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Embora exista a noção da cultura midiática, e a discussão da importância da disciplina mídia-educação, para garantir que os alunos desenvolvam noções dos quatro conceitos-chave para a correta utilização da tecnologia e desenvolvimento da cultura midiática, sabe-se que as primeiras mudanças devem ser garantidas por políticas públicas.

Desta forma, importante analisar as principais políticas públicas educacionais no Brasil, desde as primeiras previsões como direito fundamental, às mais recentemente desenvolvidas.

Como principal precursor da educação em território brasileiro, difundindo-a por meio de ações missionárias e educacionais, verifica-se a presença dos jesuítas no Brasil em meados do século XVI. Ordem católica intitulada por Companhia de Jesus, fundada em 1534 por estudantes de Paris cujo objetivo, se resumia:

[...] graças à ação dos jesuítas, inicia-se a educação formal no Brasil, dada em escolas, com o objetivo claro de catequizar, mas também de ensinar a ler e escrever e, depois, a cantar e a conhecer um pouco da gramática. (MOTTA, 1997, p. 103)

32 Mas, conforme já salientado, foi no século XVIII que os primeiros direitos, os direitos civis e políticos foram objeto de normatividade, em 1787 com a ratificação da primeira constituição escrita, a Constituição Estadunidense, e 1789, com a Revolução Francesa.

Entretanto, somente no início do século XX, com as constituições do México, e, da Constituição da República de Weimar (Alemanha), que o Estado passou a consagrar os Direitos Sociais.

No Brasil não foi diferente, o Estado brasileiro viu-se compelido a investir em políticas públicas de caráter social, mais especificamente na seara educacional, pois apesar de a Constituição Imperial ser outorgada em 1824, foi somente em 1889 que foi criado o primeiro órgão público com o objetivo primordial de fiscalizar a educação nacional.

Conforme se observa em MOTTA (1997, p. 111):

É neste ambiente de mudanças económicas, sociais e políticas, que se dá a Proclamaçâo da República, a 15 de novembro de 1889, e se cria o Ministerio de Instruçâo, Correios e Telégrafos, instalado imediatamente pelo Ministro Benjamim CONSTANT, um dos ideólogos do positivismo no Brasil e baluarte dos republicanos. Apesar de ter tido urna vida curta, de 1889 a 1891, esse Ministerio fez uma reforma profunda no conteúdo do que era ensinado em nossas escolas, com alterações no currículo de forma a adaptá-lo totalmente à classificaçâo das ciencias de Augusto COMTE, começando pelo Colegio Pedro II, padrâo para aquela época.

Nessa progressão de direitos, já em 1932, ainda sob a égide da Constituição da República de 1891, destaca-se na história da educação brasileira, o Manifesto dos Pioneiros de Educação Nova liderado pelos professores Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Cecília Meireles, entre outros intelectuais preocupados com as mudanças socias e a necessidade de construir um Brasil em que a educação fosse democrática, popular e de qualidade.

Importante reflexão realizada à época foi a criação de um Sistema Nacional para que na forma federalista de governo, o Brasil garantisse uma educação de qualidade e igualitária.

Umas das principais críticas feitas à época se consubstanciava no paradigma do modelo norte-americano de federalismo. Enquanto no Brasil Federativo, o Estado Maior, centralizado, abre mão de sua soberania para os estados-membros, no modelo norte-americano, observa-se que cada Estado possui sua soberania já devidamente consolidada, para somente então a renunciarem em prol de um Estado Maior.

O Manifesto defendia um modelo de escola única, laica, pública, obrigatória e gratuita, apresentando, para tanto uma política educacional com ênfase na descentralização de poderes para sua execução.

33 Esse clamor ficou ainda mais forte no governo do Presidente Getúlio Vargas, momento histórico em que se construía um novo modelo estatal fortemente fundado no pacto centralizador.

O pacto federativo é uma combinação entre autonomia e interdependência, pois, as partes constitutivas da federação, ou seja, as relações intergovernamentais aparentam a inexistência de hierarquia, embora haja nítida discrepância econômica entre eles.

Com a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve a descentralização, universalização e a publicização das responsabilidades dos entes federados em se tratando do direito a educação.

Na constituição em vigor, objeto desta pesquisa, o constituinte se preocupou de tal forma em normatizar expressamente muitos dos direitos e garantias antes propostos pelo Manifesto dos Pioneiros de Educação Nova, que dedicou um capítulo exclusivo à educação (artigo 205 e seguintes), além de reforçá-lo em outras passagens do texto constituinte, vale a transcrição:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1998)

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação. (BRASIL, 1998)

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.(BRASIL, 1998)

Observa-se que desde o Manifesto dos Pioneiros, da normatização de alguns dos objetivos na Constituição de 1988, até os tempos de hoje (2017), busca-se a construção de um sistema nacional de educação, ou seja, um conjunto de todas articulações educacionais em todo o território nacional.

Em razão de tal objetivo ainda não ter se concretizado, criam-se institutos com a função de efetivar políticas públicas educacionais no Brasil, quais sejam: aprovação do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) em 2006; Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica em 1990; Censo Escolar; Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) em 2008; Plano de Ações Articuladas (PAR) em 2007; Prova Brasil e Provinha Brasil em 2005; IDEB (Índice de

34 Desenvolvimento da Educação Básica) em 2007; Secretaria da Articulação dos Sistemas de Ensino (SASE) em 2001; a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96, entre outros.

O que se percebe é a permanente necessidade de criação de políticas públicas educacionais para que medidas educacionais, aprovadas tanto nacionalmente como a título de tratados ou convenções em órgãos internacionais, possuam e garantam a eficácia de todos os direitos fundamentais.

Porém, mesmo com o avanço tecnológico na atual sociedade neoliberal, há muito que se avaliar a respeito da inserção da cultura midiática na vida dos brasileiros, principalmente no que se refere à educação, uma vez que ainda se vislumbra muitas dificuldades para a garantia do acesso à tecnologia, desde professores sem qualquer preparo, técnicos sem pensamento crítico que sequer conhecem os significados da tecnologia, enfim, sem a mínima noção do que sejam as mídias digitais e de como elas interferem na vida em sociedade.