• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5. DESENVOLVIMENTO, RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2 Ambiente Artificial Construído

Busca-se, nesta temática da pesquisa, tratar da arquitetura sob a ótica da confortabilidade, empreendendo análises sobre a conformação do espaço construído. No desenvolvimento do texto são discutidos os objetivos primordiais da arquitetura: a forma, a função e a funcionalidade. Historicamente, o apelo formal é tido como um dos principais investimentos do projeto arquitetônico: a pretensão de beleza, os volumes e as figuras são bases objetivas e essenciais na configuração da construção. Para além da forma, a função do abrigo e suas facetas técnicas que permitem a utilização da edificação em condições humanizadas nas quais se inserem as questões do conforto, muitas vezes relegadas pelo arquiteto, devem ser profundamente avaliadas no desenvolvimento do projeto.

Tratar de uma arquitetura confortável deveria soar como uma redundância, pois toda arquitetura deveria ter a confortabilidade como essência e atributo principal, o que não se confirma na prática projetual.

Pesquisa Datafolha/CAU-BR divulgada em outubro de 2015 apresenta um importante diagnóstico da participação do projeto de arquitetura na rotina das construções brasileiras. Apenas cerca de 7% dos entrevistados já utilizaram serviços de arquitetos para construir (Figura 3.1). Este dado, ao deflagrar a insipiente participação da arquitetura na rotina das pessoas, faz supor a desastrosa qualidade da maioria das construções do país. Nesse contexto,

64

as condições ambientais importantes para a efetivação de espaços confortáveis e que deveriam ser inerentes às edificações são abnegadas.

Figura 3.1 - Utilização dos serviços de arquitetos Fonte: DATAFOLHA, 2015

Gauzin-Müller (2011) infere que além da incipiente participação da arquitetura formal nas edificações construídas no Brasil, “pouquíssimas delas contam com um projeto adequado” ao clima e contexto em que se inserem. São composições construtivas com uma heterogeneidade de conceitos, “pastiches presentes em qualquer parte do mundo, carregadas de equívocos de desenho e de aplicação de tecnologia construtiva, verdadeiras minas de desperdício”.

Dentre problemas que podem ser citados, muitos edifícios comerciais recentes não utilizam proteção solar nas fachadas, expondo grandes superfícies envidraçadas aos rigores do sol tropical, o que se atribui ao alto custo gerado pela manutenção de fachadas complexas que oneram sobremaneira o valor dos condomínios, levando empreendedores e investidores a optar por soluções pragmáticas (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

A negação das soluções necessárias ao conforto decorrente da falta de contextualização do edifício no clima em que se implanta, na fase de planejamento, resolve-se atualmente com a adoção de meios mecânicos e tecnológicos. O ar condicionado, por exemplo, substituiu, com enormes prejuízos energéticos, soluções que marcaram o período heroico da arquitetura

65

moderna brasileira. Oscar Niemeyer, destacado na grande habilidade de projetar com o controle da incidência solar e com o aproveitamento eficiente da ventilação natural, como no Edifício Copan em São Paulo (Figura 3.2), rendeu-se às peles de vidro em suas últimas obras, como na Sede da Procuradoria Geral da República (PGR) em Brasília (Figura 3.3), o que em uma análise específica gerou críticas. A relevância de se construir com menor impacto ambiental, gerando menos poluição, e assumindo uma busca pela sustentabilidade, tão propagandeada nos últimos tempos, é renegada constantemente em grandes obras no Brasil.

Figura 3.2 - Edifício Copan (São Paulo, 1966) Figura 3.3 - Procuradoria Geral da República (Brasília, 2002)

Dois momentos da produção arquitetônica da Oscar Niemeyer. Fontes: COPAN..., 2015; PGR..., 2015.

A construção moderna, ao se aventurar pela alta produtividade sem avaliar o uso de quantidade desmedida de elementos nocivos em forma de substâncias voláteis, materiais cancerígenos, espaços sem ventilação e desperdício de energia, vai de encontro ao avanço na consciência de que a edificação não basta servir como abrigo, deve ser saudável e confortável. O destaque do setor da construção civil como propulsor da economia, em um contexto de especulação imobiliária, com o uso de materiais de baixa qualidade e de mão de obra barata, com vistas a obter o rendimento máximo, faz com que o ambiente construído pereça de estratégias positivas de conforto (MIRALLES, 2011).

Na construção de imagens a serem vendidas, pouco importando o conteúdo da obra, grande parte dos projetos contemporâneos assume um caráter meramente formal, em detrimento de quesitos técnicos e psicológicos que os tornem eficientes e confortáveis,

66

embora o resultado estético de considerável gama de edifícios construídos na atualidade seja questionável. O arquiteto Richard Rogers ao dizer “forma segue lucro: é o princípio estético de nossos tempos” (DUSHKES, 2014, p.41) atesta essa ocorrência formal da arquitetura atual como um ponto problemático, na medida em que a obra se torna um objeto de valor estético questionável. Bruno Zevi, ao opinar que “a fachada e as paredes de uma construção são apenas o recipiente, a caixa que as paredes formam; o conteúdo é o espaço interno” (DUSHKES, 2014, p.90) explicita uma tendência necessária à arquitetura: a de prover espaços que sejam suficientes para o conforto do usuário. Não se trata aqui de contestar a função estética da arquitetura, mas de explicitar a importância do projeto arquitetônico para a criação de espaços que compreendam o usuário e lhe proporcione as melhores sensações de conforto.

No contexto sugerido de que a produção arquitetônica precisa combinar suas propostas formais com seu funcionamento para promover qualidade de vida e conforto ambiental, o exercício tende a ser uma análise constante do contexto em que se insere e uma busca pelos parâmetros técnicos que lhe condicionem a servir de estímulo à vida de seus usuários. Como conclusão a esta análise sucinta do ambiente construído torna-se interessante citar as palavras do arquiteto Billie Tsien:

[...] um valor importante para nós é combinar todos os diversos elementos da arquitetura – materiais, espaço, forma, iluminação, cor – e produzir um todo unificado. Não estamos interessados em produzir uma colagem, de forma alguma. As vidas das pessoas são a colagem, e ninguém precisa de uma colagem sobre outra colagem. O que você precisa é oferecer um senso de integridade de que modo que o caleidoscópio possa acontecer dentro disso (DUSHKES, 2014, p.128).