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2. EDUCAÇÃO BILÍNGUE/ PEDAGOGIA DE SURDOS

3.4 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM (AVA) TRANSPASSADOS PELA E-

De fato, as tecnologias interativas possibilitam o surgimento de diversos processos de ensino e aprendizagem por isso, faz-se necessário realizar uma passagem pela educação à distância (EAD) para compreender os aspectos que compõem os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Sobre a EAD Berg (2013, p. 37) afirma que “é uma modalidade de ensino aprendizagem empregada para dar acesso à educação longe de um centro físico, presencial, de ensino”. Isto significa que, o conceito de presencialidade é alterado assim como o conceito de curso e de aula, pois ocorre a flexibilização do tempo e do espaço. Diante disso, Gabardo, Quevedo e Ulbricht (2010, 65-66) dissertam que,

Considerando o grande desafio de educar e, principalmente, o de educar a distância, torna-se imperativo que as instituições de ensino, independente de sua natureza, trabalhem em projetos de Educação a Distância focados na mudança de paradigmas e no surgimento de uma nova cultura sobre essa modalidade de ensino, que se apresenta como tendência consolidada em um processo irreversível.

Concordando com os autores, é imperativo desvincular as práticas da educação a distância do modelo educacional ligado a lógica da lei da inércia, da repetição, dos processos reativos. Para Santos (2002a, p. 116) as práticas tradicionais da EAD,

[...] os materiais ou recursos tecnológicos configuram-se como elementos auto-suficientes, tornando-se o centro de todo o processo, a exemplo, destacamos a limitação das interfaces atômicas e analógicas – impressos, TV, vídeos – utilizadas para distribuir informações em massa.

Essa autossuficiência fortalece a relação com a fragmentação, a comunicação unilateral e a descontextualização. Nesse interim, com o surgimento da ubiquidade computacional, que evoca o apagamento da distância, emergem novos paradigmas da aprendizagem, pois, de acordo com Santaella (2013, p. 297), “[...] um dos aspectos mais primordiais das mídias digitais encontra-se na abolição da distância e na paradoxal simultaneidade da presença e ausência, presença ausente, ou ausência presente que essas mídias ensejam”. O

interessante é que esses paradigmas vão de encontro a lógica da distribuição e a tendência da educação tecnicista seguindo o caminho de novas práticas curriculares.

Assim, apresentamos o modelo educacional intitulado e-learning, educação on-line ou Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) que busca contemplar a aprendizagem significativa, colaborativa e contextualizada contribuindo para o enfraquecimento da pedagogia da transmissão. Segundo Santos (2002b, p. 426) o “ambiente virtual é um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem, potencializando, assim, a construção de conhecimentos, logo, a aprendizagem”. Isto implica, portanto, no surgimento de processos criativos, sociabilidades e aprendizagens, como afirma Santos (2002b, p. 427):

As possibilidades de comunicação todos-todos caracterizam e diferem os AVA de outros suportes de educação e comunicação mediadas por tecnologias. Através de interfaces, o digital permite a hibridização e a permutabilidade entre os sujeitos (emissores e receptores) da comunicação.

Os AVA, portanto, possibilitam a ressignificação do conceito de autoria em que o indivíduo não fica mais preso a linearidade própria da tecnologia do livro tornando-se participativo e operativo. Gabardo, Quevedo e Ulbricht (2010) realizaram uma pesquisa comparativa entre AVA e detectaram que dentre as plataformas mais empregadas no ensino superior temos: TelEduc, AulaNet, Amadeus, Eureka, Moodle, e-Proinfo, Learning Space e WebCT. Esse estudo resultou na seguinte análise dos AVA:

Quadro 1 - Análise dos AVA: Primeira Parte

Plataforma Sistema De Distribuição Princípios Pedagógicos Aprendizagem Colaborativa

Tel Educ

Pode ser redistribuido ou modificado nos termos da GPL (General Public License)

Não informa Grupos de discussão

Edu web/Aula

net Disponibilizado gratuitamente Não informa Propõe atividade colaborativa

Amadeus

Pode ser redistribuido ou modificado nos termos da GPL (General Public License)

Orientado por teorias construtivistas ou sócio- interacionistas do desenvolvimento humano

.Fórum Wiki .Jogos multi-usuários (resolução colaborativa de problemas)

Eureka Desenvolvido para comunidade

acadêmica da PUCPR Não informa

.Propõe atividade colaborativa .Fórum e Listas de discussão

e-Proinfo Disponibilizado para Entidades e

Instituições conveniada Proposta colaborativa

.Fórum de discussão .Banco de projetos .Estatística de atividade dos alunos

Moodle

Pode ser redistribuido ou modificado nos termos da GNU (General Public License

Proposta colaborativa .Fórum de discussão .Gestão de conteúdos .Blogs .Wikis

WebCT Software proprietário provedor de

elearning para instituições de ensino Não informa

Oferece ferramentas educacionais que auxiliam o aprendizado, a comunicação e a colaboração

LearningSpace

Pode ser redistribuido ou modificado nos termos da GNU (General Public License)

Proposta colaborativa .Fórum de discussão .Chat .Avisos .Estimula uso de redes sociais

Quadro 2 - Análise dos AVA: Segunda Parte

Plataforma Interatividade Multimídia Usabilidade Acessível

Tel Educ

.Correio eletrônico .Mural .Portfólio .Diário de bordo .Bate-papo .Enquetes

Não informa .Facilidade de uso ; .Não acessível a defic. auditivo e visual

Edu web/Aula

net Não informa Não informa

.Explica uso, mas texto é “cortado” na primeira tela e barra de rolagem não funciona

.Não acessível a defic. auditivo e visual

Amadeus

.Chat .Discussão síncrona .Micromundos (ambientes síncronos)

.Vídeo .Recursos web 2.0

.Informação parcial de uso

.Não acessível a defic.audit. e visual .só avança com login e senha

Eureka .Correio eletrônico

.Oferece áudio com o texto

.Facilidade de uso .Explicativa quanto ao uso

.Não acessível a defic.audit. .Parcialmente acessível ao deficiente visual (só áudio, sem leitor de tela)

e-Proinfo

.Tira-dúvidas .Diário .Biblioteca .Correio eletrônico .Chat

Não informa .Links não funcionam .Não explicativa quanto ao uso

Não acessível a defc.auditivo e visual

Moodle .Vídeo-conferência

.Certificados digitais .Não informa

.Permite acesso ao visitante .Oferece ferramenta p/defic. Visual

Parcialmente acessível p/defc.visual (com leitor de tela)

WebCT

.Chat .Sistema de conferência .Correio eletrônico

Não informa .Exige cadastro de acesso ao ambiente

Não acessível a defic. auditivo e visual

LearningSpace

.Utiliza redes sociais da web como ferramenta de interação

.Vídeos .Recursos web 2.0

.Explicativa quanto ao uso .Possui fóruns sobre funcionalidades

Afirma cumprir diretrizes de acessibilidade do W3C

Vale destacar que, não se tem a pretensão de esmiuçar cada AVA apresentado, mas destacar algumas informações. Em consoante com os autores, por exemplo, há uma crescente preferência pelo Moodle, pois já é utilizado em 206 países e com 47.000 sites instalados registrados. Percebe-se que, mesmo sendo o AVA mais popular a questão da acessibilidade ainda é pouco considerada (assim como nos demais) e as multimídias disponíveis não estão claras.

Nesse contexto, é válido frisar a importância de um ambiente que acolha as diferenças para que os usuários possam alcançar a construção de conhecimento significativo. À vista disso, Santos (2002b, p. 432) sustenta que, “cada sujeito na sua diferença pode expressar e produzir saberes, desenvolver suas competências comunicativas, contribuindo e construindo a comunicação e o conhecimento coletivamente”. Sendo imprescindível comentar que, a Universidade Federal de Santa Catarina utiliza a plataforma Moodle para o curso de Letras- Libras a distância, assim como o núcleo de Inovação em Tecnologias Educacionais do SENAI, da Bahia, que criou o AVA-PDA (Ambiente Virtual de Aprendizagem para Pessoas

Fonte: Gabardo, Quevedo e Ulbricht (2010, p. 79)

com Deficiência Auditiva). O que suscita a discussão sobre as contribuições de AVA bilíngues para surdos, como dissertam Quevedo, Vanzin e Ulbricht (2014, p. 297):

Enquanto no Brasil discute-se a inclusão do surdo na sala de aula presencial de maioria ouvinte, com um lugar destinado ao intérprete do que o professor fala para a língua de sinais, os cursos de EAD disponibilizados em duas línguas, português e de sinais, podem oferecer ao aluno surdo conforto na aprendizagem e compartilhamento com os colegas ouvintes, contribuindo de modo inimaginável para a melhoria da qualidade de vida da pessoa com surdez.

É importante frisar que, as características desses AVA serão discutidas na seção referente ao Stood-On, mas independente da arquitetura utilizada é necessário ainda realizar uma reflexão acerca desses espaços serem além de um repositório de informações ou lugar de práticas instrucionistas que não implicam no agenciamento e participação do estudante. Desse modo, Santos (2002b, p. 429) concebe “o ciberespaço como um AVA que é uma organização viva, em que seres humanos e objetos técnicos interagem num processo complexo que se auto-organiza na dialógica de suas redes de conexões”. Assim, os ambientes virtuais de aprendizagem precisam privilegiar a comunicação personalizada, interativa e cooperativa possibilitando a imersão e atuação do indivíduo.

Desse modo, os AVA estão evoluindo com o advento da mobilidade possibilitando o consumo em deslocamento, pois devido a “a possibilidade de estarmos conectados a qualquer tempo e em qualquer lugar (ubiquidade), os AVA são reconfigurados como ambientes móveis mais acessíveis” (WEBER; SANTOS, 2013, p. 170). Antes de tratarmos sobre essa questão iremos esclarecer a questão da aprendizagem móvel (m-learning). Segundo Santaella (2013, p. 299):

Esse tipo de aprendizagem é facilitado pela convergência midiática da internet, redes sem fio, equipamentos móveis e sistemas de e-learning. Nesse contexto, esta é entendida como recursos para a educação que podem fazer o aprendizado chegar a quaisquer lugares [...] Com as facilidades de acesso e comunicação móvel, o aluno pode aprender a todo momento, colocar em prática o que aprendeu e trocar experiências de aprendizado de forma inédita.

A m-learning, desta forma, surge no momento em que a educação online soma-se com a mobilidade sendo “um programa de educação formal em que um aluno aprende, pelo menos em parte, através da entrega online de conteúdos e instrução, com algum elemento de controle do aluno sobre o tempo, lugar, caminho e/ou ritmo” (STAKER & HORN, 2012, p. 3 apud

ROSA; AZENHA, p. 64, 2015). Esse paradigma oportuniza o acesso contínuo e contribuindo para que ocorra uma mudança na participação e no comportamento dos usuários. Assim, de acordo com Rosa e Azenha (p. 60, 2015) a aprendizagem móvel “mantém seu foco no resultado, ou seja, a aprendizagem, sem especificar o local onde ela se dará: em qualquer lugar”. Para tanto, professores e estudantes devem apropriar-se desse artefato e suas interfaces para que a linguagem digital se torne mais “palpável”.

Então, a m-learning evoca um modo mais flexível e menos centrado em um tempo e espaço. Sobre essa questão Weber e Santos (2013, p. 171) dissertam que

[...] esses AVA são hoje redimensionados pela possibilidade dos usos de dispositivos móveis e do digital em rede, num contexto em que é possível acessá-los em movimento, criando condições para uma aprendizagem mais flexível e menos centrada num espaçotempo.

Diante disso, os ambientes virtuais de aprendizagem passam a explorar essas novas formas de acesso e conhecimento. Esses espaços contribuem para a constituição de novas práticas comunicacionais pautadas na co-autoria, no compartilhamento e na interatividade. Nesse interim, Santos (2002b, p. 430) alerta que:

Não basta apenas criar um site e disponibilizá-lo no ciberespaço. Por mais que o site seja hipertextual, é necessário que seja interativo. É a interatividade com o conteúdo e com seus autores que faz um site ou software se constituir como um AVA.

Com efeito, esse contexto educacional requer uma redefinição da atuação de professores e estudantes em que cada vez mais a aprendizagem acontece na relação dos sujeitos com as culturas. E ainda, é preciso ter a percepção que os AVA não são simplesmente ferramentas tecnológicas, mas interfaces que favorecem a criação coletiva compondo diversas conexões de informação e comunicação. Santaella (2013) evidencia ainda que, está surgindo um nova forma de aprendizagem que abre possibilidades de complementaridade e de desafios de integração da educação formal com a informal chamada aprendizagem ubíqua. Ela propicia um tipo de aprendizado aberto (um processo espontâneo, inadvertido, mediado através de um dispositivo de conexão contínua) que pressupõe uma aprendizagem sem ensino, como veremos a seguir.