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CAPÍTULO 2 VARIAÇÃO ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ASSEMBLÉIAS

2. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO DAS AVES

As causas e fatores que condicionam a distribuição dos organismos podem ser melhor entendidos através de estudos ecológicos e biogeográficos. A maioria das espécies apresenta distribuição restrita, enquanto poucas são cosmopolitas (Novaes 1971, Lomolino et al. 2006). Este padrão também foi constatado neste estudo, pois a maioria dos grupos analisados apresentou média de índice de distribuição inferior a “6”. Exceções foram encontradas apenas para os não-Passeriformes monofiléticos 1 e 4 (NP1 e NP4), entre os grupos taxonômicos, e para os carnívoros e onívoros, entre as guildas tróficas. O grupo NP1 e a guilda de carnívoros estão altamente correlacionados, já que a maioria das espécies de carnívoros pertencem às famílias Accipitridae e Falconidae.

Considerando-se os resultados da comparação entre a média de índices de distribuição dos grupos taxonômicos, as diferenças exibidas entre os NP1 e os Suboscine estão de acordo com o que se poderia esperar pelo padrão conhecido de distribuição das espécies. Os últimos ocorrem principalmente no sub-bosque de florestas de terra firme e apresentam menor capacidade de dispersão, já que normalmente estão restritos a este tipo de ambiente. Portanto, é esperado que a mudança espacial na composição de espécies seja elevada para este grupo. Por outro lado, os acipitrídeos e falconídeos que compõe o “NP1” apresentam maior plasticidade ecológica e podem ocorrer em vários tipos de hábitats (Sick 1997). A habilidade de dispersão nessas espécies é bem maior quando comparada com os Suboscine, o que deve permitir o fluxo gênico e diminuir as taxas de especiação.

Entre os Passeriformes, a média de índice de distribuição dos Oscine foi apenas ligeiramente maior do que aquela encontrada para os Suboscine, mas estas não diferiram significativamente. De acordo com Slud (1960) e Novaes (1971), os Suboscine apresentam uma proporção maior de espécies características de florestas de terra firme, enquanto que

os Oscine compreendem muitas espécies que ocorrem em áreas mais abertas. Portanto, seria esperado que os Suboscine apresentassem, em média, uma distribuição geográfica mais restrita do que os Oscine. Entretanto, cerca de 40% das espécies da subordem Oscine analisadas neste estudo foram classificadas como sendo típicas de florestas de terra firme, enquanto que 62% dos Suboscine ocorrem principalmente neste ambiente. Portanto, embora a proporção tenha sido maior para os Suboscine, ela não foi muito diferente daquela encontrada para os Oscine, o que pode justificar, em parte, a ausência de diferença entre as duas subordens.

Comparações entre as duas parvordens dos Suboscine também não mostraram diferenças entre as mesmas. Considerando-se que a parvordem Tyrannida inclui a família Tyrannidae, a maior entre os Suboscine, e que muitas espécies nessa família estão difundidas em áreas abertas, apresentando ampla distribuição geográfica, seria esperado que os Tyrannida apresentassem média de distribuição maior do que os Furnariida, compostos sobretudo por espécies características de florestas de terra firme. Entretanto, o hábitat “áreas abertas” não está bem representado nos sítios amostrados e 43% das espécies de Tyrannida avaliadas neste estudo ocorrem principalmente em florestas de terra firme. Além disso, as famílias Cotingidae e Pipridae, que também fazem parte dos Tyrannida e que apresentam espécies normalmente restritas à floresta de terra firme, provavelmente também contribuíram para diminuir as diferenças entre os Furnariida e os Tyrannida.

Os padrões apresentados pelos diferentes grupos de hábitats mostraram resultados interessantes, pois as espécies características de floresta de terra firme apresentaram um tamanho de distribuição que difere do que se poderia esperar para este grupo. A média de índice de distribuição foi maior do que a média encontrada para espécies de áreas abertas e para todos os outros hábitats diferentes de floresta de terra firme, quando considerados em conjunto. Entre os fatores que podem ter influenciado neste padrão, deve-se considerar, em

primeiro lugar, que foram incluídas no grupo de florestas de terra firme todas as espécies que ocorrem principalmente neste tipo de ambiente, mas algumas também podem ocorrer em outros tipos de hábitat. Se fossem consideradas apenas as espécies restritas a florestas de terra firme, é possível que o tamanho da distribuição das espécies características desse ambiente não diferisse significativamente dos demais hábitats. Outro fator a ser considerado é a ocorrência de espécies que estão restritas a florestas de terra firme, mas que apresentam grande capacidade de dispersão, deslocando-se a grandes distâncias. Entre as espécies que se enquadram neste perfil, estão todos os psitacídeos e alguns acipitrídeos e falconídeos. A presença dessas espécies no grupo de florestas de terra firme pode ter elevado a média de índice de distribuição para aquele hábitat. Wiendefeld (1991) comparou a distribuição de espécies que ocorrem em florestas primárias e de espécies que ocorrem em florestas secundárias em Tambopata, no Peru, e em Barro Colorado. Ele só incluiu na análise as espécies distribuídas entre as famílias Trochilidae até Fringillidae, excluindo as aquáticas. Portanto, ele não analisou os Psittacidae e os Falconiformes, entre outros, restringindo a comparação às espécies menores. Wiendenfeld encontrou que, em geral, as espécies restritas a florestas primárias apresentam tamanho de distribuição menor do que aquelas de florestas secundárias e de borda de mata. Portanto, os resultados obtidos no presente estudo devem ser vistos com precaução, já que abrangeram um número maior de famílias que apresentam ampla distribuição e que certamente influenciaram na maior média encontrada para espécies de florestas de terra firme.

4.2. CORRELAÇÃO ENTRE SIMILARIDADE E DISTÂNCIA GEOGRÁFICA