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3 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DOS RESÍDUOS DA FABRICAÇÃO DE

3.8 Análise do ciclo de vida dos resíduos

A análise do ciclo de vida combinada com o processo de análise hierárquica pode se constituir em poderosa ferramenta para a tomada de decisão sobre a tomada de decisão a respeito dos resíduos.

18 Conforme Ofício: OF.SMSUR-O 049/02, de 19 de março de 2002, do Sr. Roberto Rafael Guidugli

Consolidando os dados apresentados nas tabelas 3.1, 3.2 e 3.3, observa-se que os parques industriais da região de Ituiutaba e Monte Carmelo apresentam um consumo de argila da ordem de 122.293 m3/mês, cerca de 20.380 caminhões de 6 m3 por mês.

O consumo de lenha -afora outros energéticos- está estimado em 45.637 m3/mês. A produção de telhas gira em torno de 52,3 milhões de peças/mês.

Tendo em conta este consumo de argila -material natural não renovável-, e considerando uma profundidade média de 5 metros na extração da matéria prima (IOSHIMOTO, 1995), projeta-se uma área degradada de 2,45 ha/mês (Tabela 3-4), que deveria ser objeto de recuperação.

O transporte de argila + lenha totaliza uma distância percorrida de 1,2 milhões de km/mês. Deste total 38 mil km (Tabela 3-9) estão embutidos nos resíduos, incluindo aqui o transporte no descarte.

A geração de resíduos declarada de 3% (quebra da produção), representa 1,6 milhões de peças/mês, ou 27,5 mil t/ano em Monte Carmelo, e 4,9 mil t/ano em Ituiutaba, de materiais que viram entulho e não são objeto de gestão e deposição final adequadas. Os gastos estimados para o descarte dos cacos, tendo em conta somente o consumo de óleo diesel, –custo que a indústria “enxerga” – é baixo, representando cerca de 0,02% do faturamento projetado, ou R$3.682,00 por mês (para as duas regiões), razão pela qual não tem sido fator de motivação para as indústrias adotarem outras medidas que não o descarte.

Mas os custos para a gestão dos resíduos não são somente aqueles relacionados com os gastos de óleo diesel. A um custo aproximado de gestão de US$ 0.60 / t.km, conforme D’Ávila (1999), para o transporte dos refugos, considerando uma distância de transporte de somente 5 km, projeta-se uma despesa aproximada de US$11,031.00 /mês nas duas regiões (conforme Tabela 3-13). A estimativa de gastos anuais para a gestão dos resíduos somando as duas regiões consideradas, atinge a cifra de US$ 98,892.00, ou R$305.279,60 (câmbio do dia 30/06/2004: 1US$ = R$3,087).

Ressalta-se que nestas despesas não estão sendo considerados os custos de matéria prima, energia e utilização da estrutura produtiva das indústrias.

Por outro lado, o resíduo também possui impacto ambiental, com a degradação do entorno de áreas urbanas, desperdício no consumo de energia e matérias primas, e aumento na geração de poluentes como CO2.

Em virtude da tecnologia de fabricação empregada, da situação econômica e das limitações do setor em fazer investimentos pesados, supõem-se que estes produtos serão fabricados desta forma por muitos anos ainda, incorporando apenas melhorias e ajustes no processo instalado. Ainda que se consiga uma redução nas quantidades geradas, em virtude de melhoramentos no processo, ainda assim os quantitativos serão expressivos nas cidades que concentram grande quantidade de indústrias. O potencial para a reciclagem dos resíduos é enorme, necessitando para isto de estudos de viabilidade técnica para o emprego desejado. A viabilidade econômica também não deve ser prescindida, no entanto, os aspectos ambientais e a vocação local podem exigir soluções não tão óbvias.

No caso específico destas regiões em estudo, a utilização em camadas de pavimento se mostra uma opção interessante, pois os materiais agregados naturais estão ficando escassos, o seu custo conseqüentemente aumenta, os órgãos ambientais vão limitar cada vez mais a sua exploração, induzindo a procura de outras alternativas locais para sua substituição. Por outro lado, a região é carente de infra-estrutura de pavimentação, e esta utilização consome grandes quantidades de solo e materiais agregados –os cascalhos de campo-, se traduzindo em um bom “sumidouro” para os resíduos.

O cascalho de campo é o material agregado mais utilizado na região de Monte Carmelo19. O consumo anual de cascalho na região, segundo informações da 18a. CRG-DER/MG atinge 20.000m3. O custo é muito variável e depende, inclusive do interesse dos proprietários das jazidas, mas gira em torno de R$ 14,47 por caminhão de 8 m3, ou R$ 1,81 por m3, a retirar no local.

Já na região de Uberlândia, segundo informações da empresa CMC-Brasil20, o custo do cascalho de campo varia muito e depende da distância da jazida. Indica valores

19 Eng. Gilberto C. Mello, Coord. da 18a. CRG-DER/MG. Informações sobre a rede de rodovias.

[recebida por fax] em 26 de março de 2002; valores atualizado para junho/2004 pelo IGP-m.

médios de R$ 1,16 a R$ 2,17 por m3 a retirar no local, chegando a custar de R$ 5,79 a R$ 7,24 posto obra.

A opção de uso do ART em outras utilizações como, argamassas, concretos, ou artefatos de cimento, também pode mostrar certos atrativos.

Tecnicamente a viabilidade dessas utilizações deve ser comprovada através de ensaios específicos para cada caso.

A viabilidade econômica nestes casos é mais transparente, pois o custo dos agregados para estas aplicações, a areia lavada, a brita e o cascalho lavado, atingem preço de mercado de R$ 23,16 até R$ 36,20 por m3, valor pelo menos quatro vezes maior do que o do cascalho de campo utilizado em pavimentação.

No entanto estas utilizações em concreto e argamassa demandam muito menor quantidade de material do que no caso da pavimentação em virtude do tamanho da cidade (40000 habitantes), estima o autor. Uma estimativa do défict habitacional na cidade permite visualizar a demanda de agregados para a construção de casas. Este déficit, segundo estimativa da Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente- SEDEMA21, está em torno de 400 unidades.

Caso sejam considerados os estoques de cacos atualmente disponíveis mais os gerados mensalmente, estas aplicações provavelmente não consumirão a produção do ART projetada. Do lado tecnológico estas aplicações demandam mais cuidados e controles na produção do agregado reciclado do que no caso do seu uso para pavimentação, o que seria também um complicador e talvez um item de acréscimo de custos na produção do agregado reciclado.