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II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 Ambiente Obesogénico

A obesidade tem sido reconhecida como um fenómeno mundial que demanda acções de prevenção, apesar da sua causa ser multifatorial. Sabe-se que é importante examinar o papel dos hábitos, dos comportamentos alimentares e da actividade física da população como condicionantes na epidemia da obesidade, uma vez que o aumento da obesidade, observado nas últimas décadas, ocorreu na nossa genética (Crawford & Ball, 2002). Dessa forma, percebe-se que o ambiente também assume um importante papel na prevalência crescente dessa doença, porém não se sabe ainda dimensionar a interacção dos factores hereditários e ambientais no aumento do peso corporal (Salve, 2006). Lobstein (2004) defende que a obesidade é um problema sobretudo de natureza ambiental, pois o aumento da sua prevalência ocorreu

num período de tempo muito curto para poder ser atribuído a uma mutação genética.

Neste sentido, Ambiente Obesogênico diz respeito à influência que oportunidades e condições ambientais têm nas escolhas, por parte dos indivíduos, de hábitos de vida que promovam o desenvolvimento da obesidade (Swinburg, Egger, & Raza, 1999), nomeadamente no padrão alimentar considerado inadequado e na diminuição da prática de actividades físicas, triviais ou desportivas (Souza & Oliveira, 2008), que se ligam tanto à origem quanto à manutenção dessa doença (Oliveira & Fisberg, 2003; Swinburg et al., 1999).

Antigamente, as crianças ocupavam grande parte do seu tempo com brincadeiras ao ar livre, que implicavam grande gasto de energia (Joaquim, 2004). Mas com as dificuldades na realização de actividade da vida diária, inclusive nas consideradas vitais, a prática de actividade física ou mesmo de lazer torna-se quase inviável para os obesos, principalmente os mórbidos, e para piorar ainda mais, as condições externas (ambiente obesogênico) dificultam ainda mais a realização de actividades físicas e de lazer (Souza & Oliveira, 2008). Pois hoje em dia, a família, tem dificuldades em gerir o tempo livre das crianças, devido à incompatibilidade de horários, ao maior tempo livre disponível por parte das crianças, à distância entre o local de trabalho, zona escolar e zona de residência (Mourão-Carvalhal, 2000), levando a um aumento do uso dos automóveis, o que contribui para diminuir a actividade física (Fisberg et al., 2004).

Assim, com as pressões do quotidiano, com a consideração do jogo contrário ao trabalho, com a visão de que a escola é um espaço de trabalho e que brincar é uma perda de tempo, a criança parece estar a perder o seu espaço de brincar, tanto interna como externamente, além de ver entregue a julgamentos de mérito, o próprio acto de brincar (Silva, 2002) .

Posto isto, ainda são poucas as investigações sobre a influência de espaços abertos e a disposição dos objectos sobre os comportamentos infantis e seus

relacionamentos (Fredizzi, 2002). Porém, esses espaços têm vindo a tornar-se cada vez mais importantes para o desenvolvimento infantil, já que com o crescimento das cidades e da violência urbana, são nos pátios escolares que as crianças podem brincar, socializar e interagir com a natureza (Elali, 2003).

Sendo o recreio também referido, por entidades no domínio da saúde pública, como um contexto importante no âmbito da promoção da actividade física em crianças e jovens (Marques, Neto, Angulo, & Pereira, 2001), apresentando-se como uma excelente oportunidade de promoção da actividade física, bem como, uma oportunidade de acumular a mesma ao longo do dia (Mota et al., 2005). Neste sentido, o recreio representa um tempo e um espaço de promoção da saúde (Ridgers, Stratton, & Fairclough, 2005).

Segundo Carvalhal e colaboradores (2009), os recreios escolares são os espaços privilegiados para o aumento da actividade física, podendo apontar a área do recreio por criança e o tipo de equipamentos como factores importantes na redução da obesidade infantil.

Fernandes (2006), constatou ainda no seu estudo, que o recreio era ocupado de forma diferente pelos meninos e meninas, sendo os meninos os que utilizam um maior número de espaços e realizam mais actividades, enquanto as meninas permanecem num mesmo local por mais tempo, executando a mesma brincadeira. Para a mesma autora, a idade também parece influenciar a escolha dos locais, sendo as idades menores mais individualistas e exploradoras, enquanto as crianças com mais idade, costumam preferir em grupos com longa duração.

Contudo, e como referem Pereira e Neto (1999), na escola, onde a criança passa uma boa parte do dia, existem longos períodos de tempos livres sobre os quais é urgente reflectir e tomar medidas: a nível do melhoramento dos espaços de recreio e quanto à oferta de práticas diversificadas.

Por sua vez Elali (2002), desenvolveu uma pesquisa onde verificou que o ambiente para educação infantil não tem sido planeado adequadamente e que

as áreas livres são, geralmente escassas e com poucos equipamentos e recursos naturais.

Da intervenção no recreio escolar nos níveis de actividade física em crianças de ambos os sexos (6 e os 12 anos), são de referir os seguintes resultados, a intervenção resultou num aumento significativo de todos os valores percentuais médios da actividade física total em ambos os sexos e grupos etários. Este estudo concluiu que se estas crianças beneficiaram com a intervenção no recreio escolar, poderá ser benéfica a sua implementação noutras escolas. O recreio escolar afigura-se como um espaço privilegiado de promoção de hábitos de actividade física nas crianças, não devendo por isso ser negligenciado (Lopes, Lopes, & Pereira, 2006). Também Stratton e Mullan (2005), concluíram que a intervenção nos recreios, mesmo que seja de baixo custo (pintura dos equipamentos já existentes nos recreios), aumentou os níveis diários de actividade física das crianças. Os resultados de outro estudo, indicam que relativamente a alterações simples, como o fornecimento de equipamento solto, corte e pintura de marcações de linhas de jogo e aumento da presença do professor no recreio, são factores susceptíveis de proporcionar oportunidades para o aumento da actividade física (Willenberg et al., 2010). Em suma, as intervenções para aumentar a actividade física de crianças, no parque infantil são garantidas (Ridgers et al., 2005).

Assim sendo, é importante o planeamento urbano na prevenção da obesidade, nomeadamente, as questões relativas à mobilidade, segurança, trânsito e equipamentos desportivos (Mourão-Carvalhal, Padez, & Coelho, 2010), pois a qualidade de vida das crianças está associada à existência de pátios escolares amplos e diversificados, podendo facilitar o desenvolvimento social, cultural e intelectual (Fredizzi, 2002).

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