• Nenhum resultado encontrado

Ambiente de Informações: Estrutura de Valores e Distribuições de Valores

2.4. ELEMENTOS DA ECONOMIA DOS TRANSPORTES APLICADOS AOS TRANSPORTES

2.4.1. Fundamentos da Teoria da Regulação Econômica

2.4.2.4. Elementos da Teoria dos Leilões

2.4.2.4.4. Ambiente de Informações: Estrutura de Valores e Distribuições de Valores

As informações disponíveis para os envolvidos em um leilão constituem um fundamental aspecto no desenvolvimento e desfecho da disputa, sobretudo diante das incertezas inerentes aos leilões. Assim, convém iniciar esta subseção dizendo que o ambiente das informações disponíveis para os licitantes é constituído de uma estrutura de valores e de uma distribuição estatística de valores e de sinais (informações) (KRISHNA, 2010).

Considere-se um leilão de venda, i.e. uma situação em que o procurer atua como vendedor. No início deste Capítulo 2 foi feita uma descrição de como se processa a dinâmica de um leilão. Naquela ocasião foi mencionado que tanto o procurer quanto os licitantes fazem valorações do objeto em disputa no leilão. Essa valoração do objeto depende do grau, do estoque de informações que se tem a respeito do objeto, o que constitui a estrutura de valores dos licitantes.

Se a valoração que cada licitante faz do objeto independe do valor que demais licitantes conferem ao objeto, e só depende da utilidade que o próprio licitante tem do objeto, diz-se que se está diante de valores privados (private values). Por outo lado, se no momento do leilão o valor do objeto é desconhecido de cada licitante, e cada licitante dispõe apenas de uma estimativa ou de um sinal (e.g. uma estimativa feita por um consultor, ou um resultado de um teste) correlacionado ao valor do objeto, e a estimativa que cada licitante faz do objeto não depende apenas de si próprio, pois as sinalizações de valores que demais licitantes podem fazer do objeto (e.g. estimativas ou testes) interferem na valoração que o licitante faz do objeto, e ainda se no momento ex post leilão o objeto terá o mesmo valor, independente de qual licitante tenha vencido o leilão, diz-se que se está diante de valores comuns (common

values).

Em adição, Albano et al. (2011b) dizem que private values dizem respeito à eficiência dos licitantes em realizar cada tarefa especificada nos termos de referência dos leilões, ou seja, as tarefas que serão realizadas pelo vencedor do leilão durante a execução contratual, enquanto

common values dizem respeito à habilidade dos licitantes em corretamente estimar tanto as

Saliente-se que, independente de qual tipo de valor os licitantes estejam enfrentando, se privado ou se comum, o procurer não sabe, ex ante leilão, o valor que cada licitante atribui ao objeto em leilão. Essa incerteza, que tanto o procurer quanto os licitantes têm acerca do valor do objeto, é uma característica inerente dos leilões (KRISHNA, 2010).

Krishna (2010) cita como exemplo de private values a venda de uma obra de arte. Nessa situação, cada licitante atribui diferentes valores ao objeto, tendo como base apenas quanta utilidade teria pelo fato de possuir a obra de arte, encarando o objeto como algo para consumo próprio. Nesse caso, Krishna (2010) diz que a assunção de private values é razoável. Todavia, para casos em que o licitante pretende revender o objeto, e atribui um valor ao objeto com base no valor que o objeto pode obter no mercado de revenda, Krishna (2010) diz que a assunção de private values não mais se sustenta, porquanto o licitante não sabe quanto poderá obter com a revenda. Essa situação ilustra o que seja common values.

Tome-se outro exemplo dado por Krishna (2010): a venda de um lote de terra com uma desconhecida quantidade de petróleo em seu subsolo. Cada licitante pode ter estimativas diferentes da quantidade de petróleo que pode extrair do lote, resultantes de uma sinalização eventualmente oriunda de testes conduzidos pelo próprio licitante. Nesse caso, todavia, sinalizações oriundas de eventuais testes feitos por demais licitantes interessam a cada licitante, e o valor final do lote de terra é derivado da quantidade de vendas futuras do petróleo que se vier a extrair do subsolo. Assim, no momento ex post leilão, o valor final do lote é, em uma aproximação inicial, igual para todos os licitantes, mas desconhecido dos licitantes no momento ex ante leilão, porquanto não se sabe a verdadeira quantidade de petróleo que se poderá extrair do subsolo, nem tampouco o valor do petróleo no momento da sua extração. Nessa situação, a assunção de que se está diante de common values é razoável. Sob o ponto de vista teórico, e com base no ambiente de valores que se estiver inserido, a

Auction Theory indica quais tipos de leilões conduzem a melhores resultados, quer do ponto

de vista da eficiência, beneficiando a sociedade, quer do ponto de vista da receita, beneficiando o procurer, bem como as estratégias mais adequadas para os licitantes.

Todavia, a escolha do tipo de leilão que conduz a melhores resultados para o procurer depende não apenas da estrutura de valores dos licitantes, mas também do tipo das distribuições das quais os valores ou as sinalizações que os licitantes atribuem ao objeto

leiloado são extraídos. Saliente-se que, quando se está diante de common values, e porque os licitantes não sabem os valores que os objetos terão para si no momento ex post leilão, as informações de cada licitante, obtidas por si mesmo e a partir de seus concorrentes, correspondem a sinais, ou seja, os licitantes podem obter apenas sinalizações dos valores que seus concorrentes pensam em atribuir ao objeto.

Nesse sentido, Krishna (2010) atenta para a necessidade de não se confundir a estrutura de valores ou de sinais, respectivamente se se estiver em ambiente de private values ou common

values, com as propriedades estatísticas das distribuições desses valores ou sinais. Enquanto

os valores ou sinais dizem respeito às informações dos licitantes acerca do objeto leiloado, as propriedades estatísticas das distribuições dos valores ou sinais, ou seja, das informações dos licitantes, dizem respeito às maneiras como os valores ou sinais observados pelos licitantes são distribuídos.

Saliente-se que de acordo com as suas distribuições, os valores, ou os sinais, podem ser: simétricos (symmetric values); assimétricos (asymmetric values); independentes (independent

values); afiliados ou correlacionados (affiliated values ou correlated values). Quando os

valores ou sinais dos licitantes têm as mesmas distribuições estatísticas, diz-se que os valores ou sinais são simétricos. Por outro lado, se as distribuições dos valores ou sinais tiverem diferentes distribuições estatísticas, diz-se que os valores ou sinais assimétricos. Quando os valores ou sinais de cada licitante não são influenciados pelas distribuições de valores ou sinais de demais licitantes, diz-se que os valores ou sinais são independentes. Por outro lado, se os valores ou sinais de cada licitante são influenciados pelas distribuições de valores ou sinais de demais licitantes, ou seja, se os valores ou sinais dos licitantes não forem estatisticamente independentes (KRISHNA, 2010), diz-se que os valores ou sinais são afiliados ou correlacionados.

Para ilustrar as diferenças entre estruturas de valores e distribuição de valores, Krishna (2010) menciona dois exemplos: um ambiente de common values no qual o valor de um licitante depende dos sinais observados de outros licitantes, mas esses sinais são estatisticamente independentes (ou seja, nesse exemplo os valores são comuns, interdependentes, mas os sinais são independentes); um ambiente de private values no qual o valor de um licitante depende apenas de seu próprio sinal, mas os sinais são correlacionados (ou seja, nesse exemplo os valores são independentes, mas os sinais são dependentes).