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CAPÍTULO 2 VARIAÇÃO ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ASSEMBLÉIAS

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.4. AMOSTRAGEM DA VEGETAÇÃO

Foram coletados dados relacionados à estrutura da vegetação nos seis sítios estudados na ECFPn. As medidas foram obtidas em todos os pontos de contagem dos censos. Como cada sítio possui 36 pontos de contagem de aves, também foram amostrados 36 pontos por sítio, totalizando 216 pontos de amostragem da vegetação.

Para cada ponto de censo foi estabelecida uma parcela de 10x10 m. Esta parcela foi escolhida através de sorteio, considerando-se um limite de 50 m à frente e 50 m para trás do ponto, próximo à trilha. No centro destas parcelas foram estabelecidas sub-parcelas menores, de 3x3 m. Foram tomadas as seguintes medidas da vegetação, seguindo Borges (2004a): 1) altura estimada da copa em quatro pontos da parcela de 10x10m, utilizando-se, como referência, uma vara com três metros de altura, a fim de facilitar a estimativa visual da altura da copa; 2) densidade e circunferência à altura do peito (CAP) de todas as árvores com mais de 30 cm de circunferência; 3) densidade e circunferência a altura do peito

(CAP) das arvoretas com menos de 30 cm de CAP e com altura superior a dois metros. As classes de circunferência para as árvores com CAP maior que 30 cm foram definidas da seguinte forma: 1) 31-40 cm; 2) 41-50 cm; 3) 51-60 cm; 4) 61-70 cm; 5) 71-80 cm; 6) 81- 90 cm; 7) 91-100 cm; e 8) acima de 100 cm. Para as árvores com CAP de 30 cm ou menos, as classes foram as seguintes: 1) 1-6 cm; 2) 7-12 cm; 3) 13-18 cm; 4) 19-24 cm; e 5) 25-30 cm.

Para as sub-parcelas de 3x3 m, além das medidas de CAP mencionadas acima, também foi obtida a porcentagem de abertura da copa, utilizando-se um esfero- densiômetro (Lemmon 1957). A leitura com o esfero-densiômetro foi feita em seis pontos escolhidos de forma aleatória dentro da sub-parcela. Em cada um desses pontos, a porcentagem de cobertura vegetal foi medida nas quatro direções cardinais (norte, sul, leste e oeste), obtendo-se uma média para cada parcela amostrada. Além disso, foi registrado o número de palmeiras com caule e acaules em cada parcela de 10x10 m. Em Borges (2004a), o número de palmeiras foi registrado apenas dentro da parcela de 3x3 m. Entretanto, como a densidade destas plantas nas florestas de terra firme da ECFPn é bastante baixa (Lisboa et al. 1997), optou-se por registrá-las em toda a parcela de 10x10 m.

Além dessas medidas, avaliou-se a presença de machas de igapó em cada ponto de amostragem dos censos, sendo as medidas quantificadas da seguinte forma: 1) igapó presente num raio de 100 m em torno do ponto; 2) igapó ausente num raio de 100 m.

2.5. ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados referentes aos censos de aves foram inseridos em planilhas do programa Microsof Excel 2000, sendo organizados por espécies e separados de acordo com a expedição de coleta de dados e com o sítio de estudo. Foram preparadas matrizes de dados contendo dados de presença e ausência, de abundância absoluta e de índice de abundância

de cada espécie. Estas matrizes foram construídas para a realização das análises de similaridade, riqueza e abundância de espécies.

As análises de riqueza de espécies de aves foram feitas através do método de rarefação, considerado o mais apropriado para estimar a riqueza de espécies para conjuntos de dados que apresentam diferentes tamanhos amostrais (James & Rathbun 1981). Como o número de indivíduos registrados em cada sítio foi diferente, os resultados das comparações relacionadas à riqueza de espécies poderiam ser afetados por essas diferenças. O método de rarefação reduz os dados da amostra a um nível de abundância comum (mesmo número de indivíduos), corrigindo possíveis erros relacionados ao tamanho amostral (Gotelli & Colwell 2001). Os dados de abundância absoluta das espécies em cada sítio foram inseridos no programa PAST (Hammer et al. 2001) e, em seguida, foi calculado o número de espécies previsto para cada amostra de 10 indivíduos (detecções), bem como o desvio-padrão. Estes valores foram utilizados na construção de curvas de rarefação para cada sítio. Como índice de riqueza utilizou-se o número de espécies esperado para 4.000 indivíduos (E4000), que representa uma aproximação do número

máximo de detecções comuns a todos os sítios. Os valores de E4000 e os respectivos

desvios-padrões foram comparados entre si a fim de verificar se havia sobreposição entre eles. Valores que se sobrepõe indicam que não há diferença significativa na riqueza de espécies entre os sítios. Por outro lado, valores não sobrepostos indicam diferenças significativas entre as amostras comparadas.

Para verificar se os três índices de abundância calculados neste estudo são correlacionados e, portanto, redundantes, as abundâncias relativas de todas as espécies geradas por cada índice, entre sítios, foram correlacionadas utilizando-se o teste de Spermann (rs). As diferenças na abundância relativa para cada espécie e para as diferentes guildas, entre sítios, foi testada através do teste de Kruskal-Wallis.

Para avaliar se existe correlação nos valores de abundância relativa das espécies entre sítios, foi feita uma análise através do índice de correlação de Spearmann (rs). Para tanto, foram consideradas todas as espécies registradas durante os censos. Espécies que não foram registradas em determinados sítios receberam valor de abundância igual a zero.

As espécies incluídas em cada guilda receberam um índice de acordo com a presença ou ausência nos sítios. Espécies registradas em um único sítio receberam nota 1, enquanto que espécies registradas em todos os sítios receberam nota 6. Os valores intermediários referem-se a espécies presentes entre dois a cinco sítios. Cada guilda foi representada por um conjunto de índices de distribuição, de acordo com as espécies incluídas nas mesmas. Estes índices foram comparados através do teste de Kruskal-Wallis, a fim de verificar se existem diferenças na distribuição espacial das guildas na área da ECFPn.

Para a caracterização dos padrões de abundância nos seis sítios estudados, o programa Excel 2000 foi utilizado para construir curvas de diversidade de acordo com a dominância, também denominadas “Whittaker plot” ou “rank/abundance plot”. Este método é o mais empregado e o mais informativo sobre padrões de abundância (Magurran 2004) e permite avaliar se as comunidades amostradas apresentam um padrão de uniformidade ou de dominância. No primeiro caso, a maior parte das espécies exibe valores similares de abundância, enquanto que no segundo caso poucas espécies dominam a comunidade, apresentando valores mais altos. Segundo Magurran (2004), a distribuição dos valores de abundância das espécies é fundamental no processo de determinação de diversidade de uma comunidade. Os padrões apresentados pelas espécies em cada sítio foram avaliados pela ordenação decrescente dos valores. Para testar diferenças nos padrões entre os sítios, foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis. Todas as análises de correlação, bem

como as análises de variância dos testes de Kruskal-Wallis, foram realizadas através do programa BioEstat 4.0 (Ayres et al. 2005).

Para avaliar a similaridade entre os sítios, cuja análise foi baseada na abundância das espécies, foram excluídos os registros que apresentaram identificação duvidosa, ou cuja identificação não foi completa (apenas em nível de gênero), a fim de evitar erros na interpretação dos resultados. Para a análise de diversidade beta, a qual visa caracterizar diferenças na composição entre áreas de diversidade alfa (i.e. medida de complementaridade), foi utilizado o índice de Morisita, comparando-se os índices de abundância de cada espécie por sítio. Em seguida foi realizada uma análise de agrupamento ou “cluster analysis” (Cluster – PGMA), visando representar o grau de similaridade entre as amostras. Essas análises foram realizadas através do programa PAST (Hammer et al. 2001).

Os valores médios das variáveis da estrutura da vegetação foram testados através do teste de Kruskal-Wallis. Para os casos em que as amostras foram significativamente diferentes, foi aplicado o teste de Dunn, a fim de verificar entre quais pares de sítios as medidas diferiram. A distribuição de freqüências entre as classes de circunferência das árvores foi analisada através do teste de Kolmogorov-Smirnov, comparando-se os sítios par a par. Para a análise relacionada a presença de manchas de igapó, foram efetuados testes χ2 para comparação par a par entre os sítios, a fim de verificar entre quais deles as categorias relacionadas a esta variável variavam significativamente. Para os sítios em que o número total em pelo menos uma das categoria foi inferior a 5, foi aplicado o teste exato de Fisher. O programa BioEstat 4.0 (Ayres et al. 2005) foi utilizado para a realização dessas análises.

Foi construída uma matriz de similaridade com base em todas as variáveis da vegetação consideradas neste estudo, utilizando-se como índice a distância euclidiana. A

distância euclidiana é uma medida de distância robusta e amplamente utilizada, na qual os valores são divididos pela raiz quadrada do número de variáveis e a distância é convertida em similaridade pela mudança de sinal (Hammer et al. 2001).

Foram obtidas as distâncias geográficas, em linha reta, entre os centros de cada sítio, através do programa de sistema de informação geográfica ArcView GIS 3.2a (ESRI, 1999). Para avaliar se a similaridade na abundância das espécies está correlacionada com a distância geográfica e com a estrutura da vegetação, a matriz de abundância das espécies, gerada pelo índice de Morisita, foi comparada com a matriz de distâncias e com a matriz de similaridade da estrutura da vegetação, através da aplicação do teste de Mantel com 1.000 randomizações, utilizando-se o programa BIOMstat 3.30q (2002).

3. RESULTADOS

3.1. DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE AVES