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SUMÁRIO Pag.

3. ASPECTOS GEOAMBIENTAIS DA ÁREA

3.2. Geologia, geomorfologia e aspectos ambientais

3.2.1. Ambiente praial

A praia corresponde à zona perimetral de um corpo aquoso, composta de material inconsolidado, em geral arenoso ou mais raramente composta de cascalhos, conchas de moluscos, que se estende desde o nível de baixa mar médio até a linha de vegetação permanente ou onde há mudanças na fisiografia, como zona de dunas ou de falésias marinhas (SUGUIO, 1992, p. 99). São áreas formadas por sedimentos arenosos ou rochosos, restos de conchas e cascalhos que foram transportados pelas ondas e correntes marinhas. O ambiente praial é resultante da interação entre ondas e sedimentos que sofrem uma influência de uma gama de parâmetros adicionais, destacando-se ventos, marés e demais oscilações do nível do mar.

Dentre todas as feições morfológicas da planície litorânea, as praias são os ecossistemas mais instáveis e dinâmicos, pois estão em constantes mudanças de seus perfis morfológicos e constituições faciológicas, devido à ação das ondas, das correntes marinhas e sazonalidade dos demais componentes meteorológicos em setores urbanos, sobretudo pela ação humana, através das diversas formas de uso e ocupação desordenada do solo, por isso tratam-se de sistemas ambientais fortemente instáveis, principalmente do ponto de vista morfológico e dos constituintes físico-químicos e bacteriológicos da água, pois são ambientes sujeitos a contaminação, devido ao lançamento de esgotos domésticos e resíduos sólidos provenientes de casebres localizados nas proximidades (Figura 1).

As praias da costa oeste de Fortaleza se distribuem ao longo de um trecho conhecido como Praia da Leste-Oeste, ocupando uma extensão aproximada de 8 km, abrangendo bairros como Moura Brasil, Jacarecanga, Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará (Mapa 2). As características mineralógicas, texturais e morfologia do perfil praial da área de estudo são compatíveis com as características gerais apresentadas para o litoral de Fortaleza. Os sedimentos praiais no litoral oeste de Fortaleza são compostos predominantemente por grãos de quartzo polidos, raros feldspatos, palhetas de mica e minerais pesados. A fração biodetrítica está constituída por fragmentos de conchas e foraminíferos (Lehugeur et al., 2003, p. 16). O ambiente praial em estudo está inserido na planície litorânea com predomínio de areias quartzozas, que apresentam caráter bimodal e polimodal ao longo da costa.

Mapa 2 - Imagem parcial do litoral de Fortaleza, destacando-se o emissário submarino e as seis praias monitoradas no litoral oeste de Fortaleza, Ceará.

Fonte: Google Earth, 2011. Elaboração: Paulo Roberto F. G. da Silva.

Figura 1 - Aspecto de galeria pluvial utilizada para descarga de efluentes domésticos lançados no mar provenientes de casebres, Praia das Goiabeiras, Fortaleza, Ceará.

As figuras 2 e 3 mostram imagens das principais fontes de poluição no litoral oeste de Fortaleza, destacando-se galerias pluviais utilizadas para o lançamento de esgotos domésticos, além de rampas de lixo de diversas naturezas, deposição de restos de material utilizados na construção civil e o próprio emissário submarino.

O litoral oeste de Fortaleza é uma área muito vulnerável, sujeita a constantes processos de erosão, gerando impactos ambientais e atingindo as comunidades litorâneas. O conjunto de intervenções realizadas ao longo dos anos no litoral de Fortaleza, principalmente a instalação do Porto do Mucuripe na década de 40, alterou o fluxo de sedimentos, afetando o processo de alimentação destas praias e modificando a dinâmica costeira desta área. O ambiente em estudo, na sua faixa de praia, é composto por uma sequência de onze espigões construídos perpendiculares a linha de costa, visando proteger essa faixa do litoral dos processos erosivos, facilitando o acúmulo de sedimentos nestas áreas (Figura 2).

Figura 2 - Imagem parcial do litoral de Fortaleza, destacando-se o emissário submarino, as praias monitoradas e

os principais pontos de poluição.

Fonte: Imagem do satélite Quickbird - Ano 2004. Elaboração: Paulo Roberto F. G. da Silva. PONTO 13 - PRAIA DA LESTE-OESTE ANTES DA EPC PONTO 14 PRAIA DA LESTE-OESTE DEPOIS DA EPC PONTO 15 PRAIA DO PIRAMBU PONTO 16 PRAIA DO ARPOADOR PONTO 17 PRAIA DAS GOIABEIRAS PONTO 18 PRAIA DA BARRA DO CEARÁ

Figura 3 - Emissário submarino de Fortaleza (3a) e galerias pluviais usadas para o escoamento de esgotos

(3b, 3c, 3d, 3e, 3f, 3g e 3h) no litoral oeste de Fortaleza.

Fonte: Paulo Roberto F. G. da Silva, 2010.

' 3a 3c 3b 3d 3e 3f 3g 3h

As seguidas intervenções nestas áreas (construção da Avenida Leste-Oeste, Marina Parque) e a instalação do emissário submarino transformaram o perfil natural destas praias, provocando déficit no balanço sedimentar e contribuiram para acelerar os processos erosivos nesta área. Desta forma, trata-se de uma faixa de praia com forte influência das ações humanas, interferindo nas características dos componentes ambientais e na deriva litorânea dos sedimentos.

Os processos erosivos provocam impactos negativos significativos, destacando-se a perda do patrimônio paisagístico e urbano, abandono e desvalorização de terrenos próximos ao mar, além do colapso de atividades sócio-econômicas associadas ao lazer e ao turismo. A erosão no litoral oeste de Fortaleza está evoluindo sobretudo porque as medidas adotadas pela gestão pública, como a construção de espigões e paredões, não são apropriadas, pois bloqueiam o fluxo de sedimentos que se acumulam nestas estruturas, interferindo no equilíbrio sedimentar destas áreas.

A dinâmica sedimentar no litoral de Fortaleza, tem sido significativamente alterada pela interferência antrópica, através de obras de engenharia mal planejadas. Na área em estudo, a construção de uma série de molhes e espigões desde o Porto do Mucuripe até a foz do Rio Ceará, tem contribuído para alterar o fluxo de sedimentos transportados pela corrente de deriva litorânea, afetando a alimentação natural destas praias.

A problemática ambiental urbana resulta, também, de uma grande diversidade de impactos ambientais negativos e das diferentes medidas através das quais se procura solucionar tais impactos. Entre os impactos ambientais destacam-se aqueles referentes aos problemas de saneamento básico, que refletem diretamente na qualidade de vida das populações urbanas (Souza, 2002, p. 43).

Em termos ambientais, esta porção do litoral de Fortaleza, vem sendo alvo de constantes ações antrópicas, sem qualquer tipo de planejamento e respeito pelo meio ambiente, o que resulta no comprometimento do equilíbrio ecológico, da qualidade ambiental e na ameaça a qualidade de vida das comunidades aí existentes, representando ainda sérios riscos a saúde dos usuários destas praias (Figura 3).