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ANÁLISE AOS PROTOZOÁRIOS E PEQUENOS METAZOÁRIOS

CAPÍTULO 4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.3. ANÁLISE AOS PROTOZOÁRIOS E PEQUENOS METAZOÁRIOS

As amostras foram processadas de dois modos diferentes, quer para se estudar a componente da microfauna e fazer subsequentemente a determinação do IBL, quer para a avaliação da componente filamentosa.

4.3.1. DETERMINAÇÃO DO INDICE BIÓTICO DAS LAMAS (IBL)

O IBL fornece um conjunto de valores numéricos objetivos, facilitando a comparação de resultados entre as ETAR em estudo e os diferentes processos de tratamento de águas residuais efetuados nas mesmas. Este visa avaliar a qualidade biológica das lamas ativadas.

O IBL foi calculado de acordo com o método proposto por Madoni, em 1994, que se baseia na abundância e diversidade específica da comunidade, de protozoários e pequenos metazoários, e nas diferentes sensibilidades reveladas por alguns grupos destes organismos aos fatores físico-químicos dominantes no sistema. Para a determinação do IBL e posterior classificação das lamas ativadas e eficiência de depuração do sistema, recorre-se a tabelas onde estão discriminados os valores e respetivas divisões, em classes, dos mesmos [18].

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Inicialmente, para calcular o IBL usa-se a tabela 11. Esta é uma tabela de duas entradas, onde no topo desta (lado direito) se encontram quatro classes relativas ao número de espécies da microfauna (S) e também se encontra, abaixo, o número de pequenos flagelados contados na Câmara de Fucks-Rosenthal (F). Do lado esquerdo da tabela, na coluna mais à esquerda, estão representados os diferentes grupos dominantes na microfauna (6 grupos), e na coluna seguinte a densidade total da

microfauna (maior ou menor do que 106 indivíduos/L). A qualidade biológica das lamas decresce à

medida que se desce ao longo da tabela. Se dois ou mais grupos partilharem a dominância na amostra, escolhe-se o grupo que ocupa a posição mais baixa na tabela.

Assim sendo, o valor do IBL é obtido através da interseção da linha e da coluna selecionadas, podendo este variar entre 0 e 10 valores.

Estes valores de IBL estão, por sua vez, associados a quatro classes de qualidade biológica das lamas e à avaliação da eficiência depuradora do tratamento efetuado. Essas classes são ordenadas com numeração romana (Tabela 12).

Além da determinação do IBL, fez-se uma caracterização da microfauna de cada amostra em termos de abundância, diversidade e predominância de grupos e/ou espécies com interesse ecológico já referido. A análise dos grupos constituintes da microfauna apresenta uma distribuição universal e fornece uma rápida indicação do estado das lamas e consequentemente do funcionamento do

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Tabela 11 - Tabela de duas entradas para o cálculo do IBL (S - nº de espécies da microfauna, excluindo os

flagelados e F - nº pequenos flagelados na diagonal da Câmara de Fuchs-Rosenthal) [18].

Grupo dominante Densidade (ind/L) S > 10 8 ≤ S ≤ 10 5 ≤ S ≤ 7 S <5 F<10 10<F<100 F<10 10<F<100 F<10 10<F<100 F<100 10<F<100 Ciliados Móveis de Fundo + Sésseis* e/ou Amibas com teca ≥ 106 10 8 9 7 8 6 7 5 < 106 9 7 8 6 7 5 6 4 Ciliados Sésseis * >80 % ≥ 106 9 7 8 6 7 5 6 4 < 106 8 6 7 5 6 4 5 3 Opercularia spp. >50 % ≥ 106 7 5 6 4 5 3 4 2 < 106 6 4 5 3 4 2 3 1 Vorticella microstoma >50 % ≥ 106 6 4 5 3 4 2 3 1 < 106 5 3 4 2 3 1 2 0 Ciliados nadadores >50 % ≥ 106 5 3 4 2 3 1 2 0 < 106 5 2 6 1 2 0 1 0 Pequenos Flagelados (>100 na diagonal da Câmara de Fuchs- Rosenthal) ≥ 106 4 3 2 1 < 106 3 2 1 0

*Opercularia spp. e Vorticella microstoma não dominantes; ** FR – Fuchs-Rosenthal.

Tabela 12 - Conversão do valor do IBL em classes de qualidade biológica das lamas ativadas e avaliação da

eficiência depuradora do tratamento [18].

Valor de

IBL Classe Avaliação

8 - 10 I Lamas bem colonizadas e estáveis; atividade biológica ótima; elevada eficiência depuradora

6 - 7 II Lamas bem colonizadas e estáveis; atividade sub-optimal; eficiência depuradora suficiente

4 - 5 III Atividade biológica insuficiente; eficiência depuradora medíocre 0 - 3 IV Atividade biológica muito baixa; eficiência depuradora baixa

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4.3.1.1. Identificação dos taxa da comunidade de protozoários e pequenos metazoários (“screening”) Para a determinação do IBL foi necessário, em primeiro lugar, identificar a comunidade de protozoários e pequenos metazoários presentes em cada amostra de lamas ativadas. Tal identificação ou “screening” foi realizada logo após a chegada das amostras ao laboratório, depois de colocadas com arejamento. Essa primeira observação ao microscópio foi realizada uma a duas vezes por amostra. Para tal, colocou-se uma gota de 0.5mL de licor misto numa lâmina de vidro, com uma pipeta de Pasteur, cobrindo a amostra com uma lamela de 24x24 mm e visualizou-se ao microscópio ótico com uma ampliação de 100x. Por vezes, recorreu-se ao uso de ampliações superiores, como 400x, para uma correta identificação taxonómica.

Durante o screening são contabilizados como presentes na amostra apenas as espécies das quais sejam observados dois ou mais indivíduos, sendo estes assinalados em folhas de registo específicas para o screening e para as contagens (Anexo 4). Eventualmente, pode acontecer de

algumas espécies não serem detetadas no screening mas surgirem nas contagens. Nesse caso é

contabilizada como espécie presente na amostra se for em número igual ou superior a 1 indivíduo. Para a identificação das espécies presentes nas lamas ativadas recorreu-se a guias de reconhecimento de protozoários e pequenos metazoários. Este reconhecimento é baseado na descrição realizada por Madoni. Nem todos os microrganismos presentes nas lamas ativadas foram contabilizados pois o método determina que amibas nuas, algas, crustáceos e insetos não sejam considerados. Os microrganismos que se incluíram foram os protozoários pertencentes aos grupos dos grandes e dos pequenos flagelados, dos ciliados, das amibas com teca, e os pequenos metazoários tais como os rotíferos e os nemátodes. Esta etapa é essencial para posteriormente facilitar a fase

seguinte, as contagens, uma vez que já se tem conhecimento de quais os taxa presentes nas lamas,

facilitando o seu reconhecimento e a rapidez na contagem [18]. 4.3.2.2. Contagens ao microscópio

Contagem de protozoários e pequenos metazoários

Após a identificação das espécies presentes na amostra, efetuou-se a contagem dos microrganismos existentes num volume conhecido de amostra. Tal permitiu a quantificação dos protozoários e pequenos metazoários, determinando-se assim a quantidade relativa quer das unidades taxonómicas (grupos, géneros ou espécies, de acordo com os microrganismos), quer dos grupos funcionais (nadadores, móveis de fundo e sésseis, dentro dos ciliados bacteriófagos). Para tal, colocou-

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se numa lâmina de vidro, 25 µL de amostra com uma micropipeta automática com êmbolo, o que permite que sejam efetivamente medidos os 25 µL de amostra, não havendo a possibilidade de parte desta ficar retida na micropipeta. Nesta micropipeta o volume é variável (0 a 50 µL). De seguida cobriu-se a lâmina com uma lamela de 18x18 mm, pois lamelas de menores dimensões evitam uma mais rápida evaporação da amostra e, por último, colocou-se a lâmina no microscópio ótico e procedeu-se à observação em contraste de fase usando uma ampliação de 100x, para contagem do número de indivíduos de cada espécie identificada na fase inicial (“screening”), ou eventualmente, de alguma nova espécie.

Para cada amostra foi efetuada uma segunda contagem com nova preparação da mesma

amostra e determinou-se, para cada espécie e grupo, o número de indivíduos por volume de amostra (50 µL) de lama ativada.

Ao longo da contagem não foram contabilizados indivíduos mortos, ciliados nadadores que entrassem no campo de visão provenientes de zonas já contabilizadas ou ciliados coloniais (Telotrocos).

A contagem foi feita da forma que está exemplificada na figura 28, em ziguezague, da esquerda para a direita, abarcando toda a amostra.

Contagem de pequenos flagelados

Para a contagem de pequenos flagelados, essencial para a determinação do IBL, utilizou-se a câmara de Fuchs-Rosenthal de 3.2 μL (Figura 29-a), que consiste numa célula de contagem quadrangular na qual estão contidos dois reticulados com 16 quadrículas, sendo os flagelados contabilizados na diagonal de cada reticulado da câmara (Figura 29-b). Para tal, colocou-se uma gota de amostra em cada reticulado. Contaram-se os flagelados que se encontravam no interior ou sobre os limites das 16 quadriculas que formam cada uma das diagonais dos dois retículos da câmara.

Figura 28 – Esquema representativo do processo de contagem da microfauna ao longo da inspeção da lamela

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Os pequenos flagelados foram contabilizados usando-se um microscópio ótico em contraste de fase e uma ampliação de 200x, sendo a média dos valores obtidos nas duas diagonais usada diretamente no cálculo do IBL.

Ao longo da apresentação e discussão dos resultados, a densidade de protozoários, grupos tróficos e espécies será apresentada em número de indivíduos (ind) por volume de amostra (VA), que tal como indicado na metodologia anterior é igual a 50 µL (ex: 20 ind/VA = 20 ind/50 µL).

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