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CAPÍTULO 5. DESENVOLVIMENTO, RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 Processos de Projeto das Especialidades de Conforto

4.4.5 Processos de Projeto na plataforma BIM

Diante da notória contribuição que a tecnologia BIM (Building Information Modeling) ou Modelagem da Informação da Construção passou a oferecer ao desenvolvimento e à gestão do processo de projeto de arquitetura, torna-se necessário compreender e descrever suas características principais, as quais promovem novas abordagens nos processos projetuais. BIM não é um tipo de software, mas uma atividade humana que envolve modificações consideráveis no processo de projeto, na construção e na utilização do edifício. A plataforma tem como função contemplar informações tais como produtos, processos, documentos, informações geométricas, de desempenho e quaisquer dados pertinentes no ato de criação, além de permitir o estabelecimento de relações entre as informações adicionadas, de forma organizada (EASTMAN et al., 2011).

O desenvolvimento de softwares CAD 2D possibilitou uma nova ferramenta de desenho até então representada pelo desenho na prancheta, oferecendo facilidade na edição de desenhos, impressão de múltiplas cópias, aproveitamento de desenhos para elaboração de revisões, mas sem alterar essencialmente o processo de projeto. Em determinadas situações gera efeitos negativos no processo, produzindo informação difusa e desestruturada. Além disso, há grande nível de abstração para a compreensão dos espaços. Com o avanço tecnológico, surgiu a terceira dimensão nos programas de projeto de arquitetura, a qual representou importante ganho na quantidade de informação do projeto que pode ser visualizada. Embora a evolução tenha contribuído com muitos aspectos no processo projetual, da mesma forma que os softwares de CAD 2D, os softwares de CAD 3D não apresentaram uma revolução na forma de desenvolvimento de projeto, mantendo-se a fragmentação da informação em vários arquivos e formatos, sem interoperabilidade entre si .

Em outra abordagem, muito mais sistemática, o princípio da plataforma BIM é "auxiliar no processo de criação e gerenciamento de informações relacionadas à construção, de modo integrado, reutilizável e automatizado, gerando um modelo digital do edifício em vez de uma série de desenhos". Trata-se de um processo que compreende a centralização de informações relacionadas a um edifício com o estabelecimento de relações entre elas, em um modelo, sendo que esse processo é possível com auxílio de ferramentas digitais. Verifica-se, assim, a busca pelo aperfeiçoamento do processo de projeto, em sua organização e na facilidade de

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acesso às informações e na diminuição dos riscos de dúvidas e incertezas ao longo da vida útil do projeto e da edificação (SCHEER et al., 2007).

Uma das características imprescindíveis ao processo de projeto no sistema BIM é a criação de objetos paramétricos. De acordo com Eastman et al. (2011) objetos paramétricos oferecem definições geométricas associadas a dados e regras, evitando redundância de informações, e possibilitando a modificação das características geométricas dos elementos quando inseridos em um modelo. Possibilitam a definição de relações entre os diferentes sistemas construtivos, a exibição ou exportação de conjuntos de atributos, tais como propriedades estruturais, características dos materiais, dados de comportamento acústico, energético, entre outros para outros aplicativos e modelos. Os objetos paramétricos podem também ser referências diretas a produtos desenvolvidos por fabricantes, como janelas, peças pré-fabricadas, acessórios etc. Esses objetos e suas atualizações podem ser obtidos diretamente via internet e futuramente ajustarem automaticamente o seu comportamento aos aspectos do projeto (SCHEER et al., 2007).

Os objetos paramétricos desenvolvidos por softwares em consonância com os requisitos da plataforma BIM podem agregar dados de desempenho de componentes e sistemas construtivos. Depois de parametrizados com os dados, os objetos incorporam-se a uma biblioteca digital do sistema, a qual facilita a localização de um produto que tenha maior conformidade para o nível de desempenho requerido, reduzindo o tempo gasto na busca de sistemas construtivos para determinado projeto, viabilizando a utilização do modelo para análises complexas em programas de simulação, de análise estrutural e verificação de normas. Com a organização de informações e características de desempenho de sistemas construtivos, gerando as bibliotecas de famílias de objetos paramétricos, o processo de projeto considerando a norma de desempenho torna-se mais acessível. Por exemplo, em análise estrutural pode-se configurar um componente para que mude de cor no momento em que as deformações ou os deslocamentos sofridos excedam o critério de desempenho indicado em projeto. Da mesma forma, no projeto luminotécnico, áreas que ultrapassem os níveis de iluminância definidos nos critérios de desempenho são destacadas para reavaliação do projetista (WAELKENS; MITIDIERI FILHO, 2012).

Mesmo diante das notórias potencialidades que a parametrização em modelos consonantes com a plataforma BIM oferece para a avaliação de desempenho, ainda são

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escassos os dados de desempenho de sistemas construtivos integrados à tecnologia. Apesar de notadamente crescente, a falta de prática de uso das ferramentas BIM no Brasil ainda dificulta a disseminação das potencialidades, as quais se configuram como tendências com grande potencial de modificação sobre as ferramentas atuais de desenvolvimento de projetos (MELO, 2016).

Waelkens e Mitidieri Filho (2012) concluem sobre a viabilidade de se utilizar os critérios da Norma de Desempenho a partir de tabelas de dados de desempenho dos sistemas construtivos e referências de boas práticas de projeto com o auxílio de softwares da plataforma BIM. Para os autores, a análise virtual do projeto com o auxílio da ferramenta aumenta significativamente o potencial do edifício construído atender plenamente aos critérios normatizados. Para que isto aconteça, sugerem a necessidade de revisão dos processos de projeto mais utilizados atualmente, notadamente os processos sequenciais; a formação dos profissionais quanto às questões técnicas, como o desempenho de sistemas construtivos; o treinamento na utilização de softwares; e o desenvolvimento de bibliotecas virtuais com objetos paramétricos com informações e com formato que permita a interoperabilidade.

Hermund (2009) observa que o BIM ao incorporar a capacidade de lidar com o inesperado e o incomensurável, poderá gerar efetivos benefícios para o processo de projeto de arquitetura. Mas isso significa a não formalização de etapas de investigação do processo criativo, de modo a tornar o sistema mais flexível e mais adaptado a mudanças.

Ibrahim et al. (2004), ao considerarem as potencialidades do BIM no processo de projeto de arquitetura, preconizam o ganho no uso de um modelo distribuído, no qual se considera o modelo do edifício do arquiteto como um modelo de referência, a partir do qual se geram diferentes modelos externos, em que as informações são armazenadas sem a necessidade de incorporá-las a um único modelo digital. Com essa possibilidade, a coordenação e o gerenciamento do fluxo das informações nas fases de projeto devem ser garantidas. Além disso, torna-se possível trabalhar com equipes multidisciplinares e abarcar diferentes fases de projeto e níveis de informação, garantindo a autonomia entre as metodologias de projeto e a participação de todos os envolvidos no processo.

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