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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.7. DA ANÁLISE DOS DADOS

4.7.4. Análise dos Resultados da Segunda Fase – Primeira Etapa

Os estudantes permaneceram divididos nos mesmos grupos da atividade anterior em sala de aula. Percebeu-se que, participaram dos diálogos nos vídeos postados nove surdos e um ouvinte. Essa predominância pode indicar que, ao poder utilizar livremente sua primeira

65 Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas Fonte: Dados do pesquisador

língua na atividade, os estudantes surdos sentiram-se à vontade para assumirem o lugar de protagonistas nesse espaço. Para Rosa (2011, p. 143),

O reconhecimento e a valorização da língua de sinais é um processo ligado à descolonização de saberes que até então eram manipulados pelo restante da sociedade falante da língua oral. É preciso descolonizar o surdo e dar-lhe a possibilidade de interagir com o mundo usando a língua de sinais, possibilitando inúmeras associações culturais e linguísticas, possibilitando integrar-se naturalmente ao meio social (ROSA, 2011, p. 143).

Sobre os ouvintes, a observação em sala de aula dá uma pista que pode nos ajudar a entender a “invisibilidade” nos videos do grupo do facebook: quando ocorria a socialização de atividades nas aulas, por exemplo, esses estudantes preferiam que os surdos as realizassem, refletindo a insegurança diante dessa modalidade linguística. Sobre essa questão Gesser (2012, p. 76-77) disserta que,

Sandra, aluna do curso de LIBRAS intermediário, tinha uma habilidade em sinais notada por todos [...] ao reforçar que o contato com o surdo é indispensável – e disso não discordo - vale a pena refletir sobre sua visão de falante de línguas: “Ninguém percebe que sou ouvinte, tem surdo até que

pensa que sou surda”. Ou seja, ela dá a impressão de que, para aprender

outro idioma, temos de ser igual ao outro, ou ainda produzir num padrão de referência ideal, puro, sem qualquer traço que nos identifique como “estrangeiros”.

Isto demonstra que, o contexto do processo de ensino e aprendizagem de língua de sinais, como segunda língua, é bastante complexa e depende da relação que os estudantes ouvintes têm com essa modalidade e a comunidade surda. O interessante é que eles tiveram a oportunidade de vivenciar, assim como os surdos, as tensões, ansiedades e frustrações enfrentadas ao aprender uma segunda língua. É válido comentar que, essa questão será melhor explicitada durante a análise do questionário final (aplicado após essa atividade).

Figura 2- Interação dos participantes

Observou-se ainda, quanto a interação, que o principal recurso utilizado foi o “curtir” enquanto que, os comentários – quando ocorreram – foram tímidos. Lembrando que, os informantes surdos assinalaram no questionário como funcionalidade preferida o “bate-papo” com 25%, seguido pela “postagem de vídeos e imagens” (19%), “curtir” (19%), “comentar” (13%), “calendário” e “compartilhar” (com 12% cada). Isto não implica simplesmente na falta de uso desses recursos ou alguma incoerência entre os dados estatísticos e a atividade porque fora do grupo os surdos exploravam incessantemente essas funções.

Então, o uso modesto dessas funcionalidades está intrinsecamente ligada a forma como o professor propõe o conhecimento. Conforme Silva (2009, p. 95) “a participação do aprendiz inscreve-se nos estados potenciais do conhecimento proposto pelo professor, de modo que ambos evoluam com coerência e continuidade em torno dos objetivos de aprendizagem planejados [...]”. Isto posto, identificou-se com relação ao docente, a ausência de provocar situações de inquietações para incitar a criatividade e maior aproveitamento das diferentes linguagens midiáticas e recursos disponíveis.

Não podemos deixar de explanar que, levando em consideração os dados do questionário inicial, o professor teve durante sua formação apenas uma disciplina relacionada a tecnologia e educação (Educação de Surdos e Novas Tecnologias) assim, ter apenas esse contato não contempla as complexidades dos debates acerca do tema o que pode gerar algumas limitações pedagógicas.

Apesar disso, o grupo no facebook apresentou-se como possibilidade de um ambiente educacional bilíngue, pois as informações transitaram tanto em língua portuguesa quanto em língua de sinais.

Figura 3 - Fonte: Dados do pesquisador

Figura 3 - Ambiente Bilíngue

O uso dessas modalidades linguísticas fortalece a instauração de espaços de negociação, pois o surdo não precisa mais negar quem ele é já que passa a ter acesso a performatividade fortalecendo, desse modo, a questão da alteridade e da diferença. É válido comentar que, enquanto que, a função “comentar” foi pouco utilizada pelos estudantes, o professor explorou bastante esse recurso como forma de incentivar a participação.

Nesse sentido, o papel do docente fundamental, pois procurou contribuir para a constituição de um espaço motivador relacionando as postagens com tema, valorizando a criatividade e a produção colaborativa. Por outro lado, a circulação das duas línguas nem sempre garante que irá ocorrer a aprendizagem, pois notou-se que o professor precisava atentar-se para o desenvolvimento de uma postura comunicacional voltada para a interatividade, a co-autoria e a criatividade. Nesse caso, é necessário construir, portanto, uma docência interativa a maneira do hipertexto, ou seja, é imprescindível repensar os métodos de ensinar pautados na pedagogia da transmissão.

Nesse contexto, os estudantes e o professor tinham liberdade para apropriarem-se desse espaço do jeito que fosse mais interessante, pois como já foi dito, a pesquisadora e os componentes da equipe de desenvolvimento do Stood-On atuaram apenas como espectadores. Desse modo, o docente aproveitou o facebook para divulgar informações sobre a disciplina.

Figura 4 - Compartilhamento de informações

Para se ter uma noção da amplitude de acesso a esses informes observou-se o recurso visualização em que cada postagem teve, em média, 13 a 15 “visitas”. Isso demonstra que, mesmo não explorando tanto as funcionalidades disponíveis os estudantes estavam “presentes” através de interações reativas, pois “uma vez adicionado um indivíduo, ele ali permanece independentemente da interação para manter o laço social” (RECUERO, 2009, p. 98). Vale ressaltar que, esse tipo de interação é característica das redes de filiação da internet66 em que as conexões são mais estáticas e estáveis, mas com repercussão social.

Essa contextualização é imprescindível, pois o estado mais “imóvel” pode ser entendido, equivocadamente, como a inexistência de laços ou capitais sociais quando, na realidade, esse tipo de rede associativa tende a ter uma dinâmica com menos mudanças, rupturas e a constituição de grupos maiores que das redes emergentes, por exemplo. Então, com estímulos a práticas comunicacionais interativas, de colaboração, de compartilhamento e com mais tempo para realizar outras atividades no facebook poderíamos apresentar, de forma mais evidente, os aspectos da rede social emergente que é centrada nas interações, no constante (des) atar dos nós, no capital relacional e no sentimento de pertencimento que poder fortalecer o “sentir-se parte” do estudante surdo. Nesse ínterim, é notório que a aprendizagem pautada apenas na emissão perde terreno, como reforça Sousa (2010, p. 47),

[...] as tecnologias de comunicação integradas às tecnologias de Informação criam uma nova sociedade, novos ambientes de trabalho, novos ambientes de aprendizagem, um novo tipo de aluno que precisa de um novo tipo de professor. As práticas de aprendizagem baseada na Internet, permitem promover a aprendizagem como um processo colaborativo e flexível.

66 Essas redes podem, entretanto, mostrar laços já estabelecidos pelos atores envolvidos em outros espaços, mas não necessariamente através da Internet. Além disso, essas redes mostram uma rede que não é alterada pelo acréscimo ou decréscimo das interações e valores trocados, mas que pode agregar valor à rede social e gerar capital social. (RECUERO, 2009, p.98)

Diante dessas dinâmicas, proporcionadas pelas mídias digitais, descortinam-se novos espaços de comunicação, criação e circulação de sentidos que requisitam mediações diferenciadas, ou seja, novas práticas pedagógicas. E esses ambientes digitais cada vez mais flexíveis e interativos chamam a atenção dos estudantes surdos. O interesse foi detectado, principalmente, ao observar o resultado dos videos postados, pois foram cuidadosamente editados (com efeitos nas passagens entre os diálogos, por exemplo) possuindo, inclusive, legenda para os não fluentes em língua de sinais. Visto isso, é relevante atentar para a atitude dos surdos em oportunizar aos colegas ouvintes a acessibilidade e ainda a facilidade do uso dos recursos.