• Nenhum resultado encontrado

A tarefa inicial consistiu em escolher em qual documentação do jornal A Tarde a pesquisa documental seria executada. Optou-se – compreendendo que neste ambiente é possível ter acesso tanto aos jornais impressos quanto no formato digital – pelo acervo custodiado no Setor de Arquivo da Biblioteca Central do Estado da Bahia, localizada no bairro dos Barris, em Salvador.

O jornal A Tarde, um dos mais antigos do Brasil, fundado em 1912 pelo jornalista e político Ernesto Simões Filho, é um periódico de notícias que circula em todo o estado da Bahia. O A Tarde vem cobrindo ao longo da sua história os grandes acontecimentos da Bahia e do Brasil, tendo promovido, como salienta Brito (2008), uma destacada cobertura jornalística sobre a política baiana durante o período da ditadura militar.

A documentação em questão, que a partir da teoria arquivística configura-se como um arquivo especializado de imprensa, fica localizado no primeiro andar da referida biblioteca. Sobre esse tipo de acervo, o Arquivo Nacional (2005, p. 30) sinaliza que ele possui “uma ou mais características comuns, como natureza, função ou atividade da entidade produtora, tipo, conteúdo, suporte ou data dos documentos, entre outras.” Esses acervos21 refletem, em outras palavras, a produção documental de áreas específicas do conhecimento, independente do contexto e suporte em que esses registros tenham sido produzidos.

Analisando os referidos registros informacionais a partir de uma perspectiva arquivística é possível identificar alguns elementos, sejam eles internos ou externos ao documento, que ajudam a compreendê-los em sua plenitude – a exemplo dos enunciados, textos, assinaturas e datas.

Sobre esses elementos, indispensáveis à identificação de um documento diplomático, cabe salientar que, segundo Bellotto (2002, p. 39), eles representam a união das seguintes partes:

o protocolo inicial, o texto propriamente dito e o protocolo final. Nessas três partes evidenciam-se as coordenadas (representadas pelas fórmulas diplomáticas obrigatórias, próprias da espécie documental determinada pelo ato jurídico e seu objetivo) e as variantes (teor pontual e circunstancial relativo às especificidades do ato aplicado a um fato, pessoa ou assunto).

Nem todas as partes acima citadas, entretanto, aparecem nos documentos, assim como há certa variação em relação ao posicionamento desses elementos no documento. Isso vai depender, em linhas gerais, da espécie documental de cada registro, bem como de sua natureza jurídica.

A partir daí é possível compreender as diferenças entre o documento diplomático e o documento lato sensu. Enquanto o primeiro é de gênero textual, o segundo, compreendendo a amplitude do conceito de documento, pode ser dos gêneros iconográfico, filmográfico, sonoro, micrográfico, entre outros.

21 Segundo Paes (2004, p. 23), “Arquivo especializado é o que tem sob sua custódia os documentos resultantes da experiência humana num campo científico, independente da forma física que apresentem, como, por exemplo, os arquivos médicos ou hospitalares, os arquivos de imprensa, os arquivos de engenharia e assim por diante. Esses arquivos são também chamados, impropriamente, de arquivos técnicos.”

Os documentos do jornal A Tarde dos anos de 1961 a 1971, em bom estado de conservação – apesar da falta de uma política de preservação de documentos, bem como pela reduzida e insuficiente estrutura oferecida para sua custódia –, estão encadernados, envelopados e guardados em caixas de papelão. Quanto ao armazenamento inadequado de um acervo, Beck (1997, p. 07) afirma que “A guarda sem cuidado ou a superlotação de espaços resultam rapidamente em danos às coleções. As embalagens de má qualidade igualmente aceleram a deterioração dos materiais, quando o objetivo seria protegê-los”.

É visível perceber que muitos desses documentos, compreendendo a baixa qualidade do papel utilizado para produção de jornais, encontram-se desbotados e amarelados – realidade comum em se tratando de arquivos de imprensa.

Há alguns documentos, sobretudo dos anos de 1964 e 1965, em estado de deterioração. Isso se deve ao manuseio equivocado por parte dos usuários que, em muitos momentos, não são orientados a usarem equipamentos de proteção individual, bem como pelo fato do ambiente não possuir um sistema de climatização. Sobre a importância desse sistema para a preservação dos documentos, Beck (2000, p. 15) afirma que:

sistemas mal projetados que podem acarretar fluxos inadequados do ar, ocasionando o desenvolvimento de microorganismos e outros problemas. Já a não instalação do equipamento pode ser extremamente danosa, sobretudo em edifícios projetados para serem climatizados artificialmente e que não oferecem possibilidades de controle ambiental quando o sistema está fora de funcionamento.

Há um índice na recepção do arquivo onde é possível identificar todo o acervo ali custodiado. Esses documentos estão arquivados separados por mês, isto é, cada envelope, compreendendo que a tiragem do periódico é diária, armazena dois meses. Este arquivamento permite maior objetividade no acesso e manuseio dos registros.

Esses documentos são diariamente consultados por pesquisadores, historiadores, jornalistas e pelo público em geral. A direção da biblioteca solicita que o usuário faça um registro para que haja um controle de acesso aos documentos.

Além da pesquisa nos documentos impressos, há nesse espaço também dois terminais de computadores onde o usuário pode acessar o jornal A Tarde no formato digital, reduzindo assim o tempo de pesquisa.

Apesar de não existir um arquivista de formação nem o respeito ao que preconiza a teoria arquivística em sua plenitude, sobretudo no tocante a política de preservação de documentos, foi possível perceber que o arquivo consegue, apesar de suas limitações estruturais, atingir o seu objetivo: manter e preservar registros informacionais deixando-os disponíveis a quem deles necessite.

Esses arquivos de imprensa possuem valor probatório22, informativo e histórico. Eles contribuem no sentido de preservar e dar acesso às memórias documentadas, mesmo reconhecendo, como aponta Silva e Franco (2010), a influência de elementos político-ideológicos nesta construção.

Foi possível perceber, a partir de uma análise arquivística, como expõe Belllotto (2002), as contribuições da Arquivologia para a organização da informação, sobretudo em relação aos procedimentos empregados para o seu tratamento e interpretação – a exemplo da avaliação, descrição e análise de conteúdo.

Notou-se a importância do arquivista não só no sentido de organizar e disponibilizar a informação registrada, mas, também, em interpretar os elementos que estruturam um acervo, como expõe Duarte (2006-2007, p. 150):

Na verdade, deparar-se com uma documentação exige do arquivista um estudo aprofundado a partir de escavação cuidadosa, permitindo não somente a organização arquivística do acervo, mas, ao mesmo tempo, a análise temática representativa, interpretativa e precisa das peças.

Esses documentos, para concluir – necessários à rememoração do passado – contribuíram para perceber como a teoria arquivística é necessária à compreensão de um conjunto documental, bem como permitiu identificar a proximidade entre as profissões de arquivista e historiador.

Documentos relacionados