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4.2 O que é a Alfabetização Midiática e Informacional – AMI

4.2.1 A AMI nos documentos da UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, desenvolveu a Alfabetização Midiática e Informacional para garantir à sociedade o direito à informação, à comunicação, à educação e à cultura, visto que esses direitos seriam básicos para a manutenção da paz mundial.

Também foi embasada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)9, esboçada principalmente pelo canadense John Peters Humphrey, e adotado pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, principalmente na previsão contida em seu artigo 19, que a UNESCO desenvolveu a AMI em defesa dos direitos humanos básicos.

Artigo 19° – Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. (PARIS, 1948)

A atual preocupação da UNESCO reforça o que o seu primeiro presidente, Sr. Julian Huxley (1946-1948), no documento intitulado, Unesco: It’s Purpose And It’s Philosophy, já previa. A Organização deve possuir uma filosofia, na qual prevaleça o humanismo evolucionário para que sua atuação esteja em acordo ao tempo e ao modo de viver da sociedade. Tal filosofia também foi fortemente defendia pelo sociólogo Bauman, que, em Medo Líquido (2008), apresenta a ideia de que no mundo pós-moderno a sociedade estaria propensa

9 Documento traduzido e disponível na íntegra, em PDF no seguinte endereço eletrônico:

78 à diversas mudanças, rápidas e imprevisíveis, sendo dever do Estado, enquanto soberano, se adequar a tal fluidez na garantia dos direitos fundamentais.

O forte crescimento do Estado neoliberal, ou pós-moderno para alguns autores, no qual se vislumbra o intenso uso das tecnologias, das mídias digitais, das tecnologias de informação e comunicação, ou seja, de todo um ciberespaço que transformou a sociedade em uma teia global, impondo-a a uma cultura midiática fortemente caracterizada pelo empresariamento de si mesmo, despertou na Organização a necessidade de avançar no conceito e modo de alfabetização.

Na tentativa de apresentar o conceito, as noções básicas, atores, requisitos de implementação, formas de avaliação, como formar professores, o que deve ser ensinado em sala de aula, entre outros aspectos relevantes da Alfabetização Midiática e Informacional, a UNESCO desenvolveu, mediante a contribuição de todos os seus Estados-membros, documentos com tais orientações a serem seguidas por seus Estados, permitindo que cada um se atentasse para as suas individualidades e especificidades.

Já traduzidos para o português, o Brasil pode se valer de três documentos para incorporar a Alfabetização Midiática e Informacional como política pública, sendo assim intitulados: Alfabetização Midiática e Informacional: Currículo para formação de professores10 (2013), Alfabetização Midiática e Informacional: Diretrizes para a Formulação de Políticas e Estratégias11 (2016), Marco de Avaliação Global da Alfabetização Midiática e Informacional: Disposição e Competências do País12 (2016).

O primeiro documento, dividido em duas partes, cuja parte 1 denominada por Matriz Curricular e de Competências, e a parte 2 denominada por Módulos centrais e módulos complementares, demonstra inicialmente a unificação das noções de alfabetização midiática e informacional, os benefícios e requisitos da AMI, os principais tópicos do currículo de AMI para a formação de professores, a matriz curricular e uma visão política, o conhecimento sobre a mídia e a informação para um discurso democrático com a participação social, a avaliação midiática e informacional, a produção e uso das mídias, as competências centrais dos professores e as pedagogias para o ensino e aprendizagem da AMI.

10 Documento disponível na integralidade, em PDF no endereço eletrônico:

http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002204/220418por.pdf. Acesso em 18/01/2017.

11 Documento disponível na integralidade, em PDF no endereço eletrônico:

http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002464/246421POR.pdf. Acesso em 18/01/2017.

12 Documento disponível na integralidade, em PDF no endereço eletrônico:

79 A segunda parte, um compêndio de artigos, é composta por nove módulos centrais: cidadania, liberdade de expressão e informação, acesso à informação, discurso democrático e aprendizagem continuada; notícias e ética midiática e informacional; a representação nas mídias e na informação; linguagens nas mídias e na informação; publicidade; novas mídias e mídias tradicionais; oportunidades e desafios da internet; alfabetização informacional e habilidades no uso de bibliotecas; e comunicação, AMI e aprendizagem – módulo de recapitulação.

Além desses módulos centrais, a segunda parte do primeiro documento ainda é composta por cinco módulos complementares: o público; mídia, tecnologia e aldeia global; edição digital e retoques computacionais; planos e ângulos de câmera – a transmissão de significados; a publicidade transnacional e as “supermarcas”.

Já o segundo documento, também é dividido em duas partes, sendo a primeira um resumo sobre as políticas públicas da AMI, e a segunda se compõe de diretrizes para a formulação de políticas e estratégias da AMI.

Nesse documento, a UNESCO se preocupou em descrever detalhadamente desde o marco teórico de desenvolvimento da AMI, o seu conceito composto, quais os potenciais benefícios e beneficiados da AMI, como decorreria a formulação de políticas da AMI, como seriam desenvolvidas as estratégias para a AMI, a AMI como um diálogo intercultural, entre outros aspectos.

Quadro 5 – AMI: Diretrizes para a Formulação de Políticas e Estratégias Alfabetização Midiática e Informacional:

Diretrizes para a Formulação de Políticas e Estratégias

Parte 1

1. A importância de políticas e estratégias da alfabetização midiática e informacional na era digital;

2. A AMI como um conceito composto;

3. Benefícios das políticas e estratégias da AMI;

4. Marco teórico/de desenvolvimento para as políticas e estratégias da AMI;

5. Desenvolvimento de políticas da AMI;

80 7. Referências Bibliográficas.

Parte 2

 Capítulo 1: Alfabetização midiática e informacional como um conceito composto: maior impacto no desenvolvimento;

 Capítulo 2: Marco teórico/de desenvolvimento para políticas e estratégias da AMI;

 Capítulo 3: Formulação de Políticas da AMI;

 Capítulo 4: Desenvolvimento de estratégias da AMI;

 Capítulo 5: Alfabetização Midiática e Informacional como diálogo intercultural: uma síntese crítica;

Elaborado pela Autora

O terceiro documento, destinado à importância da avaliação da AMI, foi dividido em três capítulos. O primeiro, denominado por A lógica por trás do desenvolvimento do Marco de Avaliação da AMI, apresenta o conceito evolutivo de alfabetização midiática, os atores, benefícios e requisitos da AMI.

Em seu segundo capítulo, Marco de Avaliação da AMI a UNESCO expõe o que é o Marco de Avaliação da AMI, o grau 1, analisando a competência do país, o grau dois analisando as competências da AMI e o valor agregado de tais avaliações integradas.

No último capítulo, Orientações metodológicas para realizar a avaliação da AMI, a UNESCO expõe: os passos para a adaptação nacional do Marco de Avaliação; os modelos estatísticos para mensuração; o sistema de avaliação e seu custo benefício; as orientações técnicas e outras aplicações dos resultados obtidos.

81 Conforme apontado, a UNESCO desenvolveu documentos para garantir aos seus Estados-membros a ampla e eficaz Alfabetização Midiática e Informacional. Para tanto, trouxe em todos os documentos desde o marco teórico de desenvolvimento, a explicação do conceito composto e todas as competências a serem desenvolvidas, quais os requisitos para o Estado desenvolver a AMI, os principais atores dessa nova alfabetização, seus principais benefícios, a forma de avaliação, a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas e, principalmente, como cada Estado-membro identificaria as suas peculiaridades para adequar tais políticas.

Importante notar que todos os conceitos-chave para a compreensão da Alfabetização Midiática e Informacional são reiterados e explicitados nos três documentos, seja através de uma breve passagem, seja com conteúdo mais denso, respeitando sempre seu objeto em destaque.

Por fim, vale ressaltar que em todos os documentos há um Glossário ao final, com as definições de todos os principais termos que nortearam o desenvolvimento da Alfabetização Midiática.