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As universidades brasileiras passaram durante o período da ditadura militar por significativas mudanças em sua estrutura. Se por um lado houve repressão aos que resistiam ao governo ditatorial, por outro – sobretudo a partir da Reforma Universitária promovida pelos militares em 1968 –, essas instituições foram modernizadas.

Essa modernização autoritária, entretanto, não modificou a concepção de universidade vigente no país, muito menos democratizou o seu acesso. Sobre a universidade brasileira, Fávero argumenta que ela:

foi criada não para atender às necessidades fundamentais da realidade da qual era e é parte, mas pensada e aceita como um bem cultural oferecido a minorias, sem uma definição clara no sentido de que, por suas próprias funções, deveria se constituir em espaço de investigação científica e de produção de conhecimento. Produção essa que deveria procurar responder às necessidades sociais mais amplas e ter como preocupação tornar-se expressão do real, compreendida como característica do

22 Sobre o documento diplomático, Belloto (2002, p. 18) comenta que ele é “testemunho escrito de natureza jurídica, redigido com observância a certas formas estabelecidas que se destinam a dar-lhe força probatória”.

conhecimento científico, mas sem a falácia de respostas prontas e acabadas.(FÁVERO, 2006, p. 19)

Visto de outra forma, essas instituições, imprescindíveis para o desenvolvimento sócio-econômico da sociedade, que vem se transformando com o passar do tempo, foram criadas para que os filhos da elite não precisassem se deslocar à Europa para dar seguimento aos seus estudos.

Na UFBA isso não é diferente. Nesse sentido, em nove de abril de 1964, reunido dias após a deflagração do golpe, o CONSUNI aprova uma moção em que externa seu apoio a essa tomada de poder. O clima era de muita tensão no interior da instituição, levando a representação estudantil a não comparecer a essa reunião com medo de sofrer represálias. Segue, abaixo, moção que comprova tal posicionamento (1964, apud Brito, 2008, p. 77):

O Conselho Universitário da Universidade da Bahia reunido pela primeira vez após a vitória da democracia contra o comunismo, expressa o seu regozijo patriótico e congratula-se com as gloriosas Forças Armadas pela nobre e serena atitude que assumiram na preservação dos legítimos anseios do povo brasileiro. Nesta oportunidade dirige uma calorosa saudação aos comandantes militares que atuam em nosso estado significando-lhes o seu apoio à orientação salutar de garantir a ordem democrática e defender as nossas instituições políticas. Salvador, 09 de abril de 1964. Reitor Albérico Fraga37, Adriano Pondé, Arnaldo Silveira, F. Magalhães Neto, Maria Ivete Oliveira, Carlos Geraldo, Antonio Queiroz Muniz, LafayetePondé, João Mendonça, João Rescala, Luciano Aguiar, Ismael de Barros, José Calasans, Carlos F. de Simas, Dirce F. de Araújo, Hermani Sávio Sobral, Nilmar Rocha, Pedro M. Tavares Filho, Theonilo Amorim, José V. Torres Homem, Ivo Braga, Alceu Hiltner e Benjamim Sales (ATA CONSUNI UFBA, 09/04/1964).

O reitor Albérico Fraga, dias depois da aprovação da referida moção, foi pessoalmente ao Comando do II Distrito Naval, acompanhado de membros do CONSUNI, entregar o documento e saudar a atitude dos militares.

Essa moção foi publicada logo em seguida no Jornal da Bahia e no A Tarde23. Isso demonstra, ao que tudo indica, que os dirigentes universitários da instituição queriam externar publicamente a comunidade baiana o seu apoio à tomada de poder naquele momento.

É possível observar – a partir da leitura e interpretação das atas do CONSUNI dos anos de 1961 a 1971 – uma proximidade discursiva entre as posições da Administração Central e o discurso golpista das Forças Armadas, sobretudo se tivermos como referência as falas do Albérico Fraga, reitor que possuía vínculo com a UDN. Sobre ele, Brito (2008, p. 81) afirma que “Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao recorrente discurso anticomunista

23 Cabe registrar que o jornal A Tarde, assim como grande parte da imprensa, apoiou a derrubada de João Goulart. Em editorial publicado dias depois do golpe, o jornal afirmou que: “Empulhado por um grupelho de aproveitadores, peritos na difícil arte que se resume na trilogia da mistificação, incompetência e baderna, o País pela voz de comando do patriotismo, decidiu fazer cessar o parasitismo que estava sangrando a veia da saúde”. (A TARDE, 04/04/1964)

desenvolvido pelo reitor e presente na ata do CONSUNI, bem como seus gestos políticos na repressão aos estudantes ligados à esquerda”.

Outro momento que demonstrou a proximidade entre o corpo dirigente da instituição e os militares ocorreu em 10 de julho de 1964, quando o CONSUNI aprovou a concessão de Título Doutor Honores Causa ao marechal Humberto de Alencar Castelo Branco – primeiro Presidente da República do regime militar.

Durante os anos iniciais do regime, outras sinalizações de apoio foram feitas pelo referido conselho. Em 13 de agosto de 1969, por exemplo, o reitor Roberto Santos propôs ao CONSUNI que se concedesse o mesmo título honorífico ao Presidente da República em exercício, o marechal Artur da Costa e Silva, como é observado na ata abaixo (1969, apud Brito, 2003, p. 121):

Ao aproximar-se a oportunidade de inauguração dos edifícios onde se instalarão, respectivamente, os Institutos de Geociências, de Matemática e o de Ciências da Saúde, assim como o lançamento da pedra fundamental do conjunto de 3 (três) outros prédios, destinados ao Instituto de Física, de Química e de Biologia, e tendo em vista que todos esses atos deverão se realizar enquanto o Governo Federal estiver funcionando nesta cidade, em outubro próximo, venho propor ao Colendo Conselho Universitário que seja concedido o título de Doutor Honoris Causa a Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva. Cumpre ainda acentuar, que durante o Governo de Sua Excelência não apenas se erigiram os prédios mencionados, como ainda estão sendo providos os Institutos de Ciências Básicas do material necessário ao cumprimento do vasto programa de aperfeiçoamento do ensino e de intensificação da pesquisa que a universidade vem empreendendo nos setores em apreço. Ao tempo em que se amplia o espaço físico e enriquece o equipamento necessário à Universidade para o desempenho das suas funções, também se verifica a concretização dos princípios que nortearam a profunda revisão da estrutura das Universidades oficiais brasileiras, de modo a melhor adaptá-las a uma sociedade em ritmo acelerado de mudança. São os dados biográficos de Sua Excelência o Marechal Costa e Silva, suficientemente conhecidos dos Senhores Conselheiros para tornar supérflua a sua leitura na íntegra, nesta oportunidade. Resta-me, pois, franquear a palavra para o debate da proposta que ora submeto à apreciação do plenário deste conselho (ATA CONSUNI, 13/08/1969).

Esse apoio contribuiu, assim como o respaldo advindo do Decreto-Lei nº477, que instituía duras penas aos subversivos que se organizavam no ambiente universitário, para enfraquecer a resistência nos anos iniciais do regime. Ou seja, no primeiro momento da ditadura, os dirigentes universitários da UFBA optaram estrategicamente por se alinhar ideologicamente aos militares temendo possivelmente o endurecimento da repressão no interior da instituição, como é percebido no depoimento de um ex-militante:

Nesse período ainda existia um espaço de disputa muito grande. Os próprios órgãos universitários ainda não tinham sofrido uma intervenção muito pesada. Havia uma coexistência. Ou seja: não se mexia na universidade, se preservava sua autonomia, mas pressionava-se as autoridades no sentido de conduzir a política que a ditadura exigia. Então, nas universidades em geral, e a UFBA, particularmente, foi muito

caracterizada por uma política de conciliação. Ou seja: ante mal maior que seria uma intervenção na UFBA, é melhor ceder e tentar contornar os problemas. Foi um período mais de coexistência com conciliação.

Essa preocupação justifica-se uma vez que em outras instituições, a exemplo da UnB, a repressão teve início logo nos primeiros dias após o golpe, mesmo reconhecendo que nesse período o pensamento golpista e anticomunista, sobretudo do ponto de vista dos professores, teve certa ressonância.

O movimento estudantil da UFBA, assim como aconteceu em outras universidades, foi esvaziado24 nesse período. O medo da repressão, assim como as incertezas em relação a como seria a condução do novo governo, contribuiu para a desarticulação e afastamento de muitos militantes da luta.

Muitos dirigentes universitários, além de terem se posicionando favoravelmente em apoio ao golpe de 1964, cumpriram também uma função de polícia política dentro das universidades. Em alguns casos, como salienta Brito (2003), eles recolhiam documentos nos arquivos das entidades de representação e encaminhavam aos órgãos de repressão.

Os infiltrados, ou seja, os militares colocados nas salas de aula para acompanhar e fiscalizar a organização estudantil dentro da universidade, também cumpriam essa função. Contudo, nunca se podia saber ao certo – muito por influência das incertezas e tensões que cercavam o ambiente universitário – quem, de fato, era militar25.

Esses registros eram utilizados pela Justiça Militar para fundamentar os Inquéritos Policiais Militares contra os estudantes classificados como subversivos. Isso explica, assim como pelo fato da destruição de muitos registros pessoais comprometedores por parte de militantes logo em seguida ao golpe, o porquê de praticamente inexistir documentos do movimento estudantil desse período.

Algumas unidades universitárias, possivelmente influenciadas pela decisão do CONSUNI, também tomaram partido em relação ao movimento golpista. Nesse sentido, a Congregação da Faculdade de Filosofia, reunida em 27 de abril de 1964, demonstrou o seguinte posicionamento (1964, apud Brito, 2008, p. 79):

24 Sobre essa reação, Martins Filho (1987, p. 80) afirma que “Existem indícios suficientes para afirmar que a massa dos estudantes foi tomada por uma certa paralisia no momento do golpe [...]. Com isto não se está dizendo que a massa dos estudantes apoiou o golpe de 64 mas que não existe evidência de recusa de massa do movimento estudantil ao golpe. Ao contrário, existem alguns sinais de que a massa dos estudantes, o estudante comum, se deixou levar pelo discurso anticomunista e por todo aquele quadro que se criou para justificar o golpe militar.

25 Sobre essas dúvidas, uma ex-militante afirmou que: “Eu não posso dizer que eu conheci um infiltrado. Mas tinha-se suspeitas de alguns, com atitudes estranhas. E variava de momento para momento. As vezes atitudes provocativas, com posturas políticas muito avançadas. Muito radical. E as vezes pessoas que nunca tinham aparecido. Ou outros que só ficavam na observação”.

Tenho a honra de levar ao conhecimento de Vossa Excelência que o Conselho Departamental desta Faculdade aprovou um voto de congratulações com as gloriosas Forças Armadas pela sua decisiva atuação no movimento redentor de 31 de março. (ATA DA CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, 27/04/1964).

Assim é possível perceber, a partir da leitura desses relatos, como o discurso golpista foi aceito em algumas instâncias da instituição. Eles atestam, apesar da demarcação de espaço e sinalização aos militares, um colaboracionismo dos dirigentes com o novo projeto de poder. Seguindo esse movimento, a Congregação da Faculdade de Medicina, reunida em 29 de abril de 1964, posicionou-se favorável a deposição de Jango, como pode ser observador abaixo (1964, apud Brito, 2008, p. 80):

sendo essa a primeira reunião da Congregação após o vitorioso movimento militar pela restauração das instituições democráticas do país, renova o voto de respeito, acatamento e congratulações feitas pela Diretoria às Forças Armadas, na pessoa do General Manoel Mendes Pereira, comandante da 6ª Região Militar. (ATA DA CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DA BAHIA. 29/04/1964)

Outras instâncias, a exemplo das Congregações da Escola Politécnica e da Faculdade de Ciências Econômicas, também seguiram esse posicionamento, demonstrando que o discurso anticomunista era forte entre os dirigentes universitários nos anos iniciais da ditadura.

Analisando a cobertura jornalística do jornal A Tarde dos anos de 1961 a 1971 foi possível perceber certo apoio deste veículo a política de repressão implementada pelas Forças Armadas dentro da UFBA, assim como uma proximidade discursiva entre os dirigentes universitários e o comando militar.

Resumidamente, importantes instâncias da UFBA posicionaram-se formalmente em apoio ao golpe. Contudo, torna-se um equívoco histórico afirmar que toda sua comunidade universitária curvou-se ao discurso golpista, uma vez que o movimento estudantil – setor mais crítico ao golpe e à ditadura, com maior ou menor intensidade, a depender do endurecimento da repressão – foi o segmento que mais resistiu ao regime ditatorial no ambiente universitário. Tudo leva a crer que essas demonstrações de apoio – injustificáveis, diga-se de passagem – foram fruto de uma estratégia dos dirigentes universitários no sentido não só de demarcar espaço para seus pares dentro da instituição, mas, sobretudo, apontar às Forças Armadas que a UFBA estava sendo administrada por gestores alinhados político-ideologicamente com os militares, não necessitando, como ocorrera em outras instituições pelo Brasil, de intervenção militar.

7 PERCURSO METODOLÓGICO

Esta investigação, de abordagem qualitativa, que possui como método o estudo de caso aplicado26, representou a continuação da pesquisa que o presente autor iniciou em seu TCC, na graduação em Arquivologia, pelo ICI/UFBA, defendido em 2014.

Buscou-se, a partir de minucioso planejamento estratégico, seguindo o percurso metodológico ora apresentado, compreendendo que o “objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos” (GIL, 2008, p. 26), descobrir como a UFBA – maior e mais influente Instituição de Ensino Superior do estado da Bahia – se posicionou em relação ao golpe civil-militar ocorrido no Brasil em abril de 1964.

A escolha dos métodos e técnicas, isto é, o caminho a trilhar na construção de uma investigação científica, torna-se um dos elementos mais importantes no fazer ciência, visto que eles podem nos oferecer subsídios para interpretar criteriosa e criticamente os dados, para assim chegarmos à resolução dos problemas científicos.

Nesse sentido, foi empreendida uma análise arquivística das atas do CONSUNI dos anos de 1961 a 1971, através de visitas realizadas ao referido acervo, localizado no subsolo da Reitoria, sob responsabilidade da SOC/UFBA, com o objetivo de responder ao problema de pesquisa elencado.

Essas atas, encadernadas e atualmente em bom estado de conservação, servem para registrar as memórias das sessões do CONSUNI – colegiado formado pelos pró-reitores, diretores de unidade, representantes discentes, docentes e dos servidores técnico-administrativos, presidido pelo reitor.

Outra análise arquivística feita foi na documentação do jornal A Tarde dos anos de 1961 a 1971. A pesquisa foi realizada no Setor de Arquivo da Biblioteca Central do Estado da Bahia, localizada no bairro dos Barris, em Salvador, onde é possível ter acesso a um acervo formado por fundos dos grandes jornais impressos de Salvador.

A pesquisa documental é um procedimento de coleta de dados muito utilizado em pesquisas científicas, sobretudo nas Ciências Humanas e Sociais. Apesar das suas fontes serem bastante diversas e, até certo ponto, dispersas, ela nos ajuda a contextualizar e historicizar fatos e acontecimentos.

26 Sobre essa ferramenta de pesquisa, Yin (2001, p. 21) afirma que "o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos."

Marconi e Lakatos (2003, p. 174) afirmam que a “característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias”. Ou seja, a pesquisa documental se utiliza, em linhas gerais, de registros informacionais sem tratamento prévio.

Compreendendo a necessidade de se entender o período histórico estudado – ou seja, dos anos que antecederam o golpe de 1964 até os anos iniciais da ditadura militar, bem como o desdobramento desse período no interior da instituição –, esses registros informacionais, acima mencionados, acabaram sendo a principal fonte de informação dessa investigação científica.

Neles estão materializados parte das memórias da instituição em relação ao período estudado. Cabe salientar, contudo, que o elemento da não neutralidade que envolve a criação de um registro informacional, sobretudo em um momento tão confuso como foi à ditadura, acaba por influenciar seu conteúdo – levando-nos a uma visão crítica acerca dos supracitados documentos.

Porém, mesmo reconhecendo que todo registro informacional é carregado de subjetividade e imparcialidade, um documento de arquivo torna-se, muito pelo fato dele representar os testemunhos de determinados fatos ou acontecimentos, de fundamental importância para se entender criticamente o presente através do passado. Sobre isso, Cellard aponta que:

o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente. (CELLARD, 2008, p. 295)

Outras fontes, tão importantes quanto às acima mencionadas, foram utilizadas nesse percurso metodológico. Assim, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com obras produzidas sobre essa temática – envolvendo livros, artigos, dissertações e teses – no sentido de facilitar, depois de leituras, releituras e elaboração de fichamentos, a construção da dissertação. Segundo Lakatos e Marconi, a pesquisa bibliográfica:

abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, materiais cartográficos, etc. [...] e seu propósito é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 183)

Comum a quase todos os trabalhos científicos, independente do objeto de estudo, a pesquisa bibliográfica oferece as bases teóricas e conceituais necessárias à investigação científica, uma vez que ela permite que o pesquisador, além de conferir se o problema estudado já não foi cientificamente resolvido, se debruce em reflexões de pensadores que já formularam sobre a temática pesquisada.

Uma técnica de coleta de dados bastante utilizada em investigação social, apesar das desvantagens e limitações, é a entrevista. Essa técnica27, empregada nessa investigação, compreendendo a necessidade da contextualização histórica e sociocultural do período em questão, foi importante para identificar como a UFBA respondeu institucionalmente ao golpe de 1964 e, também, aos anos iniciais da ditadura. Sobre isso, Gil (2008, p. 109) argumenta que:

Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.

Ou seja, foi possível identificar, a partir da análise e interpretação dos dados obtidos nas entrevistas28, alguns elementos necessários à reflexão acerca do que representou esse período para o Brasil e para a UFBA, que, possivelmente, em outra fonte de informação, não seria possível.

Pelo fato dessa técnica de coleta de dados se da face a face, ou seja, a partir do diálogo direto entre entrevistador e entrevistado, é possível obter detalhes que, em muitos momentos, dialogam com os sentimentos, afetos e impressões pessoais do entrevistado.

O tipo de entrevista escolhido foi à estruturada. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 197), “É aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano”.

Ao final do recolhimento das informações através dos procedimentos e técnicas, a saber – levantamento bibliográfico, pesquisa documental e entrevistas –, foi empreendida, no

27 Os nomes dos entrevistados desta investigação – por uma questão ética – não foram citados. Muitos destes, durante o período estudado, eram estudantes da UFBA e hoje são docentes da própria instituição.

28 Sobre esta técnica, Minayo (2007, p. 64) acrescenta que a “entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, qual objetiva construir informações pertinentes para o objeto da pesquisa”.

momento seguinte, uma análise e interpretação dos dados coletados. Sobre essas duas tarefas, diferentes por natureza, e que ao mesmo tempo se inter-relacionam, Gil explicita que:

A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. (Gil,

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