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3. Documentos

3.5 Discursos e Mensagens ao Congresso Nacional

Em relação à diplomacia, buscaremos elementos de interação com a defesa e com a inteligência a partir dos discursos de posse dos Ministros de Relações Exteriores do período analisado (1999-2010) – Luiz Felipe Lampreia, Celso Lafer e Celso Amorim – e das Mensagens ao Congresso Nacional elaboradas pela Presidência da República, entre 2000 e 2010.

Nos discursos de posse proferidos pelos Ministros de Relações Exteriores mencionados acima, algumas das temáticas abordadas como prioritárias para a política externa indicam possibilidade de interação com a defesa e com a inteligência. O tema do desenvolvimento, associado ao pacifismo, é ressaltado por todos os ex-ministros103 e tem correlação com a END, que propõem metas de defesa associadas ao desenvolvimento. Outros aspectos prioritários nos discursos são o entorno regional; a América do Sul e a integração regional104 que também são temas de extrema relevância nos documentos da defesa. Há, ainda, menções ao combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas105, temas que têm interface com a defesa e com a inteligência106.

102 A PNI trata das diretrizes a serem seguidas pela atividade de inteligência. A maior parte das diretrizes foca no

combate ou no devido tratamento às ameaças elencadas. As diretrizes da PNI são: 1) Prevenir ações de espionagem no país; 2) Ampliar a capacidade de detectar, acompanhar e informar sobre ações adversas aos interesses do Estado no exterior; 3) Prevenir ações de sabotagem; 4) Expandir a capacidade operacional da Inteligência no espaço cibernético; 5) Compartilhar dados e conhecimentos; 6) Ampliar a confiabilidade do Sistema Brasileiro de Inteligência; 7) Expandir a capacidade operacional da Inteligência; 8) Fortalecer a cultura de proteção de conhecimentos; 9) Cooperar na proteção das infraestruturas críticas nacionais; 10) Cooperar na identificação de oportunidades ou áreas de interesse para o Estado brasileiro.

103 “[Os formuladores de política externa] não devem esquecer que o sentido principal da política externa precisa

ser a busca do desenvolvimento, em todos os seus múltiplos aspectos” LAMPREIA, Luiz Felipe. Discurso do

Embaixador Luiz Felipe Lampreia, Ministro de Estados das Relações Exteriores, por ocasião da Posse do Embaixador Seixas Corrêa, no Cargo de Secretário-Geral das Relações Exteriores. Brasília, 4 de janeiro de 1999. Resenha de Política Exterior do Brasil. Brasília: Ministério de Relações Exteriores. Nº 84, 1º semestre de

1999, p. 27.

“Entre os fatores de continuidade que determinam o interesse nacional destaco: [...]o positivo e pacífico relacionamento com os nossos muitos vizinhos; [...] o desafio do desenvolvimento e o imperativo do resgate da dívida social, que é o passivo da nossa História”. LAFER, Celso. Discurso de Posse Ministro das Relações

Exteriores Celso Lafer, 29 de Janeiro de 2001. Disponível em:

http://www.funag.gov.br/chdd/index.php?option=com_content&view=article&id=148%3Acelso- lafer&catid=55%3Aministros&Itemid=92. Acesso em: 23/05/2012.

104 “No Governo Lula, a América do Sul será nossa prioridade” (AMORIM, 2003). 105 LAMPREIA, 1999, p. 28

“Deveremos, igualmente, envidar esforços ainda mais intensos de cooperação internacional para fazer frente às novas ameaças que representam o tráfico de drogas, o crime organizado e a lavagem de dinheiro” (LAFER,

As Mensagens ao Congresso Nacional contêm as principais ações realizadas pelo Poder Executivo no ano anterior ao do envio da Mensagem. No âmbito da defesa, da diplomacia e da inteligência, as Mensagens analisadas, de 2000 a 2010, continham alguns elementos de interação, sobretudo, entre a defesa e a diplomacia. O fato de as áreas de defesa nacional e de política externa107 estarem sempre associadas na exposição desses documentos demonstra, ainda que em uma analogia simplificada, que a Presidência da República trata os dois assuntos de maneira conjunta, com relação às demais políticas do escopo do Executivo.

É possível observar alguns conteúdos semelhantes na exposição de atividades da defesa e da diplomacia nas Mensagens ao Congresso Nacional. Os temas abordados com mais frequência pelos dois aspectos são: América do Sul, fronteiras e integração regional; missões de paz; crime organizado; desarmamento e não proliferação.

Importante mencionar que não há nas Mensagens aqui avaliadas referência de forma organizada e sistemática (como no caso da defesa e da diplomacia) às atividades de inteligência. Verifica-se, ainda, que a Presidência da República não associa a inteligência à defesa e à inteligência em suas exposições ao Congresso Nacional. Nota-se a quase ausência de explanação conjunta das três áreas108.

2001).

“Participaremos da luta contra o terrorismo e o crime organizado, com base na cooperação e no Direito internacionais” (AMORIM, 2003).

106 Além da temática que propicia a interação, foi possível constatar uma mudança nos discursos de posse dos

Ministros de Relações Exteriores com relação à interação institucional. Houve um crescente reforço nas menções ao diálogo do MRE com outros agentes nacionais (especialmente o Legislativo, os empresários, universidades, organizações não governamentais). Nos discursos de Celso Amorim e de Antônio Patriota, houve menção explícita à coordenação com órgãos governamentais (AMORIN, 2003) e de “comunicação abrangente com as diferentes Pastas do Executivo com as quais não podemos deixar de trabalhar em sintonia, como Justiça, Defesa, Indústria e Comércio, Fazenda, Direitos Humanos, Meio Ambiente, entre outras” (PATRIOTA, 2011). Além disso, vale mencionar a considerável mudança de perspectiva do MRE em 1999, quando o Ministro ressaltou a inconveniência, naquele momento, em se enfatizar o poder militar, e a menção explícita no discurso do Ministro Antônio Patriota à área de defesa e ao Ministério de Defesa.

No discurso de 1999: [...] não devemos, nem podemos, alimentar visões de projeção global de nosso poder político-militar. As carências que enfrenta o povo brasileiro não permitem, de modo algum, a mobilização dos enormes recursos necessários para dar lastro e credibilidade a um projeto dessa natureza, como em algum momento imaginaram os defensores da ideia de ‘Brasil potência’” (LAMPREIA, 1999).

E no discurso de 2011: “Nossos próprios imperativos de desenvolvimento econômico, social e tecnológico orientarão a busca de parcerias em uma variedade de temas, que incluirão a educação, a inovação, a energia, a agricultura, a produtividade industrial, a defesa; sem descuidarmos do meio ambiente, da promoção dos direitos humanos, da cultura, das questões migratórias” PATRIOTA, Antonio de Aguiar. Discurso de Posse Ministro das

Relações Exteriores Antonio de Aguiar Patriota, 2 de Janeiro de 2011. Disponível em:

http://www.funag.gov.br/chdd/index.php?option=com_content&view=article&id=150%3Aantonio-de-aguiar- patriota&catid=55%3Aministros&Itemid=92. Acesso em: 23/05/2012.

107 Também denominadas em algumas Mensagens ao Congresso Nacional de: Inserção Soberana (2004 e 2005)

ou de Política Exterior e Soberania (2006, 2007, 2008, 2010).

108 Houve menção à área de inteligência associada à defesa e/ou à diplomacia apenas na Mensagem ao Congresso