• Nenhum resultado encontrado

3. Modelo Ideal e Interação no Brasil

3.2 Estruturas de Interação x Critério de Interação do modelo ideal

3.2.1 Análise a partir das estruturas de interação

Comecemos analisando a primeira estrutura de interação da matriz, a CREDEN. A CREDEN destacou-se, comparativamente às demais estruturas de interação, no critério Nível de Influência na Atuação Internacional. Atribuímos nível médio (2) à relação entre a CREDEN e o Nível de Influência na Atuação Internacional na matriz apresentada acima. Com isso, queremos dizer que a CREDEN tem capacidade de influenciar de forma mediana a atuação internacional do Brasil. Chegamos a esta conclusão, principalmente, devido à observação dos temas tratados por esta estrutura, descritos no Capítulo 1198. Grande parte dos temas tratados por ela compõe a agenda internacional do Brasil, que pode ser evidenciada também no Capítulo 1 nos discursos de posse dos Ministros de Relações Exteriores e nas Mensagens ao Congresso Nacional199. Relativamente aos temas tratados

pelas demais estruturas de interação (CDN, SISBIN, Grupos de Trabalho e Encontros Informais), a temática de responsabilidade da CREDEN adequa-se em maior medida à atuação internacional do Brasil.

A opinião dos entrevistados corrobora a nossa avaliação. Boa parte dos temas que são de responsabilidade da CREDEN foi também considerada pelos entrevistados, como os temas que têm maior intensidade na interação entre defesa, diplomacia e inteligência e estão

197 Como a representação numérica escolhida (1, 2 e 3) não varia muito, o desvio padrão e o coeficiente de

variação também não variaram de forma muito significativa. De qualquer modo, os extremos dessas medidas são significativos.

198 Retomando os temas de responsabilidade da CREDEN: a) cooperação internacional em assuntos de segurança

e defesa; b) integração fronteiriça; c) populações indígenas; d) direitos humanos; e) operações de paz; f) narcotráfico e a outros delitos de configuração internacional; g) imigração; h) atividade de inteligência; i) segurança para as infraestruturas críticas, incluindo serviços; j) segurança da informação; k) segurança cibernética.

199 Nos discursos de posse dos Ministros de Relações Exteriores e nas Mensagens ao Congresso Nacional os

temas de fronteiras, América do Sul, integração regional, crime organizado e missões de paz convergem com os temas de atuação da CREDEN.

entre os mais importantes para a atuação internacional do Brasil na América do Sul. A Figura 10, a seguir, demonstra os temas que os entrevistados consideraram que a interação entre defesa, diplomacia e inteligência se manifesta com maior intensidade. Note-se que se destacam os temas: Fronteiras; Missões de Paz; Integração Regional; e Tecnologias Sensíveis; seguidos por Crime Organizado e Narcotráfico200.

Figura 10 Percepção sobre temas com MAIOR INTENSIDADE na interação entre defesa, diplomacia e inteligência

Fonte: Elaboração própria.

Na percepção dos entrevistados, os temas mais importantes para a atuação do Brasil na América do Sul são: Estabilidade Política Regional; Fronteiras; Integração Regional e Crime Organizado (Ver Figura 11).

200 Foi proposta nessas questões uma lista com quinze temas e mais um item denominado “outro” que

possibilitasse ao entrevistado citar algum tema que considerasse importante, mas que não estivesse na lista. Sugeriu-se que fossem apontados cinco itens como resposta, mas os entrevistados eram livres para apontar quantas opções desejassem. (Ver questões 11, 12, 14 e 17 do Questionário, no Anexo B). Para as repostas de “outro”, ver Tabelas A20, A22, A24 E A28, do Anexo A.

4 2 9 8 8 4 12 0 0 5 3 7 3 7 1 3 Outro Desarmamento Missões de Paz Integração Regional Tecnologias Sensíveis Não-proliferação Fronteiras Energia ONU Terrorismo Tráfico de Armas Crime Organizado Proteção à informação Narcotráfico Meio Ambiente Medidas de Confiança

Figura 11 Percepção sobre temas em que a interação entre defesa, diplomacia e inteligência é MAIS IMPORTANTE para a atuação do Brasil na América do Sul

Fonte: Elaboração própria.

Ao comparar os temas de responsabilidade da CREDEN com os destacados pelos entrevistados, é possível destacar como os principais temas convergentes:

1) fronteiras e integração regional (percepção dos entrevistados) e integração fronteiriça (CREDEN);

2) missões ou operações de paz (percepção dos entrevistados e CREDEN); 3) narcotráfico e crime organizado (percepção dos entrevistados) e delitos

de configuração internacional (CREDEN).

Portanto, no que concerne à interação entre defesa, diplomacia e inteligência, a CREDEN é a estrutura que melhor possibilita, comparativamente às demais, o tratamento de temáticas relevantes para a atuação internacional do Brasil, especialmente no âmbito da América do Sul.

Passemos à análise da segunda estrutura de interação da matriz, o SISBIN. O SISBIN destacou-se nos critérios Regularidade, Fluidez de Informação e Capilaridade, onde atribuímos grau de relação médio (2). Isso fez que o SISBIN tivesse a maior representatividade entre as estruturas de interação do Brasil, o que pode ser observado na última coluna da matriz, Participação no Total (%). É importante ressaltar que o SISBIN tem

1 17 6 12 3 8 16 2 0 7 5 12 1 8 2 3 Outro Estabilidade Política Regional Missões de Paz Integração Regional Tecnologias Sensíveis Cooperação em Defesa Fronteiras Energia ONU Terrorismo Tráfico de Armas Crime Organizado Proteção à informação Narcotráfico Meio Ambiente Medidas de Confiança

como proposta manter reuniões entre seus membros com frequência trimestral, o que permite atribuir a isso uma avaliação intermediária no critério de Regularidade da interação. A regularidade de reuniões no âmbito do SISBIN foi confirmada por um dos entrevistados, sustentando, portanto, a previsão legal201.

Com relação ao critério Fluidez de Informações, entende-se que este é um dos principais objetivos do SISBIN, uma vez que se trata de um sistema “responsável pelo processo de obtenção e análise de dados e informações e pela produção e difusão de conhecimentos necessários ao processo decisório do Poder Executivo”202. Portanto, ainda

que o SISBIN não tenha atingindo o nível desejável em termos de Fluidez de Informações, esta é essencial para a própria existência dessa estrutura. Por fim, é possível observar que o que singulariza o SISBIN, relativamente às demais estruturas, é o critério Capilaridade. O SISBIN tem como membros permanentes quatorze instituições (entre ministérios e outros órgãos), o que lhe agrega capilaridade horizontal. Em alguns casos, essas instituições participam por meio de mais de uma de suas subdivisões, como é o caso dos Ministérios da Justiça, da Defesa, da Fazenda e da Saúde (Ver Anexo C)203, o que caracteriza a capilaridade

vertical do SISBIN. Esta capilaridade vertical é o fator que mais diferencia o SISBIN das demais estruturas204.

O fato de alguns dos entrevistados terem mencionado o SISBIN como modelo ideal de interação, como apontado no Capítulo 2, também é significativo. Houve, também, observações de entrevistados que apontaram o SISBIN como o mecanismo formal de interação entre os órgãos de cada área. Isso demonstra algum grau de funcionalidade e de operacionalidade do SISBIN e ajuda a compreender o destaque que ele teve entre as estruturas de interação presentes na matriz. A perspectiva de alguns dos entrevistados sobre a atuação do SISBIN como um órgão de interação pode ser exemplificada nas seguintes respostas:

201 Em entrevista concedida por representante da inteligência no dia 29/02/2012, o entrevistado confirmou que há

reuniões trimestrais no âmbito do SISBIN. A frequência de reuniões pode, inclusive, ser maior entre alguns membros do sistema.

202 Decreto Nº 4.376, de 13 de setembro De 2002.

203 Atualmente, o MRE participa do SISBIN apenas por meio da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos

Transnacionais (COCIT), logo, no que tange a interação entre defesa, diplomacia e inteligência, a capilaridade do SISBIN não é tão significativa no âmbito da diplomacia.

204 Vale mencionar que no caso específico da interação entre defesa, diploma e inteligência essa capilaridade não

é tão representativa. Como foi exposto no Capítulo 1, atualmente, apenas a COCIT, do MRE, representa a diplomacia no SISBIN. A COCIT trata de temática específica, ilícitos transnacionais. Portanto, o SISBIN, em seus moldes atuais, é representativo para a interação entre defesa, diplomacia e inteligência apenas no que concerne à temática que envolve as três áreas, os ilícitos transnacionais.

A interação entre os órgãos de Estado citados está estabelecida formalmente por meio do SISBIN, desde 1999, e a partir da criação do DISBIN205, em 2008 (Representante da Defesa).

O melhor modelo é o que hoje nós estamos exercitando com maior profundidade: as relações de troca dentro do Sistema Brasileiro de Inteligência (Representante da Inteligência).

A terceira estrutura de interação da matriz, o Conselho de Defesa Nacional, destacou- se em relação às demais estruturas de interação no quesito Controle Externo, que, de fato, é relativamente mais efetivo no caso do CDN. Essa diferença ocorre devido à participação dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal no CDN e à comparação com as demais estruturas, que não estão sujeitas, diretamente, à ação de Controle Externo, ou em que o Controle Externo ainda não está devidamente regulamentado. Os Grupos de Trabalho e os Encontros Informais não se relacionam de forma direta com o controle externo. A CREDEN e o SISBIN são órgãos coordenados pelo GSI/PR e pela ABIN, respectivamente. Em ambos os casos, o controle externo deveria ser feito pela Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), que ainda não está em pleno funcionamento, como mencionado no Capítulo 1.

O CDN também se diferencia no Nível de Influência na Atuação Internacional do Brasil por ter sob sua competência assuntos que influenciam diretamente a soberania nacional e por ser convocado e presidido pelo Presidente da República, ou seja, a maior instância tomadora de decisões. A relação mais próxima do CDN com a tomada de decisão em mais alto nível o diferencia, portanto, como estrutura de interação.

Os Grupos de Trabalho têm nível intermediário no critério Fluidez de Informações. Como cada Grupo de Trabalho tem objetivos definidos, a fluidez é necessária para a consecução das metas. A criação de determinado Grupo de Trabalho faz que os representantes que atuem nessa estrutura trabalhem conjuntamente e de forma cooperativa, na maior parte das vezes, para que se atinja o objetivo que lhes fora estabelecido. É neste trabalho conjunto e cooperativo que se pressupõe a troca de informações de forma mais fluida, em um determinado período e para uma finalidade específica.

As informações sobre os Encontros Informais são pouco precisas e extremamente variáveis. O que se pode afirmar é que não há regras institucionais nesse tipo de estrutura,

tampouco há coordenação. Sobre os demais critérios, é possível que haja variação de acordo com os tipos, os temas e os agentes envolvidos nos Encontros Informais. No entanto, se levados em consideração de forma conjunta, os Encontros Informais preenchem os critérios da interação no menor nível, dentro das possibilidades.