesquisador) 5 (9%)

Empregados III

(enfermeiro, bombeiro, trabalha com computação, gerente de restaurante, supervisor de cobranças)

5 (9%)

Autônomos III

(publicitário, médico, dentista, psicólogo etc.) -

Empregados IV

(engenheiro, analista de sistemas etc.) -

Micro-empresários

(leiloeira de animais pecuários, dono de loja de peças para maquinário) 2 (4%)

Não sabe 6 (11%)

TOTAL 54

Vemos, então, que a maior concentração de pais por tipo de profissão está na categoria II, com 35% deles, seguida pela categoria I, com 30% – somando-se, assim, 65% dos pais desses alunos em profissões que geralmente oferecem baixos salários. Apenas sete pais (13%) exercem profissões da categoria que parecem lhes garantir um padrão de vida mais razoável – e que geralmente exigem maior grau de escolaridade – e seis mães (11% do total de pais) são “donas de casa”.

Dessa forma, podemos inferir que o perfil sócio-econômico geral dessas famílias é o das classes sociais menos favorecidas, e que, como veremos a seguir (Tabela 6), são pessoas que tiveram pouca ou nenhuma oportunidade de dar prosseguimento aos estudos, provavelmente pela necessidade de trabalhar desde muito novos e pelo alto custo financeiro que lhes acarretaria pagar uma faculdade particular (já que as públicas dificilmente ofereciam – ou oferecem – cursos em horários alternativos aos normalmente exigidos por um emprego e também pela dificuldade de ingresso nelas de grande parte dos alunos provindos do ensino público, pela reconhecida precariedade de sua formação escolar).

Tabela 6 – Número de pais ou responsáveis dos alunos da classe da escola pública por grau de escolaridade (por concentração)

Grau de Escolaridade (indicada pelo aluno) Total de Pais

Analfabeto (“Nunca foi à escola”) 2 (4%)

“Sabe ler e escrever” ou “Estudou” 9 (17%)

EF incompleto

Do 1º ao 5º ano do EF

(até antiga 4ª série) 5

Do 6º ao 9º ano do EF

(até antiga 8ª série) 5

Total 10 (19%) EF completo 8 (15%) EM/T incompleto 3(5%) EM/T completo 8 (15%) ES incompleto 6 (10%) (4 ainda cursando) ES completo 1 (2%)

Não sabe ou não informou 7 (13%)

TOTAL 54

Fonte: Questionários do Saber, levantamento de campo, 2007.

De acordo com a Tabela 6, somando-se as categorias dos pais que estudaram até EF completo, vemos que há 27 pais, o que corresponde a metade deles (50%), estudaram no

máximo até a antiga 8ª série (hoje 9º ano) – sendo que 9 deles (17%) sabem “ler e escrever” ou cursaram alguns anos do antigo ensino primário. Outros 8 pais (15%) chegaram a concluir o EM e 6 pais (cerca de 10%) chegaram a ingressar ou estão cursando uma faculdade (sendo que desses 4 estão ainda estudando). Poucos abandonaram o EM, apenas 3 pais (5%) e também são poucos os analfabetos (2 pais, cerca de 4%). Apenas um aluno tem um pai que concluiu o ensino superior. Alguns alunos não souberam informar a escolaridade de seus pais.

Desse quadro podemos chamar a atenção para os quatro pais (três mães e um pai) que estavam, no momento da pesquisa, cursando uma graduação (uma faxineira, uma cabeleireira, uma corretora de seguros e um empreiteiro, que por coincidência é casado com a cabeleireira). Provavelmente esses pais estão buscando melhorar seu padrão sócio-econômico, devido às exigências do mercado atual quanto à formação, e, quem sabe, realizando um sonho antigo. Esses pais que ingressaram, concluíram ou cursavam o Ensino Superior podem ser considerados uma exceção dentre os alunos das escolas públicas – como os próprios números dessa pequena amostra indicam (diferentemente, como veremos mais adiante, dos pais dos alunos da escola privada que, em sua grande maioria, são graduados em cursos universitários).

Também é exceção o analfabetismo total ou declarado, apenas um aluno relatou que seu pai e sua mãe “nunca foram à escola”– e são, portanto, analfabetos. Dentre os alunos dessa classe, 17% (um número expressivo para o caso) disseram que não sabiam ao certo o grau de escolaridade de seus pais, mas que eles sabiam “ler e escrever” ou que seu pai ou mãe “estudou” – o que, de certa forma, já é uma conquista, principalmente quando o analfabetismo ronda as histórias familiares dos alunos de origem sócio-econômica menos favorecida.

Além disso, é preciso dizer que das seis mães de alunos dessa classe que são “donas de casa”, quatro não concluíram o EF, uma cursou até a 8ª série (ou 9º ano do EF) e apenas uma chegou a concluir o EM.

Confrontando os dados das Tabelas 5 e 6, vemos uma clara relação entre as categorias profissionais e o grau de escolaridade dos pais dos alunos (de certa forma já esperada), mas que surpreende pela grande proximidade dos números, como mostramos a seguir:

22 pais – categoria profissional até I24 x 21 pais – grau de escolaridade até EF

incompleto

19 pais – categoria profissional II x 19 pais – grau de escolaridade entre EF e EM/T 7 pais – categoria profissional III+ 25 x 7 pais – grau de escolaridade ES