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A americanização das Forças Armadas

No documento 2007AnaPaulaLimaTibola (páginas 33-37)

I ESG E ORIGENS: A modernização das Forças Armadas

1.4 A americanização das Forças Armadas

Após as experiências alemã e francesa, chegou a vez de receber os norte- americanos. Em 1939 o Brasil comprava armamento da Alemanha, com quem estabelecia relações cordiais, assim como com as outras potências do Eixo. O exército alemão, de cultura prussiana, era tido por Góis Monteiro como modelo. Do ponto de vista militar, o contato com os Estados Unidos, que já se dava desde 1937, aprofundou-se quando o general George

47CARVALHO. José Murilo de.Forças Armadas e Política no Brasil.Rio de Janeiro: Jorge Zahar ED., 2005; p.

56.

48PINTO, Sérgio Murillo. “A doutrina Góis”. In: PANDOLFI, Dulce Maria (org.).Repensando o Estado Novo.

Marshall, então subchefe do Estado Maior norte-americano chegou ao Brasil em maio de 1939.

O general norte-americano se encontrou com Góis e o alertou sobre a iminência de uma guerra mundial frente à situação na Europa. Percebendo uma falência no aparato militar brasileiro caracterizado pelo despreparo da tropa e pelo armamento obsoleto, Marshall contestou as importações bélicas feitas à Alemanha. Marshall propôs, então, que fosse enviada aos Estados Unidos uma missão militar a fim de aperfeiçoar as Forças Armadas brasileiras, diante do anunciado conflito mundial.

O general Marshall regressou aos Estados Unidos juntamente com uma comitiva composta de oficiais brasileiros. A missão contou com o general Góis Monteiro, o coronel Canrobert Pereira da Costa, os majores José Machado Lopes e Agnaldo Caiado de Castro e os capitães Orlando Eduardo da Silva e Ademar José Alvarez da Fonseca. Depois dessa, outras missões foram enviadas aos Estados Unidos com o objetivo de se atualizarem em cursos e terem contato com o que havia de mais moderno em armamento militar. Embora o Brasil já tivesse enviando militares aos EUA antes de 1939, a visita de Góis Monteiro aos

College

Wars

norte-americanos foi importante para a americanização das Forças Armadas brasileiras. O general brasileiro, admirador do exército alemão, ficou impressionado com poderio militar dos Estados Unidos. Góis chegou a aconselhar o governo brasileiro a estabelecer “maior estreitamento de suas relações comerciais, culturais e militares com aquele país”.

A primeira guerra eclodiu em setembro de 1939. Depois de diversas negociações, o Brasil rompeu relações com as potências do Eixo, atendendo aos Estados Unidos e contrariando a vontade da Argentina de compor um bloco sul americano independente dos da América Central e da América do Norte. Em 1944 o Brasil formou a Força Expedicionária Brasileira, a FEB. A experiência da FEB aprofundou as relações entre as Forças Armadas brasileiras e norte-americanas. As Forças Armadas brasileiras entraram em contato com a doutrina militar norte-americana e passaram a se guiar pelo conceito de

guerra total

. Em 1945 foi criada a Junta Interamericana de Defesa (JID). Segundo a ESG:

“A Junta Interamericana de Defesa nasceu em conseqüência d envolvimento do Hemisfério Ocidental na II Guerra Mundial. (...) como resultado do ataque japonês a Pearl Harbor, a Resolução I da 3a. Reunião de Consulta (Rio de

Janeiro) recomendou aos Governos Americanos a constituição de uma comissão de técnicos militares nomeados pelos respectivos governos, para estudar e sugerir as medidas necessárias à defesa do Continente. Assim, dessa recomendação surgiu a JID, reunindo pela primeira vez representantes das forças armadas das Repúblicas Americanas, em Washington, DC, em 30 de março de 1942.”49.

O estreitamento com os EUA influenciou a conspiração contra Getúlio Vargas em 1945. A participação das tropas brasileiras na Segunda Guerra, apoiando a derrubada do totalitarismo na Europa, questionava a continuidade da ditadura de Vargas. Para alguns setores militares, o ditador tramava sua continuidade no poder. Após a deposição de Vargas em 1945, a grande discussão era acerca da questão do petróleo. O alinhamento com os Estados Unidos marcou uma divisão dentro das Forças Armadas brasileiras, explicitada dentro do Clube Militar50. As eleições dentro do Clube Militar passaram a ser disputadas entre dois grupos distintos, os “nacionalistas” e os “entreguistas”.

A “corrente nacionalista” defendia uma política externa independente e o monopólio estatal do petróleo. Para os “nacionalistas” as riquezas minerais do país deveriam ser exploradas pelo Estado. Entre os adeptos do “nacionalismo” destacavam-se os generais Estillac Leal e Horta Barboza, o primeiro presidente do Conselho Nacional do Petróleo.

A outra corrente era chamada pelos opositores de “entreguista”. Era considerado o grupo mais conservador. Esse grupo tinha como principais nomes os generais Juarez Távora e Cordeiro de Farias, além dos então coronéis Humberto de Alencar Castelo Branco e Golbery do Couto e Silva. A denominação “entreguistas” surgiu devido ao fato de estes militares defenderem a participação do capital estrangeiro na exploração do petróleo brasileiro. Juarez Távora alegava a falta de condições técnicas, administrativas e financeiras para tal empreendimento, considerando, assim, outras formas de recursos que pudessem custear a empresa. Durante o governo Dutra, o Brasil continuou se aproximando dos EUA e, em 1947 foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). Segundo a ESG:

“O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o TIAR (Rio de Janeiro, 1947), consolidou o sistema interamericano de segurança coletiva de nosso

49Curso de Estado-Maior e Comando das Forças Armadas.Órgãos Combinados.Escola Superior de Guerra,

1966. C2 – 22 66; p. 43.

50Foi fundado em 26 de junho de 1887, no Rio de Janeiro e derivou, principalmente, dos conflitos da chamada

hemisfério, na forma do art. 51 da Carta da ONU Pelo art. 4º do TIAR ficou delimitada a ZONA DE SEGURANÇA.”51.

As disputas entre “nacionalistas” e “entreguistas” acirravam-se. Apesar do fim da ditadura do Estado Novo abrir a discussão pra sociedade, o maior embate se dava dentro do Clube Militar, principalmente pela questão do petróleo. Para os militares, o petróleo era uma questão de Segurança Nacional.

Outro conflito que envolveu as duas correntes resultou da divergência de opiniões a respeito da Guerra da Coréia. Enquanto a ala nacionalista criticava a intervenção dos EUA, e, principalmente do Brasil no território coreano, os mais conservadores requisitavam o apoio aos norte-americanos. A Revista do Clube Militar, dirigida neste momento pelos nacionalistas, passou, então, a publicar artigos que condenavam as atuações norte-americanas na Coréia.

A discussão sobre a Guerra da Coréia aumentou os atritos entre os “entreguistas” e os “nacionalistas”. Os “entreguistas” passaram a denunciar uma possível relação entre os nacionalistas e o comunismo. Com o objetivo de conseguir a presidência do Clube Militar e mudar a linha editorial da Revista, os “entreguistas” organizaram a Cruzada Democrática. A Cruzada Democrática venceu as eleições em 1952 e passou a perseguir os “nacionalistas” a quem julgavam ter inspirações comunistas. Em posse da presidência do Clube militar, a Cruzada Democrática conseguiu desarticular os “nacionalistas”.

Nesse clima surge a Escola Superior de Guerra (ESG), que acabou por reunir em seus quadros o grupo da Cruzada Democrática. Com um estudo mais aprofundado da Escola e da sua doutrina perceberemos que, a partir da visão dos militares, a denominação “nacionalista” e “entreguista”, usada freqüentemente para caracterizar os grupos opostos das Forças Armadas, se mostra incoerente. Pretendemos evidenciar com o presente trabalho o que a Escola entende por

nacionalismo

. Além disso, considerando que o alinhamento com os norte-americanos foi o que atribuiu a referencia “entreguista” para a ESG, procuramos entender como a Escola concebe as relações entre o Brasil e os EUA.

51Curso de Estado-Maior e Comando das Forças Armadas.Órgãos Combinados.Escola Superior de Guerra,

II ESG E DOUTRINA: Fundação da Escola e desenvolvimento da doutrina

No documento 2007AnaPaulaLimaTibola (páginas 33-37)