Análise hierárquica simplificada para a reciclagem dos cacos

A metodologia de análise do ciclo de vida incorpora uma importante ferramenta de análise hierárquica, que combina variáveis quantitativas com qualitativas, baseada na comparação de alternativas duas a duas. Em casos mais complexos podem-se construir árvores de decisão incluindo as variáveis envolvidas hierarquicamente (LIPPIAT, 1998).

Não é objetivo neste trabalho fazer a seleção de qual alternativa seria mais viável para a reciclagem do ART utilizando esta poderosa ferramenta, o que demandaria estudos mais específicos e aprofundados, mas sim apresentar uma visão geral do quadro estabelecido, através da percepção pessoal e dos dados do diagnóstico para exemplificar como poderiam ser avaliadas as alternativas para a reciclagem. Neste caso, são apresentados dois modelos simplificados seqüenciais de estrutura hierárquica.

A estrutura hierárquica da Figura 3.10 poderia ser utilizada para ponderar entre a decisão de reciclar ou não, tendo em vista os dados apresentados no diagnóstico sobre o consumo energético da atividade, os impactos causados pela produção (em todas as etapas), e os impactos oriundos do descarte dos resíduos gerados. Para que pudesse ser efetivamente utilizada para esse fim, as várias ramificações da árvore deveriam receber “pesos” ou pontuações, de acordo com a importância relativa de cada alternativa, o que permitiria ponderar entre os vários intervenientes para a decisão. Ressalta-se que também não foi considerada como uma alternativa nesta árvore a questão dos investimentos para instalações de reciclagem.

Figura 3.10 Estrutura hierárquica simplificada estabelecida pelo autor desta tese, visando a sustentabilidade

De forma simplificada pode-se inferir que a reciclagem dos resíduos de cerâmica vermelha, levando em conta a sustentabilidade é uma opção obrigatória. O consumo energético é alto, as implicações ambientais da fabricação são de grande monta, e as

SUSTENTABILIDADE

Questões Ambientais Custos Envolvidos

Consumo Energético Impacto Fabril

Impacto Descarte

No Descarte Na Gestão

Para Reciclar

Reciclar ou não Reciclar ou não

Reciclar ou não

Reciclar ou não Reciclar ou não

conseqüências do descarte são progressivas com grande impacto ambiental no entorno da região produtora.

Quando se ponderam custos comparativos entre descartar, ou gerir o processo, ou reciclar, verifica-se que os custos para se livrar dos resíduos são baixos (a gestão custaria cerca de 6,9 vezes mais, mas deve-se ressaltar que este é um custo absorvido pelo município, quando o é), em virtude de que a indústria enxerga somente os gastos com óleo diesel e, além disso, muitas vezes o resíduo é retirado por um terceiro. O custo com a reciclagem resultaria cerca de 5,3 vezes mais do que jogar fora, no entanto, neste caso devem ser consideradas as receitas com a venda dos agregados produzidos. Pode-se fazer uma estimativa de receita com a venda posto obra a um preço de R$7,24/m3 (custo equivalente ao do cascalho) o que resultaria em uma receita de R$33.304,00 por ano, frente ao custo para reciclagem de R$35.343,36 (Ituiutaba); para Monte Carmelo a receita seria de R$188.102,44 frente ao custo de reciclagem de R$199.266,60.

Verifica-se que a conta de resultado financeiro positivo com a reciclagem não é fácil de ser obtida quando o referencial é o preço do cascalho, mas por outro lado, quando se considera que os custos da gestão que ficam por conta do município deveriam ser assumidos pelo gerador (tendência que deve prevalecer em médio prazo após a entrada em vigor da resolução 307 do CONAMA), verifica-se que a reciclagem é uma imposição legal. A participação do poder público no caso deve ser considerada fundamental, por exemplo, concedendo algum tipo de benefício para o agente reciclador o que contribuiria para a viabilidade financeira. Outra análise que ainda deve ser feita é a questão da escala de produção, visto que as duas regiões analisadas apresentam quantidades muito diferentes para serem analisadas em termos do investimento inicial de montagem de uma central de reciclagem, o que não foi aqui abordado; pode-se cogitar também, nesse caso, a parceria com empresas privadas que operam com britagem de rochas naturais que tenham certo grau de ociosidade de seus equipamentos, evitando assim o investimento inicial.

Já a estrutura hierárquica da Figura 3.11, permite ponderar entre a escolha de reciclar para emprego em pavimentação ou como agregado para argamassa e concreto. Analisada qualitativamente, em parte utilizando alguns dados disponíveis da estação

de reciclagem Estoril, em Belo Horizonte, e em parte pelo sentimento do autor, indicam a utilização dos resíduos para a produção de agregados para pavimentação a mais indicada no momento, em virtude principalmente do consumo anual de cascalho na região (segundo informações da 18a. CRG-DER/MG atinge 20.000m3 por ano), além disso, o baixo nível de controle a ser aplicado aos agregados, comparativamente com a aplicação em concreto, por exemplo, conseqüentemente não exigindo grandes investimentos na unidade de britagem e nos processos sobre o produto o que, para a cultura atual do segmento industrial da região seria um complicador.

Quanto às condições de mercado, levando em conta somente o preço do produto, o emprego para concreto seria vantajoso, porém a demanda seria muito aquém daquela necessária para escoar os estoques existentes e os gerados na atividade. A questão da qualidade também traz superficialmente, alguma restrição ao uso em concreto em virtude da forma lamelar, porosidade e a absorção dos agregados obtidos na britagem, em que pese a potencialidade da atividade pozolânica, mas com custo elevado para moagem. O apelo social mais visível seria o emprego em pavimentação promovendo a substituição do cascalho natural em grande escala, na construção de ruas, pisos de praças, e estradas vicinais; mas também a produção de artefatos de cimento poderia se constituir em boa alternativa para habitação popular e poderia ser considerada em paralelo. Outra alternativa paralela é a utilização dos finos produzidos em quadras de tênis o que teria maior valor agregado e menor nível de controle.

Figura 3.11 Estrutura hierárquica simplificada estabelecida pelo autor desta tese, visando o emprego do agregado reciclado de telha

RECICLAGEM

BRITAGEM MERCADO

Custo Implantação Custo Operação

Controles Competitivo R$ Qualidade Apelo Social Pav. ou C.C. Pav. ou C.C. Pav. ou C.C. Pav. ou C.C. Pav. ou C.C. Pav. ou C.C.