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SUMÁRIO Pag.

5. O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO LITORAL OESTE DE FORTALEZA

5.1. Ocupação da costa oeste de Fortaleza: histórico e situação atual

O processo de ocupação do litoral de Fortaleza se deu de maneira diferenciada e segregacionista, levando-se em conta o tipo de ocupação, as atividades desenvolvidas e as políticas públicas adotadas em cada setor, destacando-se uma supervalorização da costa leste, com a implementação de habitações para acolher a população de alta renda, instalação de hotéis e áreas de lazer voltadas principalmente para o turismo, tornado-se, portanto, rota turística; em detrimento, o litoral oeste cresceu de maneira desordenada, sem um plano de valorização, acolhendo a população de baixa renda e apresentando um quadro que reflete bem a segregação espacial e social em Fortaleza, que também é marcada pela distribuição desigual dos equipamentos de lazer. Na zona leste, ocupada pelos mais afortunados, estes são mais abundantes e sofisticados, enquanto que na zona oeste são escassos e de inferior qualidade.

O litoral nem sempre foi um elemento valorizado em nossa capital. Segundo Dantas (2002), a cidade de Fortaleza se desenvolvera de costas para o mar e as áreas litorâneas eram caracterizadas como áreas que habitavam as classes pobres da cidade. Os primeiros tipos de ocupação, ligados à pesca, encontram-se na totalidade do território cearense; enquanto que as favelas representam o fenômeno típico de Fortaleza, cujo forte fluxo migratório impediu a integração de todos os retirantes às comunidades de pescadores, favorecendo a formação de favelas no litoral. Dantas (2002) expõe ainda que, a ocupação das zonas de praia pelos pobres corresponde, essencialmente, a demanda por habitação, reprimida, dos retirantes que não conseguem se estabelecer na cidade, vendo-se forçados por política higienista de ordenamento e controle social a se fixar nos terrenos de marinha.

As zonas de praia do litoral oeste não foram ocupadas pelas classes mais abastadas por serem, de um lado, delimitadas por uma antiga zona portuária e pelas favelas, por outro lado, marcadas pela poluição e ocupação popular (Araújo, 2010). As praias do litoral oeste de Fortaleza não apresentam interesses a classe abastada da cidade, visto que são afetadas pelas águas poluídas do esgotamento sanitário de Fortaleza. Este setor do litoral é intensamente ocupado pela classe pobre da cidade, agravando os processos de favelização, degradação ambiental e segregação espacial. A partir daí construiu-se uma imagem negativa da costa oeste

de Fortaleza, refugio da camada mais pobre da população e local de despejo dos dejetos produzidos na cidade.

Nas últimas décadas, a qualidade das águas costeiras tem sofrido um intenso processo de degradação, pelo lançamento de esgotos domésticos que escoam para as praias sem qualquer tratamento, seja em despejos diretos ou através de sistemas de drenagem pluvial, prejudicando o turismo e afastando os visitantes das regiões mais intensamente urbanizadas. Na grande maioria dos casos, a fuga de banhistas das praias poluídas se dá pelo simples aspecto repelente das águas. Em alguns casos, é possível assistir a um enorme número de banhistas em praias com águas aparentemente de boa qualidade, mas poluídas, fora dos padrões aceitáveis de balneabilidade.

A mais significativa proposta de requalificação urbana e ambiental do litoral Oeste de Fortaleza, o Projeto Costa Oeste, concebido ainda no Governo Lúcio Alcântara, na SDLR/ Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional, sucedida pela Secretaria das Cidades e, rebatizado pela Prefeitura de Fortaleza, como Projeto Vila do Mar vem tentando reestruturar, qualificar e reordenar essa importante faixa de praia do litoral de Fortaleza, tornando-a saudável.

A proposta inicial tinha por objetivo principal o resgate da população do Grande Pirambu, de uma extensão de beira mar de 5,5 km, entre a Escola de Aprendizes de Marinheiro e Barra do Ceará e incluía a consolidação de melhorias urbanísticas e dotação de equipamentos públicos nesta seção da orla marítima, tais como: implantação de calçadão e via paisagística, além de nove outras vias de acesso a praia; dotação de iluminação pública, intensificação de arborização urbana que incluía o replantio de coqueirais nativos; consolidação de rede de coleta de esgoto e implantação de ramal coletor do interceptor oceânico, além da relocalização da população em situação de risco em novas moradias e implementação de melhorias habitacionais e ainda a construção de equipamentos sociais (Figura 11).

O Projeto Vila do Mar tem como alvos principais o saneamento, a habitação e a urbanização de áreas degradadas, bem como a assistência social aos moradores destas áreas. Uma das grandes preocupações é promover a requalificação urbana da orla, evitando a especulação imobiliária destas áreas. Trata-se de uma intervenção urbana, enfatizando-se a questão habitacional, mantendo os moradores no local, e que pretende ainda promover a

regularização fundiária de bairros como Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará, criando condições urbanas e ambientais favoráveis e espaços voltados para o turismo, sem contar a implementação de um centro de artes e ofícios respeitando as características locais.

Figura 11 - Aspecto da intervenção urbana na costa oeste de Fortaleza, destacando-se

a implantação de uma rede de coleta de esgoto e a construção do calçadão e via paisagística.

Fonte: Paulo Roberto F. G. da Silva, 2010.

A idéia é a de que a comunidade local participe das decisões e que os pescadores continuem no seu ambiente. A previsão do governo municipal é de que serão construídas 1.434 habitações, distribuídas em quatro conjuntos, efetuada a regularização fundiária de seis mil famílias e a melhoria habitacional de outras quatro mil, além da construção de 5,5 km de via estruturante e paisagística, com iluminação, calçadões e ciclovias e a reforma e melhoria dos espigões para garantir a preservação da área, criando um ancoradouro para as pequenas embarcações. A obra deverá beneficiar diretamente cerca de 13 mil pessoas. O projeto deverá beneficiar cerca de 10 mil famílias com obras de habitação e requalificação urbana e ambiental.

O Projeto Vila do Mar, que faz parte do Plano de Metas de Fortaleza (Plamefor), divide-se em dois eixos: habitação e urbanização. A habitação compreende os estágios de reassentamento, melhorias habitacionais e regularização fundiária. Ou seja, além de garantir

uma moradia digna à população dos bairros Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu, o projeto viabiliza aos moradores a posse regularizada das casas. Já a urbanização trata de inúmeras ações que visam à adequada estruturação do local, incluindo, dentre outros, a construção de áreas de esporte, de espaços de geração de renda e de praças, recuperação de espigões e recomposição da faixa de praia através da contenção marítima.

O processo de desapropriação e a especulação imobiliária previstos com a implantação do Projeto Vila do Mar poderão destruir a identidade destas comunidades litorâneas, descarcaterizando-as e afetando todo sistema de subsistência estabelecido entre elas e o ambiente local.