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3 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DOS RESÍDUOS DA FABRICAÇÃO DE

3.3 Dados correlacionados com a produção de telhas

O inventário do ciclo de vida dos resíduos se inicia com a extração da matéria prima para a fabricação das telhas, sendo então os dados correlacionados com a fabricação deste produto apropriados para a análise dos rejeitos da fabricação.

Os dados obtidos no levantamento nos pólos de Ituiutaba e Monte Carmelo foram trabalhados e estão apresentados agrupados em tabelas e, na seqüência, quando pertinente, estão comentados e correlacionados com informações e opiniões identificadas nos textos da pesquisa bibliográfica realizada.

Tabela 3-3 Quantidade de telhas produzidas na região de Ituiutaba e Monte Carmelo

Região Produção Total *

(peças/mês)

Produção média por indústria (peças/mês) Ituiutaba (16 Indústrias) 7,774 milhões 485.875 Monte Carmelo (40 Indústrias) 45 milhões 1,125 milhões * Fonte: SINCOTAP (Ituiutaba) e ACEMC (Monte Carmelo).

As médias de produção por indústria, indicadas na Tabela 3-3, se situam bem acima da média de 205.000 peças por indústria segundo o Anuário Brasileiro de Cerâmica (ABC) de 1996, dado citado no Boletim “Indicadores da Indústria de Cerâmica Vermelha” –SEBRAE/RJ (1999).

Dados obtidos no sítio da Prefeitura Municipal de Monte Carmelo7 informam que a

produção de telhas e tijolos vinham crescendo até o ano de 1998, conforme Figura 3.4.

Figura 3.4 Histórico da produção de telhas em Monte Carmelo

A exploração de argila gera impacto ao meio ambiente através da degradação dos locais de extração, denominados de barreiros, e impõem às indústrias custos adicionais àqueles da linha de produção para a sua recuperação. A figura seguinte ilustra duas áreas recuperadas no município de Monte Carmelo4.

Figura 3.5 Áreas de barreiros recuperadas em Monte Carmelo/MG4

Os dados da Tabela 3-4, foram utilizados para se estimar as implicações ambientais a partir da exploração da argila no barreiro, com interesse na determinação da extensão de terra envolvida na extração e nas distâncias percorridas para o transporte.

O consumo de argila foi informado pelos fabricantes, alguns com certa precisão, outros através de médias que eles mesmos estimaram.

Tabela 3-4 Argila, área de terra e quilometragem percorrida

Região Volume argila

consumido por mês 1 (m3) Área de terra equivalente 2 (ha/mês) Quilometragem percorrida 3 (km/mês) Ituiutaba 22.293 0,45 202.598 M. Carmelo 100.000 2,0 908.800

1 Fonte: SINCOTAP e ACEMC; Está sendo considerado que o volume de argila consumido informado

pelos ceramistas seja o próprio volume extraído, ou seja, um aproveitamento de 100%.

2

Para profundidade média de exploração = 5 m conforme dado de Ioshimoto (1995);1 (um) ha = 10.000 m2.

3 Dados fornecidos pelos ceramistas: distância média de transporte de argila por viagem = 56,8 km;

capacidade de carga do caminhão =(em média) 15t; e densidade do barro “in natura” igual a 1,2 t/m3 (em média). ⇒ {Quilometragem percorrida no transporte de argila = volume de argila x

densidade informada ÷ capacidade de carga do caminhão x 2 (ida e volta)x distância média de transporte informada por viagem}⇒ mais detalhes no texto a seguir.

A área de extração equivalente foi calculada tendo em conta os dados de Ioshimoto (1995), que utiliza o valor de 5 m para a profundidade média de exploração de uma jazida de argila, adotando-se ainda que a quantidade consumida informada é a própria quantidade extraída, ou seja, um aproveitamento de 100%.

A quilometragem percorrida foi calculada com a intenção de utilizar o consumo de óleo diesel no transporte da argila, para estimar os gastos financeiros e valores aproximados das emissões de gases, originados da sua queima, para a atmosfera. Desta forma, no cálculo da distância percorrida está sendo levado em conta o dobro da distância entre a indústria e o barreiro, para se obter o consumo total de óleo diesel utilizado, ou seja, ida e volta.

Este procedimento adotado contraria a definição de distância de transporte, que é aquela em que o material é deslocado desde o centro de gravidade da origem até o do destino, porém permite que se tenha, de forma simplificada, uma ordem de valor

adotada para a análise em questão, sem que sejam considerados outros parâmetros necessários para a determinação dos custos de transporte, o que implicaria em levantamentos detalhados da operação, como: média aritmética simples e ponderada, das distâncias de transporte, consumo de óleo diesel por tipo de veículo utilizado na ida e na volta do trajeto, manutenção, etc.

Tabela 3-5 Lenha, área de terra e quilometragem percorrida

Região Quantidade de lenha,

em volume, consumida por mês 1 (m3 ou e)/mês Área de terra equivalente 2 (ha/mês) Quilometragem percorrida 3 (km/mês) Ituiutaba 15.637 156 27.923 M. Carmelo 30.000 300 53.571

1 Fonte: SINCOTAP e ACEMC.

A ACEMC informou que o consumo de energéticos (em média) é representado por lenha (30.000 m3), serragem (15.000 m3) e outros (15.000 m3). (b) adotou-se não fazer distinção do valor

informado pelos ceramistas em m3 para o valor em estere8.

2

Área de terra equivalente calculada utilizando dados de Thibau (2000): produção de lenha em

povoamentos nativos de cerrado é igual à média de 100 esteres/hectare. 3

Distância média de ida por viagem = 25 km (Fonte: ACEMC). Capacidade volumétrica de um

caminhão toco 28 m3na região do Triângulo Mineiro9.

{Quilometragem percorrida para o transporte da lenha = volume total de lenha consumida ÷ capacidade volumétrica do caminhão x (2 x distância média de ida por viagem) }.

O principal energético utilizado nas cerâmicas pesquisadas é a lenha. Algumas cerâmicas fazem uso de serragem e outros energéticos em menor escala.

Para simplificar o levantamento de dados, utiliza-se neste trabalho somente o consumo de lenha para correlacioná-lo com os gastos no seu transporte, a extensão de terra abrangida com a extração, e as emissões da queima de óleo diesel e lenha. Segundo Wittwer e Faria (1998), nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, bem como em todo o Brasil, a lenha é o maior insumo energético do setor de cerâmica, com um consumo médio aproximado de 1.550.000 tEP/ano (tonelada equivalente de petróleo por ano).

No estado de Santa Catarina, segundo Quaresma (1990), a lenha é o principal energético utilizado pelas indústrias de cerâmica vermelha, com um consumo de

8 Estere: unidade de medida usada para determinar volume de lenha. É equivalente a uma pilha de 1 m

frente, 1 m de altura e 1 m de fundo, definição encontrada em Veiga (1977) e ACESITA S/A (1983).

114.325 m3/mês, o equivalente a 137.190 Gcal/mês. Estima um consumo de 1.400.000 m3/ano projetando uma área equivalente de 8.000 hectares de eucalyptus. No entanto, afirma, 78% da lenha é oriunda de mata nativa e apenas 22% de mata implantada, segundo dados da época.

Baseando-se nestes dados de Quaresma, determina-se uma produtividade em torno de 178 m3 de lenha por hectare de eucalipto, por ano, como média para o estado de Santa Catarina.

No estado do Paraná, segundo a Minerais do Paraná (1997), o setor da cerâmica vermelha utilizava-se exclusivamente de lenha como insumo energético. Com o passar dos anos com a crise de fornecimento pelo escasseamento das reservas e conseqüentes maiores distâncias das fontes surgiram novas alternativas como serragem, maravalha, bagaço de cana e palha de arroz. Apresentam um consumo anual de lenha de 407.554 m3, para uma produção de 789.485 milheiros de peças

cerâmicas, nas quatro regiões do estado.

Neste Estado os índices de consumo de lenha variam de 0,18 a 0,95 m3/milheiro, alertando a fonte que estes números não representam a realidade, em virtude da diversidade de energéticos utilizados e em quantidades variadas, e tipos de fornos com diferentes rendimentos. Ainda no Paraná, a distância média para ir buscar lenha, da olaria até a fonte, é de 44,5 km.

Segundo Thibau (2000), a produção de lenha em esteres por hectare é muito variável para os povoamentos florestais nativos e apresenta os seguintes dados de produção para Zona de Cerrado: mínimo de 70, máximo de 170 e valor médio de 100 esteres de lenha por hectare.

Sobre o volume de lenha consumida cabem, ainda, alguns esclarecimentos, pois via de regra os ceramistas da região pesquisada informam as unidades correntes de medida ora em m3, ora em estere, como se representassem a mesma quantidade. Os consumos de lenha por milheiro, obtidos com os dados em m3 (Tabela 3-6), estão dentro dos parâmetros encontrados por Ioshimoto (1995) e Henriques (1993), as unidades desses consumos foram mantidas em m3.

Tabela 3-6 Índices de consumo por milheiro Região Consumo de argila

por milheiro de telha (m3/milheiro)

Consumo de lenhapor milheiro de telha (m3/milheiro) Quilometragem percorrida (*) por milheiro de telha Ituiutaba 2,8 2 29,7 M. Carmelo 2,2 0,7 21,4 (*)

(distância percorrida com o transporte da argila + da lenha) ÷ quantidade de milheiros de telhas produzidas.

Dados de Ioshimoto (1995) mostram um consumo de 0,00182 m3 de argila por telha fabricada em Monte Carmelo, ou seja, 1,82 m3 de argila por milheiro de telha, praticamente coincidindo com o valor obtido neste diagnóstico de 0,002 m3 de argila por peça de telha.

Sobre o índice de consumo de lenha por milheiro, também desconsiderando o consumo de outros energéticos, Minerais do Paraná (1997) apresenta valores variando de 0,18 a 0,95m3.

O SEBRAE-RJ (1999) apresenta como consumo específico dos fornos tipo chama reversível, o valor de 1,5 a 1,8 m3 de lenha/milheiro.

Já Ioshimoto (1995) apresenta o valor médio de 1,99 m3 de lenha por milheiro de telha como sendo representativo do parque cerâmico de Monte Carmelo, valor que coincide com o consumo da região de Ituiutaba, mas é o dobro do consumo apurado para Monte Carmelo conforme dados da Tabela 3-6, indicando que o consumo informado no diagnóstico está subestimado, ou a partir de 1995, a lenha foi substituída em grande parte por outro energético.

Em virtude de que o consumo de energéticos é distinto para cada indústria e região, que utilizam diversos tipos de energéticos e em quantidades variáveis, o índice de consumo de lenha por milheiro é apenas ilustrativo, não devendo ser considerado como representativo da atividade e nem comparável sem o detalhamento necessário. Deve-se levar em conta também que o desenvolvimento tecnológico proporciona mudanças no consumo de energéticos na indústria e as crises energéticas contemporâneas têm impulsionado os setores produtivos na busca de alternativas para a redução de consumo e substituição das fontes de energia utilizadas, por exemplo, pelo gás natural.