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Análise comparativa dos resultados empíricos e da literatura

7 Discussão

7.1 Análise comparativa dos resultados empíricos e da literatura

Tendo presente os resultados empíricos obtidos e a literatura, a investigadora verificou o seguinte: ambas as IPSS’s estudadas inovam socialmente ao tentarem provocar uma mudança social, no que diz respeito à satisfação das necessidades básicas e instrumentais do ser humano, através das respostas que criaram (Diogo, 2010).

Tanto o BACF de Aveiro como a SCME atingem os objetivos e os mecanismos da gestão de inovação social, pois defendem que o objetivo não é a concorrência mas sim a luta contra a adversidade e o risco, através da criação de novas oportunidades para dar resposta às necessidades e desafios comunitários (André & Abreu, 2006). No que diz respeito aos mecanismos, o BACF de Aveiro, contribui na satisfação das necessidades humanas de famílias carenciadas que não tinham com o que se alimentar, e aumenta o acesso destas pessoas ao direito da alimentação. Já a SCME contribui na satisfação das necessidades humanas da alimentação do vestuário, dos cuidados de saúde, e por sua vez aumenta consequentemente o acesso destas pessoas a esses direitos, e finalmente potencia as capacidades humanas através de necessidades programadas (Martinelli, 2003, cit. Em André & Abreu (2006)).

No que diz respeito à difusão da inovação do modelo de negócio no contexto comunitário o facto de o BACF estar federado a uma federação, permite que o BACF de Aveiro apresente uma difusão direta do seu modelo de negócio, o mesmo acontece com a SCME que se encontra filiada à UMP’s.

As duas IPSS’s estudadas apresentam um modelo de inovação social que articula de forma dinâmica a procura e a oferta, contudo verifica-se que nem sempre estas instituições conseguem dar resposta aos pedidos de todas as pessoas interessadas, na oferta que estas instituições disponibilizam (o caso das listas de espera). Ambas as IPSS’s procuram desenvolver mais formas de dar resposta às necessidades.

O BACF de Aveiro apresenta boas redes de marketing, apresenta alianças com o governo, valores morais, e elevado suporte dos principais interessados. A SCME apresenta boas alianças com o governo, valores morais e elevado suporte por parte dos principais interessados.

128 Tanto o BACF como a SCME sabem quem são, para quem atuam e o que fazem. A aplicação do modelo de negócio a estas duas realidades, acabou por ser bastante fácil, uma vez que, verificou- se que a diferença na aplicação dos MN em contextos de inovação social traduz-se numa questão de foco como refere Osterwalder & Pigneur (2011), pois ambas as IPSS’s estudadas defendem a sua causa e deixam a obtenção de lucro fora de cena.

Relativamente à proposta de valor, ambas as IPSS’s estudadas tem noção de qual é o valor que oferecem ao cliente (mais que não seja de forma intangível), que necessidades podem satisfazer, que problemas estão a ajudar a resolver, e que tipo de bens e serviços estão a oferecer. Além disso, verificou-se durante as entrevistas que os principais responsáveis não entravam em conflito de papéis relativamente ao foco de atuação das instituições, como refere Franco & Andrade (2007).

Verificou-se quem ambas as IPSS’s a sua proposta de valor, era manifestada através do impacto social causado (enquanto uma atinge 30 mil pessoas a outra atinge cerca de 1500 pessoas). A oferta da SCME é marcadamente intangível como é referido por Franco & Andrade (2007). Contudo a oferta da SCME está limitada a um público-alvo muito reduzido, mesmo tendo em consideração o mais recente projeto das cantinas sociais, a SCME só tem 308 vagas, que geralmente encontram-se sempre cheias. Logo a instituição tem uma oferta muito reduzida, na tentativa de dar resposta às necessidades dos potenciais clientes que procuram pela oferta que a SCME disponibiliza. As listas de espera acabam por ser um reflexo de que existe mais procura do que oferta por parte da instituição.

Já a oferta do BACF é marcadamente um bem tangível, logo é uma exceção à maioria referida por Franco & Andrade (2007), pois o BACF de Aveiro, não é uma IPSS’s tradicional, uma vez que não se encontra estruturada através de uma resposta social específica, como a maioria das IPSS’s. Ambas as IPSS’s, no que diz respeito ao segmento de clientes, sabem para quem estão a criar valor, e procuram criar respostas e mecanismos bem direcionados para as pessoas que querem ajudar.

Ambas as IPSS’s têm noção de como é que contatam os clientes e as principais partes interessadas atualmente, contudo não tem noção de que canais é que funcionam melhor.

A SCME apresenta uma visão muito reducionista dos canais de distribuição, como é referido por Azevedo e colegas (2010), mas isso não acontece porque a instituição quer estar à margem da

129 sociedade, porque as pessoas acabam por ter conhecimento desta IPSS de forma indireta (através do passa a palavra e dos layouts nas carrinhas). Contudo a SCME falha redondamente ao não criar mecanismos de divulgação dos seus serviços, porque como foi referido previamente na literatura poderia ser mais vantajoso para a instituição.

O mesmo não acontece contudo com o BACF de Aveiro, porque dá a conhecer os seus serviços/causa de forma intensa (Azevedo, et al., 2010). O BACF de Aveiro aposta na difusão da sua proposta de valor, obtendo com isso uma vantagem relativa visto que os seus canais de distribuição tem uma adesão significativa por parte das principais partes interessadas, bem como ainda podem trazer retorno ao banco.

Ambas as IPSS’s sabem que tipo de relação querem estabelecer com os clientes e que tipo de relação os potenciais clientes procuram estabelecer com as instituições. Estas instituições vão ao encontro dos princípios estabelecidos no manual de boas práticas da Segurança Social e na alínea 2, do artº 5 do EIPSS.

No que diz respeito à avaliação da satisfação dos clientes ambas as instituições não fazem a avaliação, como é defendido por Franco & Andrade (2007), mas os fatos que levam a que ambas não o façam devem-se a situações diferentes das defendidas por Franco, uma vez que a SCME não faz a avaliação atualmente por falta de técnicos especializados, e o BACF como não está ao abrigo de nenhuma resposta social especifica, ainda não teve essa avaliação imposta por parte da Segurança Social. Além disso o Banco disponibiliza os bens alimentares às pessoas carenciadas de forma indireta.

As IPSS’s estudadas não tinham a noção real de quanto é que necessitavam mesmo para dar resposta à sua proposta de valor, tendo presente os seus fluxos de rendimento. Mas ambas as instituições recorriam a todos os recursos disponíveis para dar voz à sua proposta de valor. Ambas as instituições apresentam uma relação de dependência estatal, no que diz respeito à aquisição de apoios (R. C. Franco & Andrade, 2007). No que diz respeito aos RH ambas as instituições apresentam colaboradores e voluntários que são alvo de formação periódica. O BACF faz avaliação de desempenho aos seus colaboradores, o mesmo não acontece na SCME.

Ambas as IPSS’s tinham noção de quais eram as atividades que tinham de executar para colocar em prática a sua proposta de valor. O BACF apresenta o seu processo de suporte bastante desenvolvido na área logística, já a SCME apresenta os processo-chave cada vez mais perto do patamar de qualidade exigido pela Segurança Social.

130 As IPSS’s estudadas sabiam quem eram os seus parceiros-chave, sabiam que recursos obtinham e adquiriam dos seus parceiros, bem como que atividades os parceiros levavam a cabo. Na literatura os resultados obtidos confirmam a dependência financeira de ambas as instituições em relação a um dos parceiros, o estado (R. C. Franco & Andrade, 2007).

Ambas as IPSS’s sabem realmente qual é o valor pelos quais os seus clientes estão dispostos a pagar, mas não tem noção de quanto cada fluxo contribui para o rendimento global. E recorrem a donativos, ao financiamento estatal, e as parcerias (R. C. Franco & Andrade, 2007).

As IPSS’s tinham uma noção global dos custos que acarretava colocar a proposta de valor em prática. Uma das respostas custos com os RH é confirmada pelos dados do INE (INE, 2011).

Em suma“A inovação do modelo de negócio pretende criar valor, para as empresas, clientes e sociedade.”(Osterwalder & Pigneur, 2011, p. 5). Para Osterwalder & Pigneur (2011, p. 14) um modelo de negócio consiste na descrição lógica “de como uma organização cria, proporciona e obtém valor”, isto é, aponta como é que através da sua oferta consegue adquirir riqueza. Os resultados empíricos obtidos permitem constatar a possibilidade de descrever de forma logica como é que duas OSFL podiam criar e obter valor.